Gabarito escreveu: ↑Dom, 12 Abril 2020 - 19:26 pm
Uma boa régua são as Olimpíadas.
Todas as pessoas se interessam em se destacar nela.
E o atletismo é esporte que existe em qualquer país, seja em Bruxelas, seja na Nigéria.
Os recordes nos 100 metros rasos são a estatística de que precisamos.
Só dá negro.
Você mesmo lembrou o basquete nos EUA.
Lá tem muito branco na população, mas na estatística do esporte por lá eles não predominam em quantidade nem em destaques.
E é um esporte popular.
Mesmo com essas "réguas" é preciso ter cuidado.
Só dá negro? Mas o que é ser negro e o que é ser branco? Um aborígene australiano é da mesma raça de um bosquímano só porque ambos são negros? Um núbio poderia ser considerado da mesma raça de um Masay? E a variação de fenótipos em regiões da Europa também é grande.
Eu acho que para se colocar esse tipo de discussão na perspectiva correta, é preciso primeiro demarcar algumas obviedades.
A 1a é que quando hoje se diz que não existem raças humanas, isso não é o mesmo que dizer que não existam grupos étnicos e que estes grupos não possam ser identificados por características fenotípicas comuns.
Apenas é que hoje, graças a tecnologia de sequenciamento do DNA, é possível constatar que as diferenças genéticas entre todos os diferentes grupos étnicos humanos não são significativas a ponto de justificar a diferenciação destes grupos em diferentes subespécies.
O grupo étnico masay existe e as características desse grupo são evidentes. Assim como na mesma África existe o grupo étnico do povo pigmeu, com características muito constrantes em relação aos masays.
Então qual é a diferença entre grupo étnico e raça? Seria grupo étnico um eufemismo politicamente correto para raça?
Não. A diferença é que raça pode ser entendida como sinônimo de subespécie, e classificar os seres humanos em diferentes subespécies seria incoerente porque fugiria ao critério normalmente utilizado para sub-classificar outras espécies em subespécies.
Por exemplo: grupos de chimpanzés na África isolados por apenas algumas centenas de quilômetros, apresentam mais variabilidade genética que quaisquer dois seres humanos sobre a face da Terra. E mesmo assim estes chimpanzés são classificados todos como de uma mesma raça. Ou subespécie.
Mas as diferenças entre os grupos humanos existem e isso é óbvio. E essas diferenças podem favorecer uma determinada característica em determinada situação ou ambiente, mais do que outra característica. Também é óbvio porque se você for viver no ártico é melhor ser baixinho como um esquimó para diminuir a perda de calor, e se você for viver no deserto australiano é melhor ter a pele com muita melanina, tipo de cabelo adaptado ao clima e olhos escuros.
Então também é possível que determinadas características proporcionem maior chance de surgir de um determinado grupo étnico, algum indivíduo mais bem "projetado" para uma determinada modalidade esportiva.
Mas, se for o caso, tal só se verifica no âmbito estatístico. Quando você toma 10 mil bosquímanos e 10 mil nórdicos, seleciona os melhores dos melhores maratonistas de cada grupo, e ao longo de razoável tempo se verifica que os campeões bosquímanos ganham mais medalhas olímpicas que os campeões nórdicos.
Mas já não diria nada sobre comparação entre indivíduos. Porque se você tomar aleatoriamente um bosquímano e um nórdico, o fato
de existirem mais campeões bosquímanos diz pouco sobre a probabilidade desse bosquímano comum ser mais resistente para a corrida
que o nórdico aleatório que você selecionou. Porque neste caso as variações individuais, particulares, terão um peso muito maior que a contribuição fenotípica.
Se o nórdico come melhor, já praticou mais esportes, se é mais saudável, provavelmente vai chegar primeiro em uma corrida de meio fundo. Porém quando falamos de esporte de alto nível, a diferença entre ganhar e chegar em vigésimo é mínima: pode ser coisa de décimos de segundo.
No alto nível todos os competidores foram selecionados por suas extraordinárias aptidões, todos treinam desde jovem, todos usam mais ou menos as mesmas técnicas, a mesma alimentação, se beneficiam das mesmas tecnologias, do mesmo material esportivo, enfim... no esporte de alto nível as condições serão sempre muito parelhas. Logo, a diferença entre quem ganha e quem chega em terceiro pode estar em um mero detalhe. E este detalhe pode vir a ser justamente alguma característica fenotípica própria do grupo étnico do qual o atleta é oriundo. Ou não.
Portanto usar resultados do esporte de alto nível para estabelecer, linearmente, diferentes graus de habilidade de determinados grupos étnicos para determinadas modalidades, parece ser altamente enganoso.
Outra obviedade a se considerar é que não existe raça negra nem branca! E nem mesmo grupo étnico negro e grupo étnico branco.
Na África existem centenas de grupos étnicos e as variações são enormes. Muito jogador de fenótipo classificado como negro se deu bem na NBA, mas nenhum deles é oriundo do grupo étnico dos pigmeus africanos. Por motivos óbvios. E nessa classificação distorcida de negros, brancos, amarelos e vermelhos, os nanicos pigmeus são classificados simplesmente como negros da mesma forma que os gigantes da tribo Masay.
Obviamente não deveria fazer o menor sentido.
E ainda há a questão do ambiente e da cultura. É muito difícil estabelecer estas comparações entre diferentes fenótipos com segurança porque é difícil isolar as variantes do ambiente e da cultura. Mesmo entre atletas de um mesmo país.
E ainda uma outra questão que é muito mal entendida, é a relação entre fenótipo e genótipo. Ainda é comum se pensar que é razoavelmente simples identificar a constituição do genótipo de uma pessoa com base no seu fenótipo. Em outras palavras, se alguém tem cara de japonês, então deve ter prevalência de uma ascendência nipônica. E se alguém parece um negão, então geneticamente deve ser mais africano.
Mas não é verdade. O caso do neguinho da Beija-Flor é bem conhecido: fenótipo totalmente africano e genótipo predominantemente
europeu. Assim como há casos de gêmeos em que um deles é "negro" e o outro "branco".
Estes são exemplos que por si só demonstram como as diferenças entre os vários grupos étnicos humanos são superficiais e não espelham a grande homogeneidade genética presente na nossa espécie.