Minha Cosmovisão - Schelling

Área destinada a discussões sobre Religiões, Seitas, Crenças e Mitos em geral

Minha Cosmovisão - Schelling

Avatar do usuário
Schelling
Mensagens: 14
Registrado em: Qua, 08 Novembro 2023 - 14:55 pm
Localização: Santa Maria, RS

Mensagem por Schelling »

A intensidade da minha busca espiritual, intelectual, filosófica e científica levou-me às seguintes teses acerca da nossa realidade:

1. O fundamento (building block) da realidade não é material nem espiritual, mas Informacional:

Não basta haver, do lado de cá (mental), o poder "interpretador" de produzir experiências subjetivas se não houver, do lado de lá (físico), o poder dos dados de se fazerem inteligir, isto é, de se "abrirem" ou "revelarem" para um interpretador. Do contrário, mesmo que tivéssemos mentes, permaneceríamos enclausurados sem possibilidade de ultrapassar nosso ensimesmamento solipsista. Se podemos fazer isso e realizar coisas como comunicacação e ciência, é porque nossa capacidade representacional de fato reflete algo inerente à essência das coisas, não sendo descolada delas, mas sim uma "reconstrução" interior de suas características, o que significa que existe algo de inerentemente "interpretável" na matéria, razão pela qual a concebo como "dados".

2. A relação entre Informação e Interpretação não é dualista, mas Dialética:

Concebo a mente como um circuito integrado e organizado de informações, capaz de realizar uma "engenharia reversa" e decifrar os dados do ambiente exterior. Sem a mente (Interpretação), todos os "dados" do Universo não passariam de uma matéria bruta e cega, sem nenhum significado ou sentido inerente. Do mesmo modo, sem a matéria (Dados), o universo inteiro permaneceria eternamente cego e desconhecido, em quietude imanifesta. Informação e Interpretação trabalham juntos, de maneira interdependente, viabilizando o desabrochar da vida, da experiência, da linguagem e da consciência psicossocial.

3. Nem tudo é material e empírico; existem coisas Transcendentais:

Nosso conceito convencional de existência, aplicado ao mundo empírico acerca que experienciamos intersubjetivamente, descreve entes discretos e particulares situados no tempo e no espaço (objetos, pessoas, bichos, corpos, etc). Mas esse conceito falha quando tentamos falar das coisas que, não sendo "coisas entre coisas", ainda assim são "condições viabilizadoras das coisas", ou seja, se situam num nível transcendental com relação ao nosso mundo empírico. Para ilustrar: "Espaço" é um exemplo de coisa que não é uma "coisa entre coisas" (não é um objeto, corpo ou algo que possa ser discernido). Mas é algo sem o qual não poderia haver nenhuma "coisa" (todos os corpos e objetos só existem no espaço, ainda que o espaço não seja nem corpo nem objeto). Ou seja, o espaço tem uma existência "transcendental" com relação ao mundo fenomênico das coisas e objetos (é uma condição viabilizadora dele, e não algo dentro dele). Mesma coisa pode ser dita do Tempo. Todos os eventos se sucedem no tempo, mas o tempo não é um episódio entre os episódios. Tempo, em si mesmo, não é um momento entre momento, mas é uma condição transcendental viabilizadora de todas as durações, momentos e eventos que se sucedem.

4. Deus nem existe nem inexiste, mas o divino Realiza-se:

Algo sempre existiu. Mas essa coisa não pode ser uma coisa, porque coisas dependem de outras coisas e derivam de outras coisas. Portanto, tem que ter um nível de realidade distinto do nível "empírico" dos múltiplos fenômenos materiais. Tem que ser, portanto, algo Metafísico. Só que não se pode dizer nada acerca do Metafísico: em si mesmo, permanece sempre fora do nosso alcance e inacessível a toda especulação. Quer dizer que não podemos afirmar absolutamente nada sobre Deus? Também não. Um Deus eternamente incognoscível e imanifesto é um Deus inútil e cego, indiscernível do fato bruto de um mecanismo fatal e cego. Contudo, nós conhecemos de maneira imediata e por nós mesmos a existência da Pessoalidade, da Responsabilidade, do Pensamento, da Intenção, da Volição e da Experienciação, bem como a realidade do nosso senso de Agência. Ainda que a Causa Primeira da Existência esteja muito além da nossa compreensão, nossas faculdades e operações - incluindo a própria capacidade de concebê-La - realizam no mundo, no tempo e no universo a possibilidade do Bem, do Amor, das Virtudes, da Benevolência e da Compaixão. Erguendo-nos contra as tendências inferiores da inconsciência e da animalidade, fazemo-nos instrumentos de realização do divino mesmo imersos no tempo e no espaço. Mesmo que Deus em si mesmo seja uma treva obscura para nós, o Divino pode dar-se a conhecer por meio da Beleza em pensamentos, sentimentos, palavras e atos. O Divino realiza-se no esplendor da Natureza, nos atos altruístas, na evolução da inteligência, na expansão da consciência, no progresso civilizacional, entre outros.

5. Temos uma existência Metafísica:

Mesmo enquanto não havia (empiricamente) vida no universo, a vida e a mentalidade já eram desde sempre possibilidades subjacentes da existência. Uma vez reunidas as causas e condições interdependentes necessárias, pode originar-se, mas mesmo quando não reunidas não deixa de ser um dos potenciais ocultos da realidade, aguardando apenas a situação propícia para sua manifestação. Isso significa que pouco importa (metafisicamente) que não existíssemos contingentemente, ou que deixemos de existir pela morte ou algum desastre, porque os bilhões de anos de evolução cósmica necessários para nossa emergência simplesmente passariam em menos do que um piscar de olhos, já que não existe lentidão nem duração alguma na ausência de experiência subjetiva. Segue-se disso que sempre conheceremos uma realidade em que existimos, e nunca conheceremos uma realidade em que inexistimos, porque essa seria uma não-realidade nunca experienciada por nós; enquanto que, do fato de aqui estarmos (que comprova sermos um potencial inerente ao universo), deriva que existiremos mesmo que leve trilhões de anos e colapsos inteiros de galáxias e universos, porque do fato da vida ser um potencial intrínseco ao real segue-se que haverá de recorrer e recorrer indefinidamente, custe o que custar e leve o tempo que levar.
Editado pela última vez por Schelling em Sex, 05 Janeiro 2024 - 11:29 am, em um total de 9 vezes.
"It is midnight among the profane,
but the intellectual Sun is rising upon this Assembly."

S∴I∵

Re: Minha Cosmovisão

Avatar do usuário
Schelling
Mensagens: 14
Registrado em: Qua, 08 Novembro 2023 - 14:55 pm
Localização: Santa Maria, RS

Mensagem por Schelling »

(Cliquei errado em "Enviar" em vez de "Prever". Peço que aguardem eu editar a publicação anterior antes de responderem).
"It is midnight among the profane,
but the intellectual Sun is rising upon this Assembly."

S∴I∵

Re: Minha Cosmovisão

Avatar do usuário
Schelling
Mensagens: 14
Registrado em: Qua, 08 Novembro 2023 - 14:55 pm
Localização: Santa Maria, RS

Mensagem por Schelling »

Schelling escreveu:
Sex, 05 Janeiro 2024 - 10:51 am
A intensidade da minha busca espiritual, intelectual, filosófica e científica levou-me às seguintes teses acerca da nossa realidade:

1. O fundamento (building block) da realidade não é material nem espiritual, mas Informacional:

Não basta haver, do lado de cá (mental), o poder "interpretador" de produzir experiências subjetivas se não houver, do lado de lá (físico), o poder dos dados de se fazerem inteligir, isto é, de se "abrirem" ou "revelarem" para um interpretador. Do contrário, mesmo que tivéssemos mentes, permaneceríamos enclausurados sem possibilidade de ultrapassar nosso ensimesmamento solipsista. Se podemos fazer isso e realizar coisas como comunicacação e ciência, é porque nossa capacidade representacional de fato reflete algo inerente à essência das coisas, não sendo descolada delas, mas sim uma "reconstrução" interior de suas características, o que significa que existe algo de inerentemente "interpretável" na matéria, razão pela qual a concebo como "dados".

2. A relação entre Informação e Interpretação não é dualista, mas Dialética:

Concebo a mente como um circuito integrado e organizado de informações, capaz de realizar uma "engenharia reversa" e decifrar os dados do ambiente exterior. Sem a mente (Interpretação), todos os "dados" do Universo não passariam de uma matéria bruta e cega, sem nenhum significado ou sentido inerente. Do mesmo modo, sem a matéria (Dados), o universo inteiro permaneceria eternamente cego e desconhecido, em quietude imanifesta. Informação e Interpretação trabalham juntos, de maneira interdependente, viabilizando o desabrochar da vida, da experiência, da linguagem e da consciência psicossocial.

3. Nem tudo é material e empírico; existem coisas Transcendentais:

Nosso conceito convencional de existência, aplicado ao mundo empírico acerca que experienciamos intersubjetivamente, descreve entes discretos e particulares situados no tempo e no espaço (objetos, pessoas, bichos, corpos, etc). Mas esse conceito falha quando tentamos falar das coisas que, não sendo "coisas entre coisas", ainda assim são "condições viabilizadoras das coisas", ou seja, se situam num nível transcendental com relação ao nosso mundo empírico. Para ilustrar: "Espaço" é um exemplo de coisa que não é uma "coisa entre coisas" (não é um objeto, corpo ou algo que possa ser discernido). Mas é algo sem o qual não poderia haver nenhuma "coisa" (todos os corpos e objetos só existem no espaço, ainda que o espaço não seja nem corpo nem objeto). Ou seja, o espaço tem uma existência "transcendental" com relação ao mundo fenomênico das coisas e objetos (é uma condição viabilizadora dele, e não algo dentro dele). Mesma coisa pode ser dita do Tempo. Todos os eventos se sucedem no tempo, mas o tempo não é um episódio entre os episódios. Tempo, em si mesmo, não é um momento entre momento, mas é uma condição transcendental viabilizadora de todas as durações, momentos e eventos que se sucedem.

4. Deus nem existe nem inexiste, mas o divino Realiza-se:

Algo sempre existiu. Mas essa coisa não pode ser uma coisa, porque coisas dependem de outras coisas e derivam de outras coisas. Portanto, tem que ter um nível de realidade distinto do nível "empírico" dos múltiplos fenômenos materiais. Tem que ser, portanto, algo Metafísico. Só que não se pode dizer nada acerca do Metafísico: em si mesmo, permanece sempre fora do nosso alcance e inacessível a toda especulação. Quer dizer que não podemos afirmar absolutamente nada sobre Deus? Também não. Um Deus eternamente incognoscível e imanifesto é um Deus inútil e cego, indiscernível do fato bruto de um mecanismo fatal e cego. Contudo, nós conhecemos de maneira imediata e por nós mesmos a existência da Pessoalidade, da Responsabilidade, do Pensamento, da Intenção, da Volição e da Experienciação, bem como a realidade do nosso senso de Agência. Ainda que a Causa Primeira da Existência esteja muito além da nossa compreensão, nossas faculdades e operações - incluindo a própria capacidade de concebê-La - realizam no mundo, no tempo e no universo a possibilidade do Bem, do Amor, das Virtudes, da Benevolência e da Compaixão. Erguendo-nos contra as tendências inferiores da inconsciência e da animalidade, fazemo-nos instrumentos de realização do divino mesmo imersos no tempo e no espaço. Mesmo que Deus em si mesmo seja uma treva obscura para nós, o Divino pode dar-se a conhecer por meio da Beleza em pensamentos, sentimentos, palavras e atos. O Divino realiza-se no esplendor da Natureza, nos atos altruístas, na evolução da inteligência, na expansão da consciência, no progresso civilizacional, entre outros.

5. Temos uma existência Metafísica:

Mesmo enquanto não havia (empiricamente) vida no universo, a vida e a mentalidade já eram desde sempre possibilidades subjacentes da existência. Uma vez reunidas as causas e condições interdependentes necessárias, pode originar-se, mas mesmo quando não reunidas não deixa de ser um dos potenciais ocultos da realidade, aguardando apenas a situação propícia para sua manifestação. Isso significa que pouco importa (metafisicamente) que não existíssemos contingentemente, ou que deixemos de existir pela morte ou algum desastre, porque os bilhões de anos de evolução cósmica necessários para nossa emergência simplesmente passariam em menos do que um piscar de olhos, já que não existe lentidão nem duração alguma na ausência de experiência subjetiva. Segue-se disso que sempre conheceremos uma realidade em que existimos, e nunca conheceremos uma realidade em que inexistimos, porque essa seria uma não-realidade nunca experienciada por nós; enquanto que, do fato de aqui estarmos (que comprova sermos um potencial inerente ao universo), deriva que existiremos mesmo que leve trilhões de anos e colapsos inteiros de galáxias e universos, porque do fato da vida ser um potencial intrínseco ao real segue-se que haverá de recorrer e recorrer indefinidamente, custe o que custar e leve o tempo que levar.
6. O Universo não está Terminado:

Tanto crentes quanto ateus cometem o erro de nos enxergarem como personagens em um palco fixo e "dado", estático, que seria o Mundo. Mas isso está completamente errado. Quem disse que o Universo alcançou o auge de suas possibilidades? Quem garante que não somos apenas mais uma etapa em um processo de emergentismo de propriedades cada vez mais novas, radicais e complexas? Até mesmo capazes de romper barreiras que acreditamos intransponíveis para nosso estado atual de consciência. Se a tendência do Universo é na direção de cada vez maior complexidade e de novas propriedades emergentes (irredutíveis aos seus blocos constitutivos), então nada impede que tal coisa como um ser supremo venha a emergir, ou campos integrados de informação que transcendam até mesmo tudo o que entendemos por vida, mente, consciência e realidade.
"It is midnight among the profane,
but the intellectual Sun is rising upon this Assembly."

S∴I∵

Re: Minha Cosmovisão - Schelling

Avatar do usuário
Gabarito
Site Admin
Mensagens: 1777
Registrado em: Seg, 02 Março 2020 - 06:49 am

Mensagem por Gabarito »

Off_topic:


Eu alterei o título do tópico, informando o nome do "dono" da Cosmovisão.
Estava muito ampla a forma anterior, apenas "Minha Cosmovisão".


___________________
Gabarito

Responder