Ciência e Espiritualidade

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Gigaview
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Mensagem por Gigaview »

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO

A união de dois mundos opostos é possível? Para nosso colunista, a mágica da vida reside nela mesma

Na opinião popular, o título deste texto representa um paradoxo. Ciência e espiritualidade habitam mundos diferentes, que em geral entram em conflito ao se aproximarem. A primeira é vista como uma atividade exclusivamente racional, reducionista, materialista e fria, sem qualquer interesse por questões espirituais. Já a segunda, bem mais fácil de ser definida, representa uma busca pessoal, uma relação com a realidade que transcede o imediato, que nos conecta com o que vai além do material. Por isso a espiritualidade é considerada antítese da ciência.

Para piorar, a busca espiritual costuma adotar uma posição que não só é contrária ao materialismo científico, mas que o confronta. Ela passa a ser quase que uma "vingança" para quem está desiludido com um mundo cada vez mais explicável, destituído de mágica e poesia. O movimento romântico do início do século 19 foi uma resposta direta ao racionalismo extremo do século 18. O poeta John Keats acusou Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris", de ter roubado a sua beleza com suas explicações precisas sobre o comportamento da luz. nada poderia ser menos verdadeiro.

Quem fecha os olhos para as descobertas da ciência moderna se fia na ocorrência de fenômenos sobrenaturais, paranormais, astrológicos, quem acredita que duendes povoam as florestas, quem jura que almas circulam pelo mundo dos vivos sem serem percebidas, faz o mesmo que o poeta: nega-se a apreciar a poesia e a beleza que a ciência nos revela, preferindo pensar como nossos antepassados. E sua credulidade é explorada por oportunistas.

Existe mágica de sobra no mundo que podemos ver com nossos olhos e com os instrumentos que inventamos para ampliar nossa visão da realidade. Não é preciso se fiar numa realidade invisível e sobrenatural, cuja existência depende de relatos individuais e que é sujeita à fé. Quando queremos muito acreditar em algo, isso se torna mais real. O querer acreditar compromete nossa habilidade de decidir imparcialmente - ou quase - se uma asserção é ou não verdadeira.

Se meu pai está doente e a medicina moderna não pode fazer nada por ele, por que não levá-lo a um curandeiro, alguém com supostos poderes de exercer curas milagrosas e inexplicáveis? A morte assusta, foge ao nosso controle, rouba aqueles que amamos. É difícil aceitar a postura materialista de que ela é mesmo o fim, que essa faísca que anima a matéria e nos faz amar e chorar se esvai por completo num piscar de olhos. Nosso dilema é termos consciência de que temos os dias contados. Aceitar esse fato é tão difícil que fazemos de tudo para driblá-lo, criando mecanismos que vão além do que podemos provar. Talvez isso ajude muitos a aceitarem seus destinos. O triste é que os que estão convictos da existência desa dimensão sobrenatural fechem os olhos para o que a ciência mostra.

Prefiro viver de olhos bem abertos e aceitar a pré-condição da vida, a não-vida. Ignorar o que a natureza nos mostra todos os dias é viver menos, é se apegar a contos de fadas para evitar o confronto com a nossa condição humana. Saber morrer é saber viver, é saber aceitar o quanto são preciosos esses breves momentos que temos para amar, chorar, apreciar a beleza do arco-íris, vibrar com um gol e ter medo de perder quem amamos. É na brevidade da vida que reside o seu segredo: saber viver sem medo de morrer. Isso não é nada fácil, e não acredito que tenha conquistado o meu próprio medo. Mas prefiro viver com ele a me iludir com algo que nunca saberei se está certo ou não.

Ninguém gosta da idéia de morrer ou de sofrer. Ninguém gosta de ver o sofrimento de tantos no mundo. Porém, se a alternativa é achar que tudo isso vai ser diferente no "além", que forças ocultas regem nossas vidas e podem ser controladas por meio de crenças místicas, ela me parece criar uma sociedade que não enfrenta os desafios que tem pela frente, escondendo-se nas promessas de um mundo inescutável e inexistente.

Para mim, a mágica ocorre a cada momento em que estamos vivos, que podemos amar e sofrer, que podemos refletir sobre quem somos e sobre como podemos melhorar as nossas vidas e as dos que estão à nossa volta. Perceber essa mágica é abraçar a espiritualidade da ciência. Com ela aprendemos quem somos e como nos relacionamos com o mundo e com o universo. Entre os caminhos que temos para enfrentar nossos desafios, não vejo outro que possa mostrar o quanto a vida é preciosa e rara, que celebre de forma mais clara a mágica da existência.

FONTE: Revista Galileu, n°209, dezembro/2008, capa - "A nova era do Espiritismo"
Autor: Marcelo Gleiser (astrofísico, professor do Dartmouth College, nos Estados Unidos, e autor de cinco livros sobre ciência e conhecimento)

Re: Ciência e Espiritualidade

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Fernando Silva
Conselheiro
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Mensagem por Fernando Silva »

Por que o ser humano é religioso? Veja explicação biológica

Nós sabemos que o ser humano é religioso há muito tempo, desde as civilizações mais antigas. Confira uma explicação biológica para isso!

Por Camila Oliveira, editado por Layse Ventura 22/07/2025


A religiosidade é uma característica presente em diversas culturas e sociedades ao longo da história da humanidade. Desde os primórdios, os seres humanos têm buscado compreender o mundo ao seu redor, atribuindo significados e propósitos a eventos naturais e à própria existência, e muitas vezes utilizando a religião.

Essa busca por sentido muitas vezes se manifesta por meio da fé e da espiritualidade, proporcionando conforto, orientação moral e um senso de pertencimento. Ainda que as expressões religiosas variem amplamente entre diferentes culturas, a tendência humana à religiosidade levanta questões sobre suas origens.

Pesquisas recentes nas áreas de neurociência, psicologia evolutiva e genética sugerem que a propensão à religiosidade pode ter bases biológicas, moldadas ao longo da evolução humana. Veja a seguir algumas dessas explicações científicas.

Explicação biológica

A religiosidade humana é um fenômeno complexo, influenciado por múltiplos fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Mesmo sem uma explicação única para a origem da fé, as pesquisas nas áreas de neurociência, psicologia evolutiva e genética oferecem insights valiosos sobre como o cérebro humano pode estar predisposto à espiritualidade.

Compreender essas bases biológicas não diminui o valor das experiências religiosas, mas enriquece nosso entendimento sobre a natureza humana e a busca por significado.

Estudos em neurociência indicam que experiências religiosas e espirituais estão associadas à atividade de áreas específicas do cérebro, como o sistema límbico, responsável pelas emoções, e o córtex pré-frontal, ligado ao pensamento abstrato e à tomada de decisões.

Pesquisas utilizando técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI), revelam que práticas religiosas podem ativar regiões cerebrais relacionadas à recompensa e ao prazer, como o núcleo accumbens, semelhante ao que ocorre em experiências de amor ou uso de substâncias psicoativas.

Além disso, a neuroteologia, campo interdisciplinar que une neurociência e teologia, busca compreender como o cérebro processa experiências religiosas. Pesquisadores como Andrew Newberg investigam como práticas espirituais influenciam a atividade cerebral, sugerindo que a religiosidade pode ser uma função natural do cérebro humano.

Psicologia evolutiva: a religião como adaptação

A psicologia evolutiva propõe que a religiosidade pode ter surgido como uma adaptação evolutiva, favorecendo a coesão social e a cooperação entre indivíduos. Crenças compartilhadas e rituais religiosos podem ter fortalecido os laços dentro de grupos, aumentando as chances de sobrevivência e reprodução.

Essa perspectiva sugere que a religião desempenhou um papel funcional na evolução humana, promovendo comportamentos altruístas e normas sociais.

No entanto, alguns estudiosos argumentam que a religiosidade pode ser um subproduto de outras capacidades cognitivas evoluídas, como a tendência a atribuir intenções a agentes invisíveis ou a buscar padrões e significados, mesmo onde não existem.

A genética da espiritualidade: o “gene de Deus”

Pesquisas em genética sugerem que a propensão à espiritualidade pode ter uma base hereditária. O geneticista Dean Hamer propôs a hipótese do “gene de Deus”, associando o gene VMAT2 à tendência humana à espiritualidade. Esse gene estaria envolvido na regulação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, influenciando sentimentos de bem-estar e experiências místicas.

Embora a ideia de um “gene de Deus” seja controversa e não amplamente aceita, estudos indicam que fatores genéticos podem contribuir para a variabilidade individual na religiosidade, interagindo com influências ambientais e culturais.

O papel da teoria da mente e da empatia

A capacidade humana de compreender os estados mentais de outras pessoas, conhecida como teoria da mente, pode estar relacionada à religiosidade. Essa habilidade permite que os indivíduos atribuam intenções e emoções a seres invisíveis ou sobrenaturais, facilitando a crença em entidades divinas.

Além disso, a empatia e a moralidade, características importantes para a vida em sociedade, podem ser reforçadas por crenças religiosas que promovem valores como compaixão e justiça.
https://olhardigital.com.br/2025/07/22/ ... biologica/
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