Huxley escreveu: ↑Dom, 05 Outubro 2025 - 12:26 pm
Gorducho escreveu: ↑Dom, 05 Outubro 2025 - 10:53 am
Em engenharia e em outras áreas que trabalham com os conceitos de redundância e margem de segurança, seguir o conselho de Sagan é a fórmula para o desastre.
O Sr. transpôs pra Artes & Ofícios, então não mais se encaixa em coerência interna.
Engenharias = Artes & Ofícios, ou seja, aquilo que Carl Sagan classificaria como ciências aplicadas. Onde posso encontrar referências de que Carl Sagan considerava as engenharias discutidas em seus livros e séries como "Artes & Ofícios" e "não ciências"? Eis as engenharias mencionadas no livro
O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro: Engenharia aeroespacial / propulsão, Engenharia nuclear, Engenharia genética / biotecnologia, Engenharia agrícola / agronômica, Engenharia biomédica / médica, Engenharia elétrica / eletrônica. Se Carl Sagan já classificou a medicina como "ciência", então o que te leva a acreditar que ele chamaria todas essas engenharias citadas no meu post de "não ciências"?
Ué, o que Sagan diz sobre a extraordinariedade das evidencias não se aplicaria a ciencia em si, antes de qualquer aplicação da mesma?
Seculos atras, Hume disse a mesma coisa com outras palavras:
“...no testimony is sufficient to establish a miracle, unless the testimony be of such a kind, that its falsehood would be more miraculous, than the fact, which it endeavors to establish.”
― David Hume, An Enquiry Concerning Human Understanding/An Enquiry Concerning the Principles of Morals
Concordo que num contexto pratico ha que se dispor do rigor, mas não me parece boa ideia dispor dele
antes da aplicar uma teoria na pratica.
A não ser talvez, quiçá, num contexto de experimentação exploratoria, para "ver o que acontece, se ..." desde que tanto nao seja ineficiente ou nocivo economicamente falando (veja minha ressalva mais abaixo).
Ou talvez esteja só na sua mente, num "thought experiment" / "Gedankenexperiment". Qual o custo disso?
São contextos e momentos distintos, a meu ver.
Se se descartasse o que Sagan propos, coisas fantasticas, sem fundamento algum, poluiriam o meio atravancando a pesquisa legitima.
Tenho um argumento economico contra isso: dinheiro, tempo e recursos gastos perseguindo sombras, para cair em becos sem saida, ou arriscar por sendas onde as possibilidades de retorno são minimas.
Se bem que mesmo essa "exigencia economica" possa ser questionada: Aristoteles disse que muitas coisas tem valor em si mesmas e concordo com ele (quer algo mais "inutil" que filosofia?).
Mas não ha como se ignorar o lado pratico e economico de tais coisas na sociedade em que vivemos.
Alem disso, o que tinha exatamente em mente o Sagan, quando fez a afirmação, independente dele falar bastante sobre engenharia e ciencia aplicada?
Pode ser que ele tenha pensado em termos da epistemologia da ciencia e não na aplicação pratica dela nas engenharias. Esse era certamente o contexto em que o Hume discorria em seu livro.
Talvez a exigencia do Sagan possa ser suavizada ou ter nuances se se pensar probabilisticamente e em termos de custo-beneficio, de um possivel retorno.
Por exemplo, se o testemunho (usando o termo de Hume) é extraordinario mas deveras interessante, talvez se possa baixar um pouco o criterio de entrada em termos de requerer uma igual "extraordinariedade das evidencias".
Mas isso deveria ser feito somente em carater provisório, temporario. Como se fosse uma epoche dos estoicos, porem aplicada nessa situacao.
Uma vez encontrada uma falha séria, tal caminho deveria ser descartado, pelo que ja começou com concessões! Ha que se proceder com muita cautela e cuidado aqui.
Pode ser que "pecamos" quando tentamos aplicar uma regra tal e qual imutavel para toda e qualquer situacao independente de qualquer contexto e tudo mais.
Ha cada vez mais uma tendencia em se pensar somente em termos de 8 ou 80.
É usar cegamente regras e criterios imutáveis, como maus alunos que decoram procedimentos mecanicamente e tentam aplica-los sem compreende-los: quando mudam-se umas variaveis, já não se sabe mais resolver o problema...
Por exemplo, na politica e em qualquer polemica, trata-se só de escolher um lado, e como numa torcida organizada, ou pior, num culto/seita, se aferrar ferrenhamente a tal lado contra tudo e contra todos. Ate mesmo contra toda a lógica, bom-senso, ética, moral, ....
Isso não é pensar com propriedade, nunca foi, nunca será. É ausencia ou no minimo uma enorme preguiça de pensar, de raciocinar. É bem o tipo de coisa que o Keith Stanovich estuda.