Fernando Silva escreveu: ↑Sáb, 22 Março 2025 - 09:44 am
Cal Kestis escreveu: ↑Sáb, 22 Março 2025 - 09:06 am
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O Livro dos Espíritos - Das leis morais » Lei de liberdade » Escravidão
831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças mais inteligentes?
“Sim, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante longo tempo, os homens consideraram certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro os que assim procedem. Insensatos! Nada vêem senão a matéria. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito.” (361-803)
Isto resume a posição espírita: "Há raças inferiores, mas as raças superiores não têm o direito de escravizá-las".
Não é isso, de fato, o que ocorreu na história da humanidade e ainda persiste hoje? A desigualdade das aptidões não levou certos povos a ficarem sob a dependência de outros mais desenvolvidos? A diferença é que a posição espírita não se resume a isso. Ela condena de maneira inequívoca o uso dessas desigualdades como justificativa para a opressão ou escravização. Pelo contrário, a doutrina refuta veementemente essas distorções, afirmando que todas as raças e povos possuem o mesmo valor espiritual e merecem ser tratados com igualdade e fraternidade.
Curiosamente, o que muitos ignoram é que o combate do espiritismo ao racismo e à escravidão se dava justamente contra as ideias das correntes materialistas da época —
os ateus daquele período —, como a frenologia e a eugenia, pseudociências exclusivamente materialistas que justificavam a opressão racial, as castas e o racismo. Nunca vi até hoje nenhum ateu condenar essas ideias, embora utilizem os textos de Kardec do século 19 para acusá-lo de racismo. Eles não reconhecem que essas ideias, como a eugenia e a frenologia, são crenças materialistas, diretamente ligadas ao racismo e que Kardec estava combatendo justamente por isso. Tentam desviar o foco, acusando Kardec de racista, enquanto escondem o fato de que o verdadeiro racismo da época era alimentado por essas correntes pseudocientíficas materialistas (ateias), que o espiritismo refutava veementemente, introduzindo elementos espirituais que atribuíram um maior sentido à evolução humana, sem justificar o racismo, ao contrário das ideias materialistas.
Um exemplo claro dessas ideias ateias, que beiram o absurdo e eram aceitas na época, pode ser encontrado na Revista Espírita de 1861, no artigo intitulado 'A Cabeça de Garibaldi'. Nele, Allan Kardec menciona uma carta publicada em um periódico francês por um médico altamente respeitado da época, o Dr. Riboli, que se identificava como materialista.
O Dr. Riboli acha que a organização cerebral de Garibaldi corresponde perfeitamente a todas as eminentes faculdades morais e intelectuais que o distinguem e aduz:
“Podeis sorrir de meu fanatismo, mas posso assegurar-vos que os momentos que passei examinando essa cabeça notável foram os mais felizes de minha vida. Eu vi, meu caro amigo, eu vi esse grande homem dar como uma criança a tudo quanto eu lhe pedia. Essa cabeça, que contém um mundo, eu segurei em minhas mãos durante mais de vinte minutos, sentindo a cada instante ressaltar sob os meus dedos as desigualdades e os contrastes de seu gênio...
“Garibaldi tem 1 metro e 64 centímetros de altura. Medi todas as proporções: a largura das espáduas, o comprimento dos braços e das pernas, a grossura do tronco. Numa palavra, é um homem bem proporcionado, forte e de temperamento nervoso sanguíneo.
“O volume da cabeça é notável. A principal fenomenalidade é a altura do crânio, medida da orelha ao alto da cabeça, que é de 20 centímetros. Esta predominância particular de toda a parte superior da cabeça denota, à primeira vista, e sem exame prévio, uma organização excepcional. O desenvolvimento do crânio na parte superior, sede dos sentimentos, indica a preponderância de todas as faculdades nobres sobre os instintos. A craniologia da cabeça de Garibaldi logo apresenta, após o exame, uma fenomenalidade original das mais raras, pode-se dizer sem precedentes. A harmonia de todos os órgãos é perfeita e a resultante matemática de seu conjunto apresenta, antes de tudo: a abnegação antes de tudo e em tudo; a prudência e o sangue frio; a natural austeridade dos costumes; a meditação quase contínua; a eloquência grave e exata; a lealdade dominante; sua deferência incrível com os amigos, a ponto de sofrer com isto; sua perceptibilidade a respeito dos homens que o cercam é, sobretudo, dominante.
“Numa palavra, meu caro, sem vos aborrecer com todas as comparações, com todos os contrastes da causalidade, da habitatividade, da construtividade, da destrutividade[1], é uma cabeça maravilhosa, orgânica, sem desfalecimentos, que a Ciência estudará e tomará por modelo, etc.”
Essas eram as ideias materialistas (ateias) que dominavam a ciência da época e contra as quais o Espiritismo se opunha. No entanto, os ateus frequentemente distorcem esses fatos para ocultar essa realidade.