Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Na segunda metade do século 19, a Inquisição já não assustava ninguém. Foi a época em que Darwin publicou suas teorias sobre a evolução das espécies que contradiziam a Bíblia. Foi a época em que, usando a lógica para se analisarem obras clássicas como “A Ilíada” à luz dos conhecimentos históricos e geográficos disponíveis, cidades como Troia foram localizadas e desenterradas. Isto levou arqueólogos, historiadores e outros intelectuais a analisar todo e qualquer documento antigo em busca de segredos escondidos. Inclusive a Bíblia, que até então estivera mais ou menos protegida da contestação.
Capítulo 12 - O Santo Ofício

[...]

Se se achava particularmente vulnerável no mundo secular, porém, a Igreja julgava-se recém-armada e equipada em outras esferas. A doutrina da infalibilidade papal fornecia, quando nada, um baluarte aparentemente inexpugnável contra os avanços e invasões da ciência. Para os fiéis, pelo menos, a infalibilidade se antecipava e impedia qualquer debate. Embora a Igreja não derrotasse a adversária, era poupada de ser derrotada ela própria, por ser impedida de ao menos entrar na arena. Para os católicos devotos, a infalibilidade papal constituía uma nova “rocha” contra a qual a maré da ciência, lançada pelo demônio, só podia quebrar-se em vão.

Contra a ciência, a Igreja podia assim empenhar-se numa contínua série de ações de contenção. Contra os outros principais adversários no mundo das ideias - isto é, contra as pesquisas dos estudos históricos, arqueológicos e bíblicos - acreditava que podia passar à ofensiva. Essa convicção ia levar ao vexaminoso embaraço do Movimento Modernista católico.

O Movimento Modernista surgiu do desejo específico de enfrentar as depredações causadas na escritura por comentaristas como Renan, e pelos estudos bíblicos alemães. Com o Modernismo, a nova Igreja Militante - uma Igreja Militante na esfera da mente - tentou lançar uma contraofensiva. Os modernistas destinavam-se originalmente a empregar o rigor, a disciplina e precisão da metodologia alemã, não para contestar a escritura, mas para defendê-la e apoiá-la. Uma geração de estudiosos católicos foi trabalhosamente formada e preparada para fornecer ao Papado o equivalente a uma força de ataque acadêmica, um quadro determinadamente formado para fortalecer a verdade literal da escritura com toda a artilharia pesada das mais atualizadas técnicas e procedimentos críticos. Como os dominicanos do século XIII e os jesuítas do século XVI, os modernistas foram mobilizados para lançar uma cruzada que recuperasse território perdido.

Para frustração e humilhação de Roma, porém, o tiro da campanha saiu pela culatra. Quanto mais a Igreja se esforçava por equipar os jovens clérigos com os instrumentos necessários ao combate na moderna arena polêmica, mais esses mesmos clérigos passavam a desertar da causa para a qual haviam sido recrutados. O meticuloso escrutínio da Bíblia revelou uma pletora de discrepâncias, inconsistências e repercussões alarmantemente inimigas do dogma oficial - e lançou a doutrina da infalibilidade papal numa luz cada vez mais dúbia. Antes que qualquer um compreendesse o que se passava, os próprios modernistas já haviam começado, com suas dúvidas e questões, a corroer e subverter as posições mesmas que deveriam defender. Também passaram a contestar a centralização de autoridade da Igreja.

Assim, por exemplo, Alfred Loisy, um dos mais famosos e respeitados modernistas, perguntou publicamente como ainda se podia sustentar certas doutrinas de Roma na esteira da pesquisa bíblica e arqueológica contemporânea. “Jesus proclamou o advento do Reino”, afirmou Loisy, ecoando o Grande Inquisidor de Dostoiévski, “mas o que adveio foi a Igreja.”’ Ele demonstrou que muitos pontos do dogma se haviam cristalizado como reações historicamente determinadas a acontecimentos específicos, em lugares e épocas específicos. Não deviam, portanto, ser vistos como verdades fixas e imutáveis, mas, na melhor das hipóteses, como símbolos. Segundo Loisy, premissas básicas da doutrina cristã como o Parto Virgem e a divindade de Jesus não eram mais sustentáveis como acontecimentos literais.

Em 1893, Loisy foi demitido de seu cargo de professor, mas isso não resgatou a situação porque ele continuou vociferante e prolífico. Em relação a Loisy e a seus colegas modernistas, a Igreja estava no dilema do incendiário preso no prédio a que ele próprio ateou fogo. O modernismo não era mais apenas embaraçoso. Demonstrava uma capacidade de tornar-se verdadeiramente perturbador e destrutivo.

Em 1902, nove meses antes de morrer, o Papa Leão XIII criou a Pontifícia Comissão Bíblica, para supervisionar e controlar a obra dos estudiosos católicos da escritura. Oficialmente, a tarefa da Comissão era “lutar... com todo o cuidado possível para que as palavras de Deus.., sejam escudadas não apenas de qualquer bafejo de erro, mas até mesmo de qualquer opinião precipitada”.2 Era assegurar que os estudiosos “se esforcem por salvaguardar a autoridade da escritura e promover sua correta interpretação”.3

[...]
Fonte: “A Inquisição” - Michael Baigent & Richard Leigh
Editora Imago

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Fernando Silva
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Capítulo 13 - Como nasceu o Movimento Modernista Católico

Até a primeira metade do século 19, a igreja católica mantinha sua autoridade quase absoluta
sobre artigos de fé, além de considerável poder temporal sobre os países da Europa, inclusive
pelo medo da Inquisição. Mas, na segunda metade, começou a decadência. Os progressos da
arqueologia e a análise metódica e científica dos resultados fizeram que aos poucos as lendas
fossem separadas da realidade. Heinrich Schlieman, um dos precursores, anunciou a existência
da mítica cidade de Tróia com base no estudo criterioso dos épicos de Homero e, em 1868,
encontrou-a exatamente onde havia previsto. Seu sucesso encorajou outras investigações e
finalmente as próprias escrituras começaram a ser analisadas. O teólogo e historiador francês
Ernest Renan começou a questionar a verdade literal dos ensinamentos cristãos, acabando por
abandonar o seminário e sua vocação religiosa. Após pesquisas arqueológicas na Palestina e
Síria, publicou "A vida de Jesus", onde descrevia Jesus como "um homem incomparável" mas mortal
e não-divino. Este livro foi um dos seis mais vendidos em todo o século passado e nunca deixou
de ser reeditado. Tornou Renan tão conhecido quanto Freud ou Jung são hoje e modificou a maneira
de se estudar a Bíblia. Suas obras seguintes, "História das origens do cristianismo" e "História
do povo de Israel" produziram uma mudança de mentalidade que a Igreja nunca mais conseguiu
reverter. E ela continuava sob ataque: Darwin publicou "A origem das espécies" e a "Descendência
do homem", inaugurando a fase do agnosticismo inglês (Thomas Huxley e Herbert Spencer). Outros
filósofos, como Nietzsche e Schopenhauer, também desafiavam abertamente a doutrina cristã. No
campo político, mais derrotas: a Prússia venceu a França na guerra de 1870-72 e criou o
Império Alemão. Pela primeira vez na história moderna, uma potência militar européia ignorava a
autoridade de Roma, oficializando a religião luterana. Em 1870, Garibaldi unificou a Itália e
capturou Roma, reduzindo o território papal e separando Estado e Igreja.

Em reação a este ataque vindo de todos os lados, o maior desde a reforma de Lutero, a Igreja
tentou acordos políticos com potências nominalmente católicas, como os Habsburgos, sem sucesso.
Em desespero, o papa Pio IX decretou, em 18 de julho de 1870, no Primeiro Concílio Vaticano,
o dogma da infalibilidade papal. E, para fazer frente aos ataques devastadores às escrituras
desfechados por cientistas e filósofos, a Igreja convocou seu próprio exército de estudiosos,
a elite da intelectualidade católica, para enfrentar os adversários em seu próprio campo.
Nascia assim o Movimento Católico Modernista.

Seu objetivo era usar as armas do rigor e da precisão da metodologia germânica, não para
desafiar as escrituras, mas para defender sua verdade literal. Uma geração de religiosos
especialistas foi treinada e preparada à luz dos conhecimentos críticos mais recentes. O tiro,
entretanto, saiu pela culatra. Quanto mais os jovens religiosos eram preparados para a luta,
mais eles desertavam, ao perceber na Bíblia as inconsistências, discrepâncias e implicações
contrárias aos dogmas de Roma. Os Modernistas logo começaram a questionar e subverter o que se
esperava que defendessem. Alfred Loisy, por exemplo, um dos mais prestigiados modernistas,
questionava abertamente a virgindade de Maria e a divindade de Jesus.

Percebendo que haviam criado um monstro, o papa Leão XIII criou em 1903 a Comissão Bíblica
Pontifícia para supervisionar o trabalho dos Modernistas. No mesmo ano, seu sucessor Pio X
incluiu as obras de Loisy no Index e, em 1904, divulgou duas encíclicas opondo-se ao
questionamento das origens e da história do cristianismo. Todos os professores católicos
suspeitos de "tendências modernistas" foram demitidos.

Entretanto, os Modernistas constituíam o grupo mais culto, erudito e articulado dentro da
Igreja e não tardaram em revidar. Antonio Folgazzaro, em seu livro "O Santo" (1905),
escreveu: "A Igreja Católica, se autoproclamando a fonte da verdade, hoje se opõe à procura
dessa mesma verdade, quando seus fundamentos, os livros sagrados, as fórmulas de seus dogmas,
sua pretensa infalibilidade passam a ser objeto de pesquisas. Para nós, isto significa que
ela não tem mais fé em si mesma". Este livro foi imediatamente incluído no Index e a campanha
da Igreja contra o movimento que ela mesma havia criado foi se intensificando.

Em julho de 1907, o Santo Ofício publicou um decreto condenando oficialmente as tentativas dos
Modernistas de questionar a doutrina da Igreja, a autoridade do papa e a veracidade histórica
da Bíblia. Dois meses depois, o Modernismo foi declarado herético e formalmente proibido.
O número de livros no Index cresceu drasticamente e uma nova censura, muito mais rigorosa,
foi instituída. Comissários clericais controlavam o ensino com uma severidade doutrinal que
não se via desde a Idade Média.

Finalmente, em 1910, decretou-se que todos os católicos ligados ao ensino ou à prédica jurassem
renunciar "a todos os erros do Modernismo". Escritores modernistas foram excomungados e os
alunos de seminários e cursos de teologia eram proibidos até de ler jornais.
(condensado de "As intrigas em torno dos manuscritos do Mar Morto", de Michael Baigent e Richard
Leigh)

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Fernando Silva
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Em 1907, diante do Movimento Modernista, que questionava a autoridade da ICAR, a historicidade da Bíblia e considerava que a Igreja era inimiga do progresso da ciência, o papa Pio X publicou um decreto sobre os erros do Modernismo e decretou que todos os padres e professores católicos deveriam fazer o Juramento Antimodernista.
Decreto "Lamentabili Sine Exitu"

Quarta-feira, 3 de julho de 1907

Com êxito verdadeiramente lamentável, a nossa idade, desmandando-se no indagar as razões supremas das coisas, vai não raras vezes atrás de novidades por tal forma, que deixa de parte o que é como herança do gênero humano, para se precipitar em erros gravíssimos. Erros esses que serão muito mais perniciosos, quando se trata das ciências sagradas, ou da interpretação da Sagrada Escritura, ou dos principais mistérios da fé.

E é para lamentar profundamente que também entre os católicos se encontrem não poucos escritos que, ultrapassando os limites demarcados pelos santos Padres e pela própria Santa Igreja, a pretexto de mais elevados conhecimentos e em nome de considerações históricas, procuram esse progresso dos dogmas, que, na realidade, não é senão a sua corruptela.

Para impedir que esses erros, que todos os dias se vão difundindo entre os fiéis, criem raízes em seus corações e corrompam a sinceridade de sua fé, aprouve a nosso Santíssimo Padre por divina providência Papa Pio X que, por ofício desta Sagrada Inquisição Romana e Universal, fossem notados e condenados os principais dentre esses erros.

Por isso, depois de diligentíssimo exame e do parecer prévio dos Reverendos Senhores Consultores, os Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais, Inquisidores Gerais em matéria de fé e de costumes, julgaram que deviam ser condenadas e proscritas, como de fato ficam condenadas e proscritas as seguintes proposições:

Trecho (itens 57 a 65):

EVOLUCIONISMO ABSOLUTO E ILIMITADO

57 A Igreja mostra-se inimiga dos progressos das ciências naturais e teológicas.

58 A verdade não é mais imutável que o homem, pois que evolui com ele, nele e por ele.

59 Cristo não ensinou um determinado corpo de doutrina, aplicável a todos os tempos e a todos os homens; inaugurou em vez disso, certo movimento religioso que se adapta, ou que deve ser adaptado aos diversos tempos e lugares.

60 A doutrina cristã, em seu princípio, foi judaica; mas, por sucessivas evoluções tornou-se primeiro paulina, depois joânica, e finalmente helênica e universal.

61 Pode-se dizer, sem paradoxo que nenhum capítulo da Escritura, desde o primeiro do Gênesis até o último do Apocalipse, contém doutrina inteiramente idêntica à que sobre o mesmo ponto ensina a Igreja; e por conseguinte nenhum capítulo da Escritura tem o mesmo sentido para o crítico e para o teólogo.

62 Os principais artigos do Símbolo dos Apóstolos não tinham a mesma significação entre os cristãos dos primeiros tempos do que a que tem entre os cristãos de nossos dias.

63 A Igreja se mostra incapaz de defender eficazmente a moral evangélica, porque adere obstinadamente a doutrinas imutáveis que não podem conciliar-se com o progresso moderno.

64 O progresso das ciências exige que se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, sobre a Criação, sobre a Revelação, sobre a Pessoa do Verbo Encarnado e sobre a Redenção.

65 O catolicismo atual não pode conciliar-se com a verdadeira ciência, a não ser que se transforme num cristianismo sem dogmas, isto é, num protestantismo amplo e liberal.

E na quinta-feira imediata, dia 4 do mesmo mês e ano, tendo-se feito de tudo isto minuciosa relação a nosso Ssmo. Padre, o Papa Pio X, Sua Santidade aprovou e confirmou o Decreto dos Eminentíssimos Padres e mandou que todas e cada uma das proposições acima referidas fossem tidas por todos como condenadas e proscritas.

PEDRO PALOMBELLI
Notário da S. I. R. U
Fonte:
"Lamentabili Sine Exitu"
MONTFORT Associação Cultural
https://www.montfort.org.br/bra/documen ... ntabili/#6

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Texto do Juramento Antimodernista.
Parte do MOTU PROPRIO SACRORUM ANTISTITUM*. Para ser jurado por todos os clérigos, pastores, confessores, pregadores, superiores religiosos e professores em seminários filosóficos-teológicos. - Obrigação rescindida em 1967 pelo Papa Paulo VI.

Papa São Pio X - 1 de setembro de 1910

JURAMENTO CONTRA O MODERNISMO

Eu, ______________, firmemente abraço e aceito cada uma e todas as definições feitas e declaradas pela autoridade inerrante da Igreja, especialmente estas verdades principais que são diretamente opostas aos erros deste dia.

Antes de mais nada eu professo que Deus, a origem e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão a partir do mundo criado (Cf Rom. 1,90), ou seja, dos trabalhos visíveis da Criação, como uma causa a partir de seus efeitos, e que, portanto, Sua existência também pode ser demonstrada.

Segundo: eu aceito e reconheço as provas exteriores da revelação, ou seja, os atos divinos e especialmente os milagres e profecias como os sinais mais seguros da origem divina da Religião cristã e considero estas mesmas provas bem adaptadas à compreensão de todas as eras e de todos os homens, até mesmo os de agora.

Terceiro, eu acredito com fé igualmente firme que a Igreja, Guardiã e mestra da Palavra Revelada, foi instituída pessoalmente pelo Cristo histórico e real quando Ele viveu entre nós, e que a Igreja foi construída sobre Pedro, o príncipe da hierarquia apostólica, e seus sucessores pela duração dos tempos.

Quarto: eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente.

Quinto: eu mantenho com certeza e confesso sinceramente que a Fé não é um sentimento cego de religião que se alevanta das profundezas do subconsciente pelo impulso do coração e pela moção da vontade treinada para a moralidade, mas um genuíno assentimento da inteligência com a Verdade recebida oralmente de uma fonte externa. Por este assentimento, devido à autoridade do Deus supremamente verdadeiro, acreditamos ser Verdade o que foi revelado e atestado por um Deus pessoal, nosso Criador e Senhor.

Além disso, com a devida reverência, eu me submeto e adiro com todo o meu coração às condenações, declarações e todas as proibições contidas na encíclica Pascendi e no decreto Lamentabili, especialmente as que dizem respeito ao que é conhecido como a história dos dogmas.

Também rejeito o erro daqueles que dizem que a Fé mantida pela Igreja pode contradizer a história, e que os dogmas católicos, no sentido em que são agora entendidos, são irreconciliáveis com uma visão mais realista das origens da Religião cristã.

Também condeno e rejeito a opinião dos que dizem que um cristão erudito assume uma dupla personalidade - a de um crente e ao mesmo tempo a de um historiador, como se fosse permissível a um historiador manter coisas que contradizem a Fé do crente, ou estabelecer premissas que, desde que não haja negação direta dos dogmas, levariam à conclusão de que os dogmas são falsos ou duvidosos.

Do mesmo modo, eu rejeito o método de julgar e interpretar a Sagrada Escritura que, afastando-se da Tradição da Igreja, da analogia da Fé e das normas da Sé Apostólica, abraça as falsas representações dos racionalistas e sem prudência ou restrição adota a crítica textual como norma única e suprema.

Além disso, eu rejeito a opinião dos que mantém que um professor ensinando ou escrevendo sobre um assunto histórico-teológico deve antes colocar de lado qualquer opinião preconcebida sobre a origem sobrenatural da Tradição católica ou a promessa divina de ajudar a preservar para sempre toda a Verdade Revelada; e que ele deveria então interpretar os escritos dos Padres apenas por princípios científicos, excluindo toda autoridade sagrada, e com a mesma liberdade de julgamento que é comum na investigação de todos os documentos históricos profanos.

Finalmente, declaro que sou completamente oposto ao erro dos modernistas, que mantém nada haver de divino na Tradição sagrada; ou, o que é muito pior, dizer que há, mas em um sentido panteísta, com o resultado de nada restar a não ser este fato simples - a colocar no mesmo plano com os fatos comuns da história - o fato, precisamente, de que um grupo de homens, por seu próprio trabalho, talento e qualidades continuaram ao longo dos tempos subsequentes uma escola iniciada por Cristo e por Seus Apóstolos.

Prometo que manterei todos estes artigos fielmente, inteiramente e sinceramente e os guardarei invioladas, sem me desviar em nenhuma maneira por palavras ou por escrito. Isto eu prometo, assim eu juro, para isso Deus me ajude, e os Santos Evangelhos de Deus que agora toco com minha mão.
https://www.montfort.org.br/bra/documen ... odernismo/

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

fenrir
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Mensagem por fenrir »

Otima contribuição! Nao tinha conhecimento desse movimento e desse baita tiro no pe da ICAR.
Isso da mais força ao argumento de que
o estudo aprofundado do livro tem como desfecho a morte da fé do sujeito.
Aposto que vale para todos os outros livros da concorrencia tambem. Quer ve-los pelo que eles são e sempre foram? Fábulas, mitologia, superstição?
Basta tirar o veu da fé e devoção de cima deles e olha-los com uma lupa.
Nao da nem para dizer que havia uma agenda antireligiosa, anti-ICAR em acao pois que o movimento veio da propria esfera que queria defender os dogmas de estimacao da ICAR, bem no seio dela e com selo papal.
E na verdade havia uma agenda sim, mas no sentido de defender os dogmas, nao de questiona-los.
Mais constrangedor e revelador que isso é difícil.

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

fenrir escreveu:
Dom, 11 Dezembro 2022 - 07:16 am
Otima contribuição! Nao tinha conhecimento desse movimento e desse baita tiro no pe da ICAR.
Isso da mais força ao argumento de que
o estudo aprofundado do livro tem como desfecho a morte da fé do sujeito.
Aposto que vale para todos os outros livros da concorrencia tambem. Quer ve-los pelo que eles são e sempre foram? Fábulas, mitologia, superstição?
Basta tirar o veu da fé e devoção de cima deles e olha-los com uma lupa.
Nao da nem para dizer que havia uma agenda antireligiosa, anti-ICAR em acao pois que o movimento veio da propria esfera que queria defender os dogmas de estimacao da ICAR, bem no seio dela e com selo papal.
E na verdade havia uma agenda sim, mas no sentido de defender os dogmas, nao de questiona-los.
Mais constrangedor e revelador que isso é difícil.
A confiança ingênua em que os especialistas católicos provariam que a Bíblia diz a verdade mostra que nem mesmo a cúpula da ICAR conhecia as escrituras. Estavam cegos pela fé.

Algo semelhante ocorreu com os manuscritos do Mar Morto: no início, a ICAR deixou que estudiosos de todo o mundo analisassem os documentos. Quando apareceram indícios de que havia coisas que contradiziam a doutrina aceita, sentaram em cima e nomearam uma equipe reduzida para continuar os estudos, publicando de vez em quando uma versão conveniente do que haviam descoberto. Isto continuou por muito tempo até que alguém copiou os microfilmes e liberou para todo mundo.

Quanto aos livros da concorrência, postei uns três artigos que mostram que a historicidade de Maomé é questionável, que o Corão foi montado aos poucos ao longo dos séculos e sofreu alterações e que não dá para levar a sério os "fatos" científicos que o livro descreve.

Re: Movimento Modernista - quando a ICAR deu um tiro no pé

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

fenrir escreveu:
Dom, 11 Dezembro 2022 - 07:16 am
Otima contribuição! Nao tinha conhecimento desse movimento e desse baita tiro no pe da ICAR.


Sim, eu também agradeço.
Excelente contribuição e esclarecimento sobre o que aconteceu quando se pensou em "revelar" novos achados.
Expressão equivalente, mas menos usada: "Bola nas costas".
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