Lista de Falácias
Lista de Falácias
Lógica & Falácias
Autor: Matthew
Tradutor: André Díspore Cancian
Fonte: The Atheism Web
Introdução
Há muito debate na Internet; infelizmente, grande parte dele possui péssima qualidade. O objetivo deste documento é explicar os fundamentos da argumentação lógica e possivelmente melhorar o nível dos debates em geral.
O Dicionário de Inglês conciso de Oxford (Concise Oxford English Dictionary) define lógica como "a ciência da argumentação, prova, reflexão ou inferência". Ela lhe permitirá analisar um argumento ou raciocínio e deliberar sobre sua veracidade. A lógica não é um pressuposto para a argumentação, é claro; mas conhecendo-a, mesmo que superficialmente, torna-se mais fácil evidenciar argumentos inválidos.
Há muitos tipos de lógica, como a difusa e a construtiva; elas possuem diferentes regras, vantagens e desvantagens. Este documento discute apenas a Booleana simples, pois é largamente conhecida e de compreensão relativamente fácil. Quando indivíduos falam sobre algo ser "lógico", geralmente se referem à lógica que será tratada aqui.
O que a lógica não é
Vale fazer alguns comentários sobre o que a lógica não é.
Primeiro: a lógica não é uma lei absoluta que governa o universo. Muitas pessoas, no passado, concluíram que se algo era logicamente impossível (dada a ciência da época), então seria literalmente impossível. Acreditava-se também que a geometria euclidiana era uma lei universal; afinal, era logicamente consistente. Mas sabemos que tais regras geométricas não são universais.
Segundo: a lógica não é um conjunto de regras que governa o comportamento humano. Pessoas podem possuir objetivos logicamente conflitantes. Por exemplo:
– John quer falar com quem está no encargo.
– A pessoa no encargo é Steve.
– Logo, John quer falar com Steve.
Infelizmente, pode ser que John também deseje, por outros motivos, evitar contato com Steve, tornando seu objetivo conflitante. Isso significa que a resposta lógica nem sempre é viável.
Este documento apenas explica como utilizar a lógica; decidir se ela é a ferramenta correta para a situação fica por conta de cada um. Há outros métodos para comunicação, discussão e debate.
Argumentos
Um argumento é, segundo Monthy Phyton Sketch, “uma série concatenada de afirmações com o fim de estabelecer uma proposição definida”.
Existem vários tipos de argumento; iremos discutir os chamados dedutivos. Esses são geralmente vistos como os mais precisos e persuasivos, provando categoricamente suas conclusões; podem ser válidos ou inválidos.
Argumentos dedutivos possuem três estágios: premissas, inferência e conclusão. Entretanto, antes de discutir tais estágios detalhadamente, precisamos examinar os alicerces de um argumento dedutivo: proposições.
Proposições
Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou falsa. Ela é o significado da afirmação, não um arranjo preciso das palavras para transmitir esse significado.
Por exemplo, “Existe um número primo par maior que dois” é uma proposição (no caso, uma falsa). “Um número primo par maior que dois existe” é a mesma proposição expressa de modo diferente.
Infelizmente, é muito fácil mudar acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-as. A dicção da proposição deve ser considerada como algo significante.
É possível utilizar a lingüística formal para analisar e reformular uma afirmação sem alterar o significado; entretanto, este documento não pretende tratar de tal assunto.
Premissas
Argumentos dedutivos sempre requerem um certo número de “assunções-base”. São as chamadas premissas; é a partir delas que os argumentos são construídos; ou, dizendo de outro modo, são as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que é uma premissa no contexto de um argumento em particular, pode ser a conclusão de outro, por exemplo.
As premissas do argumento sempre devem ser explicitadas, esse é o princípio do audiatur et altera pars*. A omissão das premissas é comumente encarada como algo suspeito, e provavelmente reduzirá as chances de aceitação do argumento.
A apresentação das premissas de um argumento geralmente é precedida pelas palavras “Admitindo que...”, “Já que...”, “Obviamente se...” e “Porque...”. É imprescindível que seu oponente concorde com suas premissas antes de proceder com a argumentação.
Usar a palavra “obviamente” pode gerar desconfiança. Ela ocasionalmente faz algumas pessoas aceitarem afirmações falsas em vez de admitir que não entendem por que algo é “óbvio”. Não hesite em questionar afirmações supostamente “óbvias”.
* Expressão latina que significa “a parte contrária deve ser ouvida”.
Inferência
Umas vez que haja concordância sobre as premissas, o argumento procede passo a passo através do processo chamado inferência.
Na inferência, parte-se de uma ou mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras novas. Se a inferência for válida, a nova proposição também deve ser aceita. Posteriormente essa proposição poderá ser empregada em novas inferências.
Assim, inicialmente, apenas podemos inferir algo a partir das premissas do argumento; ao longo da argumentação, entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas aumenta.
Há vários tipos de inferência válidos, mas também alguns inválidos, os quais serão analisados neste documento. O processo de inferência é comumente identificado pelas frases “conseqüentemente...” ou “isso implica que...”.
Conclusão
Finalmente se chegará a uma proposição que consiste na conclusão, ou seja, no que se está tentando provar. Ela é o resultado final do processo de inferência, e só pode ser classificada como conclusão no contexto de um argumento em particular.
A conclusão se respalda nas premissas e é inferida a partir delas. Esse é um processo sutil que merece explicação mais aprofundada.
A Implicação em Detalhes
Evidentemente, pode-se construir um argumento válido a partir de premissas verdadeiras, chegando a uma conclusão também verdadeira. Mas também é possível construir argumentos válidos a partir de premissas falsas, chegando a conclusões falsas.
O “pega” é que podemos partir de premissas falsas, proceder através de uma inferência válida, e chegar a uma conclusão verdadeira. Por exemplo:
– Premissa: Todos peixes vivem no oceano.
– Premissa: Lontras são peixes.
– Conclusão: Logo, lontras vivem no oceano.
Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: partir de premissas verdadeiras, inferir de modo correto, e chegar a uma conclusão falsa.
Podemos resumir esses resultados numa tabela de “regras de implicação”. O símbolo “à” denota implicação; “A” é a premissa, “B” é a conclusão.
– Se as premissas são falsas e a inferência válida, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa (linhas 1 e 2).
– Se a premissa é verdadeira e a conclusão falsa, a inferência é inválida (linha 3).
– Se as premissas e inferência são válidas, a conclusão é verdadeira (linha 4).
Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa necessariamente que sua conclusão é verdadeira, pois pode ter partido de premissas falsas.
Um argumento válido que foi derivado de premissas verdadeiras é chamado “argumento consistente”. Esses obrigatoriamente chegam a conclusões verdadeiras.
Exemplo de Argumento
A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que pode ou não ser “consistente”.
1 – Premissa: Todo evento tem uma causa.
2 – Premissa: O Universo teve um começo.
3 – Premissa: Começar envolve um evento.
4 – Inferência: Isso implica que o começo do Universo envolveu um evento.
5 – Inferência: Logo, o começo do Universo teve uma causa.
6 – Conclusão: O Universo teve uma causa.
A proposição da linha 4 foi inferida das linhas 2 e 3. A linha 1, então, é usada em conjunto com proposição 4, para inferir uma nova proposição (linha 5). O resultado dessa inferência é reafirmado (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.
Reconhecendo Argumentos
O reconhecimento de argumentos é mais difícil que das premissas ou conclusão. Muitas pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer produzir algo que possa ser chamado argumento.
Algumas vezes os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por exemplo, alguém pode dizer quais são suas conclusões e depois justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um pouco confuso.
Para piorar a situação, algumas afirmações parecem argumentos, mas não são. Por exemplo: “Se a Bíblia é verdadeira, Jesus ou foi um louco, um mentiroso, ou o Filho de Deus”.
Isso não é um argumento; é uma afirmação condicional. Não explicita as premissas necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar que possui outras falhas *(Nota 1).
Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha que, tentando provar que Albert Einstein acreditava em Deus, disséssemos: “Einstein afirmou que ‘Deus não joga dados' porque cria em Deus”.
Isso pode parecer um argumento relevante, mas não é; trata-se de uma explicação da afirmação de Einstein. Para perceber isso, lembre-se que uma afirmação da forma “X porque Y” pode ser reescrita na forma “Y logo X”. O que resultaria em: “Einstein cria em Deus, por isso afirmou que ‘Deus não joga dados'”.
Agora fica claro que a afirmação, que parecia um argumento, está admitindo a conclusão que deveria estar provando.
Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal preocupado com assuntos humanos *(Nota 2).
Leitura complementar
Esboçamos a estrutura de um argumento “consistente” dedutivo desde premissas até a conclusão; contudo, em última análise, a conclusão só pode ser tão persuasiva quanto as premissas utilizadas. A lógica em si não resolve o problema da verificação das premissas; para isso outra ferramenta é necessária.
O método de investigação preponderante é o científico. No entanto, a filosofia da ciência e o método científico são assuntos extremamente extensos e explicá-los está muito além das pretensões deste documento.
Recomenda-se a leitura de livros específicos sobre o assunto para uma compreensão mais abrangente.
Falácias
Há um certo número de “armadilhas” a serem evitadas quando se está construindo um argumento dedutivo; elas são conhecidas como falácias. Na linguagem do dia-a-dia, nós denominamos muitas crenças equivocadas como falácias, mas, na lógica, o termo possui significado mais específico: falácia é uma falha técnica que torna o argumento inconsistente ou inválido.
(Além da consistência do argumento, também se podem criticar as intenções por detrás da argumentação.)
Argumentos contentores de falácias são denominados falaciosos. Freqüentemente parecem válidos e convincentes; às vezes, apenas uma análise pormenorizada é capaz de revelar a falha lógica.
A seguir está uma lista de algumas das falácias mais comuns e determinadas técnicas retóricas bastante utilizadas em debates. A intenção não foi criar uma lista exaustivamente grande, mas apenas ajuda-lo a reconhecer algumas das falácias mais comuns, evitando, assim, ser enganado por elas.
Acentuação / Ênfase
A falácia da Acentuação funciona através de uma mudança no significado. Neste caso, o significado é alterado enfatizando diferentes partes da afirmação. Por exemplo:
“Não devemos falar mal de nossos amigos”
“Não devemos falar mal de nossos amigos”
Seja particularmente cauteloso com esse tipo de falácia na internet, onde é fácil interpretar mal o sentido do que está escrito.
Ad Hoc
Como mencionado acima, argumentar e explicar são coisas diferentes. Se estivermos interessados em demonstrar A, e B é oferecido como evidência, a afirmação “A porque B” é um argumento. Se estivermos tentando demonstrar a veracidade de B, então “A porque B” não é um argumento, mas uma explicação.
A falácia Ad Hoc é explicar um fato após ter ocorrido, mas sem que essa explicação seja aplicável a outras situações. Freqüentemente a falácia Ad Hoc vem mascarada de argumento. Por exemplo, se admitirmos que Deus trata as pessoas igualmente, então esta seria uma explicação Ad Hoc:
“Eu fui curado de câncer”
“Agradeça a Deus, pois ele lhe curou”
“Então ele vai curar todas pessoas que têm câncer?”
“Hmm... talvez... os desígnios de Deus são misteriosos.”
Afirmação do Conseqüente
Essa falácia é um argumento na forma “A implica B, B é verdade, logo A é verdade”. Para entender por que isso é uma falácia, examine a tabela (acima) com as Regras de Implicação. Aqui está um exemplo:
“Se o universo tivesse sido criado por um ser sobrenatural, haveria ordem e organização em todo lugar. E nós vemos ordem, e não esporadicidade; então é óbvio que o universo teve um criador.”
Esse argumento é o contrario da Negação do Antecedente.
Anfibolia
A Anfibolia ocorre quando as premissas usadas num argumento são ambíguas devido a negligência ou imprecisão gramatical. Por exemplo:
“Premissa: A crença em Deus preenche um vazio muito necessário.”
Evidência Anedótica
Uma das falácias mais simples é dar crédito a uma Evidência Anedótica. Por exemplo:
“Há abundantes provas da existência de Deus; ele ainda faz milagres. Semana passada eu li sobre uma garota que estava morrendo de câncer, então sua família inteira foi para uma igreja e rezou, e ela foi curada.”
É bastante válido usar experiências pessoais como ilustração; contudo, essas anedotas não provam nada a ninguém. Um amigo seu pode dizer que encontrou Elvis Presley no supermercado, mas aqueles que não tiveram a mesma experiência exigirão mais do que o testemunho de seu amigo para serem convencidos.
Evidências Anedóticas podem parecer muito convincentes, especialmente queremos acreditar nelas.
Argumentum ad Antiquitatem
Essa é a falácia de afirmar que algo é verdadeiro ou bom só porque é antigo ou “sempre foi assim”. A falácia oposta é a Argumentum ad Novitatem.
“Cristãos acreditam em Jesus há milhares de anos. Se o Cristianismo não fosse verdadeiro, não teria perdurado tanto tempo”
Argumentum ad Baculum / Apelo à Força
Acontece quando alguém recorre à força (ou à ameaça) para tentar induzir outros a aceitarem uma conclusão. Essa falácia é freqüentemente utilizada por políticos, e pode ser sumarizada na expressão “o poder define os direitos”. A ameaça não precisa vir diretamente da pessoa que argumenta. Por exemplo:
“...assim, há amplas provas da veracidade da Bíblia, e todos que não aceitarem essa verdade queimarão no Inferno.”
“...em todo caso, sei seu telefone e endereço; já mencionei que possuo licença para portar armas?”
Argumentum ad Crumenam
É a falácia de acreditar que dinheiro é o critério da verdade; que indivíduos ricos têm mais chances de estarem certos. Trata-se do oposto ao Argumentum ad Lazarum. Exemplo:
“A Microsoft é indubitavelmente superior; por que outro motivo Bill Gates seria tão rico?”
Argumentum ad Hominen
Argumentum ad Hominemliteralmente significa “argumento direcionado ao homem”; há duas variedades.
A primeira é a falácia Argumentum ad Hominemabusiva: consiste em rejeitar uma afirmação e justificar a recusa criticando a pessoa que fez a afirmação. Por exemplo:
“Você diz que os ateus podem ser morais, mas descobri que você abandonou sua mulher e filhos.”
Isso é uma falácia porque a veracidade de uma asserção não depende das virtudes da pessoa que a propugna. Uma versão mais sutil do Argumentum ad Hominen é rejeitar uma proposição baseando-se no fato de ela também ser defendida por pessoas de caráter muito questionável. Por exemplo:
“Por isso nós deveríamos fechar a igreja? Hitler e Stálin concordariam com você.”
A segunda forma é tentar persuadir alguém a aceitar uma afirmação utilizando como referência as circunstâncias particulares da pessoa. Por exemplo:
“É perfeitamente aceitável matar animais para usar como alimento. Esperto que você não contrarie o que eu disse, pois parece bastante feliz em vestir seus sapatos de couro.”
Esta falácia é conhecida como Argumenutm ad Hominem circunstancial e também pode ser usada como uma desculpa para rejeitar uma conclusão. Por exemplo:
“É claro que a seu ver discriminação racial é absurda. Você é negro”
Essa forma em particular do Argumenutm ad Hominem, no qual você alega que alguém está defendendo uma conclusão por motivos egoístas, também é conhecida como “envenenar o poço”.
Não é sempre inválido referir-se às circunstâncias de quem que faz uma afirmação. Um indivíduo certamente perde credibilidade como testemunha se tiver fama de mentiroso ou traidor; entretanto, isso não prova a falsidade de seu testemunho, nem altera a consistência de quaisquer de seus argumentos lógicos.
Argumentum ad Ignorantiam
Argumentum ad Ignorantiam significa “argumento da ignorância”. A falácia consiste em afirmar que algo é verdade simplesmente porque não provaram o contrário; ou, de modo equivalente, quando for dito que algo é falso porque não provaram sua veracidade.
(Nota: admitir que algo é falso até provarem o contrário não é a mesma coisa que afirmar. Nas leis, por exemplo, os indivíduos são considerados inocentes até que se prove o contrário.)
Abaixo estão dois exemplos:
“Obviamente a Bíblia é verdadeira. Ninguém pode provar o contrário.”
“Certamente a telepatia e os outros fenômenos psíquicos não existem. Ninguém jamais foi capaz de prová-los.”
Na investigação científica, sabe-se que um evento pode produzir certas evidências de sua ocorrência, e que a ausência dessas evidências pode ser validamente utilizada para inferir que o evento não ocorreu. No entanto, não prova com certeza.
Por exemplo:
“Para que ocorresse um dilúvio como o descrito pela Bíblia seria necessário um enorme volume de água. A Terra não possui nem um décimo da quantidade necessária, mesmo levando em conta a que está congelada nos pólos. Logo, o dilúvio não ocorreu.”
Certamente é possível que algum processo desconhecido tenha removido a água. A ciência, entretanto, exigiria teorias plausíveis e passíveis de experimentação para aceitar que o fato tenha ocorrido.
Infelizmente, a história da ciência é cheia de predições lógicas que se mostraram equivocadas. Em 1893, a Real Academia de Ciências da Inglaterra foi persuadida por Sir Robert Ball de que a comunicação com o planeta Marte era fisicamente impossível, pois necessitaria de uma antena do tamanho da Irlanda, e seria impossível fazê-la funcionar.
Veja também Mudando o Ônus da Prova.
Argumentum ad Lazarum
É a falácia de assumir que alguém pobre é mais íntegro ou virtuoso que alguém rico. Essa falácia é apõe-se à Argumentum ad Crumenam. Por exemplo:
“É mais provável que os monges descubram o significado da vida, pois abdicaram das distrações que o dinheiro possibilita.”
Argumentum ad Logicam
Essa é uma “falácia da falácia”. Consiste em argumentar que uma proposição é falsa porque foi apresentada como a conclusão de um argumento falacioso. Lembre-se que um argumento falacioso pode chegar a conclusões verdadeiras.
“Pegue a fração 16/64. Agora, cancelando-se o seis de cima e o seis debaixo, chegamos a 1/4.”
“Espere um segundo! Você não pode cancelar o seis!”
“Ah, então você quer dizer que 16/64 não é 1/4?”
Argumentum ad Misericordiam
É o apelo à piedade, também conhecida como Súplica Especial. A falácia é cometida quando alguém apela à compaixão a fim de que aceitem sua conclusão. Por exemplo:
“Eu não assassinei meus pais com um machado! Por favor, não me acuse; você não vê que já estou sofrendo o bastante por ter me tornado um órfão?”
Argumentum ad Nauseam
Consistem em crer, equivocadamente, que algo é tanto mais verdade, ou tem mais chances de ser, quanto mais for repetido. Um Argumentum ad Nauseamé aquele que afirma algo repetitivamente até a exaustão.
Argumentum ad Novitatem
Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; é a falácia de afirmar que algo é melhor ou mais verdadeiro simplesmente porque é novo ou mais recente que alguma outra coisa.
“BeOS é, de longe, um sistema operacional superior ao OpenStep, pois possui um design muito mais atual.”
Argumentum ad Numerum
Falácia relacionada ao Argumentum ad Populum. Consiste em afirmar que quanto mais pessoas concordam ou acreditam numa certa proposição, mais provavelmente ela estará correta. Por exemplo:
“A grande maioria dos habitantes deste país acredita que a punição capital é bastante eficiente na diminuição dos delitos. Negar isso em face de tantas evidências é ridículo.”
“Milhares de pessoas acreditam nos poderes das pirâmides; ela deve ter algo de especial.”
Argumentum ad Populum
Também conhecida como apelo ao povo. Comete-se essa falácia ao tentar conquistar a aceitação de uma proposição apelando a um grande número de pessoas. Esse tipo de falácia é comumente caracterizado por uma linguagem emotiva. Por exemplo:
“A pornografia deve ser banida. É uma violência contra as mulheres.”
“Por milhares de anos pessoas têm acreditado na Bíblia e Jesus, e essa crença teve um enorme impacto sobre suas vida. De que outra evidência você precisa para se convencer de que Jesus é o filho de Deus? Você está dizendo que todas elas são apenas estúpidas pessoas enganadas?”
Argumentum ad Verecundiam
O Apelo à Autoridade usa a admiração a uma pessoa famosa para tentar sustentar uma afirmação. Por exemplo:
“Isaac Newton foi um gênio e acreditava em Deus.”
Esse tipo de argumento não é sempre inválido; por exemplo, pode ser relevante fazer referência a um indivíduo famoso de um campo específico. Por exemplo, podemos distinguir facilmente entre:
“Hawking concluiu que os buracos negros geram radiação.”
“Penrose conclui que é impossível construir um computador inteligente.”
Hawking é um físico, então é razoável admitir que suas opiniões sobre os buracos negros são fundamentadas. Penrose é um matemático, então sua qualificação para falar sobre o assunto é bastante questionável.
Audiatur et Altera Pars
Freqüentemente pessoas argumentam partir de assunções omitidas. O princípio do Audiatur et Altera Pars diz que todas premissas de um argumento devem ser explicitadas. Estritamente, a omissão das premissas não é uma falácia; entretanto, é comumente vista como algo suspeito.
Bifurcação
“Preto e Branco” é outro nome dado a essa falácia. A Bifurcação ocorre se alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando na verdade existem ou podem existir outras. Por exemplo:
“Ou o homem foi criado, como diz a Bíblia, ou evoluiu casualmente de substâncias químicas inanimadas, como os cientistas dizem. Já que a segunda hipótese é incrivelmente improvável, então...”
Circulus in Demonstrando
Consiste em adotar como premissa uma conclusão à qual você está tentando chegar. Não raro, a proposição é reescrita para fazer com que tenha a aparência de um argumento válido. Por exemplo:
“Homossexuais não devem exercer cargos públicos. Ou seja, qualquer funcionário público que se revele um homossexual deve ser despedido. Por isso, eles farão qualquer coisa para esconder seu segredo, e assim ficarão totalmente sujeitos a chantagens. Conseqüentemente, não se deve permitir homossexuais em cargos públicos.”
Esse é um argumento completamente circular; a premissa e a conclusão são a mesma coisa. Um argumento como o acima foi realmente utilizado como um motivo para que todos os empregados homossexuais do Serviço Secreto Britânico fossem despedidos.
Infelizmente, argumentos circulares são surpreendentemente comuns. Após chegarmos a uma conclusão, é fácil que, acidentalmente, façamos asserções ao tentarmos explicar o raciocínio a alguém.
Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição
É a forma interrogativa de pressupor uma resposta. Um exemplo clássico é a pergunta capciosa:
“Você parou de bater em sua esposa?”
A questão pressupõe uma resposta definida a outra questão que não chegou a ser feita. Esse truque é bastante usado por advogados durante o interrogatório, quando fazem perguntas do tipo:
“Onde você escondeu o dinheiro que roubou?”
Similarmente, políticos também usam perguntas capciosas como:
“Até quando será permitida a intromissão dos EUA em nossos assuntos?”
“O Chanceller planeja continuar essa privatização ruinosa por dois anos ou mais?”
Outra forma dessa falácia é pedir a explicação de algo falso ou que ainda não foi discutido.
Falácias de Composição
A Falácia de Composição é concluir que uma propriedade compartilhada por um número de elementos em particular, também é compartilhada por um conjunto desses elementos; ou que as propriedades de uma parte do objeto devem ser as mesmas nele inteiro. Exemplos:
“Essa bicicleta é feita inteiramente de componentes de baixa densidade, logo é muito leve.”
“Um carro utiliza menos petroquímicos e causa menos poluição que um ônibus. Logo, os carros causam menos dano ambiental que os ônibus.”
Acidente Invertido / Generalização Grosseira
Essa é o inverso da Falácia do Acidente. Ela ocorre quando se cria uma regra geral examinando apenas poucos casos específicos que não representam todos os possíveis casos. Por exemplo:
“Jim Bakker foi um Cristão pérfido; logo, todos os cristãos também são.”
Convertendo uma Condicional
A falácia é um argumento na forma “Se A então B, logo se B então A”.
“Se os padrões educacionais forem abaixados, a qualidade dos argumentos vistos na internet diminui. Então, se vermos o nível dos debates na internet piorar, saberemos que os padrões educacionais estão caindo.”
Essa falácia é similar à Afirmação do Conseqüente, mas escrita como uma afirmação condicional.
Cum Hoc Ergo Propter Hoc
Essa falácia é similar à Post Hoc Ergo Propter Hoc. Consiste em afirmar que devido a dois eventos terem ocorrido concomitantemente, eles possuem uma relação de causalidade. Isso é uma falácia porque ignora outro(s) fator(es) que pode(m) ser a(s) causa(s) do(s) evento(s).
“Os índices de analfabetismo têm aumentado constantemente desde o advento da televisão. Obviamente ela compromete o aprendizado”
Essa falácia é um caso especial da Non Causa Pro Causa.
Negação do Antecedente
Trata-se de um argumento na forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”. A tabela com as Regras de Implicação explica por que isso é uma falácia.
(Nota: A Non Causa Pro Causa é diferente dessa falácia. A Negação do Antecedente possui a forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”, onde A não implica B em absoluto. O problema não é que a implicação seja inválida, mas que a falsidade de A não nos permite deduzir qualquer coisa sobre B.)
“Se o Deus bíblico aparecesse para mim pessoalmente, isso certamente provaria que o cristianismo é verdade. Mas ele não o fez, ou seja, a Bíblia não passa de ficção.”
Esse é oposto da falácia Afirmação do Conseqüente.
Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter
Uma Generalização Absoluta ocorre quando uma regra geral é aplicada a uma situação em particular, mas as características da situação tornam regra inaplicável. O erro ocorre quando se vai do geral do específico. Por exemplo:
“Cristãos não gostam de ateus. Você é um Cristão, logo não gosta de ateus.”
Essa falácia é muito comum entre pessoas que tentam decidir questões legais e morais aplicando regras gerais mecanicamente.
Falácia da Divisão
Oposta à Falácia de Composição, consiste em assumir que a propriedade de um elemento deve aplicar-se às suas partes; ou que uma propriedade de um conjunto de elementos é compartilhada por todos.
“Você estuda num colégio rico. Logo, você é rico.”
“Formigas podem destruir uma árvore. Logo, essa formiga também pode.”
Equivocação / Falácia de Quatro Termos
A Equivocação ocorre quando uma palavra-chave é utilizada com dois um ou mais significados no mesmo argumento. Por exemplo:
“João é destro jogando futebol. Logo, também deve ser destro em outros esportes, apesar de ser canhoto.”
Uma forma de evitar essa falácia é escolher cuidadosamente a terminologia antes de formular o argumento, isso evita que palavras como “destro” possam ter vários significados (como “que usa preferencialmente a mão direita” ou “hábil, rápido”).
Analogia Estendida
A falácia da Analogia Estendida ocorre, geralmente, quando alguma regra geral está sendo discutida. Um caso típico é assumir que a menção de duas situações diferentes, num argumento sobre uma regra geral, significa que tais afirmações são análogas.
A seguir está um exemplo retirado de um debate sobre a legislação anticriptográfica.
“Eu acredito que é errado opor-se à lei violando-a.”
“Essa posição é execrável: implica que você não apoiaria Martin Luther King.”
“Você está dizendo que a legislação sobre criptografia é tão importante quando a luta pela igualdade dos homens? Como ousa!”
Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante
A Ignorantio Elenchi consiste em afirmar que um argumento suporta uma conclusão em particular, quando na verdade não possuem qualquer relação lógica.
Por exemplo, um Cristão pode começar alegando que os ensinamentos do Cristianismo são indubitavelmente verdadeiros. Se após isso ele tentar justificar suas afirmações dizendo que tais ensinamentos são muito benéficos às pessoas que os seguem, não importa quão eloqüente ou coerente seja sua argumentação, ela nunca vai provar a veracidade desses escritos.
Lamentavelmente, esse tipo de argumentação é quase sempre bem-sucedido, pois faz as pessoas enxergarem a suposta conclusão numa perspectiva mais benevolente.
Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza
O Apelo à Natureza é uma falácia comum em argumentos políticos. Uma versão consiste em estabelecer uma analogia entre uma conclusão em particular e algum aspecto do mundo natural, e então afirmar que tal conclusão é inevitável porque o mundo natural é similar:
“O mundo natural é caracterizado pela competição; animais lutam uns contra os outros pela posse de recursos naturais limitados. O capitalismo – luta pela posse de capital – é simplesmente um aspecto inevitável da natureza humana. É como o mundo funciona.”
Outra forma de Apelo à Natureza é argumentar que devido ao homem ser produto da natureza, deve se comportar como se ainda estivesse nela, pois do contrário estaria indo contra sua própria essência.
“Claro que o homossexualismo é inatural. Qual foi a última vez em que você viu animais do mesmo sexo copulando?”
Falácia do Escocês - “Nenhum Escocês de Verdade...”
Suponha que eu afirme “Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau”. Você contra-argumenta dizendo que seu amigo Angus gosta de açúcar no mingau. Então eu digo “Ah, sim, mas nenhum escocês de verdade coloca”.
Esse é o exemplo de uma mudança Ad Hoc sendo feita para defender uma afirmação, combinada com uma tentativa de mudar o significado original das palavras; essa pode ser chamada uma combinação de falácias.
Non Causa Pro Causa
A falácia Non Causa Pro Causa ocorre quando algo é tomado como causa de um evento, mas sem que a relação causal seja demonstrada. Por exemplo:
“Eu tomei uma aspirina e rezei para que Deus a fizesse funcionar; então minha dor de cabeça desapareceu. Certamente Deus foi quem a curou.”
Essa é conhecida como a falácia da Causalidade Fictícia. Duas variações da Non Causa Pro Causa são as falácias Cum Hoc Ergo Propter Hoc e Post Hoc Ergo Propter Hoc.
Non Sequitur
Non Sequitur é um argumento onde a conclusão deriva das premissas sem qualquer conexão lógica. Por exemplo:
“Já que os egípcios fizeram muitas escavações durante a construção das pirâmides, então certamente eram peritos em paleontologia.”
Pretitio Principii / Implorando a Pergunta
Ocorre quando as premissas são pelo menos tão questionáveis quanto as conclusões atingidas. Por exemplo:
“A Bíblia é a palavra de Deus. A palavra de Deus não pode ser questionada; a Bíblia diz que ela mesma é verdadeira. Logo, sua veracidade é uma certeza absoluta.”
Pretitio Principii é similar ao Circulus in Demonstrando, onde a conclusão é a própria premissa.
Plurium Interrogationum / Muitas Questões
Essa falácia ocorre quando alguém exige uma resposta simplista a uma questão complexa.
“Altos impostos impedem os negócios ou não? Sim ou não?”
Post Hoc Ergo Proter Hoc
A falácia Post Hoc Ergo Propter Hoc ocorre quando algo é admitido como causa de um evento meramente porque o antecedeu. Por exemplo:
“A União Soviética entrou em colapso após a instituição do ateísmo estatal; logo, o ateísmo deve ser evitado.”
“ O galo cantou depois que o sol nasceu; por isso o sol nasceu só porque o galo cantou.”
Essa é outra versão da Falácia da Causalidade Fictícia.
Falácia “Olha o Avião”
Comete-se essa falácia quando alguém introduz material irrelevante à questão sendo discutida, fugindo do assunto e comprometendo a objetividade da conclusão.
“Você pode até dizer que a pena de morte é ineficiente no combate à criminalidade, mas e as vítimas? Como você acha que os pais se sentirão quando virem o assassino de seu filho vivendo às custas dos impostos que eles pagam? É justo que paguem pela comida do assassino de seu filho?”
Reificação
A Reificação ocorre quando um conceito abstrato é tratado como algo concreto.
“Você descreveu aquela pessoa como ‘maldosa'. Mas onde fica essa ‘maldade'? Dentro do cérebro? Cadê? Você não pode nem demonstrar o que diz, suas afirmações são infundadas.”
Mudando o Ônus da Prova
O ônus da prova sempre cabe à pessoa que afirma. Análoga ao Argumentum ad Ignorantiam, é a falácia de colocar o ônus da prova no indivíduo que nega ou questiona uma afirmação. O erro, obviamente, consiste em admitir que algo é verdade até que provem o contrário.
“Dizer que os alienígenas não estão controlando o mundo é fácil... eu quero que você prove.”
Declive Escorregadio
Consiste em dizer que a ocorrência de um evento acarretará conseqüências daninhas, mas sem apresentar provas para sustentar tal afirmação. Por exemplo:
“Se legalizarmos a maconha, então mais pessoas começarão a usar crack e heroína, e teríamos de legaliza-las também. Não levará muito tempo até que este país se transforme numa nação de viciados. Logo, não se deve legalizar a maconha.”
Espantalho
A falácia do Espantalho consiste em distorcer a posição de alguém para que possa ser atacada mais facilmente. O erro está no fato dela não lidar com os verdadeiros argumentos.
“Para ser ateu você precisa crer piamente na inexistência de Deus. Para convencer-se disso, é preciso vasculhar todo o Universo e todos os lugares onde Deus poderia estar. Já que obviamente você não fez isso, sua posição é indefensável.”
Uma vez por semana aparece alguém com esse argumento na Internet. Quem não consegue entender qual é a falha lógica deve ler a Introdução ao Ateísmo.
Tu Quoque
Essa é a famosa falácia “você também”. Ocorre quando se argumenta que uma ação é aceitável apenas porque seu oponente a fez. Por exemplo:
“Você está sendo agressivo em suas afirmações.”
“E daí? Você também.”
Isso é um ataque pessoal, sendo uma variante do caso Argumentum ad Hominem.
Falácia do Meio Não-distribuído / Falácia “A baseia-se em B” ou “...é um tipo de...”
É uma falha lógica que ocorre quando se tenta argumentar que certas coisas são, em algum aspecto, similares, mas não se consegue especificar qual. Exemplos:
“A história não se baseia na fé? Então a Bíblia também não poderia ser vista como história?”
“O islamismo baseia-se na fé, o cristianismo também. Então o islamismo não é uma forma de cristianismo?”
“Gatos são animais formados de compostos orgânicos; cachorros também. Então os cachorros não são apenas um tipo de gato?”
*Nota 1
Jesus: Senhor, Mentiroso ou Lunático?
“Jesus existiu? Se não, então não há o que discutir. Mas se existiu, e se autodenominava ‘Senhor', isso significa que: ele era o Senhor, um mentiroso, ou um lunático. É improvável que ele tenha sido um mentiroso, dado o código moral descrito na Bíblia; seu comportamento também não era o de um lunático; então certamente conclui-se que ele era o Senhor.”
Primeiramente, esse argumento admite tacitamente que Jesus existiu de fato. O que é, no mínimo, algo questionável. Ele possui uma falácia lógica que poderemos chamar “Trifurcação”, por analogia com a Bifurcação. É uma tentativa de restringir a três as possibilidades que, na verdade, são muitas mais.
Duas outras hipóteses:
– A Bíblia apresenta as palavras de Jesus de modo distorcido, pois ele nunca alegou ser o “Senhor”.
– As histórias sobre ele foram inventadas ou então misturadas com fantasia pelos primeiros cristãos.
Note que no Novo Testamento Jesus não diz ser Deus, apesar de em João 10:30 ele ter dito “Eu e meu pai somos um”. A alegação de que Jesus era Deus foi feita após sua morte pelos seus doze apóstolos.
Finalmente, a possibilidade de ele ter sido um “lunático” não é tão pequena. Mesmo hoje em dia há várias pessoas que conseguem convencer multidões de que são “o Senhor” ou “o verdadeiro profeta”. Em países mais supersticiosos, há literalmente centenas de supostos “messias”.
*Nota 2
Einstein e “Deus não joga dados”
“Albert Einstein acreditava em Deus. Você se acha mais inteligente que ele?”
Einstein uma vez disse que “Deus não joga dados (com o Universo)”. Essa citação é comumente mencionada para mostrar que Einstein acreditava no Deus cristão. Mas nesse caso ela está fora de contexto, pois dizendo isso ele pretendia apenas recusar alguns aspectos mais populares da teoria quântica. Ademais, a religião de Einstein era o judaísmo, não o cristianismo.
Talvez essas citações de sua autoria possam deixar a idéia mais clara:
“Eu acredito no Deus de Spinoza que se revela através da harmonia do existente, não num Deus que se preocupa com o destino e vida dos seres humanos.”
“O que você leu sobre minas convicções religiosas é uma mentira, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Eu não acredito em um Deus pessoal e nunca neguei isso, mas o afirmei claramente. Se há algo em mim que pode ser chamado religião, é a minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo.”
“Eu não acredito na imortalidade do indivíduo, e considero a moral como algo que diz respeito somente aos homens, sem qualquer relação com uma autoridade supra-humana.”
Lógica & Falácias
Autor: Matthew
Tradutor: André Díspore Cancian
Fonte: The Atheism Web
Introdução
Há muito debate na Internet; infelizmente, grande parte dele possui péssima qualidade. O objetivo deste documento é explicar os fundamentos da argumentação lógica e possivelmente melhorar o nível dos debates em geral.
O Dicionário de Inglês conciso de Oxford (Concise Oxford English Dictionary) define lógica como "a ciência da argumentação, prova, reflexão ou inferência". Ela lhe permitirá analisar um argumento ou raciocínio e deliberar sobre sua veracidade. A lógica não é um pressuposto para a argumentação, é claro; mas conhecendo-a, mesmo que superficialmente, torna-se mais fácil evidenciar argumentos inválidos.
Há muitos tipos de lógica, como a difusa e a construtiva; elas possuem diferentes regras, vantagens e desvantagens. Este documento discute apenas a Booleana simples, pois é largamente conhecida e de compreensão relativamente fácil. Quando indivíduos falam sobre algo ser "lógico", geralmente se referem à lógica que será tratada aqui.
O que a lógica não é
Vale fazer alguns comentários sobre o que a lógica não é.
Primeiro: a lógica não é uma lei absoluta que governa o universo. Muitas pessoas, no passado, concluíram que se algo era logicamente impossível (dada a ciência da época), então seria literalmente impossível. Acreditava-se também que a geometria euclidiana era uma lei universal; afinal, era logicamente consistente. Mas sabemos que tais regras geométricas não são universais.
Segundo: a lógica não é um conjunto de regras que governa o comportamento humano. Pessoas podem possuir objetivos logicamente conflitantes. Por exemplo:
– John quer falar com quem está no encargo.
– A pessoa no encargo é Steve.
– Logo, John quer falar com Steve.
Infelizmente, pode ser que John também deseje, por outros motivos, evitar contato com Steve, tornando seu objetivo conflitante. Isso significa que a resposta lógica nem sempre é viável.
Este documento apenas explica como utilizar a lógica; decidir se ela é a ferramenta correta para a situação fica por conta de cada um. Há outros métodos para comunicação, discussão e debate.
Argumentos
Um argumento é, segundo Monthy Phyton Sketch, “uma série concatenada de afirmações com o fim de estabelecer uma proposição definida”.
Existem vários tipos de argumento; iremos discutir os chamados dedutivos. Esses são geralmente vistos como os mais precisos e persuasivos, provando categoricamente suas conclusões; podem ser válidos ou inválidos.
Argumentos dedutivos possuem três estágios: premissas, inferência e conclusão. Entretanto, antes de discutir tais estágios detalhadamente, precisamos examinar os alicerces de um argumento dedutivo: proposições.
Proposições
Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou falsa. Ela é o significado da afirmação, não um arranjo preciso das palavras para transmitir esse significado.
Por exemplo, “Existe um número primo par maior que dois” é uma proposição (no caso, uma falsa). “Um número primo par maior que dois existe” é a mesma proposição expressa de modo diferente.
Infelizmente, é muito fácil mudar acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-as. A dicção da proposição deve ser considerada como algo significante.
É possível utilizar a lingüística formal para analisar e reformular uma afirmação sem alterar o significado; entretanto, este documento não pretende tratar de tal assunto.
Premissas
Argumentos dedutivos sempre requerem um certo número de “assunções-base”. São as chamadas premissas; é a partir delas que os argumentos são construídos; ou, dizendo de outro modo, são as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que é uma premissa no contexto de um argumento em particular, pode ser a conclusão de outro, por exemplo.
As premissas do argumento sempre devem ser explicitadas, esse é o princípio do audiatur et altera pars*. A omissão das premissas é comumente encarada como algo suspeito, e provavelmente reduzirá as chances de aceitação do argumento.
A apresentação das premissas de um argumento geralmente é precedida pelas palavras “Admitindo que...”, “Já que...”, “Obviamente se...” e “Porque...”. É imprescindível que seu oponente concorde com suas premissas antes de proceder com a argumentação.
Usar a palavra “obviamente” pode gerar desconfiança. Ela ocasionalmente faz algumas pessoas aceitarem afirmações falsas em vez de admitir que não entendem por que algo é “óbvio”. Não hesite em questionar afirmações supostamente “óbvias”.
* Expressão latina que significa “a parte contrária deve ser ouvida”.
Inferência
Umas vez que haja concordância sobre as premissas, o argumento procede passo a passo através do processo chamado inferência.
Na inferência, parte-se de uma ou mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras novas. Se a inferência for válida, a nova proposição também deve ser aceita. Posteriormente essa proposição poderá ser empregada em novas inferências.
Assim, inicialmente, apenas podemos inferir algo a partir das premissas do argumento; ao longo da argumentação, entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas aumenta.
Há vários tipos de inferência válidos, mas também alguns inválidos, os quais serão analisados neste documento. O processo de inferência é comumente identificado pelas frases “conseqüentemente...” ou “isso implica que...”.
Conclusão
Finalmente se chegará a uma proposição que consiste na conclusão, ou seja, no que se está tentando provar. Ela é o resultado final do processo de inferência, e só pode ser classificada como conclusão no contexto de um argumento em particular.
A conclusão se respalda nas premissas e é inferida a partir delas. Esse é um processo sutil que merece explicação mais aprofundada.
A Implicação em Detalhes
Evidentemente, pode-se construir um argumento válido a partir de premissas verdadeiras, chegando a uma conclusão também verdadeira. Mas também é possível construir argumentos válidos a partir de premissas falsas, chegando a conclusões falsas.
O “pega” é que podemos partir de premissas falsas, proceder através de uma inferência válida, e chegar a uma conclusão verdadeira. Por exemplo:
– Premissa: Todos peixes vivem no oceano.
– Premissa: Lontras são peixes.
– Conclusão: Logo, lontras vivem no oceano.
Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: partir de premissas verdadeiras, inferir de modo correto, e chegar a uma conclusão falsa.
Podemos resumir esses resultados numa tabela de “regras de implicação”. O símbolo “à” denota implicação; “A” é a premissa, “B” é a conclusão.
– Se as premissas são falsas e a inferência válida, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa (linhas 1 e 2).
– Se a premissa é verdadeira e a conclusão falsa, a inferência é inválida (linha 3).
– Se as premissas e inferência são válidas, a conclusão é verdadeira (linha 4).
Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa necessariamente que sua conclusão é verdadeira, pois pode ter partido de premissas falsas.
Um argumento válido que foi derivado de premissas verdadeiras é chamado “argumento consistente”. Esses obrigatoriamente chegam a conclusões verdadeiras.
Exemplo de Argumento
A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que pode ou não ser “consistente”.
1 – Premissa: Todo evento tem uma causa.
2 – Premissa: O Universo teve um começo.
3 – Premissa: Começar envolve um evento.
4 – Inferência: Isso implica que o começo do Universo envolveu um evento.
5 – Inferência: Logo, o começo do Universo teve uma causa.
6 – Conclusão: O Universo teve uma causa.
A proposição da linha 4 foi inferida das linhas 2 e 3. A linha 1, então, é usada em conjunto com proposição 4, para inferir uma nova proposição (linha 5). O resultado dessa inferência é reafirmado (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.
Reconhecendo Argumentos
O reconhecimento de argumentos é mais difícil que das premissas ou conclusão. Muitas pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer produzir algo que possa ser chamado argumento.
Algumas vezes os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por exemplo, alguém pode dizer quais são suas conclusões e depois justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um pouco confuso.
Para piorar a situação, algumas afirmações parecem argumentos, mas não são. Por exemplo: “Se a Bíblia é verdadeira, Jesus ou foi um louco, um mentiroso, ou o Filho de Deus”.
Isso não é um argumento; é uma afirmação condicional. Não explicita as premissas necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar que possui outras falhas *(Nota 1).
Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha que, tentando provar que Albert Einstein acreditava em Deus, disséssemos: “Einstein afirmou que ‘Deus não joga dados' porque cria em Deus”.
Isso pode parecer um argumento relevante, mas não é; trata-se de uma explicação da afirmação de Einstein. Para perceber isso, lembre-se que uma afirmação da forma “X porque Y” pode ser reescrita na forma “Y logo X”. O que resultaria em: “Einstein cria em Deus, por isso afirmou que ‘Deus não joga dados'”.
Agora fica claro que a afirmação, que parecia um argumento, está admitindo a conclusão que deveria estar provando.
Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal preocupado com assuntos humanos *(Nota 2).
Leitura complementar
Esboçamos a estrutura de um argumento “consistente” dedutivo desde premissas até a conclusão; contudo, em última análise, a conclusão só pode ser tão persuasiva quanto as premissas utilizadas. A lógica em si não resolve o problema da verificação das premissas; para isso outra ferramenta é necessária.
O método de investigação preponderante é o científico. No entanto, a filosofia da ciência e o método científico são assuntos extremamente extensos e explicá-los está muito além das pretensões deste documento.
Recomenda-se a leitura de livros específicos sobre o assunto para uma compreensão mais abrangente.
Falácias
Há um certo número de “armadilhas” a serem evitadas quando se está construindo um argumento dedutivo; elas são conhecidas como falácias. Na linguagem do dia-a-dia, nós denominamos muitas crenças equivocadas como falácias, mas, na lógica, o termo possui significado mais específico: falácia é uma falha técnica que torna o argumento inconsistente ou inválido.
(Além da consistência do argumento, também se podem criticar as intenções por detrás da argumentação.)
Argumentos contentores de falácias são denominados falaciosos. Freqüentemente parecem válidos e convincentes; às vezes, apenas uma análise pormenorizada é capaz de revelar a falha lógica.
A seguir está uma lista de algumas das falácias mais comuns e determinadas técnicas retóricas bastante utilizadas em debates. A intenção não foi criar uma lista exaustivamente grande, mas apenas ajuda-lo a reconhecer algumas das falácias mais comuns, evitando, assim, ser enganado por elas.
Acentuação / Ênfase
A falácia da Acentuação funciona através de uma mudança no significado. Neste caso, o significado é alterado enfatizando diferentes partes da afirmação. Por exemplo:
“Não devemos falar mal de nossos amigos”
“Não devemos falar mal de nossos amigos”
Seja particularmente cauteloso com esse tipo de falácia na internet, onde é fácil interpretar mal o sentido do que está escrito.
Ad Hoc
Como mencionado acima, argumentar e explicar são coisas diferentes. Se estivermos interessados em demonstrar A, e B é oferecido como evidência, a afirmação “A porque B” é um argumento. Se estivermos tentando demonstrar a veracidade de B, então “A porque B” não é um argumento, mas uma explicação.
A falácia Ad Hoc é explicar um fato após ter ocorrido, mas sem que essa explicação seja aplicável a outras situações. Freqüentemente a falácia Ad Hoc vem mascarada de argumento. Por exemplo, se admitirmos que Deus trata as pessoas igualmente, então esta seria uma explicação Ad Hoc:
“Eu fui curado de câncer”
“Agradeça a Deus, pois ele lhe curou”
“Então ele vai curar todas pessoas que têm câncer?”
“Hmm... talvez... os desígnios de Deus são misteriosos.”
Afirmação do Conseqüente
Essa falácia é um argumento na forma “A implica B, B é verdade, logo A é verdade”. Para entender por que isso é uma falácia, examine a tabela (acima) com as Regras de Implicação. Aqui está um exemplo:
“Se o universo tivesse sido criado por um ser sobrenatural, haveria ordem e organização em todo lugar. E nós vemos ordem, e não esporadicidade; então é óbvio que o universo teve um criador.”
Esse argumento é o contrario da Negação do Antecedente.
Anfibolia
A Anfibolia ocorre quando as premissas usadas num argumento são ambíguas devido a negligência ou imprecisão gramatical. Por exemplo:
“Premissa: A crença em Deus preenche um vazio muito necessário.”
Evidência Anedótica
Uma das falácias mais simples é dar crédito a uma Evidência Anedótica. Por exemplo:
“Há abundantes provas da existência de Deus; ele ainda faz milagres. Semana passada eu li sobre uma garota que estava morrendo de câncer, então sua família inteira foi para uma igreja e rezou, e ela foi curada.”
É bastante válido usar experiências pessoais como ilustração; contudo, essas anedotas não provam nada a ninguém. Um amigo seu pode dizer que encontrou Elvis Presley no supermercado, mas aqueles que não tiveram a mesma experiência exigirão mais do que o testemunho de seu amigo para serem convencidos.
Evidências Anedóticas podem parecer muito convincentes, especialmente queremos acreditar nelas.
Argumentum ad Antiquitatem
Essa é a falácia de afirmar que algo é verdadeiro ou bom só porque é antigo ou “sempre foi assim”. A falácia oposta é a Argumentum ad Novitatem.
“Cristãos acreditam em Jesus há milhares de anos. Se o Cristianismo não fosse verdadeiro, não teria perdurado tanto tempo”
Argumentum ad Baculum / Apelo à Força
Acontece quando alguém recorre à força (ou à ameaça) para tentar induzir outros a aceitarem uma conclusão. Essa falácia é freqüentemente utilizada por políticos, e pode ser sumarizada na expressão “o poder define os direitos”. A ameaça não precisa vir diretamente da pessoa que argumenta. Por exemplo:
“...assim, há amplas provas da veracidade da Bíblia, e todos que não aceitarem essa verdade queimarão no Inferno.”
“...em todo caso, sei seu telefone e endereço; já mencionei que possuo licença para portar armas?”
Argumentum ad Crumenam
É a falácia de acreditar que dinheiro é o critério da verdade; que indivíduos ricos têm mais chances de estarem certos. Trata-se do oposto ao Argumentum ad Lazarum. Exemplo:
“A Microsoft é indubitavelmente superior; por que outro motivo Bill Gates seria tão rico?”
Argumentum ad Hominen
Argumentum ad Hominemliteralmente significa “argumento direcionado ao homem”; há duas variedades.
A primeira é a falácia Argumentum ad Hominemabusiva: consiste em rejeitar uma afirmação e justificar a recusa criticando a pessoa que fez a afirmação. Por exemplo:
“Você diz que os ateus podem ser morais, mas descobri que você abandonou sua mulher e filhos.”
Isso é uma falácia porque a veracidade de uma asserção não depende das virtudes da pessoa que a propugna. Uma versão mais sutil do Argumentum ad Hominen é rejeitar uma proposição baseando-se no fato de ela também ser defendida por pessoas de caráter muito questionável. Por exemplo:
“Por isso nós deveríamos fechar a igreja? Hitler e Stálin concordariam com você.”
A segunda forma é tentar persuadir alguém a aceitar uma afirmação utilizando como referência as circunstâncias particulares da pessoa. Por exemplo:
“É perfeitamente aceitável matar animais para usar como alimento. Esperto que você não contrarie o que eu disse, pois parece bastante feliz em vestir seus sapatos de couro.”
Esta falácia é conhecida como Argumenutm ad Hominem circunstancial e também pode ser usada como uma desculpa para rejeitar uma conclusão. Por exemplo:
“É claro que a seu ver discriminação racial é absurda. Você é negro”
Essa forma em particular do Argumenutm ad Hominem, no qual você alega que alguém está defendendo uma conclusão por motivos egoístas, também é conhecida como “envenenar o poço”.
Não é sempre inválido referir-se às circunstâncias de quem que faz uma afirmação. Um indivíduo certamente perde credibilidade como testemunha se tiver fama de mentiroso ou traidor; entretanto, isso não prova a falsidade de seu testemunho, nem altera a consistência de quaisquer de seus argumentos lógicos.
Argumentum ad Ignorantiam
Argumentum ad Ignorantiam significa “argumento da ignorância”. A falácia consiste em afirmar que algo é verdade simplesmente porque não provaram o contrário; ou, de modo equivalente, quando for dito que algo é falso porque não provaram sua veracidade.
(Nota: admitir que algo é falso até provarem o contrário não é a mesma coisa que afirmar. Nas leis, por exemplo, os indivíduos são considerados inocentes até que se prove o contrário.)
Abaixo estão dois exemplos:
“Obviamente a Bíblia é verdadeira. Ninguém pode provar o contrário.”
“Certamente a telepatia e os outros fenômenos psíquicos não existem. Ninguém jamais foi capaz de prová-los.”
Na investigação científica, sabe-se que um evento pode produzir certas evidências de sua ocorrência, e que a ausência dessas evidências pode ser validamente utilizada para inferir que o evento não ocorreu. No entanto, não prova com certeza.
Por exemplo:
“Para que ocorresse um dilúvio como o descrito pela Bíblia seria necessário um enorme volume de água. A Terra não possui nem um décimo da quantidade necessária, mesmo levando em conta a que está congelada nos pólos. Logo, o dilúvio não ocorreu.”
Certamente é possível que algum processo desconhecido tenha removido a água. A ciência, entretanto, exigiria teorias plausíveis e passíveis de experimentação para aceitar que o fato tenha ocorrido.
Infelizmente, a história da ciência é cheia de predições lógicas que se mostraram equivocadas. Em 1893, a Real Academia de Ciências da Inglaterra foi persuadida por Sir Robert Ball de que a comunicação com o planeta Marte era fisicamente impossível, pois necessitaria de uma antena do tamanho da Irlanda, e seria impossível fazê-la funcionar.
Veja também Mudando o Ônus da Prova.
Argumentum ad Lazarum
É a falácia de assumir que alguém pobre é mais íntegro ou virtuoso que alguém rico. Essa falácia é apõe-se à Argumentum ad Crumenam. Por exemplo:
“É mais provável que os monges descubram o significado da vida, pois abdicaram das distrações que o dinheiro possibilita.”
Argumentum ad Logicam
Essa é uma “falácia da falácia”. Consiste em argumentar que uma proposição é falsa porque foi apresentada como a conclusão de um argumento falacioso. Lembre-se que um argumento falacioso pode chegar a conclusões verdadeiras.
“Pegue a fração 16/64. Agora, cancelando-se o seis de cima e o seis debaixo, chegamos a 1/4.”
“Espere um segundo! Você não pode cancelar o seis!”
“Ah, então você quer dizer que 16/64 não é 1/4?”
Argumentum ad Misericordiam
É o apelo à piedade, também conhecida como Súplica Especial. A falácia é cometida quando alguém apela à compaixão a fim de que aceitem sua conclusão. Por exemplo:
“Eu não assassinei meus pais com um machado! Por favor, não me acuse; você não vê que já estou sofrendo o bastante por ter me tornado um órfão?”
Argumentum ad Nauseam
Consistem em crer, equivocadamente, que algo é tanto mais verdade, ou tem mais chances de ser, quanto mais for repetido. Um Argumentum ad Nauseamé aquele que afirma algo repetitivamente até a exaustão.
Argumentum ad Novitatem
Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; é a falácia de afirmar que algo é melhor ou mais verdadeiro simplesmente porque é novo ou mais recente que alguma outra coisa.
“BeOS é, de longe, um sistema operacional superior ao OpenStep, pois possui um design muito mais atual.”
Argumentum ad Numerum
Falácia relacionada ao Argumentum ad Populum. Consiste em afirmar que quanto mais pessoas concordam ou acreditam numa certa proposição, mais provavelmente ela estará correta. Por exemplo:
“A grande maioria dos habitantes deste país acredita que a punição capital é bastante eficiente na diminuição dos delitos. Negar isso em face de tantas evidências é ridículo.”
“Milhares de pessoas acreditam nos poderes das pirâmides; ela deve ter algo de especial.”
Argumentum ad Populum
Também conhecida como apelo ao povo. Comete-se essa falácia ao tentar conquistar a aceitação de uma proposição apelando a um grande número de pessoas. Esse tipo de falácia é comumente caracterizado por uma linguagem emotiva. Por exemplo:
“A pornografia deve ser banida. É uma violência contra as mulheres.”
“Por milhares de anos pessoas têm acreditado na Bíblia e Jesus, e essa crença teve um enorme impacto sobre suas vida. De que outra evidência você precisa para se convencer de que Jesus é o filho de Deus? Você está dizendo que todas elas são apenas estúpidas pessoas enganadas?”
Argumentum ad Verecundiam
O Apelo à Autoridade usa a admiração a uma pessoa famosa para tentar sustentar uma afirmação. Por exemplo:
“Isaac Newton foi um gênio e acreditava em Deus.”
Esse tipo de argumento não é sempre inválido; por exemplo, pode ser relevante fazer referência a um indivíduo famoso de um campo específico. Por exemplo, podemos distinguir facilmente entre:
“Hawking concluiu que os buracos negros geram radiação.”
“Penrose conclui que é impossível construir um computador inteligente.”
Hawking é um físico, então é razoável admitir que suas opiniões sobre os buracos negros são fundamentadas. Penrose é um matemático, então sua qualificação para falar sobre o assunto é bastante questionável.
Audiatur et Altera Pars
Freqüentemente pessoas argumentam partir de assunções omitidas. O princípio do Audiatur et Altera Pars diz que todas premissas de um argumento devem ser explicitadas. Estritamente, a omissão das premissas não é uma falácia; entretanto, é comumente vista como algo suspeito.
Bifurcação
“Preto e Branco” é outro nome dado a essa falácia. A Bifurcação ocorre se alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando na verdade existem ou podem existir outras. Por exemplo:
“Ou o homem foi criado, como diz a Bíblia, ou evoluiu casualmente de substâncias químicas inanimadas, como os cientistas dizem. Já que a segunda hipótese é incrivelmente improvável, então...”
Circulus in Demonstrando
Consiste em adotar como premissa uma conclusão à qual você está tentando chegar. Não raro, a proposição é reescrita para fazer com que tenha a aparência de um argumento válido. Por exemplo:
“Homossexuais não devem exercer cargos públicos. Ou seja, qualquer funcionário público que se revele um homossexual deve ser despedido. Por isso, eles farão qualquer coisa para esconder seu segredo, e assim ficarão totalmente sujeitos a chantagens. Conseqüentemente, não se deve permitir homossexuais em cargos públicos.”
Esse é um argumento completamente circular; a premissa e a conclusão são a mesma coisa. Um argumento como o acima foi realmente utilizado como um motivo para que todos os empregados homossexuais do Serviço Secreto Britânico fossem despedidos.
Infelizmente, argumentos circulares são surpreendentemente comuns. Após chegarmos a uma conclusão, é fácil que, acidentalmente, façamos asserções ao tentarmos explicar o raciocínio a alguém.
Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição
É a forma interrogativa de pressupor uma resposta. Um exemplo clássico é a pergunta capciosa:
“Você parou de bater em sua esposa?”
A questão pressupõe uma resposta definida a outra questão que não chegou a ser feita. Esse truque é bastante usado por advogados durante o interrogatório, quando fazem perguntas do tipo:
“Onde você escondeu o dinheiro que roubou?”
Similarmente, políticos também usam perguntas capciosas como:
“Até quando será permitida a intromissão dos EUA em nossos assuntos?”
“O Chanceller planeja continuar essa privatização ruinosa por dois anos ou mais?”
Outra forma dessa falácia é pedir a explicação de algo falso ou que ainda não foi discutido.
Falácias de Composição
A Falácia de Composição é concluir que uma propriedade compartilhada por um número de elementos em particular, também é compartilhada por um conjunto desses elementos; ou que as propriedades de uma parte do objeto devem ser as mesmas nele inteiro. Exemplos:
“Essa bicicleta é feita inteiramente de componentes de baixa densidade, logo é muito leve.”
“Um carro utiliza menos petroquímicos e causa menos poluição que um ônibus. Logo, os carros causam menos dano ambiental que os ônibus.”
Acidente Invertido / Generalização Grosseira
Essa é o inverso da Falácia do Acidente. Ela ocorre quando se cria uma regra geral examinando apenas poucos casos específicos que não representam todos os possíveis casos. Por exemplo:
“Jim Bakker foi um Cristão pérfido; logo, todos os cristãos também são.”
Convertendo uma Condicional
A falácia é um argumento na forma “Se A então B, logo se B então A”.
“Se os padrões educacionais forem abaixados, a qualidade dos argumentos vistos na internet diminui. Então, se vermos o nível dos debates na internet piorar, saberemos que os padrões educacionais estão caindo.”
Essa falácia é similar à Afirmação do Conseqüente, mas escrita como uma afirmação condicional.
Cum Hoc Ergo Propter Hoc
Essa falácia é similar à Post Hoc Ergo Propter Hoc. Consiste em afirmar que devido a dois eventos terem ocorrido concomitantemente, eles possuem uma relação de causalidade. Isso é uma falácia porque ignora outro(s) fator(es) que pode(m) ser a(s) causa(s) do(s) evento(s).
“Os índices de analfabetismo têm aumentado constantemente desde o advento da televisão. Obviamente ela compromete o aprendizado”
Essa falácia é um caso especial da Non Causa Pro Causa.
Negação do Antecedente
Trata-se de um argumento na forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”. A tabela com as Regras de Implicação explica por que isso é uma falácia.
(Nota: A Non Causa Pro Causa é diferente dessa falácia. A Negação do Antecedente possui a forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”, onde A não implica B em absoluto. O problema não é que a implicação seja inválida, mas que a falsidade de A não nos permite deduzir qualquer coisa sobre B.)
“Se o Deus bíblico aparecesse para mim pessoalmente, isso certamente provaria que o cristianismo é verdade. Mas ele não o fez, ou seja, a Bíblia não passa de ficção.”
Esse é oposto da falácia Afirmação do Conseqüente.
Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter
Uma Generalização Absoluta ocorre quando uma regra geral é aplicada a uma situação em particular, mas as características da situação tornam regra inaplicável. O erro ocorre quando se vai do geral do específico. Por exemplo:
“Cristãos não gostam de ateus. Você é um Cristão, logo não gosta de ateus.”
Essa falácia é muito comum entre pessoas que tentam decidir questões legais e morais aplicando regras gerais mecanicamente.
Falácia da Divisão
Oposta à Falácia de Composição, consiste em assumir que a propriedade de um elemento deve aplicar-se às suas partes; ou que uma propriedade de um conjunto de elementos é compartilhada por todos.
“Você estuda num colégio rico. Logo, você é rico.”
“Formigas podem destruir uma árvore. Logo, essa formiga também pode.”
Equivocação / Falácia de Quatro Termos
A Equivocação ocorre quando uma palavra-chave é utilizada com dois um ou mais significados no mesmo argumento. Por exemplo:
“João é destro jogando futebol. Logo, também deve ser destro em outros esportes, apesar de ser canhoto.”
Uma forma de evitar essa falácia é escolher cuidadosamente a terminologia antes de formular o argumento, isso evita que palavras como “destro” possam ter vários significados (como “que usa preferencialmente a mão direita” ou “hábil, rápido”).
Analogia Estendida
A falácia da Analogia Estendida ocorre, geralmente, quando alguma regra geral está sendo discutida. Um caso típico é assumir que a menção de duas situações diferentes, num argumento sobre uma regra geral, significa que tais afirmações são análogas.
A seguir está um exemplo retirado de um debate sobre a legislação anticriptográfica.
“Eu acredito que é errado opor-se à lei violando-a.”
“Essa posição é execrável: implica que você não apoiaria Martin Luther King.”
“Você está dizendo que a legislação sobre criptografia é tão importante quando a luta pela igualdade dos homens? Como ousa!”
Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante
A Ignorantio Elenchi consiste em afirmar que um argumento suporta uma conclusão em particular, quando na verdade não possuem qualquer relação lógica.
Por exemplo, um Cristão pode começar alegando que os ensinamentos do Cristianismo são indubitavelmente verdadeiros. Se após isso ele tentar justificar suas afirmações dizendo que tais ensinamentos são muito benéficos às pessoas que os seguem, não importa quão eloqüente ou coerente seja sua argumentação, ela nunca vai provar a veracidade desses escritos.
Lamentavelmente, esse tipo de argumentação é quase sempre bem-sucedido, pois faz as pessoas enxergarem a suposta conclusão numa perspectiva mais benevolente.
Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza
O Apelo à Natureza é uma falácia comum em argumentos políticos. Uma versão consiste em estabelecer uma analogia entre uma conclusão em particular e algum aspecto do mundo natural, e então afirmar que tal conclusão é inevitável porque o mundo natural é similar:
“O mundo natural é caracterizado pela competição; animais lutam uns contra os outros pela posse de recursos naturais limitados. O capitalismo – luta pela posse de capital – é simplesmente um aspecto inevitável da natureza humana. É como o mundo funciona.”
Outra forma de Apelo à Natureza é argumentar que devido ao homem ser produto da natureza, deve se comportar como se ainda estivesse nela, pois do contrário estaria indo contra sua própria essência.
“Claro que o homossexualismo é inatural. Qual foi a última vez em que você viu animais do mesmo sexo copulando?”
Falácia do Escocês - “Nenhum Escocês de Verdade...”
Suponha que eu afirme “Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau”. Você contra-argumenta dizendo que seu amigo Angus gosta de açúcar no mingau. Então eu digo “Ah, sim, mas nenhum escocês de verdade coloca”.
Esse é o exemplo de uma mudança Ad Hoc sendo feita para defender uma afirmação, combinada com uma tentativa de mudar o significado original das palavras; essa pode ser chamada uma combinação de falácias.
Non Causa Pro Causa
A falácia Non Causa Pro Causa ocorre quando algo é tomado como causa de um evento, mas sem que a relação causal seja demonstrada. Por exemplo:
“Eu tomei uma aspirina e rezei para que Deus a fizesse funcionar; então minha dor de cabeça desapareceu. Certamente Deus foi quem a curou.”
Essa é conhecida como a falácia da Causalidade Fictícia. Duas variações da Non Causa Pro Causa são as falácias Cum Hoc Ergo Propter Hoc e Post Hoc Ergo Propter Hoc.
Non Sequitur
Non Sequitur é um argumento onde a conclusão deriva das premissas sem qualquer conexão lógica. Por exemplo:
“Já que os egípcios fizeram muitas escavações durante a construção das pirâmides, então certamente eram peritos em paleontologia.”
Pretitio Principii / Implorando a Pergunta
Ocorre quando as premissas são pelo menos tão questionáveis quanto as conclusões atingidas. Por exemplo:
“A Bíblia é a palavra de Deus. A palavra de Deus não pode ser questionada; a Bíblia diz que ela mesma é verdadeira. Logo, sua veracidade é uma certeza absoluta.”
Pretitio Principii é similar ao Circulus in Demonstrando, onde a conclusão é a própria premissa.
Plurium Interrogationum / Muitas Questões
Essa falácia ocorre quando alguém exige uma resposta simplista a uma questão complexa.
“Altos impostos impedem os negócios ou não? Sim ou não?”
Post Hoc Ergo Proter Hoc
A falácia Post Hoc Ergo Propter Hoc ocorre quando algo é admitido como causa de um evento meramente porque o antecedeu. Por exemplo:
“A União Soviética entrou em colapso após a instituição do ateísmo estatal; logo, o ateísmo deve ser evitado.”
“ O galo cantou depois que o sol nasceu; por isso o sol nasceu só porque o galo cantou.”
Essa é outra versão da Falácia da Causalidade Fictícia.
Falácia “Olha o Avião”
Comete-se essa falácia quando alguém introduz material irrelevante à questão sendo discutida, fugindo do assunto e comprometendo a objetividade da conclusão.
“Você pode até dizer que a pena de morte é ineficiente no combate à criminalidade, mas e as vítimas? Como você acha que os pais se sentirão quando virem o assassino de seu filho vivendo às custas dos impostos que eles pagam? É justo que paguem pela comida do assassino de seu filho?”
Reificação
A Reificação ocorre quando um conceito abstrato é tratado como algo concreto.
“Você descreveu aquela pessoa como ‘maldosa'. Mas onde fica essa ‘maldade'? Dentro do cérebro? Cadê? Você não pode nem demonstrar o que diz, suas afirmações são infundadas.”
Mudando o Ônus da Prova
O ônus da prova sempre cabe à pessoa que afirma. Análoga ao Argumentum ad Ignorantiam, é a falácia de colocar o ônus da prova no indivíduo que nega ou questiona uma afirmação. O erro, obviamente, consiste em admitir que algo é verdade até que provem o contrário.
“Dizer que os alienígenas não estão controlando o mundo é fácil... eu quero que você prove.”
Declive Escorregadio
Consiste em dizer que a ocorrência de um evento acarretará conseqüências daninhas, mas sem apresentar provas para sustentar tal afirmação. Por exemplo:
“Se legalizarmos a maconha, então mais pessoas começarão a usar crack e heroína, e teríamos de legaliza-las também. Não levará muito tempo até que este país se transforme numa nação de viciados. Logo, não se deve legalizar a maconha.”
Espantalho
A falácia do Espantalho consiste em distorcer a posição de alguém para que possa ser atacada mais facilmente. O erro está no fato dela não lidar com os verdadeiros argumentos.
“Para ser ateu você precisa crer piamente na inexistência de Deus. Para convencer-se disso, é preciso vasculhar todo o Universo e todos os lugares onde Deus poderia estar. Já que obviamente você não fez isso, sua posição é indefensável.”
Uma vez por semana aparece alguém com esse argumento na Internet. Quem não consegue entender qual é a falha lógica deve ler a Introdução ao Ateísmo.
Tu Quoque
Essa é a famosa falácia “você também”. Ocorre quando se argumenta que uma ação é aceitável apenas porque seu oponente a fez. Por exemplo:
“Você está sendo agressivo em suas afirmações.”
“E daí? Você também.”
Isso é um ataque pessoal, sendo uma variante do caso Argumentum ad Hominem.
Falácia do Meio Não-distribuído / Falácia “A baseia-se em B” ou “...é um tipo de...”
É uma falha lógica que ocorre quando se tenta argumentar que certas coisas são, em algum aspecto, similares, mas não se consegue especificar qual. Exemplos:
“A história não se baseia na fé? Então a Bíblia também não poderia ser vista como história?”
“O islamismo baseia-se na fé, o cristianismo também. Então o islamismo não é uma forma de cristianismo?”
“Gatos são animais formados de compostos orgânicos; cachorros também. Então os cachorros não são apenas um tipo de gato?”
*Nota 1
Jesus: Senhor, Mentiroso ou Lunático?
“Jesus existiu? Se não, então não há o que discutir. Mas se existiu, e se autodenominava ‘Senhor', isso significa que: ele era o Senhor, um mentiroso, ou um lunático. É improvável que ele tenha sido um mentiroso, dado o código moral descrito na Bíblia; seu comportamento também não era o de um lunático; então certamente conclui-se que ele era o Senhor.”
Primeiramente, esse argumento admite tacitamente que Jesus existiu de fato. O que é, no mínimo, algo questionável. Ele possui uma falácia lógica que poderemos chamar “Trifurcação”, por analogia com a Bifurcação. É uma tentativa de restringir a três as possibilidades que, na verdade, são muitas mais.
Duas outras hipóteses:
– A Bíblia apresenta as palavras de Jesus de modo distorcido, pois ele nunca alegou ser o “Senhor”.
– As histórias sobre ele foram inventadas ou então misturadas com fantasia pelos primeiros cristãos.
Note que no Novo Testamento Jesus não diz ser Deus, apesar de em João 10:30 ele ter dito “Eu e meu pai somos um”. A alegação de que Jesus era Deus foi feita após sua morte pelos seus doze apóstolos.
Finalmente, a possibilidade de ele ter sido um “lunático” não é tão pequena. Mesmo hoje em dia há várias pessoas que conseguem convencer multidões de que são “o Senhor” ou “o verdadeiro profeta”. Em países mais supersticiosos, há literalmente centenas de supostos “messias”.
*Nota 2
Einstein e “Deus não joga dados”
“Albert Einstein acreditava em Deus. Você se acha mais inteligente que ele?”
Einstein uma vez disse que “Deus não joga dados (com o Universo)”. Essa citação é comumente mencionada para mostrar que Einstein acreditava no Deus cristão. Mas nesse caso ela está fora de contexto, pois dizendo isso ele pretendia apenas recusar alguns aspectos mais populares da teoria quântica. Ademais, a religião de Einstein era o judaísmo, não o cristianismo.
Talvez essas citações de sua autoria possam deixar a idéia mais clara:
“Eu acredito no Deus de Spinoza que se revela através da harmonia do existente, não num Deus que se preocupa com o destino e vida dos seres humanos.”
“O que você leu sobre minas convicções religiosas é uma mentira, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Eu não acredito em um Deus pessoal e nunca neguei isso, mas o afirmei claramente. Se há algo em mim que pode ser chamado religião, é a minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo.”
“Eu não acredito na imortalidade do indivíduo, e considero a moral como algo que diz respeito somente aos homens, sem qualquer relação com uma autoridade supra-humana.”
- Fernando Silva
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Falácias - como não ser levado a acreditar em absurdos
Baseado em texto original de Michael Shermer
Quando damos razões para que uma alegação ou hipótese seja aceita, estamos argumentando. As razões que damos são as premissas da argumentação e a alegação que elas pretendem sustentar é a conclusão. Se as premissas são aceitáveis e sustentam adequadamente a alegação, então a argumentação é boa. Caso contrário, se as premissas são duvidosas ou se não justificam a conclusão, então a argumentação é falaciosa. Não cumpre sua função, ou seja, não dá uma boa razão para se aceitar uma alegação.
Infelizmente, argumentos falaciosos podem ter grande poder psicológico. Quem não está treinado para perceber falácias, com frequência aceita alegações infundadas. Para não se acreditar em coisas irracionais é importante entender as várias falhas de argumentação que podem ocorrer.
Um argumento é falacioso se contém (1) premissas inaceitáveis, (2) premissas irrelevantes ou (3) premissas insuficientes.
- As premissas são inaceitáveis se elas são, no mínimo, tão duvidosas quanto a alegação que pretendem apoiar. Numa boa argumentação, as premissas têm que ser a base sólida na qual se assenta a conclusão, caso contrário a conclusão não terá firmeza.
- As premissas são irrelevantes se não se aplicam ao caso. A conclusão deriva das premissas. Se as premissas não têm a ver com a conclusão, não dão razões para que esta seja aceita.
-As premissas são insuficientes se deixam dúvidas quanto à validade da conclusão. Numa boa argumentação, as premissas devem eliminar os motivos razoáveis de dúvida.
As falácias listadas mais abaixo podem ser classificadas nestas categorias como se segue:
-Inaceitáveis: 4.6, 4.7
-Irrelevantes: 4.2, 4.3, 4.5, 4.9, 4.10, 4.11, 4.12, 4.13, 4.14, 4.15
-Insuficientes: 3.9, 4.1, 4.4
Ao se ouvir um argumento, deve-se verificar se as premissas são aceitáveis, relevantes e suficientes. Se uma das condições estiver ausente, o argumento não é logicamente aceitável. Um outro modo básico de definir os termos é: Hipóteses e premissas podem ser verdadeiras ou falsas. Um argumento pode ser válido ou inválido (falacioso). Um argumento pode ser válido mas, se baseado em premissas falsas, pode levar a conclusões falsas.
Da mesma forma, um argumento pode ser inválido ainda que premissas e conclusão sejam verdadeiras. Por exemplo: "Os homens têm 3 pulmões. Sócrates é homem. Logo, Sócrates tem 3 pulmões". A argumentação é perfeita mas a conclusão é falsa porque uma das premissas é falsa. Outra abordagem pode ser resumida nos seguintes passos:
1. Apresente a alegação ou hipótese.
2. Examine as evidências em favor da hipótese.
3. Considere hipóteses alternativas.
4. Classifique cada hipótese conforme o critério de aceitação.
Passo 1- Apresente a alegação: Antes que se possa examinar uma alegação ou hipótese, é necessário entendê-la. Ela deve estar expressa em termos claros e específicos. "Fantasmas existem" não é suficiente porque é muito vago. Uma opção melhor é "O espírito desencarnado de pessoas mortas existe e é visível ao olho humano". Da mesma forma, "A astrologia funciona" não basta. É melhor dizer que: "Astrólogos podem identificar corretamente a personalidade de uma pessoa usando os signos solares". Mesmo estas versões revisadas ainda são ambíguas e não tão definitivas como deveriam. Os termos deveriam estar mais bem definidos, por exemplo. O que é "espírito"? O que significa " identificar corretamente a personalidade de uma pessoa "? Acontece que muitas das afirmações extraordinárias que são apresentadas são deste tipo. Antes de analisá-las, deve-se procurar o máximo de clareza e definição sobre o que a alegação diz.
Passo 2 - Pergunte a si mesmo que razões existem para que a alegação seja aceita. Ou seja, que evidências empíricas ou argumentos lógicos suportam a alegação? A resposta levará a uma avaliação tanto quanto à qualidade quanto à quantidade. Uma avaliação honesta e completa de razões deverá incluir:
a. A determinação da exata natureza e das limitações da evidência empírica. Isto significa determinar não apenas qual é a evidência mas quais dúvidas existem quanto a ela. Ou seja, é preciso definir se está sujeita a deficiências tais como: distorções da percepção humana, memória e julgamento; erros e preconceitos da pesquisa científica; dificuldades inerentes a dados ambíguos. Às vezes, mesmo um levantamento preliminar dos fatos levará à admissão de que não há, na verdade, nada de misterioso que requeira explicação. Ou, talvez, um pequeno mistério levará a um mistério maior. De qualquer modo, uma abordagem objetiva da evidência requer coragem. Muitos crentes fervorosos nunca ousaram dar este passo inicial.
b. Decidir se a hipótese em questão realmente explica a evidência. Se não - se fatores importantes ficam de fora - a hipótese não é boa. Ou seja, uma boa hipótese deve ser relevante quanto à evidência que ela pretende explicar. Caso contrário, deve ser abandonada.
Passo 3 - Considere hipóteses alternativas: Não basta apenas considerar a hipótese em questão e as razões para aceitá-la. Se você espera descobrir a verdade, deve também considerar alternativas e suas razões. Por exemplo, considere que a Rena do Nariz Vermelho de Papai Noel é real e vive no Polo Norte. Como evidência, apresente estes fatos: milhões de crianças acreditam que ela existe; figuras dela são mostradas em toda parte na época do Natal; considerando a quantidade de renas que existem e que já existiram, é possível que algum dia uma rena voadora tenha sido gerada através de mutações; há pessoas que dizem que já viram esta rena com seus próprios olhos. Poderíamos continuar neste caminho e criar uma argumentação bem convincente para esta hipótese. Em pouco tempo, você pode até acreditar que encontrou alguma coisa. Parece uma hipótese bem convincente quando vista sozinha, mas, se imaginarmos uma alternativa - que esta rena é apenas uma criatura imaginária tirada de uma canção de Natal - ela se torna ridícula.
A hipótese da criatura imaginária é suportada por evidências abundantes; não conflita com teorias biológicas bem estabelecidas; e, ao contrário da outra hipótese, não requer a introdução de novas entidades. Este terceiro passo envolve criatividade e uma mente sempre aberta. Requer que se pergunte se há outros modos de explicar o fenômeno em questão e, se houver, quais são as razões em favor deles, ou seja, envolve a aplicação do Passo 2 a todas as explicações alternativas. Também é importante lembrar que as pessoas tendem, quando diante de um fenômeno extraordinário, a procurar uma explicação envolvendo o paranormal ou sobrenatural e resistem a pensar em hipóteses naturais. Como resultado, assumem que a hipótese paranormal está correta. É preciso lembrar que, só porque não conseguimos pensar numa explicação natural, não significa que não haja uma.
O procedimento correto é insistir na busca por hipóteses que não envolvam o sobrenatural ou paranormal. Todos nós temos uma tendência inata a nos agarrarmos a uma hipótese favorita e ignorar ou resistir às alternativas. Podemos achar que as outras não merecem atenção porque a nossa está certa. Esta tendência pode nos satisfazer (por algum tempo), mas também é uma boa fonte de ilusões. Temos que nos esforçar para contrabalançar esta inclinação. Uma mente aberta estará sempre disposta a considerar todas as possibilidades e a mudar de opinião se houver boas razões.
Passo 4 - Classifique cada hipótese conforme o critério de aceitação. Em seguida, avalie as hipóteses para determinar quais têm valor e quais são falhas. Não basta apenas listar as evidências para cada uma. Temos que levar em conta outros fatores que possam dar uma perspectiva diferente e nos ajudar a avaliar hipóteses quando não há nenhuma evidência, o que costuma ser o caso quando se trata de alegações extraordinárias. Estes fatores são os critérios de adequação. Aplicando-os a cada hipótese, com frequência podemos eliminar algumas hipóteses imediatamente, dar mais peso a outras e decidir entre hipóteses que parecem ter o mesmo valor à primeira vista.
a. Testabilidade - Pergunte-se: a hipótese pode ser testada? Há algum meio de determinar se ela é verdadeira ou falsa? Muitas hipóteses sobre fenômenos extraordinários não são testáveis. Isto não significa que elas são falsas. Significa que não têm valor. São apenas afirmações que nunca poderemos determinar se são verdadeiras. Um exemplo é você dizer que suas dores de cabeça são causadas por um duende invisível que vive dentro dela. Não há como prová-la, portanto ela não tem valor.
b. Dá resultados? - Pergunte-se: a hipótese resulta em previsões ou desdobramentos surpreendentes que explicam novos fenômenos? Isto dá valor à hipótese e pode ajudar no desempate. A maioria das hipóteses sobre coisas estranhas não resulta em previsões observáveis (o que não significa que a hipótese seja falsa).
c. Abrangência - Quantos fenômenos diferentes a hipótese explica? Quantos mais ela explicar, menos chances de estar errada. Por exemplo, nossos sentidos e nossa percepção com frequência geram informações que não correspondem à realidade e nos levam a ver e sentir coisas que não existem. Esta é uma hipótese bem comprovada e tem mais valor, por exemplo, que dizer que todas as luzes não identificadas no céu são naves extraterrestres, o que não explica outros tipos de alucinação.
d. Simplicidade - Esta é a explicação mais simples para o fenômeno? Em geral, a hipótese mais simples que melhor explica o fato é a que tem menos chances de ser falsa. Por simples, entende-se aquela que assume o menor número de entidades. Por exemplo, se seu carro não quer pegar de manhã, uma hipótese é a de que a bateria está descarregada. Outra hipótese culpa algum espírito maligno. Esta última requer a existência de uma entidade misteriosa, enquanto que a hipótese da bateria é mais simples, é testável, permite prever consequências e explica vários fenômenos. Já no caso do espírito maligno, é preciso afirmar sua existência e definir suas características e tendências, o que reduz suas chances de ser a opção correta.
e. Conservadorismo - A hipótese está de acordo com crenças bem fundadas? Ou seja, com a evidência empírica - que resulta de observações confiáveis e testes científicos, com as leis da natureza ou com teorias aceitas? Tentar responder a estas perguntas o leva além de simplesmente catalogar evidências para as hipóteses e também permite avaliá-las à luz de toda a evidência disponível. Ou seja, a hipótese que menos contradiz o conjunto de conhecimentos aceitos tem maiores chances de ser verdadeira. Por exemplo, se alguém lhe disser que choveu cães e gatos, deve-se considerar que o fato é logicamente possível, mas conflita com toda a experiência acumulada sobre coisas que caem do céu. Pode ser que um dia venha a acontecer, mas as chances são muito pequenas. Da mesma forma, uma máquina de movimento perpétuo contraria leis da física e uma enorme evidência empírica acumulada. Até prova em contrário, devemos considerar tal coisa como altamente improvável. Uma hipótese que conflita com teorias bem confirmadas deve ser vista como improvável até que haja boas evidências de que a hipótese está certa e que a teoria está errada. Portanto, fenômenos paranormais são, por definição, improváveis. Conflitam com o que sabemos, com montanhas de evidências acumuladas. Devemos exigir ótimas evidências em contrário antes de mudarmos de ideia.
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Descrição das falácias mais comuns e conceitos relacionados:
1. Máxima de Hume: O filósofo escocês David Hume (1711-1776) escreveu, em 1758, um livro intitulado "An Enquiry Concerning Human Understanding", onde afirmava que "o homem sábio acredita nas coisas proporcionalmente às evidências". Seu princípio de análise de afirmações miraculosas é: "Nenhum testemunho é suficiente para provar um milagre, a menos que o testemunho seja de tal tipo que sua falsidade seja mais miraculosa que o fato que ele tenta estabelecer". Quando me dizem que um homem ressuscitou, imediatamente avalio o que é mais provável, que a pessoa está tentando me enganar ou foi enganada ou que o fato relatado seja verdade. Peso uma possibilidade contra a outra e me decido pela que for menos miraculosa.
2. Problemas com o pensamento científico:
2.1. A teoria influencia a observação: Werner Heisenberg, prêmio Nobel de física, concluiu que "o que observamos não é a natureza em si mas a natureza exposta ao nosso método de investigação". A realidade existe independentemente do observador, mas nossa percepção dela é influenciada pelas nossas teorias preconcebidas. Por exemplo, Colombo tinha tanta certeza de ter chegado às Índias que chamou de canela ao primeiro arbusto que cheirava como canela. Sua teoria de Índia produziu observações de Índia, embora ele estivesse do outro lado do mundo.
2.2. O observador modifica o observado: para se observar alguma coisa, é preciso se aproximar desta coisa, instalar instrumentos de medida. Isto modifica a coisa, altera o universo. Ao se estudar um evento, o evento é modificado. Ao se estudar uma tribo, o comportamento de seus membros pode ser modificado pelo fato de se saberem observados. Psicólogos usam controles de duplo-cego em seus testes justamente para que os voluntários não saibam quais as hipóteses sendo testadas e não modifiquem seu comportamento de acordo com elas. Tais controles frequentemente não são usados em testes de poderes paranormais e é um dos principais motivos de enganos nas pseudociências. A verdadeira ciência busca entender e reduzir o efeito da observação sobre o observado.
2.3. O equipamento produz resultados: O equipamento usado numa experiência frequentemente determina os resultados. Nossas teorias sobre o tamanho e a complexidade do universo foram se alterando à medida em que telescópios mais potentes eram construídos. Um ictiólogo usando uma rede de malha aberta vai basear suas teorias sobre os peixes o que a rede conseguiu pegar. Seriam outras se a rede tivesse malha fina. Ele pode ser levado a crer que aquilo que ele capturou é uma amostra de tudo o que existe no mar e recusar afirmações sobre a existência de seres menores e diferentes.
3. Problemas com o pensamento pseudocientífico:
3.1. Relatos isolados não são ciência: As histórias que se contam como prova de uma afirmação não são ciência. Sem provas e evidências físicas, dez ou cem relatos têm o mesmo valor que um. Histórias são contadas por humanos falíveis. Mesmo que a testemunha seja séria e honesta, não dada a alucinações, nem por isto devemos crer em relatos de abduções por discos voadores em estradas desertas. Precisamos da presença física do tal disco ou de corpos de alienígenas.
Histórias sobre como sua tia Maria foi curada de um câncer ao assistir um determinado filme ou tomar um extrato de fígado de galos castrados não significam nada. O câncer pode ter se curado sozinho, como acontece às vezes, ou talvez fosse apenas um erro de diagnóstico ou qualquer outra possibilidade. Precisamos de experiências controladas, não de relatos. Precisamos de 100 pacientes de câncer, todos devidamente diagnosticados e acompanhados. Em seguida, precisamos que 25 deles assistam àquele filme, outros 25 assistam a outro filme qualquer, 25 outros assistam ao noticiário e os demais não assistam a nada. Em seguida, temos que analisar a taxa média de cura espontânea entre os grupos. Se houver diferenças significativas, devemos buscar confirmação com outros cientistas que fizeram experiências em separado de nós antes de chamar a imprensa e anunciar a cura do câncer.
3.2. Linguagem científica não é ciência: Usar termos científicos para criar um sistema de crenças, como no caso do criacionismo científico, não significa nada sem evidências, testes experimentais e repetibilidade. Certas pessoas se aproveitam da mística que a ciência tem na nossa sociedade e, não tendo evidências a apresentar, tentam parecer respeitáveis usando linguagem "científica". As seitas da Nova Era usam muito este recurso, criando textos complicados e ininteligíveis (que, por isto mesmo, parecem "científicos"). A física quântica, com seu princípio da incerteza, veio a calhar para elas, que a citam para explicar qualquer coisa, de astrologia a "energias positivas" e "vibrações planetárias" e lhes serve de argumento contra o rigor do método científico.
3.3. A ousadia de uma afirmação não a torna verdadeira: Uma coisa é provavelmente pseudocientífica se é sustentada por afirmações bombásticas quanto a seu poder e veracidade, mas as evidências são escassas. Por exemplo, L. Ron Hubbard inicia seu "Dianética: a ciência moderna da saúde mental" com esta declaração: "A criação da Dianética é um marco para o homem comparável à descoberta do fogo e superior à invenção do arco e da roda". Cientistas também podem cometer este erro, como no caso de Stanley Pons e Martin Fleischmann que, em 23 de março de 1989, convocaram a imprensa para anunciar que tinham descoberto a fusão nuclear a frio. É claro que uma descoberta pode provar que 50 anos de física estavam errados, mas, até que tal descoberta tenha sido reproduzida independentemente por outros cientistas, não se deve por a mão no fogo por ela. Em resumo, quanto mais extraordinária for uma afirmação, mais extraordinários terão que ser os testes.
3.4. Heresia não significa credibilidade: Riram-se de Copérnico. Riram-se de Galileu. Mas também se riram dos irmãos Marx. Ser exposto ao ridículo não significa que você esteja certo. Cita-se muito Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século 19: "Toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada. Segundo, ela sofre violenta oposição. Terceiro, ela é aceita como autoevidente". Mas nem todas as verdades passam por estes estágios. Muitas são aceitas sem ridículo ou oposição. As teorias de Einstein foram apenas ignoradas até que, em 1919, foram aceitas depois que a evidência experimental provou que estavam corretas. Citar Schopenhauer é apenas uma forma de tentar se dar credibilidade a uma ideia que ninguém aceita. A história da ciência está cheia de cientistas que enfrentaram a oposição de seus pares e desafiaram as teorias aceitas. A maioria estava errada e seus nomes foram esquecidos. Os "Galileus" são minoria. Antes de criticar a comunidade científica, procure os especialistas naquele ramo, troque informações e ideias e apresente sua teoria para que seja examinada. E não se queixe se uma teoria sem lógica for rejeitada sem maiores análises.
3.5. Ônus da prova: Quem tem que provar o quê para quem? Cabe a quem faz uma afirmação extraordinária provar aos especialistas e à comunidade em geral que sua crença tem mais valor que a crença aceita por todos. Você tem que defender sua ideia, tem que conseguir partidários entre os experts para que seja aceito pela maioria. Quando o consegue, o ônus de contradizê-lo passa aos outros. Os evolucionistas tiveram o ônus da prova por uns 50 anos depois de Darwin, mas agora ele cabe aos criacionistas. Não cabe mais aos evolucionistas defender a evolução das espécies, mas aos criacionistas mostrar que eles estão errados e por quê. Cabe aos que negam o Holocausto provar que ele não aconteceu e não aos historiadores provar que ele existiu. Não basta estar certo, não basta ter evidências, é preciso convencer os outros da validade de suas evidências. É o preço que pagam os desconhecidos.
3.6. Boatos não dão credibilidade: Boatos começam com "Ouvi falar..." e logo se transformam em "Sabe-se que..." à medida em que se propagam. Boatos podem ser verdade, é claro, mas em geral não o são. Histórias fantásticas e lendas urbanas espalham-se rapidamente e nunca morrem. Exemplos: há jacarés gigantes vivendo nos esgotos de Nova Iorque. O pouso do homem na Lua foi forjado num estúdio em Hollywood. Um disco voador caiu no Novo México e os corpos dos alienígenas estão com a Força Aérea americana.
3.7. O que não está explicado não é inexplicável: Muitas pessoas acreditam firmemente que, se elas não podem explicar algo, então tal coisa é inexplicável e é um mistério paranormal. Se ninguém sabe como as pirâmides foram construídas, então elas só podem ter sido obra de extraterrestres. Mesmo pessoas razoáveis tendem a achar que, se os experts não sabem explicar alguma coisa, ela deve ser inexplicável. Fenômenos como talheres que se curvam, gente que caminha sobre o fogo ou telepatia são considerados místicos ou de natureza paranormal porque a maioria das pessoas não consegue explicá-los (embora mudem de ideia ao descobrir o truque). Por exemplo, é possível caminhar sobre brasas porque a condutividade térmica do carvão é muito baixa. Basta não ficar parado em um só lugar. É por isso que os mágicos não revelam seus truques. A maioria é muito simples e a graça toda se perderia. É claro que há muitos mistérios no universo, mas a atitude correta é acreditar que "não sabemos, mas um dia podemos vir a saber". O problema é que mistérios são incômodos e as pessoas preferem se agarrar a conclusões, ainda que prematuras.
3.8. Racionalizar o fracasso: Cientistas falham com frequência - e aprendem com isto. Ninguém quer falhar, mas é errando que se aprende. Cientistas honestos admitem seus erros sem problemas. Os demais se mantêm na linha por medo de serem apanhados pelos colegas se mentirem. Mas pseudo cientistas não têm tais escrúpulos. Escondem suas falhas ou as racionalizam. Por exemplo, alegam que seus poderes podem falhar às vezes. Se apanhados numa fraude, alegam que, excepcionalmente, apelaram para truques para não decepcionar a audiência. Ou culpam a presença negativa de céticos, de câmeras de televisão etc. E recorrem à falácia sobre o que ninguém explica ser inexplicável.
3.9. Inventar relações de causa e efeito: Também conhecida como "post hoc, ergo propter hoc", ou seja, "depois disto, portanto devido a isto". No extremo, é uma forma de superstição. Exemplo: "vou usar esta gravata de novo porque meu time ganhou antes quando eu estava com ela". Ou, como disse o arcebispo de Manila, Jaime Cardinal Sin, "Conheço uma mulher de 26 anos que parece ter 60 porque toma a pílula". Cientistas também podem se deixar levar por esta falácia. Houve tempo em que se acreditou que o leite materno aumentava o QI da criança, o que encheu de culpa as mães que davam mamadeira. Entretanto, a explicação mais provável é que as mães que amamentam também dão mais atenção a seus filhos, causando a diferença no QI.
Como disse Hume, o fato de que dois eventos aconteçam em sequência não significa que um seja a causa do outro. A noite sempre se segue ao dia, mas o dia não é a causa da noite. Correlação não é causação. Uma variação desta é chamada "non sequitur" (não se segue), onde é usada uma premissa que não tem nenhuma relação com a conclusão. Exemplo: "Nós vamos vencer porque Deus é grande". Os inimigos dizem a mesma coisa. Deus pode ser grande, mas não está necessariamente do seu lado. É preciso se considerarem outras possibilidades, não apenas a que nos agrada.
3.10. Coincidência: No mundo dos fenômenos paranormais, coincidências são consideradas muito significantes, como se houvesse uma força misteriosa por trás do fenômeno. Não é porque uma pessoa liga para você bem na hora em que você ia ligar para ela que houve uma ligação telepática. A tal pessoa talvez ligue para você com frequência - e ligou, por acaso, no momento em que você estava pensando nela. Mas você preferiu ignorar o fato de que era provável receber a tal ligação naquele momento. Também preferiu ignorar quantas vezes você pensou na outra pessoa e ela não ligou.
A maioria das "coincidências" é apenas um fato com alta probabilidade de ocorrer. A mente humana tende a procurar relações entre fatos. É também por isto que máquinas caça-níqueis viciam. Basta ganhar algumas moedinhas de vez em quando e você continuará puxando a alavanca.
3.11. Representatividade: Como disse Aristóteles, "a soma das coincidências leva à certeza". Nós esquecemos a maioria das coincidências sem importância e nos lembramos das significativas. Esta tendência a lembrar dos acertos e esquecer dos erros é o que permite o sucesso de paranormais, profetas e adivinhos que fazem centenas de previsões a cada primeiro de janeiro. Primeiro eles aumentam as chances de acerto ao prever coisas vagas e com grande probabilidade de ocorrer: "Haverá um terremoto na Califórnia" ou "Vejo problemas com a realeza inglesa". No mês de janeiro seguinte eles publicam seus acertos e ignoram os erros, na esperança de que ninguém vá conferir. É importante ter em mente o contexto onde um evento aparentemente incomum acontece e devemos sempre analisar se é representativo.
No caso do Triângulo das Bermudas, uma área onde navios e aviões desaparecem "misteriosamente", existe a crença de que algo misterioso ou alienígena está agindo. Mas antes é preciso considerar se é significativo que tais acidentes ocorram naquela área. Há muito mais rotas passando pelo Triângulo das Bermudas que pelas áreas vizinhas, sem falar na grande incidência de tempestades tropicais, portanto acidentes e desaparecimentos são mais prováveis na área. Na verdade, a taxa de acidentes é mais baixa no Triângulo das Bermudas que nas proximidades. Talvez devêssemos chamá-la de "Não-triângulo das Bermudas".
Da mesma forma, ao investigar casas mal-assombradas, devemos pesquisar de antemão qual a média de ruídos que casas velhas produzem. Encanamentos velhos, ratos e madeira produzem barulhos estranhos. Primeiro devem-se esgotar as explicações naturais antes de recorrer às sobrenaturais.
3.12. Seleção dos fatos: Está relacionada à falácia da representatividade. É a seleção das circunstâncias favoráveis ao que se quer provar. Parafraseando-se Francis Bacon: "Os países se gabam de seus heróis, mas esquecem de mencionar seus criminosos". Uma variação desta falácia é a da "pequena amostragem". Por exemplo: "Dizem que uma em cada cinco pessoas é chinesa. Mas eu conheço centenas de pessoas e nenhuma delas é chinesa". Ou: "Joguei os dados três vezes e deu sete, portanto na quarta vez vai dar sete de novo".
3.13. Má interpretação das estatísticas: O presidente Eisenhower ficou alarmado quando descobriu que metade dos americanos tinha uma inteligência abaixo da média.
3.14. Meias verdades:Também relacionada à representatividade. Exemplo: "Uma revolução é necessária, mesmo que custe algumas vidas". Talvez, mas não se informou se as mortes previstas superam as causadas pelo regime que se pretende derrubar ou se o povo está interessado numa revolução.
4. Problemas de lógica
4.1. Ad Passiones: Palavras que provocam emoção e falsas analogias. Palavras que provocam emoção são usadas para obscurecer a racionalidade. Podem ser palavras positivas - maternidade, pátria, integridade, honestidade - ou negativas - estupro, câncer, mal, comunista. Da mesma forma, metáforas e analogias podem ser usadas para confundir o pensamento e nos desviar a atenção. Pessoas que usam tal recurso falam da inflação como "o câncer da sociedade" ou da indústria "estuprando o meio ambiente".
Em 1992, o candidato democrata Al Gore elaborou uma analogia entre a história de seu filho doente e os Estados Unidos como uma nação doente. Tal como seu filho, que esteve às portas da morte, mas se recuperou graças aos cuidados da família, os EUA, às portas da morte depois de 12 anos de Reagan e Bush, se tornariam de novo saudáveis sob o novo governo.
Outro exemplo são as figuras de pessoas usando o que parecia ser um capacete de astronauta, encontradas em antigos templos maias. Elas não indicam que ETs estiveram entre eles e sim que suas máscaras rituais lembravam um capacete.
Assim como os relatos isolados, analogias e metáforas não provam nada. São apenas figuras de retórica, semelhanças sem significado. Uma variação desta tática são os eufemismos, muito usados pelos políticos. Por exemplo, em lugar de "Invadir o país vizinho", diz-se "Proteger os interesses da nação". Outra variação disso é a chamada "Ad Consequentiam", em que uma premissa é julgada em função das supostas consequências que produz, boas ou más. Por exemplo: "Deus certamente criaria a Natureza bela. Sabemos que a Natureza é bela, portanto Deus existe". Ora, beleza é algo subjetivo e a realidade não depende de nossos desejos.
4.2. Ad Ignorantiam: é um apelo à ignorância da falta de evidências e está relacionada às falácias do "Ônus da prova" e "O que não está explicado não é inexplicável". A alegação é a de que, se não se pode mostrar que uma coisa não existe, então ela existe. Por exemplo, se não se pode provar que paranormais não existem, então eles existem. O absurdo deste argumento aparece quando se afirma que se não se pode provar que Papai Noel não existe, então ele existe. Naturalmente, isto vale para o oposto: se não se pode provar que Papai Noel existe, então ele não existe. Na ciência, a crença deve vir de evidências positivas em favor de uma afirmação, não da falta de evidência em contrário ou a favor.
4.3. Ad Hominem e Tu Quoque: Significam "ao homem" e "você também". Estas falácias desviam o pensamento da ideia em questão. Ad hominem é desacreditar a pessoa para desacreditar suas ideias. Chamar alguém de ateu, comunista, pedófilo ou neo-nazista não prova que suas ideias estejam erradas. Pode ser útil saber qual a religião ou a ideologia de alguém, já que isto pode de algum modo ter afetado os dados que a pessoa apresentou, mas seus argumentos devem ser refutados diretamente, não indiretamente. Se os que negam a historicidade do Holocausto forem neo-nazistas ou anti-semitas, eles vão certamente dar preferência a certos fatos históricos e ignorar outros. Mas não se pode negar uma afirmação do tipo "Hitler nunca planejou exterminar os judeus" apenas acusando a pessoa de neo-nazista. A refutação tem que ser feita por meio de pesquisas. "Tu quoque" funciona da mesma forma. Se alguém lhe acusa de alguma coisa, dizer-lhe "você também" não prova nem refuta nada. Um caso extremo de "Ad hominem" é o "Ad personam", em que um lado agride o outro sem nem mesmo tentar refutar seus argumentos.
4.4. Generalizações apressadas: Em lógica, generalizações apressadas são uma forma de induzir ao erro. Na vida, chama-se preconceito. Nos dois casos, conclusões são tiradas antes que haja fatos para corroborá-las. Talvez esta falácia seja tão comum devido ao fato de que nossos cérebros vivam à procura de conexões entre eventos e causas. Dois professores ruins significam uma escola ruim. Alguns carros com defeito significa que aquele fabricante não é confiável. Alguns membros de um grupo são usados para julgar todo o grupo. Na ciência, é preciso reunir o máximo de dados possível antes de anunciar nossas conclusões.
4.5. Apelo às autoridades: Em nossa cultura, tendemos a confiar cegamente nos mestres, especialmente se são pessoas vistas como muito inteligentes. O valor do QI adquiriu proporções místicas de uns 50 anos para cá, mas eu notei que a crença em paranormais não é incomum entre os membros da Mensa (o clube dos dotados de alto QI, que constituem uns 2% da população). Alguns até afirmam que também é maior seu índice de paranormalidade. O mágico James Randi adora avacalhar com experts com Ph.D.s. Ele diz que: "Assim que eles conseguem um Ph.D., passam a achar muito difícil dizer duas coisas: 'Não sei' e 'Eu estava errado' ". Os experts podem ter maior chance de acerto dentro de sua especialidade mas isto não garante que estejam sempre certos, muito menos que estejam aptos a opinar sobre outras áreas. Ou seja, julgamos uma afirmação com base em quem a fez. Se foi um prêmio Nobel, tendemos a lhe dar crédito porque a pessoa já esteve certa antes. Se for um charlatão, não acreditamos em nada do que disser.
Ou seja, embora desempenho anterior e conhecimento do assunto seja um critério útil, é perigoso porque pode nos levar a aceitar um erro porque é defendido por um expert (falso positivo) ou rejeitar um acerto porque é defendido por alguém que não respeitamos (falso negativo). Como evitar tais erros? Examinando as evidências.
4.6. Ou isto ou aquilo: Também conhecida como a falácia da negação ou do falso dilema, é a tendência de ver o mundo dividido em opostos, de tal modo que, se provamos que uma coisa está errada, o certo só pode ser o oposto. Esta é uma das táticas favoritas dos criacionistas, que argumentam que a vida, ou foi criada por Deus ou evoluiu. Em seguida, passam resto da vida tentando desacreditar a teoria da evolução de modo a poder dizer que, se a evolução não existiu, então o criacionismo está certo.
Mas não basta apontar falhas nos argumentos dos outros. Se a sua teoria for realmente superior, deverá explicar tanto o que a outra hipótese explica quanto o que ela não consegue explicar. Uma teoria é provada por argumentos em favor dela, não contra a teoria oposta. Uma variação desta é conhecida como "curto prazo x longo prazo". Exemplo: "Não temos verbas para creches e escolas para criança pobres porque temos que combater a violência urbana", ou seja, elimina-se o meio-termo.
4.7. Raciocínio circular: Também conhecida como a falácia da redundância ou tautologia. Ocorre quando a conclusão é apenas um outro modo de expressar uma das premissas. Teologias estão cheias de tautologias. "Existe um deus? Sim. Como você sabe? Porque está na Bíblia. Como você sabe que a Bíblia está correta? Porque foi inspirada por Deus". Em outras palavras, Deus existe porque Deus existe. A ciência também cai nesta armadilha. "O que é a gravidade? É a tendência de os objetos serem atraídos um pelo outro. Por que os objetos são atraídos um pelo outro? Devido à gravidade". Uma tautologia pode ter sua utilidade mas, por mais difícil que seja, temos que criar definições que possam ser testadas, falsificadas e refutadas.
4.8. Reductio ad Absurdum e a rampa escorregadia: Reductio ad absurdum é refutar um argumento levando-o às suas últimas consequências e assim fazendo-o chegar a alguma conclusão absurda. A conclusão é a de que, se o argumento leva a um absurdo, ele é falso. Isto nem sempre acontece, embora levar um argumento a seus limites possa ser útil para se descobrir se uma afirmação é válida, principalmente se o teste puder ser feito na prática.
Da mesma forma, a rampa escorregadia envolve criar um cenário em que uma coisa acaba levando a consequências tão extremas que seria melhor não se fazer a coisa. Exemplo: "comer sorvete vai lhe fazer engordar. Aos poucos, vai ficar enorme. Logo chegará a 150kg e morrerá do coração. Logo, é melhor não comer sorvete para não morrer". Ou seja, levando-se uma coisa ao extremo pode-se chegar a resultados desastrosos ou absurdos. Mas as coisas não têm necessariamente que ser levadas ao extremo.
4.9. Equivocação: A equivocação ocorre quando uma palavra é usada em mais de um sentido durante a argumentação. Por exemplo: "Só o homem é racional. A mulher não é homem. Logo, a mulher não é racional". O problema aqui é que "homem" está sendo usado tanto no sentido de "ser humano" quanto no de "macho humano". A mulher é a fêmea humana e, portanto, também um ser humano.
4.10. Composição: A composição é considerar que todo o argumento é válido quando uma parte dele é válida. Exemplo: "partículas subatômicas não têm vida, portanto tudo o que é feito delas também não tem vida". Quando partes se combinam em um todo, o resultado pode ser maior que a simples soma das partes ou ter propriedades novas (as "propriedades emergentes"). Relaciona-se à "generalização apressada".
4.11. Divisão: É o oposto da composição. Atribui aos membros de um conjunto as propriedades do conjunto. Só porque estamos vivos não significa que as partículas que nos constituem estão vivas.
4.12. Falácia genética: É uma variante da "ad hominem". Rejeita uma ideia devido ao modo como surgiu. Por exemplo, o químico August Kekulé descobriu a estrutura do benzeno quando lhe pareceu ver nas chamas a imagem de uma serpente mordendo o seu próprio rabo. A validade de uma ideia independe de ela ter surgido de um delírio ou recorrendo-se a uma cartomante.
4.13. Apelo às massas: "Deve ser verdade porque todo mundo acredita nisto". Qualquer mãe tem uma resposta para esta falácia: "se todos pulassem num abismo, você também pularia?". Quase todos acreditavam que a Terra era plana. Estavam enganados.
4.14. Apelo à tradição: Só porque uma coisa vem sendo feita há muito tempo não significa que seja a coisa certa. A escravidão foi uma tradição por milhares de anos, mas hoje não é mais aceita.
4.15. Apelo ao medo: Consiste em usar ameaças para reforçar a argumentação. Exemplo: "Se esta pessoa não for condenada, cometerá novos crimes". O que a pessoa pode vir a fazer no futuro não prova que ela é culpada agora. É uma possibilidade, não uma certeza. Ou: "Se você não acreditar em Deus, irá para o inferno". Esta afirmação não serve como prova de que Deus existe, é apenas uma ameaça (e requer, ela própria, uma prova).
4.16. Relativização e contexto: pode-se tentar diminuir a força de uma evidência incômoda afirmando que ela não é importante em relação ao contexto ou que ela depende do contexto. Por exemplo, "A Inquisição não passou de alguns poucos casos isolados, que a maioria da Igreja não aprovou" ou "As atrocidades descritas no Antigo Testamento se justificam no contexto em que ocorreram".
4.17. Alegação especial: Em inglês, diz-se "special pleading". Uma tentativa de fugir de uma questão difícil por meio de uma alegação que pretende explicar toda a questão com uma só frase sem realmente abordar o assunto. Quando instados a explicar por que Deus permite que os inocentes sofram e o mal triunfe, os crentes dizem "Os desígnios de Deus são incompreensíveis" ou "Não nos cabe questionar a vontade de Deus".
4.18. Indução à conclusão: A afirmação contém uma conclusão que não está provada: "Temos que instituir a pena de morte para reduzir a criminalidade" ou "A Bolsa caiu porque houve muitas vendas para realizar lucros". Nos dois casos, as relações de causa e efeito são afirmadas mas não provadas. Em inglês, diz-se "begging the question".
4.19. Falácia do espantalho: Cria-se uma caricatura do assunto ou da pessoa para que fique mais fácil atacá-la. Exemplo: "Ambientalistas se preocupam mais com um matagal ou uma coruja do que com as pessoas".
5. Problemas psicológicos:
5.1. Lei do menor esforço e a necessidade de certeza, controle e simplicidade: A maioria de nós, na maior parte do tempo, quer controlar seu ambiente e quer explicações simples e elegantes. A nossa sociedade, entretanto, é complexa e tem problemas complexos. Esta tendência leva a se supersimplificar a realidade e pode interferir com o pensamento crítico e a capacidade de se resolverem problemas. Por exemplo, acho que a crença em paranormalidade e pseudociências é em parte devido às incertezas da vida. De acordo com James Randi, depois que o comunismo, com suas certezas, entrou em colapso, tais crenças aumentaram muito.
Há muitos charlatões mas também há muita gente que realmente acha que descobriu alguma coisa concreta e significativa sobre a natureza do mundo. O capitalismo é mais livre - mas também oferece menos certezas que o comunismo. Isto leva a mente a procurar por explicações para os mistérios da vida e ela acaba se voltando para o sobrenatural e o paranormal. O pensamento científico não é uma habilidade natural. Tem que ser adquirido pelo treinamento, com esforço e experiência, assim como não podemos esperar ser bons carpinteiros ou pianistas sem aprendizado e esforço.
Temos que lutar para controlar nossa tendência a ter certeza das coisas e de nos julgarmos no controle absoluto e nossa tendência a procurar sempre a solução mais simples para um problema e que requeira o menor esforço. Às vezes elas são simples mas em geral não.
5.2. Modos inadequados de resolver problemas: O pensamento crítico e científico é, de certa forma, a resolução de problemas. Mas há muitos problemas psicológicos que interferem com isto. O psicólogo Barry Singer demonstrou que, quando pessoas recebem a tarefa de selecionar a resposta certa para um problema baseados em uma lista de afirmações classificadas como "certo" ou "errado", elas:
A. Imediatamente criam uma hipótese e procuram apenas pelos exemplos que a confirmam.
B. Não procuram nenhuma evidência em contrário.
C. Custam a mudar de ideia mesmo quando ela está obviamente errada.
D. Se a informação é complicada demais, adotam supersimplificações como hipótese ou estratégia.
E. Se não há uma solução, se a questão na verdade é um truque e os conceitos de "certo" e "errado" foram atribuídos ao acaso, formam hipóteses baseadas nas coincidências observadas e sempre acham alguma causalidade (Singer e Abell, 1981). Se os seres humanos são assim em geral, então temos que nos esforçar para superar estas limitações na resolução de problemas da ciência e da vida.
5.3. Imunidade ideológica ou o Problema de Planck: Na vida diária como na ciência, resistimos às mudanças de conceitos básicos. O cientista social Jay Stuart Snelson chama a esta resistência "sistema imunológico ideológico". "Adultos educados, inteligentes e bem-sucedidos raramente mudam seus pressupostos mais básicos". De acordo com Snelson, quanto mais conhecimento os indivíduos acumulam e quanto mais bem fundadas suas teorias se tornaram (lembrem-se, tendemos a procurar por confirmações, não provas em contrário; e são estas que nós lembramos), maior a confiança em suas ideias.
A consequência disto, entretanto, é que desenvolvemos uma "imunidade" contra ideias novas que não confirmam as antigas. Os historiadores da ciência chamam a isto "o problema de Planck" devido ao físico Max Planck, que fez este comentário sobre o que deve ocorrer para que a ciência sofra inovações: "uma inovação científica importante raramente se estabelece por meio do convencimento gradual de seus oponentes. Raramente Saulo se torna Paulo. O que acontece é que os opositores vão aos poucos morrendo e a nova geração já cresce acostumada com a ideia" (1936).
O psicólogo David Perkins realizou um estudo em que ele achou fortes evidências de que há uma relação entre a inteligência (medida por testes de QI padrões) e a tendência a se adotar um ponto de vista e defendê-lo. Também encontrou uma forte correlação negativa entre a inteligência e a capacidade de se considerar outras alternativas. Ou seja, quanto mais alto o QI, maior o potencial de imunidade ideológica. A imunidade ideológica está incorporada ao edifício da ciência e funciona como um filtro contra novidades potencialmente avassaladoras.
O historiador da ciência I. B. Cohen comentou: "Sistemas científicos novos e revolucionários tendem mais a sofrer resistência do que ser recebidos de braços abertos porque cada cientista bem-sucedido oculta interesses intelectuais, sociais e financeiros em manter o status quo. Se todas as ideias revolucionárias fossem recebidas de braços abertos, haveria o caos completo" (1985). A verdade é que a história recompensa aqueles que estão "certos" (ainda que provisoriamente).
Mas as mudanças acontecem. Na astronomia, o geocentrismo de Ptolomeu foi substituído pelo heliocentrismo de Copérnico. Na geologia, o catastrofismo de George Cuvier foi gradualmente expulso pelo uniformitarianismo, mais bem fundado, de James Hutton e Charles Lyell. Na biologia, o evolucionismo de Darwin se sobrepôs à crença criacionista na imutabilidade das espécies. A teoria do deslocamento continental de Alfred Wegener levou quase meio século para superar o dogma dos continentes fixos e estáveis.
A imunidade ideológica na ciência pode ser vencida, mas requer tempo e evidências.
6. O dito de Espinoza: Os céticos têm a tendência muito humana de gostar de desacreditar aquilo que eles acham que é besteira. É divertido identificar as falácias no pensamento dos outros, mas a questão não é só esta. Como céticos e pensadores críticos, temos que ir além de nossas reações emocionais porque, ao entender como os outros erraram e como a ciência está sujeita ao controle social e às influências culturais, podemos melhorar nossa compreensão de como o mundo funciona.
É por este motivo que é tão importante para nós entender a história tanto da ciência como da pseudociência. Se tivermos uma visão geral de como estes movimentos evoluem e entendermos como foi que as ideias erradas surgiram, não cometeremos os mesmos erros. O filósofo holandês Baruch Espinoza, do século 17, disse-o melhor: "Eu fiz um esforço constante para não ridicularizar, não deplorar e não desprezar as atividades humanas, mas para entendê-las"
(adaptado de "How Thinking Goes Wrong-Twenty-five Fallacies That Lead Us to Believe Weird Things", por Michael Shermer; do livro "Why People Believe Weird Things" - 1977; de "Informal Fallacies", por Theodore Schick, Jr. & Lewis Vaughn; do livro "How To Think About Weird Things" - 1995; de "The Basic Equipment", por Antony Flew e do livro "How to Think Straight: An Introduction To Critical Reasoning" - 1998)
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... ditar.html
Baseado em texto original de Michael Shermer
Quando damos razões para que uma alegação ou hipótese seja aceita, estamos argumentando. As razões que damos são as premissas da argumentação e a alegação que elas pretendem sustentar é a conclusão. Se as premissas são aceitáveis e sustentam adequadamente a alegação, então a argumentação é boa. Caso contrário, se as premissas são duvidosas ou se não justificam a conclusão, então a argumentação é falaciosa. Não cumpre sua função, ou seja, não dá uma boa razão para se aceitar uma alegação.
Infelizmente, argumentos falaciosos podem ter grande poder psicológico. Quem não está treinado para perceber falácias, com frequência aceita alegações infundadas. Para não se acreditar em coisas irracionais é importante entender as várias falhas de argumentação que podem ocorrer.
Um argumento é falacioso se contém (1) premissas inaceitáveis, (2) premissas irrelevantes ou (3) premissas insuficientes.
- As premissas são inaceitáveis se elas são, no mínimo, tão duvidosas quanto a alegação que pretendem apoiar. Numa boa argumentação, as premissas têm que ser a base sólida na qual se assenta a conclusão, caso contrário a conclusão não terá firmeza.
- As premissas são irrelevantes se não se aplicam ao caso. A conclusão deriva das premissas. Se as premissas não têm a ver com a conclusão, não dão razões para que esta seja aceita.
-As premissas são insuficientes se deixam dúvidas quanto à validade da conclusão. Numa boa argumentação, as premissas devem eliminar os motivos razoáveis de dúvida.
As falácias listadas mais abaixo podem ser classificadas nestas categorias como se segue:
-Inaceitáveis: 4.6, 4.7
-Irrelevantes: 4.2, 4.3, 4.5, 4.9, 4.10, 4.11, 4.12, 4.13, 4.14, 4.15
-Insuficientes: 3.9, 4.1, 4.4
Ao se ouvir um argumento, deve-se verificar se as premissas são aceitáveis, relevantes e suficientes. Se uma das condições estiver ausente, o argumento não é logicamente aceitável. Um outro modo básico de definir os termos é: Hipóteses e premissas podem ser verdadeiras ou falsas. Um argumento pode ser válido ou inválido (falacioso). Um argumento pode ser válido mas, se baseado em premissas falsas, pode levar a conclusões falsas.
Da mesma forma, um argumento pode ser inválido ainda que premissas e conclusão sejam verdadeiras. Por exemplo: "Os homens têm 3 pulmões. Sócrates é homem. Logo, Sócrates tem 3 pulmões". A argumentação é perfeita mas a conclusão é falsa porque uma das premissas é falsa. Outra abordagem pode ser resumida nos seguintes passos:
1. Apresente a alegação ou hipótese.
2. Examine as evidências em favor da hipótese.
3. Considere hipóteses alternativas.
4. Classifique cada hipótese conforme o critério de aceitação.
Passo 1- Apresente a alegação: Antes que se possa examinar uma alegação ou hipótese, é necessário entendê-la. Ela deve estar expressa em termos claros e específicos. "Fantasmas existem" não é suficiente porque é muito vago. Uma opção melhor é "O espírito desencarnado de pessoas mortas existe e é visível ao olho humano". Da mesma forma, "A astrologia funciona" não basta. É melhor dizer que: "Astrólogos podem identificar corretamente a personalidade de uma pessoa usando os signos solares". Mesmo estas versões revisadas ainda são ambíguas e não tão definitivas como deveriam. Os termos deveriam estar mais bem definidos, por exemplo. O que é "espírito"? O que significa " identificar corretamente a personalidade de uma pessoa "? Acontece que muitas das afirmações extraordinárias que são apresentadas são deste tipo. Antes de analisá-las, deve-se procurar o máximo de clareza e definição sobre o que a alegação diz.
Passo 2 - Pergunte a si mesmo que razões existem para que a alegação seja aceita. Ou seja, que evidências empíricas ou argumentos lógicos suportam a alegação? A resposta levará a uma avaliação tanto quanto à qualidade quanto à quantidade. Uma avaliação honesta e completa de razões deverá incluir:
a. A determinação da exata natureza e das limitações da evidência empírica. Isto significa determinar não apenas qual é a evidência mas quais dúvidas existem quanto a ela. Ou seja, é preciso definir se está sujeita a deficiências tais como: distorções da percepção humana, memória e julgamento; erros e preconceitos da pesquisa científica; dificuldades inerentes a dados ambíguos. Às vezes, mesmo um levantamento preliminar dos fatos levará à admissão de que não há, na verdade, nada de misterioso que requeira explicação. Ou, talvez, um pequeno mistério levará a um mistério maior. De qualquer modo, uma abordagem objetiva da evidência requer coragem. Muitos crentes fervorosos nunca ousaram dar este passo inicial.
b. Decidir se a hipótese em questão realmente explica a evidência. Se não - se fatores importantes ficam de fora - a hipótese não é boa. Ou seja, uma boa hipótese deve ser relevante quanto à evidência que ela pretende explicar. Caso contrário, deve ser abandonada.
Passo 3 - Considere hipóteses alternativas: Não basta apenas considerar a hipótese em questão e as razões para aceitá-la. Se você espera descobrir a verdade, deve também considerar alternativas e suas razões. Por exemplo, considere que a Rena do Nariz Vermelho de Papai Noel é real e vive no Polo Norte. Como evidência, apresente estes fatos: milhões de crianças acreditam que ela existe; figuras dela são mostradas em toda parte na época do Natal; considerando a quantidade de renas que existem e que já existiram, é possível que algum dia uma rena voadora tenha sido gerada através de mutações; há pessoas que dizem que já viram esta rena com seus próprios olhos. Poderíamos continuar neste caminho e criar uma argumentação bem convincente para esta hipótese. Em pouco tempo, você pode até acreditar que encontrou alguma coisa. Parece uma hipótese bem convincente quando vista sozinha, mas, se imaginarmos uma alternativa - que esta rena é apenas uma criatura imaginária tirada de uma canção de Natal - ela se torna ridícula.
A hipótese da criatura imaginária é suportada por evidências abundantes; não conflita com teorias biológicas bem estabelecidas; e, ao contrário da outra hipótese, não requer a introdução de novas entidades. Este terceiro passo envolve criatividade e uma mente sempre aberta. Requer que se pergunte se há outros modos de explicar o fenômeno em questão e, se houver, quais são as razões em favor deles, ou seja, envolve a aplicação do Passo 2 a todas as explicações alternativas. Também é importante lembrar que as pessoas tendem, quando diante de um fenômeno extraordinário, a procurar uma explicação envolvendo o paranormal ou sobrenatural e resistem a pensar em hipóteses naturais. Como resultado, assumem que a hipótese paranormal está correta. É preciso lembrar que, só porque não conseguimos pensar numa explicação natural, não significa que não haja uma.
O procedimento correto é insistir na busca por hipóteses que não envolvam o sobrenatural ou paranormal. Todos nós temos uma tendência inata a nos agarrarmos a uma hipótese favorita e ignorar ou resistir às alternativas. Podemos achar que as outras não merecem atenção porque a nossa está certa. Esta tendência pode nos satisfazer (por algum tempo), mas também é uma boa fonte de ilusões. Temos que nos esforçar para contrabalançar esta inclinação. Uma mente aberta estará sempre disposta a considerar todas as possibilidades e a mudar de opinião se houver boas razões.
Passo 4 - Classifique cada hipótese conforme o critério de aceitação. Em seguida, avalie as hipóteses para determinar quais têm valor e quais são falhas. Não basta apenas listar as evidências para cada uma. Temos que levar em conta outros fatores que possam dar uma perspectiva diferente e nos ajudar a avaliar hipóteses quando não há nenhuma evidência, o que costuma ser o caso quando se trata de alegações extraordinárias. Estes fatores são os critérios de adequação. Aplicando-os a cada hipótese, com frequência podemos eliminar algumas hipóteses imediatamente, dar mais peso a outras e decidir entre hipóteses que parecem ter o mesmo valor à primeira vista.
a. Testabilidade - Pergunte-se: a hipótese pode ser testada? Há algum meio de determinar se ela é verdadeira ou falsa? Muitas hipóteses sobre fenômenos extraordinários não são testáveis. Isto não significa que elas são falsas. Significa que não têm valor. São apenas afirmações que nunca poderemos determinar se são verdadeiras. Um exemplo é você dizer que suas dores de cabeça são causadas por um duende invisível que vive dentro dela. Não há como prová-la, portanto ela não tem valor.
b. Dá resultados? - Pergunte-se: a hipótese resulta em previsões ou desdobramentos surpreendentes que explicam novos fenômenos? Isto dá valor à hipótese e pode ajudar no desempate. A maioria das hipóteses sobre coisas estranhas não resulta em previsões observáveis (o que não significa que a hipótese seja falsa).
c. Abrangência - Quantos fenômenos diferentes a hipótese explica? Quantos mais ela explicar, menos chances de estar errada. Por exemplo, nossos sentidos e nossa percepção com frequência geram informações que não correspondem à realidade e nos levam a ver e sentir coisas que não existem. Esta é uma hipótese bem comprovada e tem mais valor, por exemplo, que dizer que todas as luzes não identificadas no céu são naves extraterrestres, o que não explica outros tipos de alucinação.
d. Simplicidade - Esta é a explicação mais simples para o fenômeno? Em geral, a hipótese mais simples que melhor explica o fato é a que tem menos chances de ser falsa. Por simples, entende-se aquela que assume o menor número de entidades. Por exemplo, se seu carro não quer pegar de manhã, uma hipótese é a de que a bateria está descarregada. Outra hipótese culpa algum espírito maligno. Esta última requer a existência de uma entidade misteriosa, enquanto que a hipótese da bateria é mais simples, é testável, permite prever consequências e explica vários fenômenos. Já no caso do espírito maligno, é preciso afirmar sua existência e definir suas características e tendências, o que reduz suas chances de ser a opção correta.
e. Conservadorismo - A hipótese está de acordo com crenças bem fundadas? Ou seja, com a evidência empírica - que resulta de observações confiáveis e testes científicos, com as leis da natureza ou com teorias aceitas? Tentar responder a estas perguntas o leva além de simplesmente catalogar evidências para as hipóteses e também permite avaliá-las à luz de toda a evidência disponível. Ou seja, a hipótese que menos contradiz o conjunto de conhecimentos aceitos tem maiores chances de ser verdadeira. Por exemplo, se alguém lhe disser que choveu cães e gatos, deve-se considerar que o fato é logicamente possível, mas conflita com toda a experiência acumulada sobre coisas que caem do céu. Pode ser que um dia venha a acontecer, mas as chances são muito pequenas. Da mesma forma, uma máquina de movimento perpétuo contraria leis da física e uma enorme evidência empírica acumulada. Até prova em contrário, devemos considerar tal coisa como altamente improvável. Uma hipótese que conflita com teorias bem confirmadas deve ser vista como improvável até que haja boas evidências de que a hipótese está certa e que a teoria está errada. Portanto, fenômenos paranormais são, por definição, improváveis. Conflitam com o que sabemos, com montanhas de evidências acumuladas. Devemos exigir ótimas evidências em contrário antes de mudarmos de ideia.
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Descrição das falácias mais comuns e conceitos relacionados:
1. Máxima de Hume: O filósofo escocês David Hume (1711-1776) escreveu, em 1758, um livro intitulado "An Enquiry Concerning Human Understanding", onde afirmava que "o homem sábio acredita nas coisas proporcionalmente às evidências". Seu princípio de análise de afirmações miraculosas é: "Nenhum testemunho é suficiente para provar um milagre, a menos que o testemunho seja de tal tipo que sua falsidade seja mais miraculosa que o fato que ele tenta estabelecer". Quando me dizem que um homem ressuscitou, imediatamente avalio o que é mais provável, que a pessoa está tentando me enganar ou foi enganada ou que o fato relatado seja verdade. Peso uma possibilidade contra a outra e me decido pela que for menos miraculosa.
2. Problemas com o pensamento científico:
2.1. A teoria influencia a observação: Werner Heisenberg, prêmio Nobel de física, concluiu que "o que observamos não é a natureza em si mas a natureza exposta ao nosso método de investigação". A realidade existe independentemente do observador, mas nossa percepção dela é influenciada pelas nossas teorias preconcebidas. Por exemplo, Colombo tinha tanta certeza de ter chegado às Índias que chamou de canela ao primeiro arbusto que cheirava como canela. Sua teoria de Índia produziu observações de Índia, embora ele estivesse do outro lado do mundo.
2.2. O observador modifica o observado: para se observar alguma coisa, é preciso se aproximar desta coisa, instalar instrumentos de medida. Isto modifica a coisa, altera o universo. Ao se estudar um evento, o evento é modificado. Ao se estudar uma tribo, o comportamento de seus membros pode ser modificado pelo fato de se saberem observados. Psicólogos usam controles de duplo-cego em seus testes justamente para que os voluntários não saibam quais as hipóteses sendo testadas e não modifiquem seu comportamento de acordo com elas. Tais controles frequentemente não são usados em testes de poderes paranormais e é um dos principais motivos de enganos nas pseudociências. A verdadeira ciência busca entender e reduzir o efeito da observação sobre o observado.
2.3. O equipamento produz resultados: O equipamento usado numa experiência frequentemente determina os resultados. Nossas teorias sobre o tamanho e a complexidade do universo foram se alterando à medida em que telescópios mais potentes eram construídos. Um ictiólogo usando uma rede de malha aberta vai basear suas teorias sobre os peixes o que a rede conseguiu pegar. Seriam outras se a rede tivesse malha fina. Ele pode ser levado a crer que aquilo que ele capturou é uma amostra de tudo o que existe no mar e recusar afirmações sobre a existência de seres menores e diferentes.
3. Problemas com o pensamento pseudocientífico:
3.1. Relatos isolados não são ciência: As histórias que se contam como prova de uma afirmação não são ciência. Sem provas e evidências físicas, dez ou cem relatos têm o mesmo valor que um. Histórias são contadas por humanos falíveis. Mesmo que a testemunha seja séria e honesta, não dada a alucinações, nem por isto devemos crer em relatos de abduções por discos voadores em estradas desertas. Precisamos da presença física do tal disco ou de corpos de alienígenas.
Histórias sobre como sua tia Maria foi curada de um câncer ao assistir um determinado filme ou tomar um extrato de fígado de galos castrados não significam nada. O câncer pode ter se curado sozinho, como acontece às vezes, ou talvez fosse apenas um erro de diagnóstico ou qualquer outra possibilidade. Precisamos de experiências controladas, não de relatos. Precisamos de 100 pacientes de câncer, todos devidamente diagnosticados e acompanhados. Em seguida, precisamos que 25 deles assistam àquele filme, outros 25 assistam a outro filme qualquer, 25 outros assistam ao noticiário e os demais não assistam a nada. Em seguida, temos que analisar a taxa média de cura espontânea entre os grupos. Se houver diferenças significativas, devemos buscar confirmação com outros cientistas que fizeram experiências em separado de nós antes de chamar a imprensa e anunciar a cura do câncer.
3.2. Linguagem científica não é ciência: Usar termos científicos para criar um sistema de crenças, como no caso do criacionismo científico, não significa nada sem evidências, testes experimentais e repetibilidade. Certas pessoas se aproveitam da mística que a ciência tem na nossa sociedade e, não tendo evidências a apresentar, tentam parecer respeitáveis usando linguagem "científica". As seitas da Nova Era usam muito este recurso, criando textos complicados e ininteligíveis (que, por isto mesmo, parecem "científicos"). A física quântica, com seu princípio da incerteza, veio a calhar para elas, que a citam para explicar qualquer coisa, de astrologia a "energias positivas" e "vibrações planetárias" e lhes serve de argumento contra o rigor do método científico.
3.3. A ousadia de uma afirmação não a torna verdadeira: Uma coisa é provavelmente pseudocientífica se é sustentada por afirmações bombásticas quanto a seu poder e veracidade, mas as evidências são escassas. Por exemplo, L. Ron Hubbard inicia seu "Dianética: a ciência moderna da saúde mental" com esta declaração: "A criação da Dianética é um marco para o homem comparável à descoberta do fogo e superior à invenção do arco e da roda". Cientistas também podem cometer este erro, como no caso de Stanley Pons e Martin Fleischmann que, em 23 de março de 1989, convocaram a imprensa para anunciar que tinham descoberto a fusão nuclear a frio. É claro que uma descoberta pode provar que 50 anos de física estavam errados, mas, até que tal descoberta tenha sido reproduzida independentemente por outros cientistas, não se deve por a mão no fogo por ela. Em resumo, quanto mais extraordinária for uma afirmação, mais extraordinários terão que ser os testes.
3.4. Heresia não significa credibilidade: Riram-se de Copérnico. Riram-se de Galileu. Mas também se riram dos irmãos Marx. Ser exposto ao ridículo não significa que você esteja certo. Cita-se muito Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século 19: "Toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada. Segundo, ela sofre violenta oposição. Terceiro, ela é aceita como autoevidente". Mas nem todas as verdades passam por estes estágios. Muitas são aceitas sem ridículo ou oposição. As teorias de Einstein foram apenas ignoradas até que, em 1919, foram aceitas depois que a evidência experimental provou que estavam corretas. Citar Schopenhauer é apenas uma forma de tentar se dar credibilidade a uma ideia que ninguém aceita. A história da ciência está cheia de cientistas que enfrentaram a oposição de seus pares e desafiaram as teorias aceitas. A maioria estava errada e seus nomes foram esquecidos. Os "Galileus" são minoria. Antes de criticar a comunidade científica, procure os especialistas naquele ramo, troque informações e ideias e apresente sua teoria para que seja examinada. E não se queixe se uma teoria sem lógica for rejeitada sem maiores análises.
3.5. Ônus da prova: Quem tem que provar o quê para quem? Cabe a quem faz uma afirmação extraordinária provar aos especialistas e à comunidade em geral que sua crença tem mais valor que a crença aceita por todos. Você tem que defender sua ideia, tem que conseguir partidários entre os experts para que seja aceito pela maioria. Quando o consegue, o ônus de contradizê-lo passa aos outros. Os evolucionistas tiveram o ônus da prova por uns 50 anos depois de Darwin, mas agora ele cabe aos criacionistas. Não cabe mais aos evolucionistas defender a evolução das espécies, mas aos criacionistas mostrar que eles estão errados e por quê. Cabe aos que negam o Holocausto provar que ele não aconteceu e não aos historiadores provar que ele existiu. Não basta estar certo, não basta ter evidências, é preciso convencer os outros da validade de suas evidências. É o preço que pagam os desconhecidos.
3.6. Boatos não dão credibilidade: Boatos começam com "Ouvi falar..." e logo se transformam em "Sabe-se que..." à medida em que se propagam. Boatos podem ser verdade, é claro, mas em geral não o são. Histórias fantásticas e lendas urbanas espalham-se rapidamente e nunca morrem. Exemplos: há jacarés gigantes vivendo nos esgotos de Nova Iorque. O pouso do homem na Lua foi forjado num estúdio em Hollywood. Um disco voador caiu no Novo México e os corpos dos alienígenas estão com a Força Aérea americana.
3.7. O que não está explicado não é inexplicável: Muitas pessoas acreditam firmemente que, se elas não podem explicar algo, então tal coisa é inexplicável e é um mistério paranormal. Se ninguém sabe como as pirâmides foram construídas, então elas só podem ter sido obra de extraterrestres. Mesmo pessoas razoáveis tendem a achar que, se os experts não sabem explicar alguma coisa, ela deve ser inexplicável. Fenômenos como talheres que se curvam, gente que caminha sobre o fogo ou telepatia são considerados místicos ou de natureza paranormal porque a maioria das pessoas não consegue explicá-los (embora mudem de ideia ao descobrir o truque). Por exemplo, é possível caminhar sobre brasas porque a condutividade térmica do carvão é muito baixa. Basta não ficar parado em um só lugar. É por isso que os mágicos não revelam seus truques. A maioria é muito simples e a graça toda se perderia. É claro que há muitos mistérios no universo, mas a atitude correta é acreditar que "não sabemos, mas um dia podemos vir a saber". O problema é que mistérios são incômodos e as pessoas preferem se agarrar a conclusões, ainda que prematuras.
3.8. Racionalizar o fracasso: Cientistas falham com frequência - e aprendem com isto. Ninguém quer falhar, mas é errando que se aprende. Cientistas honestos admitem seus erros sem problemas. Os demais se mantêm na linha por medo de serem apanhados pelos colegas se mentirem. Mas pseudo cientistas não têm tais escrúpulos. Escondem suas falhas ou as racionalizam. Por exemplo, alegam que seus poderes podem falhar às vezes. Se apanhados numa fraude, alegam que, excepcionalmente, apelaram para truques para não decepcionar a audiência. Ou culpam a presença negativa de céticos, de câmeras de televisão etc. E recorrem à falácia sobre o que ninguém explica ser inexplicável.
3.9. Inventar relações de causa e efeito: Também conhecida como "post hoc, ergo propter hoc", ou seja, "depois disto, portanto devido a isto". No extremo, é uma forma de superstição. Exemplo: "vou usar esta gravata de novo porque meu time ganhou antes quando eu estava com ela". Ou, como disse o arcebispo de Manila, Jaime Cardinal Sin, "Conheço uma mulher de 26 anos que parece ter 60 porque toma a pílula". Cientistas também podem se deixar levar por esta falácia. Houve tempo em que se acreditou que o leite materno aumentava o QI da criança, o que encheu de culpa as mães que davam mamadeira. Entretanto, a explicação mais provável é que as mães que amamentam também dão mais atenção a seus filhos, causando a diferença no QI.
Como disse Hume, o fato de que dois eventos aconteçam em sequência não significa que um seja a causa do outro. A noite sempre se segue ao dia, mas o dia não é a causa da noite. Correlação não é causação. Uma variação desta é chamada "non sequitur" (não se segue), onde é usada uma premissa que não tem nenhuma relação com a conclusão. Exemplo: "Nós vamos vencer porque Deus é grande". Os inimigos dizem a mesma coisa. Deus pode ser grande, mas não está necessariamente do seu lado. É preciso se considerarem outras possibilidades, não apenas a que nos agrada.
3.10. Coincidência: No mundo dos fenômenos paranormais, coincidências são consideradas muito significantes, como se houvesse uma força misteriosa por trás do fenômeno. Não é porque uma pessoa liga para você bem na hora em que você ia ligar para ela que houve uma ligação telepática. A tal pessoa talvez ligue para você com frequência - e ligou, por acaso, no momento em que você estava pensando nela. Mas você preferiu ignorar o fato de que era provável receber a tal ligação naquele momento. Também preferiu ignorar quantas vezes você pensou na outra pessoa e ela não ligou.
A maioria das "coincidências" é apenas um fato com alta probabilidade de ocorrer. A mente humana tende a procurar relações entre fatos. É também por isto que máquinas caça-níqueis viciam. Basta ganhar algumas moedinhas de vez em quando e você continuará puxando a alavanca.
3.11. Representatividade: Como disse Aristóteles, "a soma das coincidências leva à certeza". Nós esquecemos a maioria das coincidências sem importância e nos lembramos das significativas. Esta tendência a lembrar dos acertos e esquecer dos erros é o que permite o sucesso de paranormais, profetas e adivinhos que fazem centenas de previsões a cada primeiro de janeiro. Primeiro eles aumentam as chances de acerto ao prever coisas vagas e com grande probabilidade de ocorrer: "Haverá um terremoto na Califórnia" ou "Vejo problemas com a realeza inglesa". No mês de janeiro seguinte eles publicam seus acertos e ignoram os erros, na esperança de que ninguém vá conferir. É importante ter em mente o contexto onde um evento aparentemente incomum acontece e devemos sempre analisar se é representativo.
No caso do Triângulo das Bermudas, uma área onde navios e aviões desaparecem "misteriosamente", existe a crença de que algo misterioso ou alienígena está agindo. Mas antes é preciso considerar se é significativo que tais acidentes ocorram naquela área. Há muito mais rotas passando pelo Triângulo das Bermudas que pelas áreas vizinhas, sem falar na grande incidência de tempestades tropicais, portanto acidentes e desaparecimentos são mais prováveis na área. Na verdade, a taxa de acidentes é mais baixa no Triângulo das Bermudas que nas proximidades. Talvez devêssemos chamá-la de "Não-triângulo das Bermudas".
Da mesma forma, ao investigar casas mal-assombradas, devemos pesquisar de antemão qual a média de ruídos que casas velhas produzem. Encanamentos velhos, ratos e madeira produzem barulhos estranhos. Primeiro devem-se esgotar as explicações naturais antes de recorrer às sobrenaturais.
3.12. Seleção dos fatos: Está relacionada à falácia da representatividade. É a seleção das circunstâncias favoráveis ao que se quer provar. Parafraseando-se Francis Bacon: "Os países se gabam de seus heróis, mas esquecem de mencionar seus criminosos". Uma variação desta falácia é a da "pequena amostragem". Por exemplo: "Dizem que uma em cada cinco pessoas é chinesa. Mas eu conheço centenas de pessoas e nenhuma delas é chinesa". Ou: "Joguei os dados três vezes e deu sete, portanto na quarta vez vai dar sete de novo".
3.13. Má interpretação das estatísticas: O presidente Eisenhower ficou alarmado quando descobriu que metade dos americanos tinha uma inteligência abaixo da média.
3.14. Meias verdades:Também relacionada à representatividade. Exemplo: "Uma revolução é necessária, mesmo que custe algumas vidas". Talvez, mas não se informou se as mortes previstas superam as causadas pelo regime que se pretende derrubar ou se o povo está interessado numa revolução.
4. Problemas de lógica
4.1. Ad Passiones: Palavras que provocam emoção e falsas analogias. Palavras que provocam emoção são usadas para obscurecer a racionalidade. Podem ser palavras positivas - maternidade, pátria, integridade, honestidade - ou negativas - estupro, câncer, mal, comunista. Da mesma forma, metáforas e analogias podem ser usadas para confundir o pensamento e nos desviar a atenção. Pessoas que usam tal recurso falam da inflação como "o câncer da sociedade" ou da indústria "estuprando o meio ambiente".
Em 1992, o candidato democrata Al Gore elaborou uma analogia entre a história de seu filho doente e os Estados Unidos como uma nação doente. Tal como seu filho, que esteve às portas da morte, mas se recuperou graças aos cuidados da família, os EUA, às portas da morte depois de 12 anos de Reagan e Bush, se tornariam de novo saudáveis sob o novo governo.
Outro exemplo são as figuras de pessoas usando o que parecia ser um capacete de astronauta, encontradas em antigos templos maias. Elas não indicam que ETs estiveram entre eles e sim que suas máscaras rituais lembravam um capacete.
Assim como os relatos isolados, analogias e metáforas não provam nada. São apenas figuras de retórica, semelhanças sem significado. Uma variação desta tática são os eufemismos, muito usados pelos políticos. Por exemplo, em lugar de "Invadir o país vizinho", diz-se "Proteger os interesses da nação". Outra variação disso é a chamada "Ad Consequentiam", em que uma premissa é julgada em função das supostas consequências que produz, boas ou más. Por exemplo: "Deus certamente criaria a Natureza bela. Sabemos que a Natureza é bela, portanto Deus existe". Ora, beleza é algo subjetivo e a realidade não depende de nossos desejos.
4.2. Ad Ignorantiam: é um apelo à ignorância da falta de evidências e está relacionada às falácias do "Ônus da prova" e "O que não está explicado não é inexplicável". A alegação é a de que, se não se pode mostrar que uma coisa não existe, então ela existe. Por exemplo, se não se pode provar que paranormais não existem, então eles existem. O absurdo deste argumento aparece quando se afirma que se não se pode provar que Papai Noel não existe, então ele existe. Naturalmente, isto vale para o oposto: se não se pode provar que Papai Noel existe, então ele não existe. Na ciência, a crença deve vir de evidências positivas em favor de uma afirmação, não da falta de evidência em contrário ou a favor.
4.3. Ad Hominem e Tu Quoque: Significam "ao homem" e "você também". Estas falácias desviam o pensamento da ideia em questão. Ad hominem é desacreditar a pessoa para desacreditar suas ideias. Chamar alguém de ateu, comunista, pedófilo ou neo-nazista não prova que suas ideias estejam erradas. Pode ser útil saber qual a religião ou a ideologia de alguém, já que isto pode de algum modo ter afetado os dados que a pessoa apresentou, mas seus argumentos devem ser refutados diretamente, não indiretamente. Se os que negam a historicidade do Holocausto forem neo-nazistas ou anti-semitas, eles vão certamente dar preferência a certos fatos históricos e ignorar outros. Mas não se pode negar uma afirmação do tipo "Hitler nunca planejou exterminar os judeus" apenas acusando a pessoa de neo-nazista. A refutação tem que ser feita por meio de pesquisas. "Tu quoque" funciona da mesma forma. Se alguém lhe acusa de alguma coisa, dizer-lhe "você também" não prova nem refuta nada. Um caso extremo de "Ad hominem" é o "Ad personam", em que um lado agride o outro sem nem mesmo tentar refutar seus argumentos.
4.4. Generalizações apressadas: Em lógica, generalizações apressadas são uma forma de induzir ao erro. Na vida, chama-se preconceito. Nos dois casos, conclusões são tiradas antes que haja fatos para corroborá-las. Talvez esta falácia seja tão comum devido ao fato de que nossos cérebros vivam à procura de conexões entre eventos e causas. Dois professores ruins significam uma escola ruim. Alguns carros com defeito significa que aquele fabricante não é confiável. Alguns membros de um grupo são usados para julgar todo o grupo. Na ciência, é preciso reunir o máximo de dados possível antes de anunciar nossas conclusões.
4.5. Apelo às autoridades: Em nossa cultura, tendemos a confiar cegamente nos mestres, especialmente se são pessoas vistas como muito inteligentes. O valor do QI adquiriu proporções místicas de uns 50 anos para cá, mas eu notei que a crença em paranormais não é incomum entre os membros da Mensa (o clube dos dotados de alto QI, que constituem uns 2% da população). Alguns até afirmam que também é maior seu índice de paranormalidade. O mágico James Randi adora avacalhar com experts com Ph.D.s. Ele diz que: "Assim que eles conseguem um Ph.D., passam a achar muito difícil dizer duas coisas: 'Não sei' e 'Eu estava errado' ". Os experts podem ter maior chance de acerto dentro de sua especialidade mas isto não garante que estejam sempre certos, muito menos que estejam aptos a opinar sobre outras áreas. Ou seja, julgamos uma afirmação com base em quem a fez. Se foi um prêmio Nobel, tendemos a lhe dar crédito porque a pessoa já esteve certa antes. Se for um charlatão, não acreditamos em nada do que disser.
Ou seja, embora desempenho anterior e conhecimento do assunto seja um critério útil, é perigoso porque pode nos levar a aceitar um erro porque é defendido por um expert (falso positivo) ou rejeitar um acerto porque é defendido por alguém que não respeitamos (falso negativo). Como evitar tais erros? Examinando as evidências.
4.6. Ou isto ou aquilo: Também conhecida como a falácia da negação ou do falso dilema, é a tendência de ver o mundo dividido em opostos, de tal modo que, se provamos que uma coisa está errada, o certo só pode ser o oposto. Esta é uma das táticas favoritas dos criacionistas, que argumentam que a vida, ou foi criada por Deus ou evoluiu. Em seguida, passam resto da vida tentando desacreditar a teoria da evolução de modo a poder dizer que, se a evolução não existiu, então o criacionismo está certo.
Mas não basta apontar falhas nos argumentos dos outros. Se a sua teoria for realmente superior, deverá explicar tanto o que a outra hipótese explica quanto o que ela não consegue explicar. Uma teoria é provada por argumentos em favor dela, não contra a teoria oposta. Uma variação desta é conhecida como "curto prazo x longo prazo". Exemplo: "Não temos verbas para creches e escolas para criança pobres porque temos que combater a violência urbana", ou seja, elimina-se o meio-termo.
4.7. Raciocínio circular: Também conhecida como a falácia da redundância ou tautologia. Ocorre quando a conclusão é apenas um outro modo de expressar uma das premissas. Teologias estão cheias de tautologias. "Existe um deus? Sim. Como você sabe? Porque está na Bíblia. Como você sabe que a Bíblia está correta? Porque foi inspirada por Deus". Em outras palavras, Deus existe porque Deus existe. A ciência também cai nesta armadilha. "O que é a gravidade? É a tendência de os objetos serem atraídos um pelo outro. Por que os objetos são atraídos um pelo outro? Devido à gravidade". Uma tautologia pode ter sua utilidade mas, por mais difícil que seja, temos que criar definições que possam ser testadas, falsificadas e refutadas.
4.8. Reductio ad Absurdum e a rampa escorregadia: Reductio ad absurdum é refutar um argumento levando-o às suas últimas consequências e assim fazendo-o chegar a alguma conclusão absurda. A conclusão é a de que, se o argumento leva a um absurdo, ele é falso. Isto nem sempre acontece, embora levar um argumento a seus limites possa ser útil para se descobrir se uma afirmação é válida, principalmente se o teste puder ser feito na prática.
Da mesma forma, a rampa escorregadia envolve criar um cenário em que uma coisa acaba levando a consequências tão extremas que seria melhor não se fazer a coisa. Exemplo: "comer sorvete vai lhe fazer engordar. Aos poucos, vai ficar enorme. Logo chegará a 150kg e morrerá do coração. Logo, é melhor não comer sorvete para não morrer". Ou seja, levando-se uma coisa ao extremo pode-se chegar a resultados desastrosos ou absurdos. Mas as coisas não têm necessariamente que ser levadas ao extremo.
4.9. Equivocação: A equivocação ocorre quando uma palavra é usada em mais de um sentido durante a argumentação. Por exemplo: "Só o homem é racional. A mulher não é homem. Logo, a mulher não é racional". O problema aqui é que "homem" está sendo usado tanto no sentido de "ser humano" quanto no de "macho humano". A mulher é a fêmea humana e, portanto, também um ser humano.
4.10. Composição: A composição é considerar que todo o argumento é válido quando uma parte dele é válida. Exemplo: "partículas subatômicas não têm vida, portanto tudo o que é feito delas também não tem vida". Quando partes se combinam em um todo, o resultado pode ser maior que a simples soma das partes ou ter propriedades novas (as "propriedades emergentes"). Relaciona-se à "generalização apressada".
4.11. Divisão: É o oposto da composição. Atribui aos membros de um conjunto as propriedades do conjunto. Só porque estamos vivos não significa que as partículas que nos constituem estão vivas.
4.12. Falácia genética: É uma variante da "ad hominem". Rejeita uma ideia devido ao modo como surgiu. Por exemplo, o químico August Kekulé descobriu a estrutura do benzeno quando lhe pareceu ver nas chamas a imagem de uma serpente mordendo o seu próprio rabo. A validade de uma ideia independe de ela ter surgido de um delírio ou recorrendo-se a uma cartomante.
4.13. Apelo às massas: "Deve ser verdade porque todo mundo acredita nisto". Qualquer mãe tem uma resposta para esta falácia: "se todos pulassem num abismo, você também pularia?". Quase todos acreditavam que a Terra era plana. Estavam enganados.
4.14. Apelo à tradição: Só porque uma coisa vem sendo feita há muito tempo não significa que seja a coisa certa. A escravidão foi uma tradição por milhares de anos, mas hoje não é mais aceita.
4.15. Apelo ao medo: Consiste em usar ameaças para reforçar a argumentação. Exemplo: "Se esta pessoa não for condenada, cometerá novos crimes". O que a pessoa pode vir a fazer no futuro não prova que ela é culpada agora. É uma possibilidade, não uma certeza. Ou: "Se você não acreditar em Deus, irá para o inferno". Esta afirmação não serve como prova de que Deus existe, é apenas uma ameaça (e requer, ela própria, uma prova).
4.16. Relativização e contexto: pode-se tentar diminuir a força de uma evidência incômoda afirmando que ela não é importante em relação ao contexto ou que ela depende do contexto. Por exemplo, "A Inquisição não passou de alguns poucos casos isolados, que a maioria da Igreja não aprovou" ou "As atrocidades descritas no Antigo Testamento se justificam no contexto em que ocorreram".
4.17. Alegação especial: Em inglês, diz-se "special pleading". Uma tentativa de fugir de uma questão difícil por meio de uma alegação que pretende explicar toda a questão com uma só frase sem realmente abordar o assunto. Quando instados a explicar por que Deus permite que os inocentes sofram e o mal triunfe, os crentes dizem "Os desígnios de Deus são incompreensíveis" ou "Não nos cabe questionar a vontade de Deus".
4.18. Indução à conclusão: A afirmação contém uma conclusão que não está provada: "Temos que instituir a pena de morte para reduzir a criminalidade" ou "A Bolsa caiu porque houve muitas vendas para realizar lucros". Nos dois casos, as relações de causa e efeito são afirmadas mas não provadas. Em inglês, diz-se "begging the question".
4.19. Falácia do espantalho: Cria-se uma caricatura do assunto ou da pessoa para que fique mais fácil atacá-la. Exemplo: "Ambientalistas se preocupam mais com um matagal ou uma coruja do que com as pessoas".
5. Problemas psicológicos:
5.1. Lei do menor esforço e a necessidade de certeza, controle e simplicidade: A maioria de nós, na maior parte do tempo, quer controlar seu ambiente e quer explicações simples e elegantes. A nossa sociedade, entretanto, é complexa e tem problemas complexos. Esta tendência leva a se supersimplificar a realidade e pode interferir com o pensamento crítico e a capacidade de se resolverem problemas. Por exemplo, acho que a crença em paranormalidade e pseudociências é em parte devido às incertezas da vida. De acordo com James Randi, depois que o comunismo, com suas certezas, entrou em colapso, tais crenças aumentaram muito.
Há muitos charlatões mas também há muita gente que realmente acha que descobriu alguma coisa concreta e significativa sobre a natureza do mundo. O capitalismo é mais livre - mas também oferece menos certezas que o comunismo. Isto leva a mente a procurar por explicações para os mistérios da vida e ela acaba se voltando para o sobrenatural e o paranormal. O pensamento científico não é uma habilidade natural. Tem que ser adquirido pelo treinamento, com esforço e experiência, assim como não podemos esperar ser bons carpinteiros ou pianistas sem aprendizado e esforço.
Temos que lutar para controlar nossa tendência a ter certeza das coisas e de nos julgarmos no controle absoluto e nossa tendência a procurar sempre a solução mais simples para um problema e que requeira o menor esforço. Às vezes elas são simples mas em geral não.
5.2. Modos inadequados de resolver problemas: O pensamento crítico e científico é, de certa forma, a resolução de problemas. Mas há muitos problemas psicológicos que interferem com isto. O psicólogo Barry Singer demonstrou que, quando pessoas recebem a tarefa de selecionar a resposta certa para um problema baseados em uma lista de afirmações classificadas como "certo" ou "errado", elas:
A. Imediatamente criam uma hipótese e procuram apenas pelos exemplos que a confirmam.
B. Não procuram nenhuma evidência em contrário.
C. Custam a mudar de ideia mesmo quando ela está obviamente errada.
D. Se a informação é complicada demais, adotam supersimplificações como hipótese ou estratégia.
E. Se não há uma solução, se a questão na verdade é um truque e os conceitos de "certo" e "errado" foram atribuídos ao acaso, formam hipóteses baseadas nas coincidências observadas e sempre acham alguma causalidade (Singer e Abell, 1981). Se os seres humanos são assim em geral, então temos que nos esforçar para superar estas limitações na resolução de problemas da ciência e da vida.
5.3. Imunidade ideológica ou o Problema de Planck: Na vida diária como na ciência, resistimos às mudanças de conceitos básicos. O cientista social Jay Stuart Snelson chama a esta resistência "sistema imunológico ideológico". "Adultos educados, inteligentes e bem-sucedidos raramente mudam seus pressupostos mais básicos". De acordo com Snelson, quanto mais conhecimento os indivíduos acumulam e quanto mais bem fundadas suas teorias se tornaram (lembrem-se, tendemos a procurar por confirmações, não provas em contrário; e são estas que nós lembramos), maior a confiança em suas ideias.
A consequência disto, entretanto, é que desenvolvemos uma "imunidade" contra ideias novas que não confirmam as antigas. Os historiadores da ciência chamam a isto "o problema de Planck" devido ao físico Max Planck, que fez este comentário sobre o que deve ocorrer para que a ciência sofra inovações: "uma inovação científica importante raramente se estabelece por meio do convencimento gradual de seus oponentes. Raramente Saulo se torna Paulo. O que acontece é que os opositores vão aos poucos morrendo e a nova geração já cresce acostumada com a ideia" (1936).
O psicólogo David Perkins realizou um estudo em que ele achou fortes evidências de que há uma relação entre a inteligência (medida por testes de QI padrões) e a tendência a se adotar um ponto de vista e defendê-lo. Também encontrou uma forte correlação negativa entre a inteligência e a capacidade de se considerar outras alternativas. Ou seja, quanto mais alto o QI, maior o potencial de imunidade ideológica. A imunidade ideológica está incorporada ao edifício da ciência e funciona como um filtro contra novidades potencialmente avassaladoras.
O historiador da ciência I. B. Cohen comentou: "Sistemas científicos novos e revolucionários tendem mais a sofrer resistência do que ser recebidos de braços abertos porque cada cientista bem-sucedido oculta interesses intelectuais, sociais e financeiros em manter o status quo. Se todas as ideias revolucionárias fossem recebidas de braços abertos, haveria o caos completo" (1985). A verdade é que a história recompensa aqueles que estão "certos" (ainda que provisoriamente).
Mas as mudanças acontecem. Na astronomia, o geocentrismo de Ptolomeu foi substituído pelo heliocentrismo de Copérnico. Na geologia, o catastrofismo de George Cuvier foi gradualmente expulso pelo uniformitarianismo, mais bem fundado, de James Hutton e Charles Lyell. Na biologia, o evolucionismo de Darwin se sobrepôs à crença criacionista na imutabilidade das espécies. A teoria do deslocamento continental de Alfred Wegener levou quase meio século para superar o dogma dos continentes fixos e estáveis.
A imunidade ideológica na ciência pode ser vencida, mas requer tempo e evidências.
6. O dito de Espinoza: Os céticos têm a tendência muito humana de gostar de desacreditar aquilo que eles acham que é besteira. É divertido identificar as falácias no pensamento dos outros, mas a questão não é só esta. Como céticos e pensadores críticos, temos que ir além de nossas reações emocionais porque, ao entender como os outros erraram e como a ciência está sujeita ao controle social e às influências culturais, podemos melhorar nossa compreensão de como o mundo funciona.
É por este motivo que é tão importante para nós entender a história tanto da ciência como da pseudociência. Se tivermos uma visão geral de como estes movimentos evoluem e entendermos como foi que as ideias erradas surgiram, não cometeremos os mesmos erros. O filósofo holandês Baruch Espinoza, do século 17, disse-o melhor: "Eu fiz um esforço constante para não ridicularizar, não deplorar e não desprezar as atividades humanas, mas para entendê-las"
(adaptado de "How Thinking Goes Wrong-Twenty-five Fallacies That Lead Us to Believe Weird Things", por Michael Shermer; do livro "Why People Believe Weird Things" - 1977; de "Informal Fallacies", por Theodore Schick, Jr. & Lewis Vaughn; do livro "How To Think About Weird Things" - 1995; de "The Basic Equipment", por Antony Flew e do livro "How to Think Straight: An Introduction To Critical Reasoning" - 1998)
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Uma variação do "non sequitur":
Você questiona o crente sobre uma contradição ou absurdo na Bíblia. Ele fica confuso e corre a pedir ajuda ao pastor.
O pastor despeja conhecimento sobre a Palestina: rios, montanhas, cidades, povos, fatos históricos etc., citando versículos sobre isto ou aquilo.
Tudo verdade ... mas totalmente irrelevante.
Só que o crente fica tão aliviado em ver que, no fim das contas, havia uma explicação para a "aparente" contradição ou absurdo que nem se preocupa em analisar o que o pastor disse e não percebe que nada foi refutado.
Daí ele volta e despeja aquele monte de informação inútil achando que "derrotou" o ateu malvado.
Você questiona o crente sobre uma contradição ou absurdo na Bíblia. Ele fica confuso e corre a pedir ajuda ao pastor.
O pastor despeja conhecimento sobre a Palestina: rios, montanhas, cidades, povos, fatos históricos etc., citando versículos sobre isto ou aquilo.
Tudo verdade ... mas totalmente irrelevante.
Só que o crente fica tão aliviado em ver que, no fim das contas, havia uma explicação para a "aparente" contradição ou absurdo que nem se preocupa em analisar o que o pastor disse e não percebe que nada foi refutado.
Daí ele volta e despeja aquele monte de informação inútil achando que "derrotou" o ateu malvado.
- Fernando Silva
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Outro caso é o das "pessoas que acreditam em tudo".
Elas se dizem cristãs, mas também aceitam a Cabala, os Vedas, Wicca, os herméticos, o espiritismo, o xamanismo, a "física quântica" e qualquer outra coisa que tenha alguma relação com espiritualidade e misticismo.
Se você contesta algum detalhe da Bíblia, elas despejam trechos de livros dessas superstições - que elas interpretam convenientemente - e consideram que refutaram seu argumento.
Ou então procuram por uma determinada palavra ou conceito na Internet e postam tudo o que encontraram, seja ou não relevante para o assunto em debate.
Elas acreditam em que, se você jogar um monte de coisas em cima da mesa, dali vai sair algo de útil.
Elas se dizem cristãs, mas também aceitam a Cabala, os Vedas, Wicca, os herméticos, o espiritismo, o xamanismo, a "física quântica" e qualquer outra coisa que tenha alguma relação com espiritualidade e misticismo.
Se você contesta algum detalhe da Bíblia, elas despejam trechos de livros dessas superstições - que elas interpretam convenientemente - e consideram que refutaram seu argumento.
Ou então procuram por uma determinada palavra ou conceito na Internet e postam tudo o que encontraram, seja ou não relevante para o assunto em debate.
Elas acreditam em que, se você jogar um monte de coisas em cima da mesa, dali vai sair algo de útil.
Essa coisa de comprar um pacote completo e sortido de esquisitices tem um nome: Crank magnetism
- Fernando Silva
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Não tenho mais como editar meu texto acima, portanto seguem-se alguns itens que eu gostaria de acrescentar.
Inventei os nomes dos itens 4.21 e 4.22. Não sei se já estão classificadas ou se têm nomes em latim.
4.20. Plurium interrogationum: "Múltiplas perguntas" ou "pergunta complexa" é quando uma pergunta inclui afirmações não comprovadas que, na verdade, deveriam ser apresentadas também como perguntas. O objetivo é criar uma armadilha para o interlocutor. Por exemplo: "Você continua batendo na sua mulher?" traz o pressuposto de que a pessoa costuma bater na mulher.
4.21. Cortina de fumaça: o debatedor disfarça sua falta de argumentos despejando irrelevâncias. Por exemplo: se ele não tem como explicar um trecho embaraçoso da Bíblia, exibe seu grande conhecimento sobre montanhas, rios, cidades, fatos históricos, curiosidades culturais e outros detalhes sobre a Palestina. Tudo verdade, mas não refuta o questionamento apresentado. Costuma funcionar com gente que o vê como autoridade no assunto e vai assumir que a resposta foi satisfatória, sem nem ler aquele texto enorme.
4.22. Agressividade: além de intimidar o interlocutor com ironias e sarcasmos, procura humilhá-lo despejando erudição ao citar autoridades como historiadores e filósofos, inclusive com trechos em latim ou em outras línguas, para deixar clara sua superioridade intelectual. O interlocutor pode até ter conhecimento suficiente para perceber que seus argumentos não foram refutados, mas abandona o debate para não se aborrecer mais, dando a impressão de que admitiu sua derrota.
Inventei os nomes dos itens 4.21 e 4.22. Não sei se já estão classificadas ou se têm nomes em latim.
4.20. Plurium interrogationum: "Múltiplas perguntas" ou "pergunta complexa" é quando uma pergunta inclui afirmações não comprovadas que, na verdade, deveriam ser apresentadas também como perguntas. O objetivo é criar uma armadilha para o interlocutor. Por exemplo: "Você continua batendo na sua mulher?" traz o pressuposto de que a pessoa costuma bater na mulher.
4.21. Cortina de fumaça: o debatedor disfarça sua falta de argumentos despejando irrelevâncias. Por exemplo: se ele não tem como explicar um trecho embaraçoso da Bíblia, exibe seu grande conhecimento sobre montanhas, rios, cidades, fatos históricos, curiosidades culturais e outros detalhes sobre a Palestina. Tudo verdade, mas não refuta o questionamento apresentado. Costuma funcionar com gente que o vê como autoridade no assunto e vai assumir que a resposta foi satisfatória, sem nem ler aquele texto enorme.
4.22. Agressividade: além de intimidar o interlocutor com ironias e sarcasmos, procura humilhá-lo despejando erudição ao citar autoridades como historiadores e filósofos, inclusive com trechos em latim ou em outras línguas, para deixar clara sua superioridade intelectual. O interlocutor pode até ter conhecimento suficiente para perceber que seus argumentos não foram refutados, mas abandona o debate para não se aborrecer mais, dando a impressão de que admitiu sua derrota.
- Fernando Silva
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Um site sobre falácias. Nada de novo, mas traz ilustrações interessantes:
https://thinkingispower.com/logical-fallacies/
Alguns exemplos:
https://thinkingispower.com/logical-fallacies/
Alguns exemplos:
- Fernando Silva
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Em formato de jogo de cartas (em português). Link para download:
https://drive.google.com/drive/folders/ ... KwzFoddZo-
No alto, à direita, opção para baixar tudo de uma vez.
https://drive.google.com/drive/folders/ ... KwzFoddZo-
No alto, à direita, opção para baixar tudo de uma vez.
Sempre bom lembrar que nem sempre o que parece falacia é de fato falácia:
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Ad hominens talvez nao sejam falaciosos em determinadas condicoes: por exemplo, um mentiroso contumaz faz uma afirmaçao. Seria entao falacioso duvidar dele sabendo quem ele é (mentiroso e tal..)?
Alguem segue frequentemente determinada agenda ou tem certo viés. Seria falacioso supor essa agenda/vies nas afirmacoes dele, em assuntos cuja agenda/vies sejam relevantes ou possam estar presentes, justamente por ser ele quem é?
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Ad hominens talvez nao sejam falaciosos em determinadas condicoes: por exemplo, um mentiroso contumaz faz uma afirmaçao. Seria entao falacioso duvidar dele sabendo quem ele é (mentiroso e tal..)?
Alguem segue frequentemente determinada agenda ou tem certo viés. Seria falacioso supor essa agenda/vies nas afirmacoes dele, em assuntos cuja agenda/vies sejam relevantes ou possam estar presentes, justamente por ser ele quem é?
Seria este o caso de falácia da falsa acusação de falácia?fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmSempre bom lembrar que nem sempre o que parece falacia é de fato falácia:
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Afinal, é um argumento válido citar autores e referências acadêmicas.
Em situações cotidianas, isso é inevitável. Mas em um debate, deslegitimar a afirmação de alguém a partir de características pessoais do indivíduo, ainda assim poderia ser considerado falacioso.fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmAd hominens talvez nao sejam falaciosos em determinadas condicoes: por exemplo, um mentiroso contumaz faz uma afirmaçao. Seria entao falacioso duvidar dele sabendo quem ele é (mentiroso e tal..)?
Alguem segue frequentemente determinada agenda ou tem certo viés. Seria falacioso supor essa agenda/vies nas afirmacoes dele, em assuntos cuja agenda/vies sejam relevantes ou possam estar presentes, justamente por ser ele quem é?
No caso de se tratar de um mentiroso contumaz ou um troll, o mais sensato a ser feito talvez fosse ignorá-lo.
Filtrar as fontes de informação não necessariamente é uma falácia. A falácia surge no momento em que construímos alguma argumentação.
- Fernando Silva
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Não esquecendo de que autoridades no assunto podem errar e que os fatos prevalecem sobre a opinião delas.Cinzu escreveu: ↑Ter, 19 Novembro 2024 - 23:26 pmSeria este o caso de falácia da falsa acusação de falácia?fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmSempre bom lembrar que nem sempre o que parece falacia é de fato falácia:
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Afinal, é um argumento válido citar autores e referências acadêmicas.
Os crentes alegam que Darwin se arrependeu na hora da morte, mas, mesmo que fosse verdade, a evolução continuaria existindo. Não depende da opinião dele.
Mas, sim, entre a opinião de um leigo e o conjunto de evidências dos cientistas, a escolha é óbvia. Pelo menos até que surjam fatos novos.
Lembrando também que não existe garantia de que um mentiroso contumaz sempre diga mentiras.Cinzu escreveu: ↑Ter, 19 Novembro 2024 - 23:26 pmSeria este o caso de falácia da falsa acusação de falácia?fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmSempre bom lembrar que nem sempre o que parece falacia é de fato falácia:
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Afinal, é um argumento válido citar autores e referências acadêmicas.
Em situações cotidianas, isso é inevitável. Mas em um debate, deslegitimar a afirmação de alguém a partir de características pessoais do indivíduo, ainda assim poderia ser considerado falacioso.fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmAd hominens talvez nao sejam falaciosos em determinadas condicoes: por exemplo, um mentiroso contumaz faz uma afirmaçao. Seria entao falacioso duvidar dele sabendo quem ele é (mentiroso e tal..)?
Alguem segue frequentemente determinada agenda ou tem certo viés. Seria falacioso supor essa agenda/vies nas afirmacoes dele, em assuntos cuja agenda/vies sejam relevantes ou possam estar presentes, justamente por ser ele quem é?
No caso de se tratar de um mentiroso contumaz ou um troll, o mais sensato a ser feito talvez fosse ignorá-lo.
Filtrar as fontes de informação não necessariamente é uma falácia. A falácia surge no momento em que construímos alguma argumentação.
Mesmo que se saiba da reputação questionável de alguém, esse alguém pode estar dizendo verdades algumas vezes.
Ou seja, mesmo que se saiba que o interlocutor tenha fama de mentiroso, não se pode assegurar que ele está mentindo na afirmação seguinte, baseando-se apenas no seu histórico.
É a falácia do envenenamento do poço.
Eu não posso afirmar que só sai mentira da boca de um mentiroso.
Em algumas vezes, ele pode estar dizendo a verdade e seria incorreto desconsiderar a sua afirmação, baseando-se apenas na reputação.
O histórico dele não impõe uma sentença perpétua de que tudo o que ele diz é falso. E nem é garantia disso.
- Fernando Silva
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Em geral, devemos não acreditar na afirmação de um mentiroso contumaz. Não é porque não existe garantia de que um mentiroso contumaz sempre diga mentiras que devemos afirmar que ele esteja falando a verdade. Ausência de evidência de falsidade não é evidência de veracidade.Gabarito escreveu: ↑Qua, 20 Novembro 2024 - 10:16 amLembrando também que não existe garantia de que um mentiroso contumaz sempre diga mentiras.Cinzu escreveu: ↑Ter, 19 Novembro 2024 - 23:26 pmSeria este o caso de falácia da falsa acusação de falácia?fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmSempre bom lembrar que nem sempre o que parece falacia é de fato falácia:
Nao se pode acusar de apelo a autoridade alguem que se baseia em Einstein quando discorre sobre relatividade.
Seria apelo a autoridade se a autoridade em questão não fosse de fato autoridade no assunto discutido e sim em outros assuntos não relevantes ao que se discute.
Afinal, é um argumento válido citar autores e referências acadêmicas.
Em situações cotidianas, isso é inevitável. Mas em um debate, deslegitimar a afirmação de alguém a partir de características pessoais do indivíduo, ainda assim poderia ser considerado falacioso.fenrir escreveu: ↑Dom, 10 Novembro 2024 - 18:17 pmAd hominens talvez nao sejam falaciosos em determinadas condicoes: por exemplo, um mentiroso contumaz faz uma afirmaçao. Seria entao falacioso duvidar dele sabendo quem ele é (mentiroso e tal..)?
Alguem segue frequentemente determinada agenda ou tem certo viés. Seria falacioso supor essa agenda/vies nas afirmacoes dele, em assuntos cuja agenda/vies sejam relevantes ou possam estar presentes, justamente por ser ele quem é?
No caso de se tratar de um mentiroso contumaz ou um troll, o mais sensato a ser feito talvez fosse ignorá-lo.
Filtrar as fontes de informação não necessariamente é uma falácia. A falácia surge no momento em que construímos alguma argumentação.
Mesmo que se saiba da reputação questionável de alguém, esse alguém pode estar dizendo verdades algumas vezes.
Ou seja, mesmo que se saiba que o interlocutor tenha fama de mentiroso, não se pode assegurar que ele está mentindo na afirmação seguinte, baseando-se apenas no seu histórico.
É a falácia do envenenamento do poço.
Eu não posso afirmar que só sai mentira da boca de um mentiroso.
Em algumas vezes, ele pode estar dizendo a verdade e seria incorreto desconsiderar a sua afirmação, baseando-se apenas na reputação.
O histórico dele não impõe uma sentença perpétua de que tudo o que ele diz é falso. E nem é garantia disso.
Alguém poderia argumentar que devemos verificar se o enunciado do mentiroso contumaz é verdadeiro ou falso sem apelar à expertise ou à credibilidade. Mas são raras as ocasiões em que isso é viável. Devido a isso, pode-se dizer que argumento ad hominem geralmente não é uma falácia.
As pessoas não sabem o que significa ad hominem. Raramente é uma falácia.
Ad Hominem: muitos pensam que ad hominem é na verdade uma falácia. É mais frequentemente um método rigoroso de exploração. Há casos em que você foca na pessoa, outras em que você foca no argumento. Quando garantimos que um médico tem um diploma, é puro ad hominem. Em questões que exigem expertise, você olha a credibilidade - basta para olhar para as lutas pelo processo de verificação de testemunhas especialistas em um tribunal. Em questões que exigem provas empíricas ou matemáticas, você foca nos argumentos - esses são raros. Mesmo em discussões acadêmicas, há um ad hominem condicional, pois só deixamos pessoas com credencial participarem (deixar cada guru da web com uma teoria criaria uma bagunça).
(Nassim Nicholas Taleb - traduzido)
Fonte: https://x.com/nntaleb/status/1424703051462582276
Sobre o apelo à autoridade e seu antônimo (cujo nome não lembro); quando estamos com pressa, nós aceitamos ou atacamos a fonte, conforme a credibilidade, sem analisar o argumento, para assim pouparmos tempo. Temos histórico e estatísticas das fontes para vermos a frequência de acertos e erros. Um especialista então acaba tendo muita credibilidade enquanto um lunático é desacreditado, então preferimos não gastar tempo com a complexidade dos argumentos e usar falácias relacionadas com a fonte. O mesmo vale para o ad hominem da tirinha acima.Argumentum ad Verecundiam
Não consegui ler com essa resolução.
Mas procurei a imagem com resolução maior no Google.
https://www.reddit.com/r/coolguides/com ... fallacies/
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Eu editei a postagem para exibir a imagem corretamente.
Gabarito.