fenrir escreveu: ↑Sáb, 11 Outubro 2025 - 13:43 pm
Discordo. Sim, existe esse "se".
Do contrario, por exemplo alguem que viesse com uma "teoria" que "prova" que a relatividade esta errada (alegação fantastica) seria dispensado de dar uma prova igualmente fantastica de sua alegação.
Em sites como o vixra.org ha montes de teorias, ideias supostamente ultrafodasticas e megarevolucionarias, do tipo das que anunciam coisas fantasticas (descobri os segredos mais intimos da natureza,
universo e tudo o mais ou provei que toda a fisica esta errada) porem oferecem quase nada de concreto como suporte as mesmas.
Deveriamos ter dispensado tal criterio, por exemplo, no caso da alegação de fusão a frio feita por Stanley Pons e Martin Fleischman em 1989?
Sagan lutou ferrenhamente contra isto e creio que estava certo em faze-lo.
Trumpetear algo de fantastico e não oferecer prova igualmente fantastica é basicamente comer couve e arrotar caviar.
Ou como o dito de Juvenal:
Parturiunt montes, nascetur ridiculus mus (The mountains are in labor, and a ridiculous mouse will be born)
Ao citar a Teoria da Relatividade, você apresentou um exemplo de física pura — um campo em que o conhecimento evolui de teoria em teoria. Já a medicina e a maioria das engenharias normalmente não dependem de avanços em teorias da ciência básica para promover evoluções técnicas.
Considere o caso da culinária. Como já observou Dan Ariely, não podemos fazer engenharia reversa do sabor dos alimentos apenas olhando o rótulo nutricional. São ajustes empíricos, heurísticas e métodos baseados na aprendizagem que impulsionam a evolução das receitas.
A medicina e a maior parte das disciplinas de engenharia se assemelham mais à culinária do que à física pura.
fenrir escreveu: ↑Sáb, 11 Outubro 2025 - 13:43 pm
Exigimos esse rigor de atletas de elite, de advogados, promotores e juizes experientes, de profissionais no estado da arte de uma disciplina.
No meu ver, sem isso a ciencia vai ladeira abaixo: diminuiria a qualidade, a confiabilidade, reprodutibilidade.
Não sei até que ponto essa analogia pode levar a alguma conclusão relevante. Nem o treinamento em atletismo, nem o Direito exigem a validação de teorias da ciência básica para cada evolução em suas técnicas.
No campo das leis e da política, o próprio Karl Popper — pai da epistemologia científica do falsificacionismo — afirmou que esses domínios evoluem por meio do que chamou de "engenharia social fragmentária".
E isso, vale lembrar, não é método científico.
fenrir escreveu: ↑Sáb, 11 Outubro 2025 - 13:43 pm
Outra coisa: as Engenharias precisam sim de Ciencia.
Mesmo não tendo formação de nenhuma Engenharia arrisco a dizer que alem dum certo nivel do complexidade, não ha obra sem Cálculo Estrutural, sem Estática (parte da física que estuda sistemas sob a
ação de forças que se equilibram), sem Física dos Materiais e conhecimento de varias outras areas da Fisica e provavelmente tambem de Quimica.
Você está se referindo ao conhecimento declarativo já consolidado, que descreve as técnicas em certas engenharias. Mas e quanto à origem e ao desenvolvimento dessas técnicas, quando ainda eram novidades recentes?
As aves precisaram entender de Dinâmica dos Fluidos para voar? A compreensão completa dos mecanismos causais por trás das máquinas voadoras mais pesadas que o ar surgiu
depois, e não
antes, do advento da técnica de voo. O mesmo vale para a história do motor a jato.
Outro exemplo: as tecnologias têxteis da Revolução Industrial. A lançadeira volante, a máquina de fiar, o spinning frame e o tear hidráulico foram desenvolvimentos empíricos, baseados em tentativa e erro, por artesãos que buscavam aumentar os lucros de suas fábricas.
Também não adianta afirmar que o conhecimento nessas engenharias já está consolidado e que, daqui em diante, basta aplicar teorias científicas. Novas técnicas continuam sendo descobertas por meio de ajustes aleatórios e heurísticas, reiniciando o ciclo em que as teorias científicas surgem
após o advento da técnica — o que gera a ilusão do chamado “efeito ensinar-os-pássaros-a-voar-dos-ornitólogos”.
fenrir escreveu: ↑Sáb, 11 Outubro 2025 - 13:43 pm
No quadro, Taleb citou Arquitetura e Euclides. Se esquece que Arquitetos tambem precisam de Geometria Projetiva (como projetar adequadamente algo de dimensao n num meio de dimensao n-1, numa planta por exemplo? Como entender de perspectiva?)
Arquitetos tambem podem usar geometrias não-Euclidianas como inspiracao e ponto de partida. Se houver algum arquiteto ai, por favor me diga se há como se ter arquitetura se se dispensa a matematica.
A arquitetura das primeiras grandes pirâmides da humanidade precedeu a matemática mais formal que nos foi legada posteriormente por Euclides e outros teóricos gregos.
Ademais, segundo o historiador da ciência medieval Guy Beaujouan, o conhecimento matemático avançado na Idade Média era uma raridade. Por isso, as belas catedrais medievais da Europa não foram fruto de teoremas ou de qualquer outra matemática complexa.
Segundo ele, embora houvesse conhecimento matemático preservado em universidades e mosteiros, esse saber raramente se traduzia diretamente em aplicações arquitetônicas. As catedrais medievais foram construídas com base em geometria prática, não em matemática avançada ou formalizada. O conhecimento matemático era reservado a poucos e não amplamente aplicado nas obras arquitetônicas da época.
fenrir escreveu: ↑Sáb, 11 Outubro 2025 - 13:43 pm
Quando não ha correta aplicação de principios matematicos e cientificos na engenharia, desastres como esse acontecem: O colapso da
Tacoma Narrows Bridge
A IA não estaria no estado que esta hoje sem Calculo de Multiplas Variaveis, Algebra Linear, Estatistica, ... No fundo, ML é basicamente isto.
Quem, em sã consciência, afirmaria a completa inexistência de feitos de engenharia derivados de teorias científicas? Eu mesmo já citei, no antigo Clube Cético, o caso do papel da física nuclear e da física moderna na origem da tecnologia da bomba atômica.
No entanto, esses casos desse tipo são sempre destacados, enquanto se omitem exemplos no sentido oposto — como a observação dos efeitos da intoxicação por gás mostarda durante a Primeira Guerra Mundial, que foi crucial para o desenvolvimento da quimioterapia contra o câncer.
Muitas vezes, a origem de uma técnica moderna não está em uma teoria acadêmica, mas em algo inesperado, como uma intoxicação.