Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

Área destinada à discussão sobre Ceticismo e a Incredulidade Humana

Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

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Ricardo
Mensagens: 75
Registrado em: Sáb, 05 Setembro 2020 - 10:16 am

Mensagem por Ricardo »

Olá pessoal,

Quero abrir uma discussão sobre experiências espirituais, como relatos de mediunidade, aparições ou experiências de quase-morte. Sei que o fórum valoriza muito a investigação baseada em evidências, e respeito totalmente isso.

Minha dúvida é: será que podemos analisar essas experiências de forma crítica, sem simplesmente descartá-las por não se encaixarem na ciência atual?

Algumas perguntas que penso:

Como definir evidência suficiente para experiências que ainda não conseguimos explicar?

É possível investigar isso mantendo rigor lógico, sem cair em negação automática?

Quando algo não tem explicação científica, devemos descartar ou explorar com mente aberta?

Gostaria de ouvir a opinião de vocês: como equilibrar ceticismo genuíno e abertura investigativa diante de fenômenos ainda não explicados?"

Re: Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

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Fernando Silva
Conselheiro
Mensagens: 7320
Registrado em: Ter, 11 Fevereiro 2020 - 08:20 am

Mensagem por Fernando Silva »

O primeiro passo é investigar as alegações e verificar se os tais fenômenos realmente ocorrem, independente de serem cientificamente explicáveis.
Se nada for constatado, podem ser ignorados.

Além disto, mesmo que a ciência ainda não consiga explicá-los, nada impede que venha a conseguir no futuro.
Ou seja, é preciso provar que esses fenômenos, além de serem reais, nunca terão explicação científica.

Pergunta: o que é uma experiência espiritual? Se é detectável pelos 5 sentidos ou por instrumentos, não é espiritual. Se não é detectável, como saberemos que ocorreu?

Re: Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

fenrir
Mensagens: 1174
Registrado em: Qui, 19 Março 2020 - 21:59 pm

Mensagem por fenrir »

Complementando o que o Fernando disse:

Voce, por exemplo, poderia questionar o dito: "Não ha nada no pensamento que não tenha estado antes nos sentidos" ("Nihil est in intellectu quod non fuerit in sensu")
indo por uma linha de que há uma realidade que os sentidos nao abrangem (por exemplo, o espiritual) e esse "não abrange" não seria algo quantitativo, do tipo
"o olho humano não vê no infravermelho" e sim do tipo "o olho humano não pode ver o espiritual".
No primeiro caso, nao vemos IV, mas temos sensores para tanto. Esses sensores são a extensão de nossa visao no IV. No segundo caso, não há como ampliar
ou extender os sentidos de nenhuma forma que seja conhecida da ciencia.

Agora imagine um ser humano que tivesse nascido sem nenhum dos 5 sentidos. Daí pergunto: O que haveria no cerebro dele. Num cérebro com 0 input?
Num proximo passo, extenda essa analogia de forma a incluir todo o aparato que usamos para ampliar nossos sentidos, como sensores de IV e
pense numa situação análoga ao do ser sem sentidos, onde não há como se usar, nem sentidos, nem nenhum aparato que os amplie para ver
o que haveria "lá fora" (chamemos assim o espiritual ou um transcendente).
Ora, estamos de novo numa situação de zero input. Sendo assim, como podemos afirmar o que quer que seja a respeito de um "lá fora", que nos
é inacessivel? Como saber, antes de tudo, se sequer existe ou não esse "lá fora"?

Os defensores do espiritual poderiam rebater dizendo que ha individuos com uma tal sensibilidade que podem vislumbrar esse meio, seja de que forma for.
Mas não havendo meio de confirmar, de forma independente o que dizem esses individuos, como saberemos se o que eles alegam é de fato verdadeiro?
Mesmo que sejam honestos e confiaveis eles podem se enganar, então não há como ter a prova disso e a unica coisa que resta no fim é a palavra do individuo.
Isso não é suficiente do ponto de vista cientifico e cetico.
Ciencia é como Justiça Criminal: os possiveis fatos precisam ser checados, provados, de forma rigorosa, minuciosa, para só dai poder afirmar que são verdadeiros.

Essas experiencias do espiritual só irão atrair a atenção do mainstream quando elas poderem ser medidas, quantificadas, reproduzidas de forma controlavel
por outros grupos alem do primeiro que a reportou. E para que tal aconteça elas tem de fornecer mais do que a palavra de alguem, quer seja bem-intencionado
ou não, confiavel ou não.

Pensei numa outra possível ressalva, por parte do defensor do espiritual:
Se não existe um espiritual, um "lá fora" ou um transcendente, como é então que podemos concebe-lo em pensamento, já que nunca esteve antes nos sentidos?

Retruco dessa forma:
Nossas mentes são plenamente capazes de criar coisas que não existem, a partir de combinações de coisas que existem (e que estiveram nos sentidos).
Por exemplo um Unicórnio, um cavalo com um chifre e asas. A combinação não existe, mas as partes separadamente sim.
Ha como se pensar no mesmo em relação ao espiritual se ele for entendido como negação ou oposto ao material. Tanto material, como negação ou oposto
existem e podem ser combinados como cavalos, chifres e asas.
Então o pressuposto que assumia ser impossivel pensar num transcendente cai por terra, porque para qualquer X, podemos pensar num não-X, num
oposto a X, num complemento de X, num superconjunto de X, como queira.
E disso não segue que tal não-X exista, ainda que o X exista, como não segue que unicornios existam anda que existam cavalos, chifres e asas.
Resumindo: o transcendente não estava nos sentidos, porem as suas partes, como no caso do unicornio, sim.

Re: Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

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Ricardo
Mensagens: 75
Registrado em: Sáb, 05 Setembro 2020 - 10:16 am

Mensagem por Ricardo »

Agradeço as contribuições e compreendo a perspectiva cética. Concordo plenamente que a ciência deve ser rigorosa e baseada em evidências verificáveis. O problema central que vejo é que, embora a ciência seja uma ferramenta poderosa para entender o mundo físico, ela tem limitações no que se refere a fenômenos subjetivos e experiências que não se encaixam facilmente nos parâmetros tradicionais de observação e medição.

Quando falamos de experiências espirituais — sejam elas mediúnicas, místicas ou de quase-morte — não estamos necessariamente afirmando que elas representam uma evidência irrefutável de um "mundo espiritual", mas sim que são fenômenos humanos reais que precisam ser tratados com seriedade, mesmo que não possamos explicá-los cientificamente no momento.

Eu entendo o ponto de que experiências pessoais não podem ser usadas como prova no sentido científico estrito. No entanto, a experiência subjetiva não é algo trivial: a dor, o prazer, o amor, e até mesmo os estados alterados de consciência, todos são fenômenos reais e validamente investigáveis, mesmo que, por natureza, não sejam mensuráveis da mesma forma que um fenômeno físico.

A questão que coloco é: Como podemos balancear o ceticismo genuíno com uma abertura investigativa, sem cair na negação automática de experiências que ainda não entendemos? Não devemos simplesmente descartar algo por não se encaixar nas explicações científicas atuais. A história da ciência está cheia de descobertas que antes pareciam impossíveis, mas que, com o tempo, foram compreendidas.

Portanto, acredito que o objetivo de uma investigação genuína deve ser explorar essas experiências com um olhar aberto e sem preconceitos, sem afirmar ou negar nada sem as evidências necessárias. Isso não significa aceitar essas experiências como uma prova de uma realidade espiritual, mas tratá-las como fenômenos psicológicos e culturais que merecem estudo e reflexão, enquanto seguimos buscando as melhores explicações dentro dos limites da ciência.

Em resumo, sou a favor de uma abertura investigativa que, ao mesmo tempo, não abandone o rigor lógico e científico. Estamos lidando com algo complexo e, como tal, é importante manter a mente aberta, sem afirmar dogmaticamente que tudo é explicável ou, por outro lado, que tudo é uma ilusão.

Re: Refletindo sobre ceticismo e experiências espirituais

Huxley
Mensagens: 5564
Registrado em: Sáb, 07 Março 2020 - 20:48 pm

Mensagem por Huxley »

Ricardo escreveu:
Seg, 15 Dezembro 2025 - 14:34 pm
Agradeço as contribuições e compreendo a perspectiva cética. Concordo plenamente que a ciência deve ser rigorosa e baseada em evidências verificáveis. O problema central que vejo é que, embora a ciência seja uma ferramenta poderosa para entender o mundo físico, ela tem limitações no que se refere a fenômenos subjetivos e experiências que não se encaixam facilmente nos parâmetros tradicionais de observação e medição.

Quando falamos de experiências espirituais — sejam elas mediúnicas, místicas ou de quase-morte — não estamos necessariamente afirmando que elas representam uma evidência irrefutável de um "mundo espiritual", mas sim que são fenômenos humanos reais que precisam ser tratados com seriedade, mesmo que não possamos explicá-los cientificamente no momento.

Eu entendo o ponto de que experiências pessoais não podem ser usadas como prova no sentido científico estrito. No entanto, a experiência subjetiva não é algo trivial: a dor, o prazer, o amor, e até mesmo os estados alterados de consciência, todos são fenômenos reais e validamente investigáveis, mesmo que, por natureza, não sejam mensuráveis da mesma forma que um fenômeno físico.

A questão que coloco é: Como podemos balancear o ceticismo genuíno com uma abertura investigativa, sem cair na negação automática de experiências que ainda não entendemos? Não devemos simplesmente descartar algo por não se encaixar nas explicações científicas atuais. A história da ciência está cheia de descobertas que antes pareciam impossíveis, mas que, com o tempo, foram compreendidas.

Portanto, acredito que o objetivo de uma investigação genuína deve ser explorar essas experiências com um olhar aberto e sem preconceitos, sem afirmar ou negar nada sem as evidências necessárias. Isso não significa aceitar essas experiências como uma prova de uma realidade espiritual, mas tratá-las como fenômenos psicológicos e culturais que merecem estudo e reflexão, enquanto seguimos buscando as melhores explicações dentro dos limites da ciência.

Em resumo, sou a favor de uma abertura investigativa que, ao mesmo tempo, não abandone o rigor lógico e científico. Estamos lidando com algo complexo e, como tal, é importante manter a mente aberta, sem afirmar dogmaticamente que tudo é explicável ou, por outro lado, que tudo é uma ilusão.
Segundo a epistemologia da ciência, ninguém tem direito de deslegitimar a verificação da existência de fenômenos apenas pelo fato de seus mecanismos causais não serem claros.

Imaginei um teste em que voluntários de um experimento sobre mediunidade veem um código secreto sorteado aleatoriamente, colocam esse código em uma cápsula do tempo e, após as mortes deles, verifica‑se se existem pessoas que se dizem médiuns capazes de adivinhar o código em uma frequência maior do que a esperada pelo acaso estatístico. Porém, até hoje, não conheço experimento igual ou muito parecido que produziu resultados acima do acaso.
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