Vestido novo
‘O antissemitismo atual transformou-se no preconceito contra e na demonização do Estado judeu’, diz Pilar Rahola
Carlos Alberto Sardenberg 18/11/2023
A jornalista iraniana Narges Mohammadi ganhou o Nobel da Paz deste ano. Não poderá recebê-lo. Está presa, condenada por “propaganda contra o Estado”, um crime de opinião. Não atirou bombas, nunca conspirou. Sua pena é de dez anos e nove meses, parte do tempo em confinamento solitário. Mais exatas 154 chicotadas. Não se sabe se foi chicoteada. O governo não presta qualquer informação.
No início deste mês, a representação do Irã na ONU foi designada para a presidência do Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos. O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, é o responsável direto pela execução de dissidentes e adversários. No final do ano passado, a jovem Mahsa Amini morreu num presídio, para onde fora levada pelo crime de não usar corretamente o véu. Mulheres e homens iranianos protestaram nas ruas. Muitos foram mortos.
O Irã sustenta e financia o Hamas, com o fim declarado de varrer o Estado de Israel e matar os judeus. O Irã jamais seria admitido na União Europeia. A comunidade não acolhe ditaduras. Também não acolhe países cujas legislações incluem discriminação por sexo, raça, religião, posições políticas. Exige, sem concessões, o respeito aos direitos das mulheres.
O Irã foi recentemente admitido no Brics, na origem formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O presidente Lula saudou o presidente Ebrahim Raisi. O PT havia parabenizado Raisi por sua eleição — duvidosa, sem observadores internacionais.
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As manifestações que a esquerda vem promovendo mundo afora defendem o Hamas e o Irã, apoiam a Rússia contra a Ucrânia, esta considerada cabeça de ponte do Ocidente “imperialista”. Atacam a União Europeia e, especialmente, os Estados Unidos e Israel. Estes são “terroristas” ou aliados deles. Por uma mistura de miopia, ignorância, preconceito e, sim, antissemitismo, a esquerda do Sul Global apoia as ditaduras e seus crimes. E ataca as democracias ocidentais.
Os Estados Unidos formam a maior democracia do mundo. Claro, cometem pecados e erros de política internacional. Mas corrigem lá mesmo. Foram os americanos que acabaram com a Guerra do Vietnã. O presidente Joe Biden diz que a guerra do Iraque foi um equívoco lamentável. Os americanos elegeram Barack Hussein Obama.
Israel é um Estado democrático, com eleições livres e regulares. Há liberdade de imprensa. Árabes podem frequentar suas mesquitas e se elegem para o Parlamento. Claro, comete pecados e erros — o maior deles, no momento, a ocupação da Cisjordânia com os assentamentos.
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Cito a ensaísta espanhola Pilar Rahola: “Israel encarna, na própria carne, o judeu de sempre. Um pária de nação entre as nações, para um povo pária entre os povos. É por isso que o antissemitismo do século XXI foi vestido com o disfarce efetivo da crítica anti-Israel. Toda crítica contra Israel é antissemita? Não. Mas todo o antissemitismo atual transformou-se no preconceito contra e na demonização do Estado judeu. Um vestido novo para um ódio antigo”.