Revelação
Enviado: Qua, 17 Março 2021 - 15:18 pm
Proponho discutir o assunto prescindindo (pelo menos num primeiro momento) de questionar se existe ou nao deus, se é ou não único, etc.
É óbvio que eu e muitos aqui vão negar a realidade destas coisas e temos boas razões para isso.
Para demonstrar meu ponto não preciso ter esses fatos em consideração.
Me ocorreu, em virtude do que li recentemente, como já mencionei várias vezes, por ex. em livros do Bart Ehrman
que a chamada revelação perdeu qualquer significado: é como um castelo de cartas.
Revelação seria algo que veio do alto, o qual o homem não teria acesso por seus próprios meios dado que sua razão é limitada, sujeita a erros, etc.
Logo, faz-se necessária uma "ajuda do alto".
E o objeto dela seriam dogmas tais como trindade, encarnação, etc. Os quais a razão não conseguiria explicar, somente justificar.
O fato é que não se pode afirmar que estes dogmas estivessem presentes nas primeiras redações dos evangelhos, como tambem que não tenham sido sensivelmente adulterados e finalmente que não houvesse mais de uma explicação (mutualmente excludente) para cada qual...
Há fortes indícios, materiais inclusive, de que não estavam.
Exemplos:
1) Se não me engano não havia nada de claro e explícito acerca de trindade nos evangelhos canônicos. Essa doutrina passou a tomar mais forma depois de Tertuliano, ou seja, depois da redação dos evangelhos, ao menos dos canônicos.
2) Não havia nenhum consenso no que diz respeito a encarnação: para uns JC era uma pessoa comum de carne o osso que deus utilizou para seus propósitos, para outros era totalmente divino e sua aparencia fisica era ilusoria, para outros enfim era ambas as coisas...
3) Ressureição e nascimento de virgem não constavam em versões mais antigas dos evangelhos encontradas em Nag Hammadi e muito provavelmente foram acrescidos depois (para ajustar-se as profecias correntes das época precedentes sobre quais características um tal messias teria de ter - acho que o Fernando postou algo nesse sentido: inscrições encontradas numa pedra).
e por ai vai
Ora, que revelação é essa que foi construida em cima de bases tão pouco sólidas, pergunto?
Dada a natureza da coisa - revelação divina - eu esperaria algo mais certo e bem-definido.
Um interlocutor poderia argumentar que ocorreu apenas em um ou alguns escritores e não em outros, ou mais em uns que em outros.
Como saber disso? Se precisou de ajuda divina para conhecer a tal revelação, a mim parece ser tambem necessária ajuda divina para discriminar se o que vem na mente de um desses escritores em particular ou na mente de outros é ou não é parte dessa revelação e o problema se torna mais complexo em vez de clarificar...
Óbvio que depois de uns 3 séculos, após o concílio de Nicéia, as coisas se tornaram definitivas, canônicas...
Levou 3 séculos para definirem tudo, mesmo com deus soprando nos ouvidos e ainda assim, dada a natureza do problema, não dá para saber se a conclusão a que chegaram corresponde de fato a revelação.
Óbvio que vão dizer que sim, mas outros (os chamados heresiarcas pelo lado que prevaleceu, por ex) diriam que eles é quem a conheceram.
E, de novo repito, se o conteúdo da revelação é de tal natureza que precisou ser ditado/inspirado por uma divindade,
julgar se uma das revelações é a *verdadeira* revelação necessitaria ainda mais desse auxílio e o julgamento desse julgamento ainda mais e daí em diante...
É óbvio que eu e muitos aqui vão negar a realidade destas coisas e temos boas razões para isso.
Para demonstrar meu ponto não preciso ter esses fatos em consideração.
Me ocorreu, em virtude do que li recentemente, como já mencionei várias vezes, por ex. em livros do Bart Ehrman
que a chamada revelação perdeu qualquer significado: é como um castelo de cartas.
Revelação seria algo que veio do alto, o qual o homem não teria acesso por seus próprios meios dado que sua razão é limitada, sujeita a erros, etc.
Logo, faz-se necessária uma "ajuda do alto".
E o objeto dela seriam dogmas tais como trindade, encarnação, etc. Os quais a razão não conseguiria explicar, somente justificar.
O fato é que não se pode afirmar que estes dogmas estivessem presentes nas primeiras redações dos evangelhos, como tambem que não tenham sido sensivelmente adulterados e finalmente que não houvesse mais de uma explicação (mutualmente excludente) para cada qual...
Há fortes indícios, materiais inclusive, de que não estavam.
Exemplos:
1) Se não me engano não havia nada de claro e explícito acerca de trindade nos evangelhos canônicos. Essa doutrina passou a tomar mais forma depois de Tertuliano, ou seja, depois da redação dos evangelhos, ao menos dos canônicos.
2) Não havia nenhum consenso no que diz respeito a encarnação: para uns JC era uma pessoa comum de carne o osso que deus utilizou para seus propósitos, para outros era totalmente divino e sua aparencia fisica era ilusoria, para outros enfim era ambas as coisas...
3) Ressureição e nascimento de virgem não constavam em versões mais antigas dos evangelhos encontradas em Nag Hammadi e muito provavelmente foram acrescidos depois (para ajustar-se as profecias correntes das época precedentes sobre quais características um tal messias teria de ter - acho que o Fernando postou algo nesse sentido: inscrições encontradas numa pedra).
e por ai vai
Ora, que revelação é essa que foi construida em cima de bases tão pouco sólidas, pergunto?
Dada a natureza da coisa - revelação divina - eu esperaria algo mais certo e bem-definido.
Um interlocutor poderia argumentar que ocorreu apenas em um ou alguns escritores e não em outros, ou mais em uns que em outros.
Como saber disso? Se precisou de ajuda divina para conhecer a tal revelação, a mim parece ser tambem necessária ajuda divina para discriminar se o que vem na mente de um desses escritores em particular ou na mente de outros é ou não é parte dessa revelação e o problema se torna mais complexo em vez de clarificar...
Óbvio que depois de uns 3 séculos, após o concílio de Nicéia, as coisas se tornaram definitivas, canônicas...
Levou 3 séculos para definirem tudo, mesmo com deus soprando nos ouvidos e ainda assim, dada a natureza do problema, não dá para saber se a conclusão a que chegaram corresponde de fato a revelação.
Óbvio que vão dizer que sim, mas outros (os chamados heresiarcas pelo lado que prevaleceu, por ex) diriam que eles é quem a conheceram.
E, de novo repito, se o conteúdo da revelação é de tal natureza que precisou ser ditado/inspirado por uma divindade,
julgar se uma das revelações é a *verdadeira* revelação necessitaria ainda mais desse auxílio e o julgamento desse julgamento ainda mais e daí em diante...