História da Bíblia - Como foi escrita

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Abro esse tópico com uma sugestão: vamos criar um local onde se possa reunir as informações sobre a montagem e edição da Bíblia cristã?

Para isso, eu observo e lembro que nós temos dentre os nossos membros uma verdadeira autoridade nesse assunto:
Fernando Silva.

Temos também outros colegas de fórum que demonstram muito interesse, dentre eles, Fenrir.

Ocasionalmente, eu me vejo em meio a uma conversa com pessoas religiosas, até gente bem esclarecida, mas que se apega de maneira irracional a o que "está escrito na Bíblia". Aí pronto! A conversa não avança mais, porque o interlocutor simplesmente não aceita que a Bíblia esteja errada. Não entende que ela é apenas uma colcha de retalhos de diversos outros livros, escritos em épocas distintas, que foram se alterando com o passar do tempo. Além disso, começou com tradição oral, pois nem havia escrita disseminada na época dos livros mais antigos. Ou seja, uma confusão dos diabos que foi alterada de forma não intencional, E TAMBÉM adulterada para servir a outros propósitos. Como dar crédito a uma barafunda dessas?

E vem com interpretação essa, interpretação aquela, e um debate como esse não tem como prosperar.

A proposta é de haver um local onde todos nós tivéssemos acesso a informações históricas de como tudo começou, quem realmente passou a juntar os escritos, os Concílios, os Papas, os religiosos e o clero antigo, como tudo isso foi se juntando no conjunto que hoje se transformou na Bíblia.

Sem esquecer os documentos que foram expurgados, os Manuscritos do Mar Morto, os diferentes Evangelhos que não entraram, as razões para enquadrá-los como proscritos, hereges, etc.

Por isso, conclamo o colega Fernando para pensar em contribuir aqui no tópico.
Certamente, ele seria o mais bem informado sobre tudo isso e poderia trazer muitos esclarecimentos sobre o assunto.

Claro que estão todos convidados também a contribuir. Até mesmo o nerd mais novato da internet, o ChatGPT.
Eu ainda não arranjei tempo para ter uma conversa com ele sobre esse assunto, mas está na minha agenda.

Seja como for, uma abordagem mais pessoal (ser humano), pesando cada informação e o momento de entrar com ela, seria mais apropriado para dar partida nesse tópico.
Por isso, eu ainda não fui lá no GPT para provocá-lo a discorrer sobre isso.

Fernando, a bola está com você.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Como 1a contribuicao, sugiro alguns otimos sites que consulto com frequencia:

O Vridar, do Neil Godfrey...: https://vridar.org/
O forum Early Writings......: https://earlywritings.com/forum/
HP do Robert Price..........: https://www.robertmprice.mindvendor.com/
HP do Bart Ehrman..........: https://www.bartehrman.com/
HP do Richard Carrier.......: https://www.richardcarrier.info/

Sugiro tambem os livros do Price, Ehrman, Carrier e mais alguns outros.
Dizem que quem lê a bíblia inteira vira ateu. Experimentem então ler o que academicos como o Price escreveram.
Não me admira que ele (e o Ehrman) tenham se tornado agnósticos (e foram ambos crentes de carteirinha quando jovens). A morte da fé é o estudo.

Assim, obviamente nenhum desses se encaixa no gosto de literalistas biblicos/devotos/apologistas. Se for este o caso, melhor passar longe.
A imagem do cristo e do cristianismo traçada nessas fontes é bastante divergente daquela do crente.
O foco desses sites e pesquisadores é história e assim eles já partem do pressuposto que os milagres do VT e do NT não são mais reais que os portentos de qualquer outra religião ou mitologia.

Aprendi muito nessas fontes. Até pouco tempo atrás achava que a história do cristianismo foi mais ou menos tal como relata a igreja (fora a parte fantastica)... ledo engano
O cristianismo primitivo, inclusive, seria tido como herético por qualquer variação de cristianismo atual, seja crente/protestante, catolico ou de outro tipo.
E o mesmo pode ser dito do Judaísmo!

Não tenho uma sugestão de sites em Portugues.
Não por preconceito, mas porque há para esse assunto (e qualquer outro, diga-se) bem mais material disponível em Inglês

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Obrigado, Fenrir, por responder ao chamado. Acho que Fernando ainda está vindo por aí.

fenrir escreveu:
Sáb, 06 Maio 2023 - 14:19 pm
Como 1a contribuicao, sugiro alguns otimos sites que consulto com frequencia:
Já começamos muito bem!
Excelentes primeiras contribuições.

fenrir escreveu:
Sáb, 06 Maio 2023 - 14:19 pm

A morte da fé é o estudo.
Melhor frase.
O problema é que quem já se decidiu por crer, não vai querer estudar e ser confrontado com os fatos.
O religioso tem seus próprios fatos. Se eles contrariam a sua fé, logo são descartados.
Fazem justamente o contrário da Ciência.

As conversas são sempre muito difíceis. Porque estou sempre tentando fazê-los ver que eles explicam um dragão na garagem.
A cada investida minha com uma pergunta pertinente, eles explicam com rodeios e fugindo do ponto central.
E as respostas que dou às suas perguntas são imediatamente descartadas por não seguirem o que diz a toda poderosa "Bíblia Sagrada".
Aí fica difícil...

Eu sempre me pergunto como é que um amontoado de escritos, antiquados, incoerentes, contraditórios, permanece AINDA soberano entre pessoas letradas e "esclarecidas", no meio de sondas em Marte, computação quântica, Inteligência Artificial, ressonância magnética, microchips em escala nano...

Será que teremos a crença cega também daqui a mil anos adiante? O ser humano nunca será capaz de, na sua maioria, descartar esses tais livros sagrados de 2 mil anos atrás?

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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fenrir escreveu:
Sáb, 06 Maio 2023 - 14:19 pm
Como 1a contribuicao, sugiro alguns otimos sites que consulto com frequencia:

A proposta do tópico é, além de indicação de literatura, como você fez, haver também um resumo dos eventos em ordem cronológica.
Assim, teríamos uma apresentação didática, mais fácil de ser digerida e de ser explicada aos ardorosos defensores do livro antigo.

Algo no estilo:

Século I - Paulo começou a enviar as cartas.
Século III - Instituição da Igreja, papado, etc.
Século IV - Organização de manuscritos.

Sei lá...

Século X - Concílio tal expurgou esse e aquele manuscrito.

Galileu foi ameaçado e extorquido.

Cruzadas.

Hereges na fogueira.

Caça às bruxas.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Ao final dessas cronologias, umas postagens mostrando as diversas, múltiplas, inúmeras contradições, apontando livros e versículos.

Eu já sei que Fernando tem vasto material sobre isso.
Quem sabe, ele poderia trazer um resumo, um retrato 3x4 dessas inconsistências flagrantes, as mais gritantes.

E também, claro, as cruéis atrocidades, matanças, escravidão, servidão, injustiças e posturas e ações abomináveis, que também estão lá.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Será que, com tudo isso exposto e colocado na cara, ainda vai ter explicação de por que não conseguimos ver o dragão?

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Sim, e é uma pena que a parte mais avançada desses assuntos ainda esteja entrincheirada na academia e suportada por bem pouca gente...
É compreensivel se voce ter em conta que a maior parte do patrocínio desses estudos vem de instituições religiosas e essas não vão apoiar nada que conteste ou negue os dogmas delas.
Há casos em que o "pesquisador" precisa assinar um termo declarando que não vai apoiar nada que vá contra a "inerrância" da biblia (de qual variação do livro? provavelmente daquela da instituição que impôs a assinatura...)

Não é do interesse da religião e dos seus defensores que o assunto seja conhecido tal como foi e é e sim como querem que seja. Pois não é a fê a vontade de crer?
Não vejo como conciliar tal coisa com a verdade. Porque a vontade de um individuo pode sempre se ligar ao que ele quiser, independente de qualquer fato, evidencia ou até mesmo de simples bom-senso.

Para quem tem interesse na parte polêmica, de debate, sugiro dois otimos livros:

Do Robert Price: The Case Against The Case For Christ: A New Testament Scholar Refutes the Reverend Lee Strobel
Do Richard Carrier: Not the Impossible Faith

Nesses livros os autores desnudam o amadorismo daqueles que nada mais fazem que apologia/defesa de dogmas e inerrância bíblica e chamam isso de estudo acadêmico.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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fenrir escreveu:
Sáb, 06 Maio 2023 - 15:21 pm

Não é do interesse da religião e dos seus defensores que o assunto seja conhecido tal como foi e é e sim como querem que seja. Pois não é a fê a vontade de crer?
Não vejo como conciliar tal coisa com a verdade. Porque a vontade de um individuo pode sempre se ligar ao que ele quiser, independente de qualquer fato, evidencia ou até mesmo de simples bom-senso.

Você conseguiu identificar o cerne de todo o problema.
Exatamente, a fé é a vontade de crer.
Cabô.
Não tem o que se discutir. Não serão fatos, estudos, livros, explicações que farão qualquer diferença.
O sujeito não quer. Ele quer crer. E o resto é dispensável.
Não importa o que realmente tenha acontecido na História Universal.
O religioso, o crente quer a "Carochinha para Gente Grande". É a viagem dele, a diversão, o barato, o ópio dele.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Sobre datas, por tudo o que li até agora,

Se JC existiu, ele viveu entre 103 BCE (!), nos tempos de Alexander Jannaeus,segundo o Toledot Iesu dos Judeus; e 54 CE (!) fim do reinado do imperador Claudio, segundo Irineu

As cartas Paulinas foram escritas possivelmente entre 48 e 63 CE, com certeza antes de 70 CE ( Primeira guerra judaico-romana)

Os 4 evangelhos canônicos entre 70 e 150 CE, mais provavelmente entre 95 e 150 CE, pois há fortes indicios que o 1o, Marcos, usou o antiguidades Judaicas do Flavio Josefo como fonte, que foi escrito em 94/5 CE.
A data tradicionalmente mais aceita para marcos é 70 CE, por conta de uma possivel referencia a 1a guerra judaico-romana. Mas ha os que dizem que o conflito o qual o autor se refere é a terceira guerra judaico romana, a rebeliao de Bar-Kochba, que ocorreu em 132 CE...
A 1a menção explícita e inequívoca dos 4 evangelhos foi por parte de Irineu (por volta de 180 CE).
O fragmento de papiro mais antigo do NT já encontrado é datado como não sendo anterior a 125 CE (limite inferior da margem de erro - a estimativa é 150 +- 25 CE)
Resumindo, qualquer coisa entre 70 e 180 CE...

A elasticidade desses periodos dá uma idéia do quão pouco sabemos sobre as datas de JC e do VT

Pode se dizer que a proto-ortodoxia (que dara origem a ICAR) se iniciou por volta de 150 CE, com Justino e depois dele Tertuliano. Certamente não antes dos tempos do imperador Adriano (117-138 CE)
As heresias, que a ICAR , via Irineu, Eusebio e outros heresiologos alegam que vieram depois, na verdade já existiam antes.
Gnósticos já estavam em atividade por volta de 100-120 CE e há ecos óbvios de gnosticismo mesmo em Paulo (que pode inclusive ser ninguem menos que Simão Mago, o 1o herege...).
O proprio cristianismo original, bem mais judaico que cristão, já seria uma heresia aos olhos da ICAR

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Sobre as origens do cristianismo: Do que li, me pareceu que é o resultado da amalgama de varias correntes do judaismo no sec I

Uma vertente representada por James, que alguns creem ser o "teacher of righteousness" dos essênios e que a tradição diz ser o irmão de JC
Outra representada por Pedro e os demais apóstolos
Uma terceira, que dara origem ao gnosticismo, representada por Paulo
Uma quarta, representada por João Batista e seus seguidores

Provavelmente as 4 estavam em oposição ao "mainstream" judaico da época, representado pelos fariseus.
Haviam tambem outras alem de todas que mencionei aqui.

James, Pedro e Paulo são os chamados pilares da tradição.
Tradição mesma que pinta um cenario artificial de uma harmonia e concordancia que não existia entre essa facções.
As vertentes de James e Pedro puxam mais pro lado do Judaismo e a de Paulo pro lado dos gentios.

Não é verdade que João batista conhecia JC (de novo supondo que existiu), menos ainda que era seu primo.
Os batistas eram um movimento a parte e essa harmonização foi obra da proto-ortodoxia para cooptar os seguidores de batista para seu seio...
Bem melhor que brigar com a concorrencia é propagandear que ela na sempre concordou com suas ideias e se submeteu as mesmas de bom-grado.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Valeu, Fenrir!
Já tem boa informação.

Mas o que você poderia acrescentar sobre a montagem do Antigo Testamento?
Gênesis, Pentateuco, Eclesiastes, aquelas coisas lá bem antigonas. Quem começou a organizar e montar a coisa toda?

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Nao li nada dedicado ao VT ainda
Sei que o Price escreveu sobre o assunto numa serie de dois livros: "Holy Fable: The Old Testament Undistorted by Faith".
Sou fa do cara, vi pelo site dele o alcance do seu conhecimento.
Veja as sugestoes dele (com comentarios) aqui:
https://www.robertmprice.mindvendor.com/study_list.htm

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

fenrir escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 04:21 am
Nao li nada dedicado ao VT ainda
Sei que o Price escreveu sobre o assunto numa serie de dois livros: "Holy Fable: The Old Testament Undistorted by Faith".
Sou fa do cara, vi pelo site dele o alcance do seu conhecimento.
Veja as sugestoes dele (com comentarios) aqui:
https://www.robertmprice.mindvendor.com/study_list.htm

Nossa!
É uma montanha de informação.
Tem que ter um fôlego de gigante para encarar tanta coisa.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Sáb, 06 Maio 2023 - 15:08 pm
Ao final dessas cronologias, umas postagens mostrando as diversas, múltiplas, inúmeras contradições, apontando livros e versículos.

Eu já sei que Fernando tem vasto material sobre isso.
Quem sabe, ele poderia trazer um resumo, um retrato 3x4 dessas inconsistências flagrantes, as mais gritantes.

E também, claro, as cruéis atrocidades, matanças, escravidão, servidão, injustiças e posturas e ações abomináveis, que também estão lá.
Difícil fazer um resumo diante de tanta coisa. O que dá para dizer é que não temos rigorosamente nenhuma informação confiável sobre a autoria dos livros da Bíblia e nenhum original. Nada sobreviveu. E os fragmentos que existem comprovam que os textos passaram por uma evolução até chegar ao que temos hoje.

Acho que já postei alguns dos itens abaixo, mas segue de novo:

Onde está o texto original da Bíblia?
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... iblia.html

Origens babilônicas do mito de Adão e Eva
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... dao-e.html

O que há de verdade no relato do Êxodo?
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... exodo.html

Judeus, do politeísmo ao monoteísmo
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... eismo.html

Como foram montados os evangelhos e a vida de Jesus
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... orico.html

O rebelde anti-romano que inspirou o personagem Jesus:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... rou-o.html

Demolindo o dogma da Santíssima Trindade
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... ndade.html

As contradições bíblicas
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... licas.html

Atrocidades cometidas por Deus ou por ordem sua
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... u-por.html

Quem foram os antepassados de Jesus?
Imagem

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 08:34 am

Difícil fazer um resumo diante de tanta coisa. O que dá para dizer é que não temos rigorosamente nenhuma informação confiável sobre a autoria dos livros da Bíblia e nenhum original. Nada sobreviveu. E os fragmentos que existem comprovam que os textos passaram por uma evolução até chegar ao que temos hoje.

Acho que já postei alguns dos itens abaixo, mas segue de novo:

Já é um ótimo começo!

A ideia seria no sentido de descrever, mais ou menos, como se deu a montagem do texto final, contar a história dessa compilação.
Quem esteve envolvido, qual rei/imperador/historiador/papa começou a juntar as coisas.
Em quais concílios se escolheu esses manuscritos e jogou fora aqueles outros.

Uma linha cronológica que mostre, de forma didática, o que realmente aconteceu para aparecer esse livrão aí em que uma enorme parcela da humanidade coloca no pedestal de "a palavra de Deus".

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 09:29 am
Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 08:34 am

Difícil fazer um resumo diante de tanta coisa. O que dá para dizer é que não temos rigorosamente nenhuma informação confiável sobre a autoria dos livros da Bíblia e nenhum original. Nada sobreviveu. E os fragmentos que existem comprovam que os textos passaram por uma evolução até chegar ao que temos hoje.

Acho que já postei alguns dos itens abaixo, mas segue de novo:

Já é um ótimo começo!

A ideia seria no sentido de descrever, mais ou menos, como se deu a montagem do texto final, contar a história dessa compilação.
Quem esteve envolvido, qual rei/imperador/historiador/papa começou a juntar as coisas.
Em quais concílios se escolheu esses manuscritos e jogou fora aqueles outros.

Uma linha cronológica que mostre, de forma didática, o que realmente aconteceu para aparecer esse livrão aí em que uma enorme parcela da humanidade coloca no pedestal de "a palavra de Deus".
Não sabemos como surgiu o AT. Em algum ponto, definiram-se quais os livros aceitos, embora não estivessem ainda reunidos num livro (codex), o que só aconteceu por obra dos cristãos.

Este texto comenta como o mais provável é que um monte de historinhas soltas, transmitidas de forma oral, foram aos poucos escritas e agrupadas no Pentateuco, embora não saibamos que etapas seguiu essa compilação até chegar ao que temos hoje:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... iblia.html

Sobre a evolução dos evangelhos, ver:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... orico.html

O concílio de Niceia, em 324 AD, definiu quais livros eram canônicos, mas houve muitas revisões ao longo dos séculos e a versão final é a do concílio de Trento, no século 16.

Daí veio Lutero e bagunçou tudo de novo, tirando vários livros que admitiam revoluções e contestavam a autoridade absoluta dos príncipes, além dos que mencionavam a comunicação com os mortos (a ICAR admite a comunhão com os santos).

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Dos meus guardados:
O Cânon Bíblico

Por Dalton Catunda Rocha - E-mail: daltonagre@uol.com.br

1- Como os textos bíblicos chegaram até nós?
Os textos bíblicos do antigo testamento começaram a serem escritos por volta do ano mil antes de Cristo. Os judeus sempre mantiveram e ainda mantêm, até hoje, uma tradição de copiar textos rigorosamente. Quando o cristianismo surgiu, no século I, os textos bíblicos foram sendo escritos e copiados. Por volta do ano 90 depois de Cristo, os textos do Novo Testamento foram terminados e, ao longo dos séculos, foram sendo escritos e copiados.

Vale destacar que, em tempos medievais, livros eram extremamente caros, tanto pelo altíssimo custo do material para escrever, como pela ausência de imprensa. Depois do colapso do Império Romano, o papiro que era o único material barato de escrita, embora fosse perecível, desapareceu dos mercados da Europa. Ficou o pergaminho, que era produzido com o couro de ovelhas e cabras. Um rebanho de mais de uma centena de ovelhas tinha que ter seu couro extraído para se produzir uma só bíblia. Tanto o conhecimento científico, como a literatura antiga, história, leis, peças teatrais e demais coisas da antiguidade só chegaram até nós pelo imenso esforço de monges e monjas medievais, que dedicaram as suas vidas a copiar livros.

No século IX, o papel, que havia sido inventado mais de 500 anos antes na China, passou a ser produzido na Espanha muçulmana. Logo a seguir, o papel foi mecanizado e melhorado na Europa católica de então. O papel era muito mais barato que o pergaminho e os livros se tornaram mais baratos. No entanto, somente com a imprensa de tipos móveis de Gutemberg, no século XV, é que a bíblia passou a ser acessível à maioria das pessoas.

Com a bíblia impressa, chegamos aos novos tempos, pois uma impressora pode fazer centenas ou milhares de bíblias sem erros. Ademais, uma bíblia impressa não somente é mais barata, como também é melhor que uma bíblia manuscrita. E ainda por cima ela é uniforme.

2-Como foi feito o cânon bíblico?
Ainda no século I, já havia inúmeras formas de cristianismo. Antes da chegada do ano 100 D.C., já existia cristianismo na Índia, Egito, Itália, Grécia, Etiópia, Sudão, etc. Por óbvias dificuldades de comunicação, era impossível que tivessem uma única relação de livros inspirados. Os textos que fazem parte do que hoje chamamos de bíblia já estavam prontos no ano 100 de nossa era, mas não existia uma bíblia única cristã. Se alguém procurasse uma bíblia para comprar na Europa ou qualquer outro lugar do mundo, nos séculos I e II, não acharia nenhuma à venda.

Uma proposta de cânon do Novo Testamento apareceu no século IV e supostamente datava do século II. Ela não listava como canônicos os livros Apocalipse, II Pedro, II e III João e Judas. O Cânon Muratori não cita a Epístola aos Hebreus como livro canônico. Por outro lado, este mesmo Cânon Muratori cita o livro O Pastor de Hermas como canônico. O mesmo Cânon Muratori cita o livro "Sabedoria" como canônico.

Quando o cristianismo foi legalizado pelo Imperador Constantino, no século III, este mandou que as diferentes correntes do cristianismo fizessem uma escritura de livros comum. Por meio de um concílio, os bispos decidiram que o cânon seria de 76 livros. Este concílio não teve unanimidade. No caso do livro do Apocalipse, por exemplo, os delegados do Bispo de Roma foram contra a sua inclusão no cânon bíblico. Somente no Concílio de Cartago, de 397, é que o livro do Apocalipse foi colocado no cânon bíblico.

Esta primeira bíblia cristã foi chamada de bíblia de São Dâmaso, nome do Papa sob a qual foi escrita. Evidentemente que os cristãos da Índia, Etiópia, etc. em nada sequer puderam saber desta primeira bíblia cristã. Mesmo na Europa, a esmagadora maioria do povo era analfabeta e ignorante. Uma bíblia no século IV custava muito mais caro que o patrimônio de mais de 98% da população europeia de então.

O cânon, ou a relação dos livros bíblicos, foi estabelecido por concílios. Tudo por decisão humana. Nenhum livro bíblico diz quais livros devem ser parte do cânon.

A história mostra que homens é que decidiram que livros fariam parte do cânon. Basta lembrar que o livro Macabeus 4 está escrito no Codex Sinaiticus e não faz parte nem da bíblia católica e nem da bíblia protestante.

Na Europa católica, o Concílio de Florença em 1442 manteve esta mesma bíblia, com 76 livros. O Concílio de Trento, no século seguinte, reduziu a bíblia católica a 73 livros, decisão ainda mantida até hoje, pela Igreja Católica. No Concílio de Jerusalém em 1672, a Igreja Ortodoxa Grega reduziu a sua bíblia para 70 livros.

No século XVIII, as várias denominações protestantes concordaram que a bíblia deveria ter 66 livros. Todas estas decisões quanto ao cânon bíblico foram tomadas por pessoas, em concílios. Tudo por decisão humana. Nem preciso dizer que cristãos etíopes têm, desde o século I, seus próprios escritos sagrados.

3-Por que alguns livros não foram aceitos entre os oficiais?
Tanto a aceitação como a rejeição de um dado texto para o cânon foi influenciada por decisão humana. Isto vem desde que os concílios existem e acontece até os dias de hoje. No século XIX, apareceu o famoso "Livro de Mórmon", que só foi aceito por um ramo do protestantismo e foi e ainda é ignorado ou criticado por todos os demais. Isto vem de longe.

O cânon aceitou, por exemplo, a Epístola aos Hebreus, que todos os entendidos sabem, há mais de mil anos, que não foi escrita por Paulo. Uma forjadura óbvia e de autor desconhecido, mas esta obra de autor desconhecido está em todas as bíblias. Todos os entendidos sabem que Mateus não escreveu o evangelho a ele atribuído, pois ele morrera há muito, mas, ainda assim, existe o evangelho segundo Mateus. Todos os entendidos sabem que os quatro evangelhos são relatos de segunda ou terceira mão. João não escreveu o seu evangelho.

O livro do Apocalipse teve a feroz oposição dos Papas em Roma, que sempre pressionaram para a sua retirada do cânon. Ele chegou a ser retirado, mas o Concílio de Cartago, em 397, o recolocou de volta ao cânon. Sim, o livro do Apocalipse foi colocado, depois retirado e depois recolocado na Bíblia.

O livro "Pastor de Hermas" foi considerado por Clemente de Alexandria, Tertuliano, Santo Irineu e Orígenes como inspirado. Os entendidos acham que Hermas é o homem citado por S. Paulo na Epístola aos Romanos, no seu final. Este livro era largamente lido nas igrejas cristãs da Grécia. No século V, o Papa Gelásio coloca tal livro entre os apócrifos. Uma decisão que ainda perdura. Uma farsa ficou e, ao mesmo tempo, uma obra de origem genuína saiu do cânon.

No século XVI, Martinho Lutero exigiu a retirada da "Epístola de São Tiago", do cânon bíblico. Lutero chamou tal livro de "Carta de palha". Também no século XVI, João Calvino exigiu a retirada do livro do Apocalipse do cânon bíblico. Ao contrário da decisão do Papa Gelásio, estas exigências, tanto de Lutero, como de Calvino, deram em nada. A colocação de um texto na Bíblia de um dado ramo do cristianismo depende da tradição e das necessidades terrenas.

4-Por que as Bíblias protestantes têm menos livros que as Bíblias católicas?
O citado Concílio de Florença em 1442 manteve a decisão, já do século IV, no Concílio de Cartago, em 397 D.C., de ter uma bíblia católica com 76 livros. Com a chamada Reforma Protestante, no século XVI, a Igreja Católica, através do Concílio de Trento, reduziu a Bíblia católica para 73 livros, decisão ainda em vigor nos dias de hoje.

Nesta redução da Bíblia, a Igreja Católica, pelas mãos de seu clero, mostrou que o mundo é quem decide o cânon. Assim, saiu da bíblia católica o livro 2 Esdras, que condena fortemente a reza pelos mortos, ou o pedido de coisas vindas dos mortos. Uma clara condenação do culto aos santos e reza pelos mortos no purgatório. Por outro lado, o mesmo Concílio de Trento manteve no cânon da Bíblia católica o livro 2 Macabeus, que claramente fala em rezas e sacrifícios pelos mortos. Não tem o menor sentido a ideia de que o Concílio de Trento tenha colocado livros na Bíblia católica. Livros como 1 e 2 Macabeus já estavam na Bíblia católica muito antes do Concílio de Trento. Há mais de mil bíblias do século XV hoje em museus e que foram impressas, e elas todas têm Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, por exemplo.

Quanto aos protestantes, apenas no século XVIII é que eles passaram a ter um relativo entendimento sobre qual Bíblia afinal defendiam. Eles cortaram a sua Bíblia para 66 livros. No caso do Novo Testamento, eles mantiveram a mesma lista de livros estabelecida no Concílio de Cartago, em 397. Os protestantes ignoraram as sugestões de Lutero e Calvino e simplesmente seguiram o mesmo cânon que a Igreja Católica usava desde 397.

Quanto ao Antigo Testamento, as denominações protestantes decidiram adotar o mesmo cânon estabelecido pelo Sínodo judaico de Jamnia em 100 D.C. Este Sínodo judaico não teve a presença de nenhum cristão das várias correntes de cristianismo, que já existiam no ano 100 D.C. Tal sínodo rejeitou como apócrifos todos os livros escritos após o ano 300 A.C. ou que não tivessem sido escritos originalmente em hebraico ou que tivessem sido escritos fora da Palestina. Na verdade, os judeus, até o citado Sínodo de Jamnia, usavam uma variedade de textos canônicos.

Nas cavernas de Cunrã há escritos do livro de Tobias, que é canônico segundo a bíblia católica. Nas mesmas cavernas de Cunrã encontraram-se fragmentos dos livros Enoque e Testamento de Levi, que jamais fizeram parte do cânon, quer católico quer protestante. Não tem sentido se dizer que os judeus nos tempos de Jesus rejeitavam Macabeus, Judite, Enoque. Isto só aconteceu no citado Sínodo Judaico de Jamnia, que só foi realizado no ano 100 D.C., quando o cristianismo não só estava já consolidado, como também já dividido.

A rejeição de 1 Macabeus e Judite também foi influenciada pela política mundana. Ambos os livros citados colocam a rebelião armada, contra um opressor, como sagrada e abençoada por Deus. No século XVIII, as nações protestantes queriam seus povos dominados quietos. É notório que, na luta pela independência americana, os católicos tiveram uma participação na luta muito maior que a sua participação na população americana. As sucessivas rebeliões na Irlanda tinham sempre católicos, que diziam seguir o dito nos livros 1 e 2 Macabeus. Tanto uma necessidade de se ter uma sanção dos judeus, como necessidades políticas mundanas, levaram ao fato das bíblias protestantes, desde a segunda metade do século XVIII, terem 66 livros.

Em suma, a primeira Bíblia cristã tinha 76 livros. Isto foi estabelecido por um concílio. O Concílio de Trento reduziu a Bíblia católica para 73 livros, retirando do cânon livros que condenassem explicitamente orações para os mortos. Ao mesmo tempo o mesmo concílio manteve 2 Macabeus que apoia rezas pelos mortos.

Os protestantes não tinham uma bíblia única que seguir. Levou mais de 300 anos para os protestantes terem uma bíblia única. A redução tanto se deveu a fatores políticos, como uma busca de sanção judaica, como a rejeição de orações pelos mortos, apoiadas por 2 Macabeus.

Pouco ou nada houve de busca por verdade em tal redução. Os entendidos sabem que a Epístola aos Hebreus é uma farsa, pois não foi escrita pelo apóstolo Paulo. Ela segue no cânon católico e protestante. No mesmo Novo Testamento foi excluído "Pastor de Hermas", que não foi uma forjadura e foi de fato escrito por Hermas.

No Antigo Testamento, a mesma coisa se repete. Os protestantes alegam rejeitar 1 Macabeus por ele ser supostamente falso. No entanto, 1 Macabeus tem indiscutível base histórica. O evento descrito no livro, a invasão de Israel, de fato aconteceu. Judas Macabeu de fato existiu. Nem por ser pelo menos em parte verdade, 1 Macabeus faz parte das bíblias protestantes. Por outro lado, nestas mesmas bíblias protestantes, há o livro de Gênesis que tem figuras como Adão, Eva, Caim, Abel, Noé; todas tão verdadeiras quanto o Super-homem ou a Mulher-Maravilha. A invasão de Israel descrita em 1 Macabeus de fato aconteceu, mas ela não faz parte das bíblias protestantes. O dilúvio universal e sua arca de Noé, com mais de 1.000.000 de espécies de plantas cuidadas apenas pela pequena família de Noé, nunca aconteceu, mas, mesmo assim, Gênesis está tanto nas Bíblias protestantes, como nas Bíblias católicas. Na Bíblia, Jonas fica dias vivo num peixe, mas Judas Macabeu, que de fato existiu, não aparece nas bíblias protestantes. Aonde a busca pela verdade?

Como escrevi antes, o cânon depende da tradição e das necessidades terrenas. A Igreja católica manteve 2 Macabeus na bíblia pois ele mantém a base bíblica para o purgatório e as missas pelos mortos. A mesma Igreja Católica excluiu do cânon o livros 2 Esdras, pois ele condenava rezas pelos mortos. Os protestantes excluíram 1 Macabeus pois ele supostamente apoiava rebeliões irlandesas, mas mantiveram as cartas de Paulo, com seu apoio à escravidão e submissão de mulheres, e fizeram o mesmo com uma farsa, como a Epístola aos Hebreus.

O cânon, tanto católico como protestante, é de origem e necessidade humana. Ambos os cânones foram feitos pensando neste mundo. Os protestantes simplesmente não precisavam de uma bíblia que tenha livros apoiando rebeliões, como 1 Macabeus, ou apoiando rezas pelos mortos, como 2 Macabeus. Por outro lado, os católicos não precisavam de livros que condenassem orações pelos mortos, como 2 Esdras. Por isto, a bíblia católica saiu de 76 para 73 livros e a bíblia protestante caiu ainda mais, para 66 livros.

Conclusão:
No momento em que pastores protestantes aparecem na TV garantindo que doenças mentais e físicas se devem à ação de demônios ou, eufemisticamente, "encostos", não se pode deixar de notar em quanto a Bíblia pode ser mal usada. A Bíblia é trabalho humano e, como tal, não está isenta de críticas. Como livro de ciência, a bíblia é absurda e falha, mesmo considerando o tempo em que foi escrita. Como livro de história, a bíblia mistura fato com fantasias, não sendo nem de longe infalível. Como livro religioso, a bíblia tem sido a fonte suposta ou real de dezenas de milhares de seitas, que não raro são apenas negócios fantasiados de religião. Devemos, sim, ler a bíblia, mas nunca com fé cega e falta de espírito crítico.
O texto original estava aqui, mas já não existe:
http://dantas.editme.com/files/aurelio/canon.htm
Editado pela última vez por Fernando Silva em Dom, 07 Maio 2023 - 15:17 pm, em um total de 2 vezes.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 14:20 pm
Não sabemos como surgiu o AT. Em algum ponto, definiram-se quais os livros aceitos, embora não estivessem ainda reunidos num livro (codex), o que só aconteceu por obra dos cristãos.

Este texto comenta como o mais provável é que um monte de historinhas soltas, transmitidas de forma oral, foram aos poucos escritas e agrupadas no Pentateuco, embora não saibamos que etapas seguiu essa compilação até chegar ao que temos hoje:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... iblia.html

Sobre a evolução dos evangelhos, ver:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... orico.html

O concílio de Niceia, em 324 AD, definiu quais livros eram canônicos, mas houve muitas revisões ao longo dos séculos e a versão final é a do concílio de Trento, no século 16.

Daí veio Lutero e bagunçou tudo de novo, tirando vários livros que admitiam revoluções e contestavam a autoridade absoluta dos príncipes, além dos que mencionavam a comunicação com os mortos (a ICAR admite a comunhão com os santos).

Esse seu pequeno resumo já esclareceu muita coisa, quase tudo.
Vou ler os links do seu portal e, se não for problema para você, vou trazê-los para cá.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 14:32 pm
Dos meus guardados:
O Cânon Bíblico

Por Dalton Catunda Rocha E-mail: daltonagre@uol.com.br


E isso aqui, praticamente esgota o assunto.
O propósito principal do tópico foi praticamente alcançado.

Imagem

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 14:54 pm
Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 14:20 pm
Não sabemos como surgiu o AT. Em algum ponto, definiram-se quais os livros aceitos, embora não estivessem ainda reunidos num livro (codex), o que só aconteceu por obra dos cristãos.

Este texto comenta como o mais provável é que um monte de historinhas soltas, transmitidas de forma oral, foram aos poucos escritas e agrupadas no Pentateuco, embora não saibamos que etapas seguiu essa compilação até chegar ao que temos hoje:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... iblia.html

Sobre a evolução dos evangelhos, ver:
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... orico.html

O concílio de Niceia, em 324 AD, definiu quais livros eram canônicos, mas houve muitas revisões ao longo dos séculos e a versão final é a do concílio de Trento, no século 16.

Daí veio Lutero e bagunçou tudo de novo, tirando vários livros que admitiam revoluções e contestavam a autoridade absoluta dos príncipes, além dos que mencionavam a comunicação com os mortos (a ICAR admite a comunhão com os santos).

Esse seu pequeno resumo já esclareceu muita coisa, quase tudo.
Vou ler os links do seu portal e, se não for problema para você, vou trazê-los para cá.
Não é problema. Apenas verifique se já não foram postados.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Sobre os livros que foram retirados das edições atuais da Bíblia, segue nas postagens seguintes mais informação.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Introdução do artigo sobre os Livros Apócrifos.
Para um estudo mais completo, consultar o link abaixo.

Livros apócrifos

Os Livros apócrifos (do latim tardio apocryphus, por sua vez do grego clássico ἀπόκρυϕος «oculto, secreto»), também conhecidos como Livros Pseudocanônicos, são os livros escritos por comunidades cristãs e pré-cristãs (ou seja, há livros apócrifos do Antigo Testamento) nos quais as comunidades cristãs não reconheceram a Pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo por serem escritos sem inspiração divina, portanto, não foram incluídos no cânon bíblico.

O termo "apócrifo" foi criado por Jerônimo, no quinto século, para designar basicamente antigos documentos judaicos escritos no período entre o último livro das escrituras judaicas, Malaquias e a vinda de Jesus Cristo. São livros que, segundo a religião em questão, não foram inspirados por Deus e que não fazem parte de nenhum cânon.

São considerados apócrifos os livros que não fazem parte do cânon da religião em pauta. A consideração de um livro como apócrifo varia de acordo com a religião. Por exemplo, alguns livros considerados canônicos pelos católicos são considerados apócrifos por judeus e/ou por protestantes, mesmo sendo ambas religiões abraâmicas. Especificamente, os católicos aceitaram os livros de Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, I e II Macabeus e Baruque; os deuterocanônicos. Alguns destes livros são os inclusos na Septuaginta por razões históricas ou religiosas. Destes fazem parte também as adições em Ester e em Daniel - nomeadamente os episódios da História de Susana e de Bel e o dragão.

Os apócrifos são cartas, coletâneas de frases, narrativas da criação e profecias apocalípticas. Além dos que abordam a vida de Jesus ou de seus seguidores, cerca de 50 outros contêm narrativas ligadas ao Antigo Testamento.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Lista de Livros Apócrifos.
Para um estudo mais completo, consultar o link abaixo.

Lista de livros apócrifos

Esta é uma Lista de livros apócrifos da Bíblia.

Antigo Testamento

1. Primeiro Livro de Adão e Eva
2. Apocalipse de Moisés
3. Apocalipse de Sidrac
4. Ascensão de Isaías
5. Assunção de Moisés
6. Caverna dos Tesouros
7. Epístola de Aristéas
8. Livro dos Jubileus
9. Martírio de Isaías
10. Oráculos Sibilinos
11. Prece de Manassés
12. Primeiro Livro de Enoque
13. Quarto Livro dos Macabeus
14. Apocalipse de Esdras
15. Salmo 151
16. Salmos de Salomão
17. Samuel Apócrifo
18. Segundo Livro de Adão e Eva
19. Segundo Livro de Enoque
20. Segundo Tratado do Grande Sete
21. Terceiro Livro de Enoque
22. Terceiro Livro dos Macabeus
23. Testamento de Abraão
24. Testamento dos Doze Patriarcas


Livros deuterocanônicos considerados apócrifos, para judeus e protestantes

1. Adições em Daniel (ou nomeadamente os episódios do Salmo de Azarias e o cântico dos três jovens, a História de Susana e Bel e o dragão)
2. Adições em Ester
3. Baruc
4. Eclesiástico ou Sirácida ou Ben Sirá
5. Livro de Judite
6. Primeiro Livro de Macabeus ou I Macabeus
7. Segundo Livro de Macabeus ou II Macabeus
8. Livro de Tobias
9. Sabedoria


Novo Testamento
Ver artigo principal: Apócrifos do Novo Testamento


Manuscritos de Nag Hammadi
Ver artigo principal: Biblioteca de Nag Hammadi


Escritos de Qumran

1. A Nova Jerusalém (5Q15)
2. A Sedutora (4Q184)
3. Antologia Messiânica (4Q175)
4. Bênção de Jacó (4QPBl)
5. Bênçãos (1QSb)
6. Cânticos do Sábio (4Q510-4Q511)
7. Cânticos para o Holocausto do Sábado (4Q400-4Q407/11Q5-11Q6)
8. Comentários sobre a Lei (4Q159/4Q513-4Q514)
9. Comentários sobre Habacuc (1QpHab)
10. Comentários sobre Isaías (4Q161-4Q164)
11. Comentários sobre Miqueias (1Q14)
12. Comentários sobre Naum (4Q169)
13. Comentários sobre Oseias (4Q166-4Q167)
14. Comentários sobre Salmos (4Q171/4Q173)
15. Consolações (4Q176)
16. Eras da Criação (4Q180)
17. Escritos do Pseudo-Daniel (4QpsDan/4Q246)
18. Exortação para Busca da Sabedoria (4Q185)
19. Gênesis Apócrifo (1QapGen)
20. Hinos de Ação de Graças (1QH)
21. Horóscopos (4Q186/4QMessAr)
22. Maldições de Satanás e seus Partidários (4Q286-4Q287/4Q280-4Q282)
23. Melquisedec, o Príncipe Celeste (11QMelq)
24. O Triunfo da Retidão (1Q27)
25. Oração Litúrgica (1Q34/1Q34bis)
26. Orações Diárias (4Q503)
27. Orações para as Festividades (4Q507-4Q509)
28. Os Iníqüos e os Santos (4Q181)
29. Os Últimos Dias (4Q174)
30. Palavras das Luzes Celestes (4Q504)
31. Palavras de Moisés (1Q22)
32. Pergaminho de Cobre (3Q15)
33. Pergaminho do Templo (11QT)
34. Prece de Nabonidus (4QprNab)
35. Preceito da Guerra (1QM/4QM)
36. Preceito de Damasco (CD)
37. Preceito do Messianismo (1QSa)
38. Regra da Comunidade (1QS)
39. Rito de Purificação (4Q512)
40. Salmos Apócrifos (11QPsa)
41. Samuel Apócrifo (4Q160)
42. Testamento de Amran (4QAm)

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Lista dos Apócrifos do Novo Testamento.
Para um estudo mais aprofundado, consultar o link abaixo.
Eu trouxe para cá apenas a lista.

Apócrifos do Novo Testamento


Evangelhos da Infância

Evangelho da Infância de Tiago (também chamado de "Proto-Evangelho de Tiago")
Evangelho da Infância de Tomé
Evangelho da Infância de Mateus ou Nascimento de Maria e Infância do Salvador
A História de José, o carpinteiro
A Vida de João Batista
O Evangelho Armênio da Infância de Jesus


Evangelhos Judaico-cristãos

Evangelho dos Hebreus
Evangelho dos Nazarenos
Evangelho dos Ebionitas (século II) é uma tentativa gnóstico-cristã de perpetuar as práticas do Antigo Testamento.


Versões rivais dos evangelhos canônicos

Evangelho de Marcião
Evangelho de Mani, também chamado de Evangelho Vivo ou Evangelho dos Vivos
Evangelho de Apeles
Evangelho de Bardesanes


Evangelhos de ditos

Evangelho de Tomé (século I) é uma visão gnóstica dos supostos milagres da infância de Jesus.


Evangelhos da Paixão

Declaração de José de Arimatéia
Evangelho de Pedro
Atos de Pilatos, também chamado de Evangelho de Nicodemos
Relato de Pilatos a Cláudio
Cura de Tibério
Descida de Cristo ao Inferno
Evangelho de Bartolomeu
Questões de Bartolomeu
Ressurreição de Jesus Cristo, que alega ser "de acordo com Bartolomeu"
Sentença de Pôncio Pilatos contra Jesus


Evangelhos Harmônicos

Diatessarão


Textos gnósticos

Epistula Apostolorum


Diálogos com Jesus

Apócrifo de Tiago, também chamado de "O livro secreto de Tiago"
Livro de Tomé Adversário
Diálogo do Salvador
Evangelho de Judas, também chamado de "Evangelho de Judas Iscariotes"
Evangelho de Maria, também chamado de "Evangelho de Maria Madalena"
Evangelho de Filipe
Evangelho Grego dos Egípcios, que é distinto do Evangelho Copta dos Egípcios
Sofia de Jesus Cristo


Textos sobre Jesus

Evangelho da Verdade
A Revelação de Pedro, (distinto do Apocalipse de Pedro)
Pistis Sophia
Segundo Tratado do Grande Sete


Textos setianos sobre Jesus

Apócrifo de João, também chamado de "Evangelho secreto de João"
Evangelho Copta dos Egípcios, distinto do Evangelho Grego dos Egípcios
Apocalipse Copta de Paulo, distinto do Apocalipse de Paulo
Protenoia Trimórfica


Diagramas rituais

Diagramas ofitas
Livros de Jeu
Evangelho dos oráculos de Maria


Atos Apócrifos

Atos de André
Atos de André e Matias
Atos de Barnabé
Atos de João (150 - 160 d.C.) descreve milagres, cita sermões e é bastante ascético.
Atos de João o Teólogo
Atos dos mártires
Atos de Paulo (c.e 160 d.C.) contém a estória de uma jovem em Icônio que teria se convertido por Paulo e teria deixado o seu noivado.
Atos de Paulo e Tecla
Atos de Pedro (século II) queda da igreja de Roma devido às vilezas de Simão Mago, fuga de Pedro de Roma, sua volta e crucificação de cabeça para baixo.
Atos de Pedro e André
Atos de Pedro e Paulo
Atos de Pedro e os doze, gnóstico
Atos de Filipe
Atos de Pilatos
Atos de Tadeu
Atos de Tomé, gnóstico, (final do século II) descreve Tomé como um missionário na Índia.
Atos de Xântipe, Polixena e Rebeca
Relatos de martírios:
Martírio de André
Martírio de Bartolomeu
Martírio de Mateus


Epístolas

Epístola de Barnabé
Epístolas de Clemente:
I Clemente
II Clemente
Epístola dos Coríntios a Paulo
Epístola de Inácio aos Esmirniotas
Epístola de Inácio aos Trálios
Epístola de Policarpo aos Filipenses
Epístola dos Apóstolos
Epístola a Diogneto
Epístola aos Laodicenses, que está em nome de Paulo, escrita para materializar a epístola mencionada em Colossenses 4:16.
Correspondência entre Paulo e Sêneca
Terceira Epístola aos Coríntios, aceita no passado por algumas Igrejas Ortodoxas Armênias
Correspondência entre Jesus e o rei de Edessa, Abgar. Eusébio traduziu para o siríaco.
Ditos de Jesus ao rei Abgar
Epístola de Jesus ao rei Abgar (2 versões)
Epístola do rei Abgar a Jesus
Correspondências de Pôncio Pilatos:
Epístola de Pôncio Pilatos a Herodes
Epístola de Pôncio Pilatos ao Imperador


Apocalipses Apócrifos

Apocalipse da Virgem
Apocalipse de Paulo, que é diferente do Apocalipse Copta de Paulo
Apocalipse de Pedro, que é diferente do Apocalipse Gnóstico de Pedro, (c.e 150 d.C.) contém visões do Senhor transfigurado.
Apocalipse de Pseudo-Metódio
Apocalipse de Tomé, também chamado de "Revelação de Tomé"
Apocalipse de Estevão, também chamado de "Revelação de Estevão"
Consumação de Tomé
Primeiro Apocalipse de Tiago
Segundo Apocalipse de Tiago
Vingança do Salvador
Visão de Paulo

Destino de Maria

A Descida de Maria
Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria
Julgamento de Pôncio Pilatos - Livro de João, o Teólogo sobre a Assunção da Virgem Maria


Miscelânea

Caverna dos Tesouros, também chamado de "O Tesouro"
Constituições Apostólicas, regras da igreja que foram supostamente deixadas pelos apóstolos
Cânones dos Apóstolos - último capítulo das Constituições Apostólicas, que teve ampla circulação independente
Didaquê, possivelmente o primeiro catecismo escrito
Discurso de Domingo
Literatura Clementina
Livro de Nepos
Liturgia de São Tiago
Morte de Pôncio Pilatos
Evangelho da Natividade de Maria
Penitência de Orígenes
Oração do Apóstolo Paulo
Retrato de Jesus
Retrato do Salvador
Sentenças de Sexto
Physiologus


Fragmentos

O Evangelho desconhecido de Berlim, também chamado de "Evangelho do Salvador"
O Fragmento Naasseno
O Fragmento de Faium
O Evangelho secreto de Marcos
Os Evangelhos de Oxirrinco
O Evangelho de Egerton


Obras perdidas

Existem diversos textos mencionados em muitas fontes antigas e que seriam certamente considerados parte dos apócrifos, mas nada sobreviveu deles:

Evangelho de Eva, citado por Epifânio (Haer. xxvi. 2, 3). É possível que este Evangelho seja o "Evangelho da Perfeição" ao qual ele alude em xxvi. 2. A citação mostra que este evangelho era a expressão completa do panteísmo
Evangelho dos quatro reinos celestes
Evangelho de Matias, provavelmente diferente do Evangelho de Mateus
Evangelho da Perfeição, utilizado pelos seguidores de Basilides e outros gnósticos. Em Epifânio, Haer. xxvi. 2.
Evangelho dos Setenta
Evangelho de Tadeu, que pode ser o mesmo que o Evangelho de Judas, numa confusão entre Judas Iscariotes e Judas Tadeu.
Evangelho dos Doze
Memoria Apostolorum


Ortodoxia

As Epístolas de Clemente: I Clemente e II Clemente
Pastor de Hermas
Didaquê
Epístola de Barnabé
Apocalipse de Pedro
Proto-Evangelho de Tiago
Terceira Epístola aos Coríntios

Os principais evangelhos apócrifos

Evangelho de Pedro
Evangelho de Filipe
Evangelho de Maria Madalena
Evangelho de Tomé

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Introdução do artigo sobre os Manuscritos do Mar Morto.
Para um estudo mais completo, consultar o link abaixo.

Manuscritos do Mar Morto

Os Manuscritos do Mar Morto são uma coleção de centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran, no Mar Morto, no fim da década de 1940 e durante a década de 1950. Foram compilados por uma doutrina de judeus conhecida como Essênios, que viveram em Qumran do século II a.C., até aproximadamente 70. Porções de toda a Bíblia Hebraica foram encontradas, exceto do Livro de Ester e do Livro de Neemias. Os manuscritos incluem também Livros apócrifos e livros de regras da própria seita. A datação mais correta e amplamente aceita entre arqueólogos e historiadores, é entre o século II a.C e meados do século I d.C. As datações atribuídas através do método histórico-crítico batem perfeitamente com as datações em radiocarbono. Muito se especulou sobre uma suposta datação de 2.000 a.C, sendo assim, o mais antigo compilado de textos bíblicos já encontrado, isso se deve por conta de matérias tendenciosas como o famoso The weirdo cult that saved the bible, mas tal matéria não é considerada um estudo acadêmico e carece de fontes confiáveis. Outro fato que atesta a data de meados do II século a.C, é o tipo de cerâmica em que os fragmentos foram encontrados, datando de 135 a.C a 104 a.C.


Atualmente, estão guardados no Santuário do Livro do Museu de Israel, em Jerusalém. Quanto àqueles fragmentos que estão num museu estadunidense, foram dados como falsos.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Fernando Silva »

Gênesis 06:01-07 descreve como "os filhos de Deus" dormiram com as mulheres aqui da Terra e geraram gigantes. Esses gigantes faziam muita confusão e Deus mandou o dilúvio para acabar com a bagunça (no mito babilônico original do dilúvio, um dos deuses se irritou com o barulho que fazia a humanidade).

O Livro de Enoch, eliminado do cânon, explica melhor essa história. Segundo ele, alguns anjos, além de dormir com as filhas dos homens, ensinaram a eles os segredos do Céu. Foram denunciados pelos outros anjos e Deus os expulsou, dando origem aos anjos caídos que, mais tarde, foram associados aos demônios, embora a coisa termine aí (ou seja: caíram e acabou a história).

Só que a Bíblia não fala nada disso. Essa crença em anjos caídos vem de Enoch. Como o livro foi eliminado do cânon, tornou-se uma lenda sem base bíblica.
A crentalhada tenta justificar catando trechos como o de Lúcifer, só que ele era um rei da Babilônia que caiu em desgraça. Um humano, não um anjo.

Nota: no mito sumério, os deuses inferiores (igigi) tinham que trabalhar para vestir e alimentar os deuses superiores (anunnaki). Decidiram então criar a humanidade e lhe ensinaram como produzir as coisas e, com isso, puderam descansar.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 16:00 pm
Introdução do artigo sobre os Manuscritos do Mar Morto.
Para um estudo mais completo, consultar o link abaixo.

Manuscritos do Mar Morto

Os Manuscritos do Mar Morto são uma coleção de centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran, no Mar Morto, no fim da década de 1940 e durante a década de 1950. Foram compilados por uma doutrina de judeus conhecida como Essênios, que viveram em Qumran do século II a.C., até aproximadamente 70. Porções de toda a Bíblia Hebraica foram encontradas, exceto do Livro de Ester e do Livro de Neemias. Os manuscritos incluem também Livros apócrifos e livros de regras da própria seita. A datação mais correta e amplamente aceita entre arqueólogos e historiadores, é entre o século II a.C e meados do século I d.C. As datações atribuídas através do método histórico-crítico batem perfeitamente com as datações em radiocarbono. Muito se especulou sobre uma suposta datação de 2.000 a.C, sendo assim, o mais antigo compilado de textos bíblicos já encontrado, isso se deve por conta de matérias tendenciosas como o famoso The weirdo cult that saved the bible, mas tal matéria não é considerada um estudo acadêmico e carece de fontes confiáveis. Outro fato que atesta a data de meados do II século a.C, é o tipo de cerâmica em que os fragmentos foram encontrados, datando de 135 a.C a 104 a.C.


Atualmente, estão guardados no Santuário do Livro do Museu de Israel, em Jerusalém. Quanto àqueles fragmentos que estão num museu estadunidense, foram dados como falsos.
No início, os manuscritos do Mar Morto estavam acessíveis a todos os pesquisadores. Acontece que começaram a aparecer textos que divergiam do que a ICAR ensinava. A ICAR, imediatamente, conseguiu do governo de Israel uma autorização exclusiva para continuar os estudos, impedindo o acesso aos pesquisadores de fora. Durante décadas, ela divulgou relatórios de acordo com a versão que ela achava conveniente publicar. Isto durou até que alguém teve acesso aos microfilmes, tirou cópia e espalhou pelo mundo.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Vc conhece mesmo Lutero?

Lutero, por sua própria autoridade, removeu sete livros de seu lugar correto no Antigo Testamento [Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1Macabeus e 2Macabeus] e os relegou a um Apêndice. Isto porque eles faziam referências que não concordavam com os "seus" ensinamentos, em especial 2 Macabeus e a doutrina do Purgatório. Ele também queria remover os últimos quatro livros do Novo Testamento (Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse), chegando a retirá-los do lugar correto e colocá-los em um Apêndice adicional não enumerado.

Lutero incluiu os quatro livros - Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse - em seu Novo Testamento, porém apenas em um Apêndice não compaginado, claramente separados do restante do Novo Testamento. Sabemos que isto se deu desde a primeira impressão do Novo Testamento de Lutero até a sua morte, em 1546, quando a Bíblia foi reformatada pelos seus seguidores.

Tiago 2,24 deveria ter se constituído em um motivo de vergonha para a sua doutrina da Sola Fides (Somente a Fé), porque dizia: "Vês aí como o homem é justificado pelas obras e NÃO SOMENTE pela fé". Tiago 2,26 também dizia: "A fé sem obras é morta".

Lutero adicionou a palavra "somente" à sua tradução de Romanos 3,28 porque este versículo contradizia a sua doutrina da Sola Fides, passando-se a ler: "porque pensamos que o homem é justificado somente pela fé, sem as obras da lei" (v. Provérbios 30,6).

No decorrer de todas as Escrituras, somos ordenados a não acrescentar, nem retirar nada destas Sagradas Escrituras (eis alguns versículos que nos advertem para não fazermos isso: Deuteronômio 4,2; 11,32; 12,32 (13,1); Salmos 12,6-7; 33,4; 50,16-17; 107,10-11; 119,57; 139-140; Provérbios 5,7; 30,5-6; Jeremias 23,36; Gálatas 1,8-9; 1Pedro 1,24-25; 2Pedro 3,15-16 e, certamente, estamos todos bem familiarizados com o último parágrafo da Bíblia: Apocalipse 22,28-29: "Advirto a todo aquele que escuta as palavras proféticas deste livro: se alguém acrescentar algo a isto, Deus lançará sobre ele as pragas descritas neste livro; se alguém retirar algo às palavras deste livro profético, Deus retirará sua parte na Árvore da Vida e na Cidade Santa, descritas neste livro").

Martinho Lutero removeu sete livros do Antigo Testamento. Removeu coisas da Palavra de Deus. Os livros inteiros que ele removeu de seu devido lugar nas Sagradas Escrituras e jogou em um Apêndice são: Baruc, Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiásticos e 1Macabeus e 2Macabeus. Mais tarde, estes livros foram totalmente removidos das Bíblias protestantes. Como já foi dito, ele fez o mesmo com quatro livros do Novo Testamento. Todos esses livros tinham estado em todas as Bíblias por mais de 1.100 anos. Quem tinha autoridade para removê-los? Martinho Lutero?

Em nenhuma parte das Escrituras está escrito que elas mesmas são "a única autoridade", nem dizem que são "auto-suficientes"). Ele se afastou da Palavra de Deus (Isaías 22,20-22; Provérbios 11,14; 24,6; Mateus 18,17; Lucas 10,16; 2Coríntios 10,8; 1Timóteo 3,15, Hebreus 13,17).

Martinho Lutero acrescentou a palavra "somente" a Romanos 3,28. Ele fez acréscimo à Palavra de Deus!

Martinho Lutero condenou a Tradição como não-bíblica (já que não podia tê-la a seu favor), passando assim a negar alguns versículos [da Bíblia]. Ele fez supressões à Palavra de Deus.

Martinho Lutero declarou que as obras eram inúteis para a salvação. Ele fez uma supressão à Palavra de Deus (Tiago 2,24-26)!

Martinho Lutero redigiu uma série de panfletos, nos quais declarava que o sacerdócio e o ofício episcopal deveriam sumir. Ele fez uma supressão à Palavra de Deus, a qual claramente estabelece o ofício episcopal e o sacerdócio (Atos 6,5; 14,22; 20,28; Tito 1,5; Tiago 5,14).

Eis aí o que temos. Lutero foi culpável de todas as violações mencionadas. Ele foi o primeiro protestante e fundador do Protestantismo. Ele foi a mesma pessoa que declarou que a Bíblia "é a única regra de autoridade" e que era nisto que todos deveriam crer. Ele estava violando os seus próprios ensinamentos ao acrescentar e retirar coisas da Palavra de Deus. Ninguém pode negar que ele tenha feito isto porque encontra-se registrado nos livros de História e nos arquivos da Igreja. Sua ação foi herética e hipócrita e todo o Protestantismo herdou as obras deste único homem.

Estude, pesquise e verás que esse charlatão só estava interessado em poder.

grupo ateista zueiro - barro não evolui
Eduardo Dias 06/01/2019
Fonte: Facebook (mas o link caducou).

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Baixei não sei mais de onde. Note-se que algumas das informações sobre a época em que surgiram os livros foram tiradas da própria Bíblia, tipo "Os sacerdotes encontraram o livro de Moisés no Templo" (2Reis 22:08).
UMA BREVE HISTÓRIA DA BÍBLIA. ACREDITE NA BÍBLIA, SE QUISER!

Mensagem por carlo em 23/08/2009

A Bíblia não é, como muitos pensam, um livro só, constando na realidade de numerosos livros, escritos em diversas épocas por vários autores.
Já pelo seu nome, percebe-se o que significa: os livros (de biblia, plural de biblion, diminutivo do grego biblos, o livro).

Fundamentalmente, ela se divide em: Velho Testamento ou coleção de livros escritos antes de Jesus; e Novo Testamento, composto dos livros que apareceram com o cristianismo.

Os livros reconhecidos como sagrados, como inspirados diretamente por Deus, constituem o cânon do Velho e do Novo Testamento.

A primitiva literatura do povo hebreu era composta de cânticos, a forma pela qual esse povo, no principio nômade e pastoril, reverenciava seu deus e transmitia seus feitos à posteridade.

Ao se compulsar a Bíblia, encontram-se esses cânticos esparsos em diversos pontos do Velho Testamento: Canção de José (Gên. XLIX); Canção de Moisés (Êxodo XV); Canção de Moisés (Deuteronômio XXXII e XXXIII); Canção de Débora (Juízes V); e outros (Números XXI, 14, 15, 27 a 30; 1 Samuel, II, 1 a 11; II Samuel, XXII; II Reis, 21 a 35), canções estas anteriores às narrativas de que fazem parte.

Com a fixação do povo hebreu na Palestina, foram se formando os livros que deveriam compor o seu livro sagrado. Mas, devido às continuas guerras e às muitas vicissitudes pelas quais passou o povo, os documentos originais perderam-se ou foram destruídos para não caírem em mãos inimigas.

Os escribas e doutores da lei eram forçados, então, a reconstituir, de memória ou com os escritos fragmentários, os primitivos livros.

O cativeiro da Babilônia, em 586 a.C., foi de enorme significação, porque dividiu o povo hebreu, destroçou toda sua organização e provocou a perda de todos os manuscritos sagrados até então existentes.

Coube a Estiras, no ano 458 a.C., reconstituí-los. Não está bem esclarecido se ele achou cópias escondidas ou se foi o próprio autor de todos os livros, inclusive o Pentateuco ou Torá, que muitos atribuem a Moisés.

Com efeito, segundo um manuscrito apócrifo considerado não canônico ou não fidedigno encontrado no ano 96 d.C. e denominado Livro VI de Esdras (Cap. XIV 37 48), tendo sido os documentos primitivos destruídos pelo fogo, Esdras os recompôs por inspiração divina. Ditou, então, em 40 dias, a 5 escribas, 94 livros, dos quais 24 constituíam o antigo cânon dos hebreus e os restantes 70, tidos depois como apócrifos, continham ensinamentos esotéricos.

Conforme se vê, a literatura religiosa hebraica consolidou-se ou reafirmou-se depois do cativeiro da Babilônia, o que é confirmado pela presença, até no Pentateuco, de trechos que reproduzem mitos caldeus.

Por exemplo, os fragmentos do sacerdote babilônico Berósio (III a.C.) e milhares de documentos cuneiformes relatam que os homens foram criados da argila, mas que, por sua impiedade, foram afogados por um dilúvio do qual só escapou Utnapixtim, o Noé babilônico, que construiu uma arca e nela se encerrou com os seus. Após 7 dias, a arca parou numa montanha e Utnapixtim solta uma pomba e depois uma andorinha, que voltam, por não encontrarem onde pousar. Depois solta um corvo, que não volta. Utnapixtim sai, então, da arca e oferece um sacrifício aos deuses.

Sargão, filho de pai desconhecido, é abandonado em um cesto de caniço no Eufrates, por sua mãe, e depois encontrado por um camponês. Mais tarde torna-se o senhor do país. Sua lenda inspirou a de Moisés.

Os exegetas discutem sobre o verdadeiro autor ou autores dos livros do Velho Testamento. Com efeito, encontram-se em muitos livros sinais evidentes de que foram escritos por mais de um autor, não só pela coexistência de relatos diferentes, como também de estilos dessemelhantes.

Assim, por exemplo, no Gênesis conta-se a criação de Adão e Eva de duas maneiras (versão jeovista e versão eloísta).

Assinalam-se, mesmo, quatro autores no Gênesis. O autor "J", assim chamado porque empregava a denominação Jeová para Deus, era do sul da Palestina e seus escritos parecem remontar a 1000 ou 900 anos a.C. Já o autor "E", que atribuía a Deus o nome Elohim, era do norte e deve ter escrito mais ou menos pela mesma época. O terceiro autor parece ter sido um profeta de Judá, que viveu em aproximadamente 722 a.C., chamado de "JE" porque juntou trechos de "J" e de "E" e adicionou outras narrativas. E, finalmente, há trechos mais recentes que constituem a versão "P", que devem ter sido obra de um corpo sacerdotal, após a destruição do templo.

Como se verifica, a controvérsia é grande. Uns atribuem o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) a Moisés; outros, a Esdras e outros, a diversos autores.

A análise dos manuscritos é delicada, porque muitos são frequentemente discordantes, não havendo nenhum manuscrito original, pois todos se perderam, bem como as cópias de cópias mais antigas.

Assim, o Deuteronômio (o livro 5 do Pentateuco) teria sido encontrado somente no ano 622 a.C., no reinado de Josias ou de Manassés. Mesmo que tivesse sido atribuído a Moisés, é estranho que o capítulo XXXIV relate sua morte e seu enterramento.

Deuteronômio significa recapitulação da lei, ou a lei 2, fazendo ver que é uma reprodução ou atualização da antiga ou primitiva lei mosaica.

O Levítico (3° livro do Pentateuco) parece ter sido posterior ao exílio e a Ezequiel, depois do ano 358 a.C.

Os outros livros do Velho Testamento (Provérbios, Cânticos, Salmos) estavam completos pelo 4° ou 3° século a.C.

Os livros de Esdras e de Neemias foram obra de um só compilador e apareceram pelo ano 300 a.C.

Os livros dos Profetas (completos entre 250 e 200 a.C.) e os Hagiógrafa (completo entre 150 e 140 a.C.) parecem não ter sido feitos por Esdras.

Todos esses livros foram escritos originalmente em hebraico , com alguns trechos em aramaico (Daniel II, 4 a VII, 28; Esdras IV, 8 a VI, 18 e VII, 12 26; Jeremias X,11).

No Velho Testamento existem outros livros, muito mais recentes, escritos originalmente em grego e não em hebraico. Não foram, por isto, reconhecidos pelos hebreus ortodoxos como canônicos (sagrados, inspirados por Deus).

Os católicos incluem-nos em sua Bíblia, mas os protestantes repelem-nos. São os chamados deuterocanônicos, em número de 7: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico (não confundir com o Eclesiastes), Baruc com a Epístola de Jeremias, os dois livros dos Macabeus. Há também trechos deuterocanônicos no livro de Ester (X, 4 até XVI, 24, inclusive) e no Daniel (111, 2490; XIII, XIV).

Os livros canônicos dos hebreus ortodoxos eram em número de 24, assim divididos:
1 Torá, a Lei (O Pentateuco, dos gregos). São os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
2 Nebhiím, os Profetas. Em número de 8, cujos primeiros: Josué, Juizes, Samuel, Reis (4 livros) e últimos: a) Maiores Isaias, Jeremias, Ezequiel (3 livros); b) Menores: os 12 profetas menores, enfeixados em um único livro.
3 Kêthubim, ou Hagiógrafa. Escritos sagrados em número de 8, sendo: Poéticos: Salmos, Provérbios, Jó (em número de 3); Megilloths ou rolos: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester (em número de 5).
4 Restantes, em número de 3: Daniel, Esdras com Neemias, Crônicas.

O Canon hebraico era contado ora com 24, ora com 22 livros (por causa das letras do alfabeto). Orígenes e São Jerônimo procuraram subdividir os livros de forma a darem um total de 27, para coincidir o número com mais cinco letras finais do alfabeto hebraico.

Modernamente, conhecemos esses livros divididos em 39, pela distribuição do livro dos 12 profetas menores em 12 livros, pela separação do livro de Neemias, do de Esdras e pela subdivisão dos livros de Samuel, Reis e Crônicas, cada um em dois livros.

Toda a dificuldade na exegese bíblica está em que os manuscritos originais, inclusive os de Esdras, perderam-se.

Não existe nenhum manuscrito bíblico anterior ao século IV d.C. Convém ter em mente que, antes da invenção da imprensa, em fins do século XV, a Bíblia só existia sob forma de manuscrito. Ora, as cópias e cópias de cópias tiveram que passar pela compilação e pela reconstituição dos copistas.

Além de se tratar de manuscritos, sujeitos a desgaste, de leitura e reprodução difíceis, expostos a omissões, alterações, interpolações e até a falsificações, havia a extrema dificuldade de interpretação e tradução do hebraico.

Com efeito, os manuscritos hebraicos formavam um todo contínuo, sem capítulos e sem versículos. Somente no ano 1228, o cardeal Langton teve a ideia de subdividir a Bíblia (ainda manuscrita) em capítulos. E foi o editor Robert Stephen quem estabeleceu a divisão em versículos, no ano 1555.

Outra dificuldade enorme e insuperável naquele tempo é que a língua hebraica era composta apenas de consoantes e não havia pontuação. Além disto, não havia dicionário ou gramática, enfim, nada que orientasse a interpretação ou a significação de palavras ou frases. Em suma, o manuscrito hebraico era uma sucessão interminável de consoantes, sem pontuação, sem parágrafos, sem versículos etc.

Assim, Yhvhthstsrcdmndknntm significa "Yaveh, tu procuraste-me e conheceste-me". Imagine-se o que não seria o trabalho de cópia e interpretação de um livro assim constituído!

A transmissão da versão tradicional se fazia à custa da memória extraordinariamente cultivada e desenvolvida dos doutores da lei, mesmo assim, exposta a interpretações ou intromissões indevidas no texto exato.

O cânon hebraico, tal como o conhecemos hoje, já existia no século II a.C. Por esta época, os hebreus, embora concentrados na Palestina, estavam espalhados pelo resto do mundo. Muitos, fugindo à rígida tradição ortodoxa, foram admitindo alguns preceitos dos gentios e mostravam-se muito liberais em matéria de religião. Eram os chamados hebreus helenizantes.

Por isto mesmo e pelo fato de a língua grega ser a língua internacional no século II a.C., Ptolomeu Filadelfo pediu aos hebreus de Alexandria que lhe fizessem a tradução grega dos livros religiosos hebraicos.

O sumo sacerdote Eleazar forneceu os documentos hebraicos e, segundo uma tradição meio histórica e meio lendária, reuniram-se 72 eruditos, seis de cada tribo de Israel, para fazerem aquele trabalho. Entre outras lendas, conta-se que terminaram todos a sua tarefa no mesmo momento, com um altissonante Amém e que foram tiradas 70 cópias da tradução.

Esta, à qual os hebreus helenizantes de Alexandria acrescentaram os deuterocanônicos, escritos em grego, é a famosa Septuaginta, ou Versão dos 70. Esta obra foi de grande significação, pois até essa época a leitura dos livros religiosos hebraicos estava reservada ao templo e às sinagogas. A partir daí, difundiu-se o conhecimento da Bíblia entre os não hebreus e mesmo entre os descendentes de Israel que, longe de sua pátria, estavam mais familiarizados com o grego do que com o hebraico. Entretanto, os hebreus ortodoxos repeliram-na, tanto mais que encontraram infidelidades na dificílima tradução.

Assim, diz Salomon Reinach que os 70 traduziram, em Isaías VII, 14, o hebraico "almah", por "virgem", quando a tradução exata seria"moça" ("pois por isso mesmo o Senhor vos dará este sinal: uma virgem conceberá e dará a luz a um filho e seu nome será Emanuel"). Pode-se avaliar a importância de tal mudança de tradução dessa frase profética, de profunda significação para o futuro cristianismo.

Aliás, erros desta natureza poderiam-se dar com relativa frequência e facilidade. Assim, por exemplo, a simples transposição de um sinal podia modificar todo o sentido de uma frase. Em Gênesis XLIX, 21, conforme a pontuação, pode se ler: "Neftali é um veado solto, que pronuncia formosas palavras", ou: "Neftali é uma árvore frondosa da qual brotam formosos ramos". Na tradução dos 70, foi a primeira frase a que prevaleceu.

Os originais e cópias da Septuaginta perderam-se. Hoje, conhecem-se perto de 4 mil manuscritos, dos quais os mais antigos remontam ao século IV d.C.
Os mais importantes e antigos são os conhecidos pelos nomes de: Manuscrito do Vaticano (Século IV d.C.); Manuscrito Sináitico, de Tischendorf (Século IV d.C.); Manuscrito Alexandrino (Século V d.C.).

Os hebreus, não conformes com a tradução grega da Septuaginta, continuaram a transmitir os manuscritos do Templo. Mas os exegetas ortodoxos reconheciam, pelas dificuldades já expostas de tradução e de interpretação do texto hebraico, que era necessário compor um sistema de sinais que fizessem o papel das vogais e da acentuação e assim permitissem maior fidelidade ao verdadeiro texto.

No tempo de Jesus havia dois textos: o texto grego da Septuaginta e o texto hebraico ortodoxo, proveniente do texto primitivo de Esdras, certamente corrompido por omissões, interpolações, descuidos, erros de cópia etc..

Parece que o texto hebraico era seguido por Jesus e seus apóstolos, enquanto São Paulo e os gentios conversos, que logo se tornaram dominantes, adotavam o texto da Septuaginta pelo fato de a língua grega ser mais difundida e acessível.

Os hebreus ortodoxos empreenderam o trabalho de sinalização dos manuscritos, que passaram a ser chamados textos ou manuscritos massoréticos, do nome massora (tradição).
Apesar de tantas precauções, afirmam os exegetas que, até o século II d. C., esses mauscritos sofreram, fora de qualquer dúvida, numerosas corrupções, o que se inferiu pela comparação com outros documentos antigos.

Somente pelo século IV é que se fixou a versão massorética, conhecida presentemente. Como os demais documentos, o texto hebraico massorético e suas cópias mais antigas perderam-se. O manuscrito massorético mais antigo hoje existente é o denominado Codex Babylonicus Petropolitantis, que data do ano 910.

Além da versão dos 70, há outras traduções gregas do texto hebraico: traduções de Áquila, de Teodósio e de Simaco, que datam do século II d.C. Embora não tivessem atingido à preeminência daquela, servem para estudo comparativo.

Na versão da Septuaginta existiam alguns livros que não foram reconhecidos canônicos: os livros III e IV dos macabeus, o Salmo CLI.

Circulavam também, nos primeiros tempos do cristianismo, manuscritos religiosos que não foram incluídos na lista dos documentos canônicos: os livros III e IV de Esdras, o livro dos Jubileus, os Paralipômenos de Jeremias, o livro do martírio de Isaías, o livro de Enoch, etc.

Em resumo, o Velho Testamento é conhecido através de cópias, cujas mais antigas datam de muitos anos depois de Cristo, sendo umas gregas (provindas dos textos de Septuaginta) e outras hebraicas (provindas dos textos massoréticos). Não se conhecem cópias sem sinalização, derivadas do texto hebraico de Esdras.

Posteriormente, apareceram os textos latinos e outros que veremos adiante.

No texto grego da Septuaginta, o Cânon do Velho Testamento é dividido em 4 seções:
1 A Tora, a lei, ou seja, o Pentateuco, com os 5 primeiros livros. Modernamente, tende se a acrescentar a estes, o livro de Josué e a denominar o conjunto de Hexateuco.
2 Os livros históricos, de Josué até Crônicas, e mais outros, como Esdras, Neemias, Ester.
3 Os livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos cânticos,
4 Os livros Proféticos dos 4 Maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os dos 12 Menores.

O nome Velho Testamento vem do grego Palaiediatheké (palaie: velho, diatheké: pacto, aliança). Essa a denominação grega pela qual era mais conhecida, em Alexandria, a Versão dos Setenta.

Mas diatheké também significa testamento e foi o nome preferencialmente adotado por São Jerônimo, na versão da Vulgata, e o que prevaleceu até hoje.

Neste capítulo, referimo-nos à antiguidade dos documentos bíblicos comumente conhecidos. Em 1947, foram descobertos, às margens do Mar Morto, rolos bíblicos que datam de antes de Cristo. Estes manuscritos bíblicos, em hebraico, grego, árabe e aramaico, são todos do Velho Testamento e ainda estão sendo objeto de estudos.

Há um palimpsesto em papiro, com uma lista de nomes e números em hebraico arcaico, chamado fenício, que data de cerca de 500 a 600 a.C. e é, provavelmente, o documento mais antigo do mundo.
Muitos manuscritos estão sendo decifrados por meio da fotografia pela luz infravermelha.

Não há dúvidas sobre a autenticidade e antiguidade desses documentos, cujo estudo poderá, talvez, provocar a revisão de muitos conceitos em torno da literatura do Velho Testamento.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Dom, 07 Maio 2023 - 14:32 pm
Dos meus guardados:
O Cânon Bíblico

Por Dalton Catunda Rocha - E-mail: daltonagre@uol.com.br

O texto original estava aqui, mas já não existe:
http://dantas.editme.com/files/aurelio/canon.htm

O texto é muito bom!
Eu andei procurando pelo original e consegui descobrir onde ele está. Mas parece que o autor tornou a página privada:
Site privado

Este site é privado. Se você quiser solicitar acesso, enviaremos seu nome de usuário para aprovação pelo proprietário do site.

Eu solicitei acesso, mas ainda não tive retorno.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

E parece que faz tempo que ele fechou.
Eu procurei nos portais que salvam páginas, Archive.org, Archive.is, WayBackMachine e nada achei.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Seg, 08 Maio 2023 - 14:03 pm
Baixei não sei mais de onde. Note-se que algumas das informações sobre a época em que surgiram os livros foram tiradas da própria Bíblia, tipo "Os sacerdotes encontraram o livro de Moisés no Templo" (2Reis 22:08).
UMA BREVE HISTÓRIA DA BÍBLIA. ACREDITE NA BÍBLIA, SE QUISER!

Mensagem por carlo em 23/08/2009

Esse texto, então, completa praticamente todas as lacunas que poderiam ter ficado até agora.
Muito bom!

(Curiosamente, eu só vi-o agora à noite, bem depois da minha postagem à tarde)

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Seg, 08 Maio 2023 - 14:03 pm
UMA BREVE HISTÓRIA DA BÍBLIA. ACREDITE NA BÍBLIA, SE QUISER!

Um título mais apropriado não deveria incluir a segunda parte, "Acredite na Bíblia se quiser".
Pois atribui um tom jocoso, de zombaria e já chega com juízo de valor.
O que justamente atrapalha demais qualquer debate com um defensor do livro.

O debate deve se pautar pelos dados históricos que já se conseguiu obter até hoje e, assim, tentar fazer uma análise impessoal, isenta de viés, guiando-se apenas com a possível história e desenrolar dos acontecimentos.

Eu ainda vou tentar fazer depois um resumo mais didático a partir de tudo o que vem chegando ao tópico.
Seria uma espécie de manual para aqueles que procuram entender a linha de tempo que levou ao resultado final que temos hoje.
E que eu levaria debaixo do braço para toda conversa em que vier a me deparar com um ardoroso defensor da "palavra de Deus".


É impressionante como NINGUÉM se preocupe com essas coisas. Simplesmente ouvem que aquilo é a "palavra de Deus" e não questionam NADA. Aceitam a afirmação e fecham os olhos a tudo o mais.
Não se interessam em saber como essa "palavra" se materializou do "ente criador do universo" num volume impresso de milhares de páginas. Assim, do nada, como uma mágica.
E quem questionar qualquer daquelas historinhas (até mesmo a da cobra que fala) passa a ser visto, de cima para baixo, como um representante de Satã que planta dúvidas nos devotos.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Seg, 08 Maio 2023 - 20:45 pm
Eu ainda vou tentar fazer depois um resumo mais didático a partir de tudo o que vem chegando ao tópico.
Seria uma espécie de manual para aqueles que procuram entender a linha de tempo que levou ao resultado final que temos hoje.
E que eu levaria debaixo do braço para toda conversa em que vier a me deparar com um ardoroso defensor da "palavra de Deus".
Será complicado porque haverá um monte de "pode ser que seja isto, mas pode ser que seja aquilo e alguns dizem que aquiloutro".
Gabarito escreveu:
Seg, 08 Maio 2023 - 20:45 pm
É impressionante como NINGUÉM se preocupe com essas coisas. Simplesmente ouvem que aquilo é a "palavra de Deus" e não questionam NADA. Aceitam a afirmação e fecham os olhos a tudo o mais.
Não se interessam em saber como essa "palavra" se materializou do "ente criador do universo" num volume impresso de milhares de páginas. Assim, do nada, como uma mágica.
Anos atrás, uma senhora me mandou emails pedindo para eu parar de postar "essas coisas" porque "atrapalha nossa evangelização" ...
Ela disse, toda confiante e cheia de certezas, que não conhecia quase nada da Bíblia, mas que eu podia tirar minhas dúvidas com ela.
No fim, assustou-se e me disse para não falar mais com ela.
Gabarito escreveu:
Seg, 08 Maio 2023 - 20:45 pm
E quem questionar qualquer daquelas historinhas (até mesmo a da cobra que fala) passa a ser visto, de cima para baixo, como um representante de Satã que planta dúvidas nos devotos.
Sim, porque, afinal, "Deus elevou os loucos e fez os sábios deste mundo de loucos". O que significa que quanto mais lhe chamarem de louco, mais fica provado que você tem razão.

Segundo eles, a Bíblia não pode estar errada, portanto, de alguma forma, haverá uma explicação até mesmo para as contradições, absurdos e atrocidades.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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O vídeo abaixo tenta explicar as idades de personagens da Bíblia que chegaram a 700, 900 anos...
É divertido acompanhar o esforço em se encontrar uma explicação plausível para algo que simplesmente NÃO aconteceu.

O DNA humano era diferente? As doenças estavam no começo da existência e a vida era mais saudável?
A-hãm.

A única fonte de referência é a própria Bíblia.
Será que ajudaria se as pessoas que assim procedem lesse esse nosso tópico aqui?
😇

É impressionante como a ENORME maioria das pessoas simplesmente não sabem como se formou a Bíblia.
É quase uma "verdade absoluta" que o livro foi escrito por inspiração de Deus. E não um ajuntamento de contos antigos.


COMO ERA CONTADA A IDADE DAS PESSOAS NO ANTIGO TESTAMENTO- POR QUE AS PESSOAS VIVIAM MUITOS ANOS-


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Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Acabei descobrindo um tópico de 2020, criado por Fernando Silva, que está relacionado a esse aqui.
Mas para não desorganizar a cronologia, achei melhor não fazer a fusão dos dois, deixando-os independentes.
Como há relação entre eles, deixo a sua referência, que pode ajudar em futuras consultas:

Onde está o texto original da Bíblia?

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

De lá, eu trago as postagens abaixo, que acrescentam mais informação a esse tópico:

Fernando Silva escreveu:
Qua, 04 Março 2020 - 07:58 am
Onde está o texto original da Bíblia ?
A Bíblia nem sempre teve a forma que conhecemos hoje, que só passou a existir depois que os primeiros cristãos agruparam num único "codex", ou seja, um livro com páginas, os vários "livros" que até então existiam em separado, cada um em seu rolo de pergaminho, guardados em jarros. Alguns tinham uma parte, outros tinham outras.

Embora haja um consenso de que a Bíblia começou a ser registrada por escrito por volta de 800 a.C. (época de I Reis), a cópia mais antiga data de uns 120 a.C., não permitindo comparações com os hipotéticos originais.

Temos os originais ou, pelo menos, cópias contemporâneas dos mitos sumérios, babilônicos, egípcios etc.
Do "Livro dos Mortos" egípcio, do Épico de Gilgamesh, da história de Tiamat e Marduk.

Compare-se isto às lendas sem comprovação por documentos de época dos judeus que, ao contrário dos outros povos, não deixaram pirâmides, templos, palácios, cidades etc. Nada além de raros fragmentos de artefatos de interpretação duvidosa.

Ao longo dos milênios, os hebreus transmitiram seus mitos oralmente. Como garantir que lendas permaneçam inalteradas durante tanto tempo enquanto passam, conservadas apenas na memória, de geração para geração, cada uma interpretando a sua maneira o que ouviu? Ainda mais porque os judeus atravessaram várias realidades diferentes: nômades, pastores, agricultores, escravos, urbanóides etc., cada uma influenciando a maneira de ver as coisas do presente e a interpretação das lendas recebidas do passado.

Sem falar em que não eram um povo único: além de viverem em lugares diferentes, como Israel e Judá, estavam divididos em várias tribos independentes e, muitas vezes, inimigas. Cada tribo, cada comunidade, gerou seus mitos de origem e conservou relatos de fatos ocorridos. Esses relatos, centenas ou milhares deles, não contavam uma história única, mas, amontoados como colcha de retalhos em um só texto, passaram a ser vistos como parte de uma única história e, neste processo, ganharam novos significados (1).

Não sabemos como isto ocorreu nem quando. Não temos nenhuma informação sobre a evolução e as modificações sofridas por essas lendas durante os milênios para poder dizer se houve continuidade, coerência ou planejamento. Tudo o que temos é a versão que os escribas decidiram registrar, baseados em seus critérios pessoais, que ignoramos, para agrupar centenas ou milhares de lendas independentes em uma narrativa que fizesse sentido para eles, naquela época. (2)

E, como não temos os originais de 800 a.C., não temos como saber se, assim como o Novo Testamento, houve múltiplas versões, de vários autores, que foram aos poucos sendo selecionadas até se ter a versão de 120 a.C., que sobreviveu, ou, o que é improvável, uma única versão logo de cara. Os crentes, portanto, não podem afirmar que "a homogeneidade do texto, apesar de escrito por tantos autores ao longo de tanto tempo, prova a inspiração divina".

Se a Igreja precisou dar sumiço em centenas de evangelhos, epístolas, apocalipses e atos dos apóstolos para deixar apenas o que lhe convinha, como supor que o mesmo não aconteceu durante os 700 anos entre os primeiros registros escritos e a versão que nos chegou?

O mais provável é que um monte de textos independentes e discordantes tenham sido analisados, séculos depois, e alguns deles selecionados e reescritos conforme a visão da época, até se ter algo que foi então proclamado arbitrariamente "a palavra de Deus". Este processo não eliminou totalmente os absurdos, contradições e referências ao politeísmo dos hebreus originais, talvez porque os escribas não tenham ousado modificar completamente histórias tradicionais que lhes pareciam sagradas.

David Plotz, um judeu ateu, analisou a Torah, livro por livro, e publicou suas conclusões no livro "Good Book". Eis um trecho:

"Aqueles que, a partir de 800 a.C., registraram os mitos antigos, mantiveram todos aqueles fenômenos espantosos, com Javé aparecendo em pessoa a cada momento e castigando horrivelmente as menores falhas de seus 'protegidos'.

Tudo aquilo tinha ocorrido numa idade mitológica, onde tais portentos eram possíveis.

Entretanto, quando começam a registrar os acontecimentos de sua época (I Reis em diante), quase nada de miraculoso acontece. Reis e sacerdotes são corruptos e pecadores, mas Javé não está nem aí e milagres ou punições divinas desaparecem. Eles relatam apenas o que viam diante de seus olhos: apenas pessoas comuns vivendo vidas comuns".(3)

Notas:
1. "Most scholars — at least those who aren’t literalists — doubt
that a book like Genesis was composed by a single writer. Rather,
it was written, edited, and redacted by various scribes over hundreds
of years. James Kugel, author of How to Read the Bible, famously
calls the Bible a work of “junk sculpture,” meaning that various
random bits have been soldered together and thus turned into a new
piece of art. The separate stories that make up the Bible had their
own individual meanings. But welded together in a “book of Genesis",
the stories take on entirely new meanings, because the juxtapositions
create significance never intended by the authors.

Professor Jacques Berlinerblau of Georgetown extends Kugel’s argument.
In a fascinating book, The Secular Bible, Berlinerblau contends that
all biblical interpretation rests on a false premise of the Bible as
a coherent whole. Rather, he says, we must recognize that the book is a
pastiche of accidental juxtapositions. Any meaning we ascribe to those
juxtapositions is artificial, and was never intended by the author —
because, in fact, there was no author, merely a series of editors separated
by centuries and often working at cross-purposes. We impose meaning on
these disjointed stories to serve our own religious, spiritual, political,
or literary purposes, says Berlinerblau, but we’re deluding ourselves
if we think that our meanings are intended by the book."

2. Outro ponto é que isto ocorreu sob a influência dos persas, com seu monoteísmo e seu conceito de céu e inferno, enquanto que os judeus, até então, eram monólatras, adorando a um só deus, mas acreditando na existência de vários. O Eclesiastes deixa claro a crença no "morreu, acabou", conservada pelos saduceus (que não participaram do exílio na Babilônia), ao contrário dos fariseus ("farisi" = persa).

Atos 23:08 - "Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa".

3. "Third—and this is the explanation I believe — we ascribe grandeur
to the far past. The present, by contrast, seems mundane. The Bible
was written down long after the events of Genesis, Exodus, etc.
supposedly occurred, but right around the time of the events in Kings.

As we know from various religious and mythical traditions, events in
the distant past — events passed down by oral tradition — become
exaggerated and aggrandized. It’s very easy to attribute ancient dramas
to divine intervention. There was an earthquake or a plague? It must
have been God’s revenge for a rebellion. The Israelites fled Egypt?
Well then, God held back the Red Sea.

The passage of time allowed the authors of the Bible to see the hand
of God everywhere. But as biblical events get closer to the time of
writing, there are more obvious human explanations. That was surely
as true for the authors of the Bible as it is for us, and that’s probably
why they imagined that God interfered so much in the Israelites’ daily
lives in Exodus, but was only a shadowy presence during their own time."

http://fernandosilvamultiply.blogspot.c ... iblia.html

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva escreveu:
Qua, 04 Março 2020 - 07:59 am
Tradução resumida: um povo do norte de Gana, na África, tinha um mito muito longo que era transmitido oralmente. O historiador/linguista Jack Goody percebeu que a história mudava a cada relato e resolveu gravar um deles, registrando depois tudo por escrito.
Aquele povo, que até então não conhecia a escrita, ficou fascinado e, a partir daí, considerou como oficial e verdadeira a "versão do Goody".
L’H. : Vous avez travaillé au nord du Ghana dans une société sans écriture : quand les LoDagaa vous ont vu écrire, quelle a été leur réaction ?

J. G. : Cela a exercé une fascination. J’ai transcrit le mythe du Bagré qui était assez long, aussi long que l’Iliade ou l’Odyssée. Eux, ils le refabriquaient chaque fois : chaque récitation était une nouvelle récitation.
Or, depuis que je suis venu avec mon magnétophone et mon crayon, ils disent que la bonne version, la vraie, est celle de Goody : le récit est maintenant figé, « gelé ». Ils ont compris que j’avais la possibilité d’enregistrer les mots des ancêtres, et ils ont eu conscience que c’était une grande habileté.
Do livro "L'écriture depuis 5000 ans" - Jean BOTTÉRO, Françoise BRIQUEL-CHATONNET e outros.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Gabarito escreveu:
Seg, 15 Maio 2023 - 21:53 pm
O vídeo abaixo tenta explicar as idades de personagens da Bíblia que chegaram a 700, 900 anos...
É divertido acompanhar o esforço em se encontrar uma explicação plausível para algo que simplesmente NÃO aconteceu.

O DNA humano era diferente? As doenças estavam no começo da existência e a vida era mais saudável?
A-hãm.

A única fonte de referência é a própria Bíblia.
Será que ajudaria se as pessoas que assim procedem lesse esse nosso tópico aqui?
😇

É impressionante como a ENORME maioria das pessoas simplesmente não sabem como se formou a Bíblia.
É quase uma "verdade absoluta" que o livro foi escrito por inspiração de Deus. E não um ajuntamento de contos antigos.


COMO ERA CONTADA A IDADE DAS PESSOAS NO ANTIGO TESTAMENTO- POR QUE AS PESSOAS VIVIAM MUITOS ANOS-


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Uma das "explicações" que eu vi é que, na época, a humanidade tinha saído do Éden havia pouco tempo e ainda não tinha degenerado tanto.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Uma notícia que mostra o quanto pode valer historicamente esse conjunto de mitos:

Bíblia é vendida por 190 milhões e se torna manuscrito mais caro do mundo

Codex Sassoon é vendido por 190 milhões e se torna o manuscrito mais caro do mundo.

Internacional
19 de maio de 2023

Uma bíblia com mais de mil anos foi vendida por 38 milhões de dólares (cerca de 190 milhões de reais), na última quarta-feira (17/5), em um leilão na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. A venda fez com o que o manuscrito se tornasse o mais valioso do mundo, segundo o jornal Correio Braziliense.

Datada do século X, a bíblia conhecida como Codex Sassoon é um dos dois únicos manuscritos que sobreviveram até a era moderna e que contêm todos os 24 livros da Torá, o Antigo Testamento cristão.

O nome remete a um dos proprietários, David Solomon Sassoon.

Segundo a apuração do Correio Braziliense, o item tem 1,1 mil anos e recebeu o nome em 1929. Solomon era um colecionador e estudioso britânico e comprou a bíblia por 350 libras esterlinas (cerca de 2.150 reais hoje).

O atual proprietário era o investidor e colecionador de arte suíço Jacqui Safra, sobrinho do banqueiro Joseph Safra.

De acordo com a Sotheby's, sociedade dedicada à venda em leilões, o exemplar está muito bem preservado, sendo a bíblia hebraica mais antiga e completa já descoberta, faltando apenas 12 páginas.

No leilão, o livro foi disputado durante quatro minutos por dois compradores. Quem levou foi o ex-diplomata americano Alfred Moses.

A compra foi feita em nome de uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos. A entidade revelou que doará o manuscrito ao Museu ANU para integrá-lo ao Museu do Povo Judeu, em Tel-Aviv.

O Codex Sassoon ficou desaparecido por mais de 500 anos, após a destruição da sinagoga de Markada, no noroeste da Síria, e foi reencontrado apenas em 1929.

O documento foi leiloado pela primeira vez em mais de 30 anos, e tinha uma estimativa de venda entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões.

A venda ultrapassou os US$ 35 milhões pagos pelo O Livro de Mórmon, datado de 1830. O livro, conhecido também como “manuscrito do tipógrafo”, foi ditado por Joseph Smith, primeiro presidente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, de acordo com o jornal Deseret News.

O Livro de Mórmon foi arrematado em 2017, sendo até então o manuscrito mais caro já vendido em um leilão.

O documento histórico vendido pelo valor mais alto continua sendo uma das primeiras impressões da Constituição americana.

O documento é um dos 13 exemplares originais de 1.787 e foi vendido por quase três vezes o valor inicial. A venda da rara cópia bateu o recorde de um documento em leilão quando foi vendido por cerca de US$ 43,2 milhões (R$ 213 milhões) em novembro de 2021.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Gabarito escreveu:
Seg, 22 Maio 2023 - 15:26 pm
Uma notícia que mostra o quanto pode valer historicamente esse conjunto de mitos:
Bíblia é vendida por 190 milhões e se torna manuscrito mais caro do mundo

Codex Sassoon é vendido por 190 milhões e se torna o manuscrito mais caro do mundo.
Eu diria apenas que "um manuscrito muito antigo foi vendido por um valor absurdo".

Afinal, num mundo em que tem gente disposta a pagar caro por um link para o desenho de um macaco (NFT) ou desenhos do Bansky que, em seguida, serão destruídos, isto não é de se espantar.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

Fernando Silva escreveu:
Seg, 22 Maio 2023 - 16:30 pm
Gabarito escreveu:
Seg, 22 Maio 2023 - 15:26 pm
Uma notícia que mostra o quanto pode valer historicamente esse conjunto de mitos:
Bíblia é vendida por 190 milhões e se torna manuscrito mais caro do mundo

Codex Sassoon é vendido por 190 milhões e se torna o manuscrito mais caro do mundo.
Eu diria apenas que "um manuscrito muito antigo foi vendido por um valor absurdo".

Afinal, num mundo em que tem gente disposta a pagar caro por um link para o desenho de um macaco (NFT) ou desenhos do Bansky que, em seguida, serão destruídos, isto não é de se espantar.


Por isso que eu coloquei "historicamente", porque o que está valendo ali é mais uma relíquia, um artefato de valor histórico, muito mais do que o seu conteúdo.
E também, claro, a influência que esse documento ainda tem para a humanidade.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Fernando Silva »

Finalmente perceberam ...
As escolas americanas que proibiram a Bíblia por ser 'vulgar e violenta'

Max Matza - BBC News - 3 junho 2023

Um distrito escolar no Estado americano de Utah removeu a Bíblia das escolas primárias e secundárias por conter "vulgaridade e violência".

A mudança acontece após uma reclamação de um pai. Ele defendeu que a Bíblia do Rei Jaime (a versão usada pela Igreja Anglicana) contém material inadequado para as crianças.

O governo republicano de Utah aprovou uma lei em 2022 que proíbe livros "pornográficos ou indecentes" nas escolas.

A maioria das obras que foram banidas até agora referem-se a temas como orientação sexual e identidade.

A proibição da Bíblia no distrito ocorre em meio a um esforço maior dos conservadores americanos nos Estados para proibir ensinamentos sobre tópicos considerados controversos, como direitos LGBT e identidade racial.

O veto a certos livros considerados ofensivos também está em vigor em locais como Texas, Flórida, Missouri e Carolina do Sul.

Alguns Estados liberais também baniram obras em escolas e bibliotecas, dizendo que elas traziam conteúdos racialmente ofensivos.

A decisão em Utah foi tomada esta semana pelo Distrito Escolar de Davis, ao norte de Salt Lake City, após uma reclamação apresentada em dezembro de 2022.

As autoridades dizem que já removeram as sete ou oito cópias da Bíblia que eram mantidas no local. Elas ponderaram que o texto nunca fez parte do currículo dos alunos.

O comitê não detalhou os motivos da decisão ou quais passagens continham "vulgaridade ou violência".

De acordo com o jornal Salt Lake Tribune, o pai que reclamou disse que a Bíblia "não traz valores sérios para os menores de idade porque é pornográfica de acordo com as novas definições", referindo-se à lei de proibição de livros aprovada em 2022.

Ken Ivory, autor da lei de 2022 em voga no Estado de Utah, já havia classificado o pedido de remoção da Bíblia como uma “zombaria”, mas mudou de rumo esta semana depois de classificá-la como uma “leitura desafiadora” para crianças mais novas.

“Tradicionalmente, na América, a Bíblia é melhor ensinada e compreendida em casa e em família”, escreveu ele no Facebook.

A decisão do distrito determinou que o conteúdo da Bíblia não viola a lei de 2022, mas inclui "vulgaridade ou violência inadequada para estudantes mais jovens".

O livro permanecerá à disposição para alunos mais velhos do Ensino Médio.

Bob Johnson, pai de um aluno da escola primária no Davis School District, disse à CBS News que se opõe à remoção da Bíblia.

"Não consigo pensar o que há na Bíblia que precise ser retirado. Não é como se ela possuísse figuras ou imagens", disse ele.

O distrito de Utah não é o primeiro a remover a Bíblia das prateleiras de escolas e bibliotecas.

No ano passado, um distrito escolar do Texas retirou a Bíblia após reclamações de indivíduos que se opunham aos esforços dos conservadores para banir algumas obras.

No mês passado, alunos do Kansas também solicitaram a remoção da Bíblia da biblioteca da escola onde estudam.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c6p34rd5x7po

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Tópico complementar a esse, que fala sobre os papas da Igreja Católica:

Os papas, de Pedro até hoje

Re: "Polêmico" - Jesus efetivamente existiu?

fenrir
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Mensagem por fenrir »

O NT parece um frankenstein.
Tem caracteristicas de:
1. pesher,
2. midrash,
(esses 2 itens dizem respeito, dentre outras coisas, a re-escrita e reinterpretacao do VT)
3. romances/novelas devocionais comuns na epoca, (inclusive decfora do cristianismo, por ex Atos,
4. Colecoes ou antologias de ditos sabios: a parte mais antiga do Q, o Q1.
5. Religioes de mistérios comuns na epoca e regiao (mitraismo, misterios de eleusis, isis, serapis, ...)
6 finalmente buscou inspiracao em literatura e filosofia helenica: homero, (neo)platonismo, estoicismo e cinismo.

Desse ultimo item nao ha como dizer o inverso de quem copiou quem, como querem certos escritores devotos, pois que toda esta literatura pagã é de bem antes de cristo.

Isso em 4 versoes de uma mesma historia, que se contradizem em pontos importantes e que incluem agendas teologicas rivais.
E dificil imaginar gnosticos simpaticos aos gentios e ideias helenicas (cartas paulinas, evangelho de joao) e cristãos fortemente judaicizantes (mateus) frequentando a mesma igreja.

(sobre Paulo e João, o gnosticismo era tão evidente que dexou ecos mesmo depois de 20 séculos de edição por copiadores guiados por uma agenda fortemente anti-gnóstica..)

E devotos tem esse frankenstein por biografia...

A religião crustã só é monoteista na base da forçação de barra.
Houve um tempo em que teologias duoteistas, triteistas, n- teístas faziam parte de mainstream cristao.
Deus do VT <> IHVH do NT (Marcion)
IHVH ou simplesmente deus <> JC, este ultimo tido como uma especie de deus menor, portanto distinto (to tentando lembar onde li isto).
Deus, JC, espirito santo, ... doutrinas trinitarias passaram ao corrente só depois de Tertuliano. Antes disso essas entidades não eram consideradas uma só, ou 3-em-um.
E tem os santos, anjos, arcanjos, satanás, demônios, ...
para todos os efeitos "god-like", podem ser menores que o "deus" oficial, mas ainda assim tem caracteristicas comumente ateibuidas a deidades.
E tem os gnósticos com sua multidão de emanações e eones, e sabe-se-la mais o que.

Sabem o que é a morte da fé? É o estudo.

A fé não deixa o sujeito saber destas coisas, o mantem firmemente preso na decoreba e memorização de dogmas. Fora isso permite apenas apologia esses mesmos dogmas. E nessa apologia vale tudo, até agredir a logica mais basica.
Já quando se chuta essa fé para longe e se começa a estudar, quanta coisa inusitada aparece...
A realidade do assunto é bem mais interessante que uma conspiração fantasiosa a lá codigo da Vinci ou dogmas mumificados, conservados em formol por mais de 20 seculos.



________________________
Eu movi a mensagem acima e as duas seguintes por elas se encaixarem melhor no presente tópico, que trata da história da Bíblia.
Gabarito.
Editado pela última vez por fenrir em Seg, 24 Julho 2023 - 01:30 am, em um total de 2 vezes.

Re: "Polêmico" - Jesus efetivamente existiu?

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Sobre a morte da fe, poucas coisas exemplificam isso de forma tao contundente quanto a historia do modernismo (e a consequente reacao da ICAR) que o Fernando postou.

Uma consequencia perturbadora (tabu, iniquidade, heresia) de uma jornada dessas é descobrir o não-nascimento do JC.

Onde estao os idolos de uma doutrina? Estão entre as coisas que não se permite criticar, contradizer, nem examinar de perto...

O que fez a ICAR aos seus quando fracassou sua investida contra os modernistas? Impos uma certa assinatura, um contrato que devem obedecer incondicionalmente os que se propoem a estudar o assunto em profundidade. Os idolos estao la nas clausulas do contrato.

Mas hoje nem essa igreja, nem outra controla o mundo. Foi-se o tempo, só pode forçar esse contrato entre seus próprios membros.
Outros estão livres para seguir livremente onde suas pesquisas os levarem e se os fatos contradizem dogmas e derrubam idolos tanto pior para esses dogmas e idolos.

Re: "Polêmico" - Jesus efetivamente existiu?

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

fenrir escreveu:
Dom, 23 Julho 2023 - 23:48 pm
O NT parece um frankenstein.
Tem caracteristicas de:
1. pesher,
2. midrash,
(esses 2 itens dizem respeito, dentre outras coisas, a re-escrita e reinterpretacao do VT)
3. romances/novelas devocionais comuns na epoca, (inclusive decfora do cristianismo, por ex Atos,
4. Colecoes ou antologias de ditos sabios: a parte mais antiga do Q, o Q1.
5. Religioes de mistérios comuns na epoca e regiao (mitraismo, misterios de eleusis, isis, serapis, ...)
6 finalmente buscou inspiracao em literatura e filosofia helenica: homero, (neo)platonismo, estoicismo e cinismo.
Um trecho copiado do estoicismo é aquele sobre "se lhe pedem o casaco, dá também a camisa".
Muitos dos ensinamentos atribuídos a Jesus foram encontrados nos manuscritos
do Mar Morto, escritos pelos essênios pelo menos 100 anos antes de Cristo.
Eles eram conhecidos pelo seu desprezo às coisas materiais, faziam-se batizar
para a purificação do corpo e do espírito e iniciavam a vida pública aos 30 anos, após
40 dias de jejum no deserto. Esperavam para breve a vinda do reino de Deus.
Frases como "amar seus inimigos", "se lhe pedem o casaco dá também a camisa"
e "dar a outra face" derivam dos estoicos/cínicos, um movimento filosófico de
origem grega que pregava o retorno a uma vida mais simples e humilde, em oposição
ao materialismo da sociedade urbana.
Muitos outros foram tirados do "Documento Q", uma coleção de ditos resultantes
da mistura da filosofia estoica/cínica, com o messianismo judeu.
https://fernandosilvamultiply.blogspot. ... orico.html

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Me parece que o cristianisno esta cada vez mais na berlinda na academia. Hoje em dia os questionamentos vao muito alem da historicidade do JC e dos evangelhos...
Fernando e o Gabarito achariam interessante ler o que esvreveu um Hector Avalos sobre o fim dos estudos biblicos.
Reparem que a demolicao do castelo cristao vem de dentro. Esses golpes são de longe muito mais fortes que qualquer um que neo-ateus como Dawkins ou Hitchen tenham feito... vem de gente de dentro, do seio da religiao, e com profundo conhecimento dela.
Pena quase ninguem saber disso.
Mas muitas coisas começam na academia e vao bem lentamente ganhando forca, uma hora atingem uma massa critica. E no fim o conhecimento chega ao publico geral, sendo rechaçado apenas por fanaticos incuraveis.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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Mensagem por Gabarito »

fenrir escreveu:
Ter, 08 Agosto 2023 - 07:07 am
Me parece que o cristianisno esta cada vez mais na berlinda na academia. Hoje em dia os questionamentos vao muito alem da historicidade do JC e dos evangelhos...
Fernando e o Gabarito achariam interessante ler o que esvreveu um Hector Avalos sobre o fim dos estudos biblicos.
Reparem que a demolicao do castelo cristao vem de dentro. Esses golpes são de longe muito mais fortes que qualquer um que neo-ateus como Dawkins ou Hitchen tenham feito... vem de gente de dentro, do seio da religiao, e com profundo conhecimento dela.
Pena quase ninguem saber disso.
Mas muitas coisas começam na academia e vao bem lentamente ganhando forca, uma hora atingem uma massa critica. E no fim o conhecimento chega ao publico geral, sendo rechaçado apenas por fanaticos incuraveis.

Obrigado pela informação, fenrir.
Imagem


Realmente, interessa muito saber desse movimento interno.
Infelizmente, apesar de já ter mesmo chegado a hora das pessoas acordarem para o que de fato aconteceu, não creio que estaremos vivos para presenciar a "caída da ficha" no público em geral.
A crença no sobrenatural está fortemente impregnada na maioria de todas as populações, não só entre os cristãos.
Creio até que seja algum atributo da natureza humana e que, possivelmente, nunca venha a ser totalmente eliminado.

Mas é muito bom saber que as placas tectônicas estão se movendo.
Como tudo grandioso e gigantesco, também leva muito tempo para se concluir.

Re: História da Bíblia - Como foi escrita

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No ponto em que estamos, a coisa ainda está MUITO atrasada...

Estava eu conversando com um amigo crente na semana passada.

Quando a conversa tende para o tema desse tópico, a história da Bíblia, as pessoas percebem que serão confrontadas com fatos históricos e logo procuram uma rota de fuga, um jeito de mudar de assunto. E eu vou entendendo isso como um medo muito grande de ter a sua fé abalada.
É como se estivessem "caindo em tentação", pensando em "coisas proibidas" e se Deus está vendo tudo, eles serão penalizados por estarem "na cena do crime", ou, de certa forma, sendo cúmplices.

Tem algum componente instintivo, coisa de autopreservação que se vê nos animais se submetidos a perigo.
Eles evitam até pensar ou tampouco questionar o que a igreja coloca nos seus dogmas. Se ousa pensar ou questionar, punição à vista.
Aí fogem de qualquer situação assim.

Por isso que vejo que qualquer movimento um pouco mais amplo é algo que vai levar MUITO tempo.
Não estaremos mais aqui.
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