A lei do karma promove evolucao moral?
Enviado: Seg, 20 Janeiro 2025 - 12:09 pm
Aqui vou partir de um pressuposto (que nao compartilho), de que existem almas e que elas reencarnam.
Dizem que um individuo que cometeu um crime em uma outra vida deve pagar por ele mais a frente e assim poder progredir moralmente.
Ora, ocorre que tal individuo nao retem nenhuma memoria de um crime que tenha sido cometido numa vida passada.
Se nao ha nenhuma memoria, é então impossivel:
a) Que o individuo tenha plena consciencia do crime, que reconheça que cometeu o crime e de sua culpabilidade.
b) Que se arrependa de o ter cometido e aceite a pena.
c) Que pretenda nao mais cometer crimes e busque reparar ou mitigar de alguma forma aquilo que fez.
E assim perde-se toda a função educativa e dissuasiva de uma pena e resta apenas um sofrimento presente, que ao criminoso
da vida passada parecerá nada menos que uma injustiça.
Me antecipo a um tipo de replica que já vi antes: de que seria perturbador demais se esses crimes fossem conhecidos por
aquele que os cometeu (aquele = mesma alma). Aqui sustento que:
1) Nem todo crime é assim tão terrivel que mera consciencia dele possa perturbar alguem a tal ponto que seja melhor
nem saber de sua existencia. Não há memoria de NENHUM crime passado quer seja ele pequeno, médio, grande ou hediondo.
Porque então esse esquecimento é total e nao seletivo (so daquilo que é traumatizante)?
2) Nem todos reagem de uma mesma forma: um certo individuo pode reagir com frieza e indiferença mesmo se soubesse
da gravidade do que fez (supondo ser grave). Pois que se fez uma vez e intencionalmente, não é impossível que o
faça novamente, da mesma forma que antes., sem nem pestanejar.
Finalmente, pode ser que nem considere o que fez como sendo crime (uma "justa" vingança, por exemplo).
Como entao se sustenta que haveria sempre trauma se essas coisa se viessem a saber?
Para mim 1 e 2 ja refutam essa replica.
Mas nao vou dar descanso nenhum aqui: ainda que a replica contivesse algo de certo, que "crimes passados são perturbadores demais"...
3) O problema que levantei mais acima continua intocado, de que: "perde-se toda a função educativa e dissuasiva de uma pena e resta
apenas um sofrimento presente, que ao criminoso da vida passada parecerá nada menos que uma injustiça".
E, por fim,
4) Se nao se pode ter conciencia total do crime porque não ao menos uma consciencia parcial?
Algo que possibilitasse ao sujeito saber porque sofre sem ter que entrar em pormenores traumatizantes?
Isso, ainda que seja insuficiente, é melhor que nao saber coisa alguma.
...me adiantando a outra replica:
de que o individuo (= alma) teria consciencia do crime e da pena que vira a sofrer ENTRE as encarnações e que aceitou as condições e devido a isso encarnará assim e assado e blá blá
A isso retruco que na nova vida, assim como não há a memoria do crime cometido, não há tambem memoria alguma desses acordos acima (na falta de termo melhor).
Então continua a não haver "a função educativa e dissuasiva de uma pena ....", pois que as ações que serão sentidas e cometidas
estarão ali naquelas vidas passadas, presentes ou futuras, todas elas deprovidas das memorias de quaisquer crimes e acordos "entre-encarnações"...
Esse mecanismo da lei do Karma é um pesadelo Kafkiano.
É como em "O Processo", que conta a história de Josef K., que acorda certa manhã, e é processado e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não especificado.
Então pergunto: de que forma pode o individuo evoluir moralmente nessas condições?
---------------------
Outra objeção:
Não se sabe se existe uma moral absoluta, que transcenda tempo, espaço e culturas. Logo, o que é crime numa época, lugar ou cultura,
1) pode não ser em outra
2) pode ser mais ou menos grave que em outra
3) pode ter penas distintas em uma e em outra ainda que tivesse em ambas a mesma gravidade
Assim sendo, qual é o referencial a partir do qual as ações de um individuo serão analisadas, julgadas, para daí serem classificadas como criminosas?
Qual o referencial que possibilitará definir a gravidade desse crime para dai definir qual pena seria aplicada?
Posso apostar que muitos retrucariam que esse referencial esta nos ensinamentos de ________
Estão mesmo? Fosse assim porque tais ensinamentos são tão incompletos e superficiais***, porque não são universalmente aceitos? Porque não são praticados nem mesmo por aqueles que fazem desse ensinamentos sua fé?
*** por exemplo o "nao matarás". Como funciona essa diretiva se o sujeito se encontra numa situação de matar ou morrer?
Como funciona essa diretiva se numa outra situação a morte for preferível a vida (morte por misericordia)? Como ficam o suicídio assistido, o aborto de um feto que sequer desenvolveu consciencia ou sistema nervoso ou vai nascer praticamente sem um (anencefalo)?
O "não matarás" vale só para humanos? pode-se matar outros seres à revelia? Depende do tipo do ser? Pode-se mata-los para servir de alimento, vestuario?
E se a morte é consentida por ambas as partes (por quem mata e quem morre) num ritual religioso qualquer? E se um guerreiro prefere uma morte honrosa a viver sem honra?
Se o "não matarás" é uma diretiva absoluta, porque vivemos num universo onde uma supernova ou asteroide podem varrer toda a vida de um planeta? Pergunte a um T-Rex ou um trilobita o que eles acham desse "nao matarás".
Num certo livro famigerado, a divindade que estabeleceu esse mandamento é a primeira a desrespeitar o mesmo e seus devotos vem logo a seguir desrespeitando-o vezes e vezes sem conta... pisando, cuspindo e cagando no mandamento.
Se se pode discutir ate mesmo esse, que a primeira vista parece tão óbvio e sólido, o que dira dos demais....
Dizem que um individuo que cometeu um crime em uma outra vida deve pagar por ele mais a frente e assim poder progredir moralmente.
Ora, ocorre que tal individuo nao retem nenhuma memoria de um crime que tenha sido cometido numa vida passada.
Se nao ha nenhuma memoria, é então impossivel:
a) Que o individuo tenha plena consciencia do crime, que reconheça que cometeu o crime e de sua culpabilidade.
b) Que se arrependa de o ter cometido e aceite a pena.
c) Que pretenda nao mais cometer crimes e busque reparar ou mitigar de alguma forma aquilo que fez.
E assim perde-se toda a função educativa e dissuasiva de uma pena e resta apenas um sofrimento presente, que ao criminoso
da vida passada parecerá nada menos que uma injustiça.
Me antecipo a um tipo de replica que já vi antes: de que seria perturbador demais se esses crimes fossem conhecidos por
aquele que os cometeu (aquele = mesma alma). Aqui sustento que:
1) Nem todo crime é assim tão terrivel que mera consciencia dele possa perturbar alguem a tal ponto que seja melhor
nem saber de sua existencia. Não há memoria de NENHUM crime passado quer seja ele pequeno, médio, grande ou hediondo.
Porque então esse esquecimento é total e nao seletivo (so daquilo que é traumatizante)?
2) Nem todos reagem de uma mesma forma: um certo individuo pode reagir com frieza e indiferença mesmo se soubesse
da gravidade do que fez (supondo ser grave). Pois que se fez uma vez e intencionalmente, não é impossível que o
faça novamente, da mesma forma que antes., sem nem pestanejar.
Finalmente, pode ser que nem considere o que fez como sendo crime (uma "justa" vingança, por exemplo).
Como entao se sustenta que haveria sempre trauma se essas coisa se viessem a saber?
Para mim 1 e 2 ja refutam essa replica.
Mas nao vou dar descanso nenhum aqui: ainda que a replica contivesse algo de certo, que "crimes passados são perturbadores demais"...
3) O problema que levantei mais acima continua intocado, de que: "perde-se toda a função educativa e dissuasiva de uma pena e resta
apenas um sofrimento presente, que ao criminoso da vida passada parecerá nada menos que uma injustiça".
E, por fim,
4) Se nao se pode ter conciencia total do crime porque não ao menos uma consciencia parcial?
Algo que possibilitasse ao sujeito saber porque sofre sem ter que entrar em pormenores traumatizantes?
Isso, ainda que seja insuficiente, é melhor que nao saber coisa alguma.
...me adiantando a outra replica:
de que o individuo (= alma) teria consciencia do crime e da pena que vira a sofrer ENTRE as encarnações e que aceitou as condições e devido a isso encarnará assim e assado e blá blá
A isso retruco que na nova vida, assim como não há a memoria do crime cometido, não há tambem memoria alguma desses acordos acima (na falta de termo melhor).
Então continua a não haver "a função educativa e dissuasiva de uma pena ....", pois que as ações que serão sentidas e cometidas
estarão ali naquelas vidas passadas, presentes ou futuras, todas elas deprovidas das memorias de quaisquer crimes e acordos "entre-encarnações"...
Esse mecanismo da lei do Karma é um pesadelo Kafkiano.
É como em "O Processo", que conta a história de Josef K., que acorda certa manhã, e é processado e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não especificado.
Então pergunto: de que forma pode o individuo evoluir moralmente nessas condições?
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Outra objeção:
Não se sabe se existe uma moral absoluta, que transcenda tempo, espaço e culturas. Logo, o que é crime numa época, lugar ou cultura,
1) pode não ser em outra
2) pode ser mais ou menos grave que em outra
3) pode ter penas distintas em uma e em outra ainda que tivesse em ambas a mesma gravidade
Assim sendo, qual é o referencial a partir do qual as ações de um individuo serão analisadas, julgadas, para daí serem classificadas como criminosas?
Qual o referencial que possibilitará definir a gravidade desse crime para dai definir qual pena seria aplicada?
Posso apostar que muitos retrucariam que esse referencial esta nos ensinamentos de ________
Estão mesmo? Fosse assim porque tais ensinamentos são tão incompletos e superficiais***, porque não são universalmente aceitos? Porque não são praticados nem mesmo por aqueles que fazem desse ensinamentos sua fé?
*** por exemplo o "nao matarás". Como funciona essa diretiva se o sujeito se encontra numa situação de matar ou morrer?
Como funciona essa diretiva se numa outra situação a morte for preferível a vida (morte por misericordia)? Como ficam o suicídio assistido, o aborto de um feto que sequer desenvolveu consciencia ou sistema nervoso ou vai nascer praticamente sem um (anencefalo)?
O "não matarás" vale só para humanos? pode-se matar outros seres à revelia? Depende do tipo do ser? Pode-se mata-los para servir de alimento, vestuario?
E se a morte é consentida por ambas as partes (por quem mata e quem morre) num ritual religioso qualquer? E se um guerreiro prefere uma morte honrosa a viver sem honra?
Se o "não matarás" é uma diretiva absoluta, porque vivemos num universo onde uma supernova ou asteroide podem varrer toda a vida de um planeta? Pergunte a um T-Rex ou um trilobita o que eles acham desse "nao matarás".
Num certo livro famigerado, a divindade que estabeleceu esse mandamento é a primeira a desrespeitar o mesmo e seus devotos vem logo a seguir desrespeitando-o vezes e vezes sem conta... pisando, cuspindo e cagando no mandamento.
Se se pode discutir ate mesmo esse, que a primeira vista parece tão óbvio e sólido, o que dira dos demais....