Os papas, de Pedro até hoje

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Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Segundo a Igreja Católica, o apóstolo Pedro foi o primeiro papa, nomeado por Jesus em pessoa, e depois veio uma sucessão ininterrupta de papas até os dias de hoje:
Pedro - Lino - Anacleto - Clemente I - etc. (sendo que cada um dos outros onze apóstolos também teve um sucessor, com a função de bispo).

É até possível que estas pessoas tenham existido, mas as primeiras não foram papas e a lista é questionável por várias razões:

1 - Os evangelhos não são um documento histórico confiável. Pode ter havido um mestre ou rabino, possivelmente chamado Jesus, que fundou uma seita e teve um Pedro entre seus seguidores, mas não há evidências de que as coisas tenham acontecido segundo eles relatam, mesmo porque Jesus e seus discípulos eram judeus e sua religião era uma seita judaica. Foram os "Paulos" que adaptaram a doutrina ao gosto dos gentios e expulsaram os judeus.

2 - Não há registros confiáveis dos primeiros tempos da Igreja. Ela só começou a existir como instituição bem mais tarde, sendo mencionada apenas a partir do evangelho de João, enquanto que Mateus, Marcos e Lucas, mais antigos, só pregam o respeito à doutrina deixada por Jesus, sem mencionar uma autoridade central.

3 - No início, a doutrina era livremente debatida pelos cristãos das várias comunidades espalhadas pelo mundo da época. Havia, em cada uma, pessoas mais respeitadas por sua idade, dons da profecia, da cura, "falar em línguas" ou conhecimentos, mas não uma hierarquia de poder que impusesse dogmas aos demais. A primeira autoridade foram os presbíteros, nomeados entre os anciãos. Sua influência era apenas local e, inicialmente, apenas administrativa, ficando a doutrina a cargo dos "tocados pela graça". Com o tempo, assumiram também funções religiosas.

O crescimento das comunidades, constituídas em geral por gente humilde e analfabeta, ou mesmo escravos, levou-as a contratarem supervisores letrados e de nível social mais elevado para administrar seus bens. Foi a palavra grega para "supervisor" (episkopos) que deu origem a "episcopum" em latim e, finalmente, a "bispo". Os bispos, inicialmente, tinham pouca autoridade, tendo sido preciso que as epístolas recomendassem que o mesmo respeito lhes fosse dado que aos presbíteros e profetas.

Mais tarde, sua influência cresceu, entre outros motivos porque controlavam o dinheiro e os bens das comunidades, e surgiram discussões sobre quem mandava mais, presbíteros ou bispos. Os bispos começaram a se meter em assuntos de dogmas e heresias, mas comentários irônicos de escritores da época mostram que ainda não eram levados a sério.

Acabaram tornando-se o topo da hierarquia, a ponto de se dizer que os fiéis deviam uma obediência completa aos bispos e que Jesus era o "bispo do mundo".

Ou seja, no cristianismo primitivo, não se falava em "igreja" e nem havia uma doutrina centralizada. Um século depois, os bispos tinham se tornado a Igreja, institucionalizada e dona da verdade, e os fiéis, apenas a periferia.

Eles conseguiram se impor e tornaram-se a autoridade máxima de cada região. Não havia ainda um poder central. Tertuliano criticou um bispo que pretendeu interferir em comunidades da Gália, por exemplo, perguntando-lhe se ele pretendia ser o "bispo dos bispos". O bispo de Roma só conseguiu algum respeito quando recebeu o apoio do imperador Constantino, no século IV. Na verdade, até hoje a fragmentação permanece, sendo um exemplo claro as várias igrejas ortodoxas, além da etíope, armênia, copta, indiana e outras.

Imagem

4 - Segundo a Bíblia, Jesus deu a Pedro o poder de decidir sobre a doutrina, mas nada disse sobre sucessores (mesmo porque o fim estava próximo e ele voltaria em breve). A Igreja Católica decretou que esse poder foi transmitido aos papas, que seriam os sucessores de Pedro, mas os protestantes não concordam. E, na verdade, temos aí uma falácia (argumentação circular): "O papa tem poder porque está na Bíblia. A Bíblia está certa porque o papa assim determinou".

5 - Além da origem obscura, a sucessão dos papas não tem nada de ininterrupta. Houve períodos de "sede vacante" e épocas em que dois e até três papas, apoiados por facções rivais, disputavam o trono declarando-se, cada um, o papa legítimo. Mesmo hoje, há seitas tradicionalistas, surgidas em oposição ao Concílio Vaticano II, que não aceitam nenhum papa depois de Paulo VI.

Em resumo, uma gigantesca estrutura hierárquica, que se considera infalível e autorizada a definir os dogmas cristãos, mas apoiada sobre nada. Sobre um vazio.

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Excelente tópico!!!
Ele vem complementar o já criado História da Bíblia - Como foi escrita, trazendo novas informações, dessa vez, sobre a linha do tempo da sucessão de papas que já houve.

Muito bom!

:clap: :clap: :clap:

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Vídeo que traz mais informações sobre alguns papas:


UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE O PAPADO || VOGALIZANDO A HISTÓRIA


youtu.be/3PmkJEBabNM

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Para uma lista exaustiva, temos a Wikipedia:

Lista de papas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Esta é uma lista sucessória dos papas, chefes da Igreja Católica Apostólica Romana, com indicação dos seus anos de pontificado. O título de Papa passou a ser utilizado a partir do século III.[1] Os antipapas não estão incluídos nesta lista. Veja Lista de antipapas.

Não existe uma lista oficial de papas, mas o Anuário Pontifício, publicado anualmente pelo Vaticano, contém uma lista que é geralmente considerada a mais correta. Em 2001, foi feito um estudo rigoroso pela Igreja Católica sobre a história do papado.[2] Também é utilizada como fonte a Lista de papas da Enciclopédia Católica.[3]

Nunca houve um papa "João XX",[4] nem um papa "Martinho II" ou "Martinho III" (ainda que sejam assim designados por vezes os papas Marinho I e Marinho II, respectivamente). Para a numeração dos papas com nome "Estêvão", consulte Papa Estêvão. A numeração dos papas de nome "Félix" foi posteriormente corrigida para omitir o Antipapa Félix II. No entanto, a maioria das listas ainda nomeiam os últimos dois papas de nome Félix como Félix III e Félix IV. Adicionalmente, ainda houve um Antipapa Félix V.

Os nomes mais frequentes são "João" (21 vezes, sendo João XXIII o último[nota 1]), "Bento" (16 vezes, sendo Bento XVI o último), "Gregório" (16 vezes, sendo Gregório XVI o último), "Clemente" (14 vezes, sendo Clemente XIV o último), "Inocêncio" (13 vezes, sendo Inocêncio XIII o último) e "Leão" (13 vezes, sendo Leão XIII o último).


Tabela


A página citada acima tem a lista completa.
Seria inconveniente trazer toda a enorme tabela para cá.

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Sem falar também da curiosa história sobre a papisa Joana.

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Dom, 11 Junho 2023 - 17:14 pm
Sem falar também da curiosa história sobre a papisa Joana.
Há controvérsias sobre ter havido uma papisa Joana. Mais um ponto nebuloso numa história nebulosa.

Por outro lado, não há dúvidas sobre Alexandre VI, o papa Bórgia. Foi um devasso, corrupto, assassino.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Alexandre_VI

Mas dizem que isto era comum na época e que esse papa ficou mais conhecido que os demais por razões políticas.

E é o caso de se perguntar: quer dizer que um papa pode sair de uma orgia, decretar um dogma da Igreja, voltar para a orgia e nós temos que aceitar o dogma porque ele falou ex cathedra?

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

O papa Celestino V, um eremita que mal sabia latim, foi convencido a renunciar
por seu sucessor, Bonifácio VIII, que o trancou até a morte em Castel Fuome.
Dois cardeais da família Colonna que haviam apoiado a eleição de Bonifácio
alegaram que a abdicação de Celestino fora não-canônica e que ele fora assassinado
pelo novo papa. Bonifácio arrasou seus castelos e doou as terras a membros de sua
própria família. Os Colonna pediram refúgio na corte do rei francês Filipe IV (O Belo).
Filipe precisava de dinheiro para a guerra contra Eduardo I, da Inglaterra, e taxou
o clero. Bonifácio protestou e Filipe proibiu a transferência de fundos da igreja
francesa para o papa em Roma. Bonifácio voltou atrás e, para selar a "reconciliação",
em 11 de agosto de 1297 declarou santo o avô de Filipe, Luís IX. Em 1302 ele
publicou a bula "Unam sanctam", onde afirmava que "é completamente necessário
à salvação que toda criatura humana esteja sujeita ao Pontífice Romano". Morreu
louco furioso em 11/outubro/1303, devorando seus próprios dedos e batendo a
cabeça contra a parede até que se rompeu.

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

"Usem contra os hereges a espada espiritual da excomunhão e, se isto não for suficiente, usem a espada material" (Papa Inocêncio III, 1161-1216)
---
"É totalmente ilícito exigir, defender ou conceder incondicionalmente a liberdade de pensamento, expressão ou culto, como se esta fosse um direito natural do
homem" (Encíclica do Papa Leão XIII)
---
"Tolerar igualmente todas as religiões...é o mesmo que ateísmo" (Papa Leão XIII, "Immortale Dei")
----
"Desprezar uma autoridade legitimamente constituída, não importando quem a exerça, é rebelar-se contra a vontade de Deus" (Papa Leão XIII)
----
"Não é lícito ao Estado nem aos indivíduos ignorar as obrigações religiosas ou tratar como iguais as demais religiões" (Papa Leão XIII, "A constituição cristã
dos Estados", 1885)
---
"Já se propôs que todas as religiões deveriam ser livres e seu culto publicamente exercido. Nós católicos rejeitamos esta idéia como contrária ao cânon da lei católica romana" (Papa Pio VII, 1808)
---
"O estado (constituição dos EUA) não tem o direito de deixar que cada um seja livre para professar e abraçar qualquer religião que deseje" (Papa Pio IX)
---
"Mussolini: uma dádiva da Providência" (Papa Pio XI)
----
"Nós [...] concedemos livre e ampla licença ao rei Afonso para invadir, perseguir, capturar, derrotar e submeter todos os sarracenos e quaisquer pagãos e outros
inimigos de Cristo onde quer que estejam e seus reinos [...] e propriedades e reduzí-los à escravidão perpétua e tomar para si e seus sucessores seus reinos [...] e propriedades" (Bula "Romanus Pontifex", Papa Nicolau V, 08 de janeiro de 1455)
---
"Os papas, como Jesus, são concebidos por suas mães por influência do Espírito Santo. Todos os papas são uma espécie de homens-deus, com o propósito de serem os mais habilitados a mediar entre Deus e a humanidade. Todos os poderes no Céu e na Terra lhes são dados" (Papa Estêvão V, século 9)
---
"Houve um tempo em que a filosofia da Igreja governava os Estados. [...] Então o sacerdócio e o império estavam ligados por um entendimento feliz e a troca
amigável de favores" (Papa Leão XIII, encíclica "Immortale Dei", 01/novembro/1885).
Esta época ficou conhecida como a Idade das Trevas.

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Diz a Igreja: "Não é para entender, é para aceitar".
Digo eu: "Isto é inaceitável".
11. Crer significa uma íntima convicção que exclui toda dúvida por causa da autoridade de Deus a quem não podemos pedir razões

[2) Neste lugar, a palavra "Creio" não tem a significação de "pensar ", "julgar ", "dar opinião " .

Conforme a doutrina da Sagrada Escritura, significa uma adesão absolutamente certa, pela qual a inteligência aceita, com firmeza e constância, os mistérios que Deus lhe manifesta.
Para se compreender melhor este ponto, [basta dizer] que só crê propriamente quem está certo de alguma verdade, sem a menor hesitação.

Ninguém deve, todavia, julgar menos seguro o conhecimento que nos vem da fé, pelo fato de não compreendermos as verdades que ela nos propõe a crer. É certo, a luz divina que no-las faz conhecer, não nos dando a evidência das coisas, nem por isso abre margem para se duvidar de sua realidade. " Pois Deus ordenou que das trevas rompesse a luz; Ele mesmo resplandece em nossos corações"

[3] A concluirmos pelo que ficou dito, quem recebeu o celestial conhecimento da fé já não sente o prurido de investigar só por mera curiosidade. Quando nos deu o preceito de crer, Deus não nos incumbiu de sondar os juízos divinos, nem de lhes aferir as causas e razões. Prescreveu-nos, ao contrário, uma fé inalterável, cuja ação faz a alma repousar no conhecimento da verdade.
De fato, como diz o Apóstolo, "Deus é verdadeiro e todo homem é mentiroso".

Ora, quando um homem grave e sensato nos assegura a verdade, seria orgulho e insolência não lhe dar crédito, e pedir-lhe ainda por cima provas e testemunhos de sua palavra. Qual não seria então a temeridade, ou antes, a loucura daquele que, ouvindo as palavras de Deus, quisesse ainda devassar as razões da celestial doutrina da salvação?

Devemos, portanto, abraçar a fé não só com exclusão de toda dúvida, mas também sem o desejo de vê-la demonstrada.
(Trecho do "Catecismo do Concílio de Trento", onde se explicam, de forma didática, suas determinações)

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Ter, 13 Junho 2023 - 09:16 am
Diz a Igreja: "Não é para entender, é para aceitar".
Digo eu: "Isto é inaceitável".

Artifício esperto e desonesto para controle, manipulação, poder e domínio sobre as pessoas simples e ingênuas.
Vigarice, má-fé, trapaça, embuste!

Não só os ingênuos, mas muita gente que pensa e raciocina cai nesse ardil.
E se orgulha disso!

Repetem como num coral de patetas:
Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.

Hebreus 11:1

Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

O ser humano é dotado de curiosidade espontânea.
Graças à curiosidade, surgiram as civilizações, sociedades e o florescimento das ferramentas e utensílios idealizados para vencer as durezas da vida selvagem.

Como castrar a curiosidade do ser humano?
E como muitos se sujeitam a isso? Fecham os olhos às perguntas básicas sobre afirmações que instituem essa coisa chamada fé?


- Cala a boca! Não é para perguntar ou questionar nada! Apenas aceite! E nos obedeça!



E os que aceitam essa imposição se ORGULHAM disso!!!
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Re: Os papas, de Pedro até hoje

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Ter, 13 Junho 2023 - 10:00 am
Fernando Silva escreveu:
Ter, 13 Junho 2023 - 09:16 am
Diz a Igreja: "Não é para entender, é para aceitar".
Digo eu: "Isto é inaceitável".
Artifício esperto e desonesto para controle, manipulação, poder e domínio sobre as pessoas simples e ingênuas.
Vigarice, má-fé, trapaça, embuste!

Não só os ingênuos, mas muita gente que pensa e raciocina cai nesse ardil.
E se orgulha disso!
Há milhares de religiões baseadas apenas em fé.
Por que aceitar uma delas e rejeitar as outras como falsas? Qual o critério se não devemos questionar nada?
Gabarito escreveu:
Ter, 13 Junho 2023 - 10:00 am
Repetem como num coral de patetas:
Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.

Hebreus 11:1
"A fé é o firme fundamento das coisas infundadas e a certeza da existência das coisas que não existem"
Encosto, do RéV
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