Antifascismo

Área destinada à discussão sobre Laicismo e Política e a imparcialidade do tratamento do Estado às pessoas.
Discussões sobre economia e sistemas econômicos também se encontram aqui.

Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

Antifascismo


O antifascismo é uma forma de agir adotada por alguns movimentos sociais e tem como objetivo combater o avanço do fascismo e de grupos políticos de extrema-direita. Em geral reúne pessoas identificadas com correntes esquerdistas – socialistas, comunistas e anarquistas – para atuar contra o crescimento do movimento fascista, principalmente por meio da ação direta.

Surgiu durante as décadas de 1920 e 1930 no contexto em que o fascismo avançava na Itália e o nazismo avançava na Alemanha. Os grupos antifascistas que se originaram nesses locais fracassaram, mas essa forma de resistência apareceu em outros locais e continua atuando contra essa ideologia política na atualidade.

Acesse também: O nazismo é de direita ou de esquerda?

O que representa o antifascismo?

O antifascismo não é entendido como um movimento político, mas sim como uma forma de ação que indivíduos e movimentos sociais adotam. Também conhecidos como “antifas”, os antifascistas contemporâneos realizam sua luta política por meio da ação direta.


O antifascismo representa uma forma de ação que defende a luta contra o fascismo e a extrema-direita.[1]

A ação direta é uma forma de atuação política em que se reúnem pessoas dispostas a debater um assunto para propor melhorias à sociedade e para encontrar meios de reprimir comportamentos que são reprováveis e que colocam outras pessoas em risco. É uma medida de atuação autônoma e geralmente acontece sem o envolvimento de grandes partidos políticos.

Os antifascistas, em geral, estão ligados com ideologias políticas da esquerda, que são o anarquismo, o socialismo e o comunismo. Esses grupos foram os que coordenaram a criação do antifascismo nas décadas de 1920 e 1930 na luta contra o totalitarismo fascista e nazista no continente europeu.

Atualmente, o antifascismo estendeu o seu campo de luta e não limita a sua ação apenas contra os fascistas, mas contra toda prática política de extrema-direita. Além disso, coloca-se contra grupos políticos que representam ameaças para determinados grupos da sociedade, como imigrantes, homossexuais e negros, que são constantemente ameaçados por neonazistas e supremacistas.


Quando surgiu o antifascismo?


O antifascismo foi uma resposta ao crescimento do fascismo na Europa durante as décadas de 1920 e 1930. As primeiras experiências antifascistas significativas aconteceram na Itália e na Alemanha, países que tiveram os maiores regimes fascistas da história. Entretanto, o historiador Mark Bray afirma que podemos identificar um movimento “proto-antifascista” na França, no final do século XIX|1|.

No contexto francês, o país vinha sendo agitado pelo julgamento do capitão Alfred Dreyfus, um militar judeu que foi acusado de divulgar segredos militares da França para a Alemanha. A acusação contra Dreyfus era falsa, mas foi um forte indicativo do crescimento do antissemitismo, não só na França, mas em toda a Europa.

Na França foram formados pequenos grupos de defensores de Dreyfus, os quais ocupavam as ruas para se defender de grupos antissemitas que faziam ataques na França. Esse momento francês era um prelúdio do que aconteceria na Europa nas décadas seguintes. Quando o fascismo tomou a Itália e o nazismo avançou na Alemanha, o antifascismo organizou-se.

O fascismo estruturava-se no continente europeu desde a segunda metade do século XIX, mas foram as condições dadas pelo contexto do pós-Primeira Guerra Mundial que permitiram que essa ideologia política se estabelecesse. Os fatores responsáveis pelo surgimento do fascismo foram os ressentimentos com os resultados da Primeira Guerra, a crise econômica que atingiu alguns países, o temor pelo avanço do socialismo e o desejo de expansão imperialista.

Logo após a Primeira Guerra, ergueram-se diversos grupos militarizados com tendências ultranacionalistas, conservadoras e antissemitas. No cenário italiano, Benito Mussolini liderou o Fascio di Combattimento, criado em 1919, e, na Alemanha, Adolf Hitler liderou o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Os grupos antifascistas que surgiram na Itália e Alemanha foram formados por ação de social-democratas, socialistas, comunistas e anarquistas, que encontraram no antifascismo uma forma de se defender do avanço fascista. O antifascismo nesses países foi uma forma de autodefesa porque a violência promovida pelos fascistas contra esses grupos era muito grande.

Nesses dois países, o crescimento das políticas fascistas ocorreu por meio da ação de grupos militarizados que perseguiam e atacavam seus opositores políticos (os grupos da esquerda em geral). Na Itália, a violência fascista foi realizada pelos bandos de camisas-negras, também conhecidos como squadristi. Na Alemanha, por sua vez, essa violência foi realizada pelas tropas de assalto, a Sturmabteilung ou SA.

Essa violência era canalizada contra socialistas, comunistas e anarquistas, principalmente, e o temor de muitos grupos da sociedade com o socialismo, como liberais que faziam parte das classes médias e elites econômicas, fez com que essa violência fosse bem recebida. No entanto, com o tempo, os fascistas ganharam força suficiente para se voltar até mesmo contra os liberais que apoiavam os ataques contra os socialistas. Agora nós veremos como se deu a resistência antifascista nesses dois locais.

Acesse também: Como os fascistas chegaram ao poder na Itália?

Antifascismo na Itália

A violência fascista na Itália foi o caminho encontrado por Benito Mussolini para impulsionar o crescimento do seu grupo político, o Fascio di Combattimento. Ele soube usar a violência dos squadristi para garantir o crescimento do fascismo e também soube controlá-la para conseguir espaço na política tradicional.

A Itália do pós-Primeira Guerra passava por grande agitação política em razão dos ressentimentos com os poucos ganhos com a Primeira Guerra, crise econômica e crescimento dos socialistas. Tudo isso fez surgir os fascistas, grupo que formava milícias para atacar socialistas no centro e norte da Itália, principalmente.

Nesses locais, os fascistas atacavam pessoas que participavam de greves realizadas por socialistas e escritórios montados por estes, além de agredi-los e ameaçá-los, obrigando muitos a fugirem de suas cidades para garantir a sua segurança. Com isso, o fascismo deixou de ser um movimento com centenas de seguidores em 1919 e passou a ser um partido médio com milhares de seguidores e com cadeiras no Parlamento italiano.

O crescimento do fascismo e sua violência causaram uma reação antifascista na Itália. Essas reações foram espontâneas e vinham de grupos de trabalhadores, sindicalistas, socialistas, entre outros, que se organizavam e adquiriam armas para se defender. A experiência antifascista mais significativa da Itália foi o Arditi del Popolo, liderada por Argo Secondari.

Essa ação antifascista italiana foi autônoma e não tinha ligações partidárias, porque os partidos de esquerda na Itália não aceitavam experiências autônomas e não aprovavam a resistência armada proposta pelo arditismo. Os arditistas formaram verdadeiras forças militares e promoveram grandes combates de rua contra os fascistas.

A força do arditismo, no entanto, durou por apenas um ano, já que o fascismo estava politicamente consolidado, possuindo riqueza material e legitimidade na visão de uma parcela da população italiana. Além disso, a estrutura política da esquerda italiana já tinha sido severamente destruída pelos fascistas. Quando Mussolini chegou ao poder em 1922, a força do Estado foi usada para esmagar a resistência antifascista.

Leia também: Regimes Totalitários – entenda o que são e veja exemplos na história


Antifascismo na Alemanha

O caso alemão foi um pouco diferente do caso italiano porque a resistência antifascista na Alemanha foi, em alguns casos, diretamente controlada por grandes partidos do país. O nazismo surgiu na Alemanha como resultado do ressentimento com a derrota na Primeira Guerra, a crise econômica, o ultranacionalismo, o antissemitismo e o conspiracionismo.


O antifascismo na Alemanha surgiu como autodefesa dos ataques promovidos pelas tropas de assalto, as SA.[2]


Os nazistas, assim como os fascistas, usavam da violência para combater os seus inimigos. No contexto alemão, além de socialistas, comunistas e anarquistas, os social-democratas e os judeus também eram perseguidos. A agitação revolucionária na Alemanha pós-Primeira Guerra era gigantesca e os nazistas aproveitaram-se disso.

O nazismo possuía tropas de assalto, conhecidas no alemão como Sturmabteilung (ou SA), que eram responsáveis por atacar os inimigos do nazismo como forma de intimidá-los. Ao longo da década de 1920, o partido nazista foi crescendo e garantindo mais espaço na política alemã. Quanto mais crescia, maior ficava a violência.

A esquerda alemã até procurou realizar ações para garantir maior presença entre ex-combatentes (um dos grupos que mais encheram as fileiras nazistas), mas os desentendimentos entre diferentes grupos da esquerda impediam que uma reação mais organizada surgisse. Assim, em 1928, o nazismo já possuía 60 mil membros|1|.

Nesse ano mesmo, as forças paramilitares dos nazistas começaram a invadir bairros de socialistas e comunistas e atacar locais de encontro de grupos da esquerda. Um caso simbólico foi realizado por Horst Wessel, um membro da SA que liderou um ataque contra a sede do Partido Comunista Alemão. Wessel acabou sendo atacado pelos comunistas e morreu em 23 de fevereiro de 1930.

Foi o crescimento da violência nazista que fez com que os grupos de esquerda organizassem uma resistência antifascista, sobretudo a partir de 1929. Mesmo com a resistência, o número de comunistas mortos cresceu a partir de 1930. Pelo menos 171 comunistas foram mortos entre 1930 e 1932.|2|

A reação antifascista na Alemanha teve o envolvimento de diferentes grupos, que foram formados com a finalidade de se colocar como uma frente de resistência ao nazismo. Um deles foi a Aliança dos Combatentes da Frente Vermelha, a Roter Frontkämpferbund, que formou milícias para atacar tabernas que serviam de ponto de encontro da SA.

Outro grupo antifascista que foi criado foi a Frente de Aço, controlada pelo Partido Social-Democrata Alemão, mas ela teve uma ação mais contida. O grupo antifascista mais expressivo da Alemanha naquele contexto foi a conhecida Ação Antifascista, a Antifaschistische Aktion, criada pelo Partido Comunista Alemão.

O objetivo da Ação Antifascista era criar uma frente que pudesse reunir comunistas e social-democratas na luta contra o nazismo. Foi esse grupo que desenvolveu o símbolo usado pelos antifascistas contemporâneos. Havia, no entanto, duas diferenças.

As duas bandeiras presentes no símbolo antifascista alemão tinham a cor vermelha.

As bandeiras estavam voltadas para o lado direito.

O antifascismo na Alemanha, assim como o da Itália, fracassou, mas gerou uma reação considerável. Richard J. Evans fala que cerca de 143 nazistas das forças paramilitares foram mortos em combates com milícias antifascistas entre 1930 e 1932|2|. O fracassou ocorreu porque a resistência alemã começou muito tardiamente.

O nazismo já era muito influente em 1930, sendo o segundo maior partido da Alemanha e, portanto, tinha mais recursos para empregar na luta contra os antifascistas. Quando os nazistas chegaram ao poder em janeiro de 1933, Hitler usou a Gestapo para perseguir e destruir as células antifascistas no país.

Acesse também: Principais campos de concentração dos nazistas

Antifascismo contemporâneo

Vimos que o antifascismo surgiu no contexto do aparecimento das ditaduras totalitárias da extrema-direita. A derrota do nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial não significou o fim dessas ideologias. Elas seguiram existindo, no entanto de maneira muito marginalizada. Esse quadro, contudo, tem mudado radicalmente no século XXI, uma vez que os neofascistas adotaram outra estratégia, o que tem feito os ideais fascistas ganharem força no mundo.


Símbolo atual do antifascismo. A cor preta faz menção ao anarquismo, e a cor vermelha, ao socialismo.

O antifascismo continuou atuando na luta contra o fascismo, mas, a partir da segunda metade do século XX, adotou a luta contra a extrema-direita também como parte do movimento. O antifascismo contemporâneo foi dividido por Mark Bray em dois momentos: o primeiro, que se estendeu de 1945 a 2003, e o segundo, que se estendeu de 2003 até a atualidade|1|.

Além da luta contra a extrema-direita, o antifascismo moderno abraçou novas pautas, incluindo ideais antirracistas e anticapitalistas, além de sair em defesa das mulheres e dos direitos dos LGBTIs, etc. Nesse momento, o confronto aberto contra os grupos fascistas e de extrema-direita permaneceu como uma tática empregada em diversos lugares.

Os antifascistas modernos começaram a se inspirar em grupos autonomistas, isto é, aqueles que defendem a autogestão social como forma de organização política da sociedade. A luta antirracista tornou-se um elemento fundamental dos antifascistas, uma vez que, a partir da década de 1960, o fascismo associou-se diretamente com pautas anti-imigração e com grupos de supremacistas.

Foi essa pauta que fez com que grupos como o Asian Youth Movement, o United Black Youth League e o Rock Against Racism surgissem na Inglaterra; o RaRa surgisse na Holanda; e o Anti-Racist Action (ARA), nos Estados Unidos. Alguns desses movimentos tiveram ligação direta com o movimento punk, e o confronto físico contra supremacistas e fascistas foi arma frequente.

A mudança de estratégia dos fascistas a partir do século XXI fez com que essas formas de combate perdessem eficácia, além de ter ocorrido o fortalecimento dos movimentos neofascistas em diferentes locais do mundo.

Atualmente, o neofascismo tem se escondido no populismo de direita. Em geral, os neofascistas negam uma associação direta com símbolos e ideais fascistas, mas, na prática, importam as táticas, defendem os mesmos ideais e secretamente possuem admiração por supremacistas e por figuras conhecidas do nazismo e fascismo.

Na Europa e Estados Unidos, o neofascismo está diretamente ligado com ideais anti-imigração, racistas e islamofóbicos, conquistando muito espaço na política porque, como não há uma associação direta e pública dos populistas de direita com o nazifascismo, muitos não conseguem identificar esse elemento na ideologia dos neofascistas.

Esse cenário em que os neofascistas estão em partidos que conquistam o apoio popular e estão legitimados dentro do debate político faz com que as antigas táticas – confronto aberto e a ocupação dos espaços – sejam ineficazes. Alguns grupos antifascistas têm utilizado o doxxing, a exposição de informações pessoais de fascistas, sendo essa uma forma de atingi-los ao demonstrar publicamente sua ligação com grupos fascistas ou neonazistas.

Ainda assim, existe certa dificuldade dos grupos antifascistas modernos em encontrar formas de se combater esse crescimento da extrema-direita e do neofascismo. Apesar de o movimento antifascista ainda ser pequeno em número, a nova ameaça da extrema-direita e do fascismo tem estimulado o crescimento da reação antifascista na Europa, América do Norte e também no Brasil.

Notas

|1| BRAY, Mark. Antifa: o manual antifascista. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.

|2| EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016, p. 337.

Créditos das imagens:

[1] Paul M. Driftmier e Shutterstock

[2] Everett Historical e Shutterstock


https://brasilescola.uol.com.br/histori ... scismo.htm
Editado pela última vez por JJ_JJ em Qui, 30 Julho 2020 - 22:00 pm, em um total de 2 vezes.

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

Policiais reagem à perseguição política do governo Bolsonaro a opositores

Rafael Duarte
RAFAEL DUARTE

sábado, 25 de julho de 2020, 17:23 0


Policiais do Movimento Antifascismo no Rio Grande do Norte reagiram à confirmação de que o Governo Bolsonaro vem monitorando opositores políticos por meio de uma investigação sigilosa aberta no Ministério da Justiça contra 579 servidores públicos federais e estaduais, a maioria agentes de segurança pública, além de três professores.

As revelações vieram a público com a reportagem “Ação sigilosa do governo mira professores e policiais antifascistas”, publicada na sexta-feira (24) no portal Uol.


Citado na reportagem, o policial civil Pedro Paulo Chaves, o Pedro Chê, chamou de “polícia política” a iniciativa do Ministério da Justiça, atualmente sob o comando de André Mendonça, sucessor do ex-ministro Sérgio Moro:

– Foi revelado o que a gente já sabia, tinha informações inclusive. Que o governo Bolsonaro tinha criado a polícia política para investigar, perseguir e monitorar dissidentes políticos, pessoas que tem alinhamento político diferente. Por óbvio, os Policiais Antifascismo estaria nesse rol de pessoas a serem analisadas”, disse.


MP sugeriu o afastamento do Policial Civil Antifascista, Pedro Paulo Mattos, também conhecido como Pedro Chê
De acordo com a reportagem assinada pelo jornalista Rubens Valente, o ministério da Justiça produziu dossiês com nomes e, em alguns casos, fotografias e endereços de redes sociais das pessoas monitoradas. Uma ação típica e semelhante ao que acontecia na ditadura militar, quando opositores ao regime eram monitorados, perseguidos, presos, torturados e mortos.

O monitoramento vem sendo feito, segundo o portal Uol, pela secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça, uma das cinco pastas subordinadas ao ministro André Mendonça.



Essa não é a primeira vez que Pedro Chê é alvo de uma investigação política. Em abril, o promotor de Justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra abriu inquérito contra ele após o policial gravar um vídeo afirmando que os policiais antifascismo iriam fiscalizar uma carreata pro-Bolsonaro que incentivava a população a romper o isolamento social em Natal.

Na denúncia, o promotor sugere a investigação da Brigada Antifascista a fim de descobrir se o movimento é uma organização paramilitar ou miliciana e também determina a abertura de sindicância para apurar o possível cometimento por policiais civis, de “valer-se do cargo com o fim ostensivo ou velado de obter proveito de natureza político-partidária para si ou para outrem”, transgressão disciplinar prevista no art. 158, II, do Estatuto da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte.

No vídeo gravado para tranquilizar os agentes de Segurança Pública que se ficaram preocupados com as investigações do governo Bolsonaro, Pedro Paulo Chaves reiterou o caráter republicano do movimento antifascismo:

– Não há com o que se preocupar. O movimento em todas as instâncias é republicano, legalista e lícito. As reuniões fechadas acontecem em razão do caráter estratégico de algumas conversas. Mas todos os nossos movimentos são lícitos e republicanos porque somos defensores da democracia e do estado democrático de direito, diferente dos nossos opositores”, disse.

Entidades que pautam a luta em defesa da democracia repudiaram a perseguição política do Governo Bolsonaro contra agentes de segurança pública e professores revelada pela reportagem do Uol. Entre as entidades, se manifestaram a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Associação Brasileira de Imprensa e partidos políticos.


Coordenador Nacional do Movimento dos Policiais Antifascismo, o potiguar Dalchem Viana compara a ação sigilosa do Ministério da Justiça às perseguições da ditadura militar:

– A atividade de monitoramento de oposição, típica das ditaduras. Bolsonaro não precisa de “Golpe”, ele é o próprio golpe na democracia. Esse monitoramento ideológico que se utiliza do aparato da segurança pública só ratifica o nosso Manifesto em que já vivemos um período de ruptura democrática. Na prática, trata-se apenas de mais uma perseguição institucional ao Movimento, visto que o próprio Ministério Público Estadual do Rio Grande do Norte já atuou de modo similar em dossiê que muito se assemelha a relatórios do DOPS no período da Ditadura escancarada. A esquerda não deve esperar o golpe, a ruptura democrática se dá todos os dias através de ações como essas”, pontuou.

Viana ressalta que o movimento dos Policiais Antifascismo no Brasil nasceu em defesa da democracia ameaçada desde o golpe que apeou do palácio do Planalto da então presidenta da República Dilma Rousseff:

– Só se incomoda com a luta Antifascismo quem atua no fascismo e é fascista. A preocupação do Presidente com a luta Antifascismo só comprova o que ele é. Isso não é o Movimento que diz, ele próprio comprova com suas ações”, concluiu.


https://www.saibamais.jor.br/policiais- ... positores/

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

MOVIMENTO POLICIAIS ANTIFASCISMO CONTRA O TERRORISMO DE ESTADO


Nota do Movimento Policiais Antifascismo Contra o Terrorismo de Estado

O fascismo é o ódio organizado em um regime autoritário, belicoso, narcisista e discriminatório. Já se apresentou com diferentes roupagens no século XX, sob Mussolini, Salazar, Hitler, Franco ou Plínio Salgado. Hoje, usurpou o verde-amarelo desfilando em uma sociedade que conserva as marcas e assimetrias de um passado colonial, escravista e violento.

O Movimento Policiais Antifascismo é um coletivo de agentes de segurança pública construído a partir de 2016, que se soma à luta pelo aprofundamento das garantias constitucionais e dos direitos humanos, pela proteção à Democracia e ao Estado de Direito, pelo combate às históricas opressões e pelo reconhecimento do policial enquanto trabalhador. Entre as principais ideias do Movimento Policiais Antifascismo está a de que a política de segurança pública não pode ser tratada como se fosse política de guerra. Esse tipo de concepção belicista é o pretexto que justifica os abusos contra a população mais pobre do país e a manutenção de políticas genocidas contra o povo negro, ao mesmo tempo em que transforma policiais em “guerreiros", privando-os de sua característica fundamental de trabalhadores e de sujeitos de direitos. Acreditamos que apenas policiais plenos de seus direitos conseguirão reconhecer e proteger os direitos dos cidadãos, quando poderão protagonizar a luta pela reestruturação do sistema de segurança pública e mudanças no modelo de polícia brasileiro.

Após quatro anos de existência, com diversas atividades públicas organizadas em todo o território nacional, fomos surpreendidos com a notícia, veiculada por canais de comunicação no último dia 24 de julho de 2020, de que uma ação sigilosa do governo federal estaria sendo urdida por uma unidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública - a Secretaria de Operações Integradas (SEOPI). Tal medida seria uma represália a um manifesto divulgado por este movimento no início de junho, intitulado “Policiais Antifascismo em Defesa da Democracia Popular", assinado por 579 integrantes e apoiadores. Este órgão federal teria produzido um dossiê com nomes, fotografias e endereços daqueles que subscreveram o documento, os quais estariam sendo monitorados.

Ainda, segundo as matérias jornalísticas, neste mesmo dossiê, a SEOPI tentaria interligar as ações do movimento ao terrorismo, na medida que inclui no processo um certo “Manual de terrorismo BR”. Para nós, não é demais lembrar que a construção de um Estado Policial que persegue servidores públicos, trabalhadores e intelectuais sempre configurou, ao longo da história, um modelo político voltado para o terrorismo de Estado.

Nesta esteira, a divulgação da existência do dossiê resultou em repúdio contra o dossiê e manifestações de solidariedade ao Movimento Policiais Antifascismo por parte de diversos segmentos da sociedade, mobilizando defensores e defensoras de direitos humanos, partidos políticos, comunidades religiosas, sindicatos, movimentos sociais, personalidades públicas, parlamentares que compõem o espectro pró-democracia e antifascismo no Brasil, aos quais agradecemos fraternalmente. Ao FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), Anistia Internacional, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Órgãos da altura do Conselho Federal da OAB, Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns e Comissão Interamericana de Direitos Humanos foram alertados e se manifestaram preocupados com a ilegalidade da vigilância perpetrada pelo governo.

Acerca do caso, em nota pública, contrapondo matéria veiculada pelo jornal Estadão, o Ministério da Justiça e Segurança Pública se manifestou informando que tem se pronunciado no sentido de que os servidores da segurança devem se pautar pelos princípios da legalidade e da imparcialidade.

Na perspectiva do Movimento Policiais Antifascismo, esses são justamente os dois princípios agredidos com a deplorável medida persecutória secreta desta pasta, caso venha a se confirmar. De mais a mais, a nota oficial tenta construir uma versão pública de que, supostamente, tal órgão atuaria combatendo inimigos internos que colocam em risco a segurança nacional, prática idêntica à da ditadura militar.

Enquanto trabalhadores que compreendem que liberdade de pensamento e de associação não são crimes, enxergamos como inadmissível o fato de ainda existirem, no seio do Estado democrático de direito, estruturas governamentais que se prestam a reeditar ações similares às dos não memoráveis DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna), se afigurando enquanto instrumentos de perseguição política a opositores, financiados com recursos do povo brasileiro.

Neste sentido, compreendendo que a saúde da democracia é alimentada pelo pluralismo de ideias e que o fascismo é justamente a oposição violenta àqueles que pensam diferente, reafirmamos que exigir respeito à liberdade de pensamento, de crença e de associação, reivindicar melhorias nas carreiras policiais e condições dignas de trabalho para os trabalhadores do Brasil e uma nova arquitetura das polícias não são crimes. Deste modo, NÓS, membros do Movimento Policiais Antifascismo, não recuaremos um só milimetro. E conclamamos os trabalhadores e as trabalhadoras, e as entidades democráticas do país , a repudiar qualquer forma de perseguição político-ideológica!

Lembramos que esta constrangedora medida do governo federal não é apenas contra nosso Movimento, mas contra todos que amam as liberdades e que laboram pela democracia. Aqueles que querem calar os dissidentes políticos são os mesmos que silenciam as vozes da classe trabalhadora, das mulheres, dos LGBTQI+, dos indígenas, dos negros e negras e de todos que experimentam a miséria, a fome e a injustiça social. Somente unidos poderemos resistir aos ataques autoritários de subversão dos órgãos de segurança pública para fins de terrorismo. Estes sim, verdadeira ameaça à Democracia.

Reafirmamos que seguiremos em busca da quebra do sigilo ilegalmente aposto sobre o malfadado dossiê, para que venham à luz os desmandos desse governo. Pediremos também apuração, responsabilização e reparação da verdade em todas as instâncias possíveis. Não nos calarão, como não calaram tantos outros agentes de segurança pública que lutaram pela Abolição da escravatura, pela República ou que se esforçaram na defesa da legalidade democrática e contra o autoritarismo de golpes de outrora!


Movimento Policiais Antifascismo

Postado há 5 weeks ago por policiais antifascismo

19 Visualizar comentários
JUN 5
500 policiais assinam manifesto contra o fascismo e pela democracia no Brasil




*500 policiais assinam manifesto contra o fascismo e pela democracia no Brasil*


Clique aqui e tenha acesso ao Manifesto em .pdf


POLICIAIS ANTIFASCISMO EM DEFESA DA DEMOCRACIA POPULAR. #PoliciaiAntifacismo

Policiais Antifascismo

“Não voltaremos à normalidade, porque a normalidade era o problema”. A frase projetada na parede de um prédio da cidade de Santiago, capital do Chile, que circulou nas redes sociais como uma reflexão para um mundo pós-pandemia da covid-19, cabe como uma luva para a reação necessária às ameaças de desestabilização institucional democrática em nosso país.

É fato que o fascismo nada mais faz do que se apropriar e prolongar os mecanismos construídos pelas sociedades liberais. Afinal, a existência de um aparato policial violento contra as classes populares; as estruturas e agências jurídicas para sustentação de um Estado de Direito, voltado para garantir os interesses de grupos econômicos e financeiros; a governança e gestão das desigualdades sociais e da exploração do trabalho; o controle diuturno sobre os corpos e vidas dos pobres; o racismo institucional; a misoginia; a LGBTfobia; a repressão violenta contra os trabalhadores no campo e na cidade; a criminalização dos movimentos sociais; nada disso é invenção do fascismo.

O que se apresenta neste momento, como uma ameaça singular, é a institucionalização e o avanço destes mecanismos de controle e repressão, que pretendem afastar toda e qualquer forma de oposição ao modelo político-jurídico-econômico neoliberal. Não podemos esquecer que, ao assumir a Presidência da República, Jair Bolsonaro afirmou que iria “banir toda a forma de ativismo em nosso país”. Essa é a orientação dos gabinetes do ódio, que transformam as fake news em instrumentos de perseguição política.

Neste exato momento de ameaças de ruptura da ordem democrática institucional, “com as armas da democracia”, o Movimento Policiais Antifascismo está sendo covardemente atacado por uma investigação política do Ministério Público do Rio Grande do Norte. De acordo com o procedimento preparatório, com mais de 600 páginas, somos enquadrados ficticiamente como “grupo paramilitar”, com dezenas de policiais antifascismo sendo identificados com fotos, endereço e telefone. Um simples olhar sobre a peça investigatória faz lembrar os piores momentos dos anos de chumbo, no ressurgimento de uma polícia política, hoje comandada por um promotor de justiça. Ao mesmo tempo, um parlamentar do PSL no Rio Grande do Sul, representa do seu gabinete na Assembleia Legislativa Estadual contra um policial antifascismo de Porto Alegre, por simplesmente postar nas suas redes sociais apoio aos movimentos antifascistas locais. Não podemos esquecer também dos muitos policiais perseguidos através de processos administrativos, que visam o cerceamento dos nossos direitos e liberdades políticas, garantidos pela Constituição Federal.

As milícias e grupos paramilitares reais, que estão se organizando em todo o país, com a proteção e conivência de muitas autoridades, não são o único problema a ser enfrentado na luta antifascismo no Brasil. O projeto de neutralização dos movimentos populares de resistência passa por uma estrutura que conta com uma rede de operadores de poder, como parlamentares, promotores de justiça e magistrados.

A estratégia de avanço do projeto fascista no país é ampla. Mobilizam a intolerância e o ódio aos movimentos de esquerda nas ruas e nas instituições da República. Os esforços visando o aparelhamento e o comando da polícia federal e da Procuradoria Geral da República confirmam isso.

Precisamos avançar a resistência para uma aliança popular antifascismo. Não podemos conceber unidade política sem participação popular.

Somos um movimento suprapartidário e não menosprezamos a luta parlamentar, que também se mostra necessária neste momento. Os partidos políticos do campo progressista são fundamentais, mas precisamos de uma Frente Única Antifascista, com a participação de sindicatos, entidades de classe, movimentos populares, estudantes, servidores públicos, acadêmicos, juristas, artistas, mas principalmente dos amplos setores da classe trabalhadora, para organizarmos uma reação às ameaças civil-militares de ruptura institucional. Somente a resistência organizada, que garanta a participação popular, poderá cumprir essa tarefa.

Nós, policiais antifascismo, acreditamos que o trabalhador policial deve se colocar ao lado dos demais trabalhadores no enfrentamento ao fascismo. Afinal, o projeto fascista em nosso país é um projeto de avanço no ataque aos direitos conquistados pelos trabalhadores. Essa ofensiva atinge diretamente os policiais, apontando cada vez mais para a privatização da segurança e para o aumento da precarização do seu trabalho. Os números de suicídios entre policiais são somente o sintoma das péssimas condições a que estão submetidos os trabalhadores do sistema de segurança pública em nosso país. Disputar o reconhecimento dos policiais como trabalhadores faz parte da nossa tarefa enquanto policiais antifascismo. Afinal, somos irmãos trabalhadores!

Convidamos todos os policiais civis, federais, rodoviários federais, militares, bombeiros, guardas municipais, policiais penais, agentes sócio educativos e demais trabalhadores do sistema de segurança pública a se unirem ao nosso movimento e assinarem este compromisso com a verdadeira democracia!


Assinam:

[...]


http://policiaisantifascismo.blogspot.com/

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

Quem são, o que pensam e o que pretendem os policiais antifascistas


Por Débora Britto em 26/06/2019, 19:08.

Reestruturação e desmilitarização das polícias, carreira única, ciclo completo, fim do inquérito policial, municipalização. Alguns desses termos e expressões são conhecidos de parte da população, outros fazem parte de um debate ainda restrito ao universo de quem integra as polícias brasileiras e que vão muito além da questão salarial e das reivindicações por melhores condições de trabalho.

Quem levanta a bandeira da desmilitarização das polícias, além dos movimentos sociais, movimento negro e outros, é o jovem Movimento de Policiais Antifascismo. Eminentemente político, o manifesto do movimento reconhece, como ponto de partida, a falência da guerra às drogas, a criminalização da pobreza e a matança de negros como resultado do sistema de segurança pública também falido.

O movimento começou a tomar forma a partir das discussões de policiais no Rio de Janeiro, depois na Bahia. Em 2017, após um encontro no Rio, a articulação se espalhou por outros estados. Em 2018 aconteceu o segundo encontro no Fórum Social Mundial, na Bahia, de onde saiu a ideia de realizar um congresso nacional para ampliar o debate nas corporações e com a sociedade.

Naquele momento, um ano antes das eleições que colocariam Jair Bolsonaro (PSL) na presidência da República, os policiais antifascistas vislumbravam um cenário complexo, mas com possibilidade de avanço do debate da reforma do sistema de segurança pública. Agora, o movimento reconhece as dificuldade da mudança do contexto, mas avalia que não dá para retroceder.

O 1° Congresso Nacional aconteceu no Recife, no final de maio, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Partindo das realidades individuais de cada um dentro de suas forças de segurança nos mais variados estados do país, nós detectamos que esse modelo está falido. Não é no combate às drogas, não é na questão da falta de elucidação de homicídios. Como um todo, o sistema de segurança pública está falido e desemboca nesse sistema carcerário com um dos maiores contingentes de presos do mundo”, diz o investigador Rafael Cavalcante, dirigente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE).

principaisPautasPoliciaisAntifascismo

Durante o Congresso, questionado sobre o contexto desfavorável com a chegada de Bolsonaro ao poder, Rafael disse que os policiais têm visto o momento como oportunidade de pautar o debate público com mais urgência.

O grupo de policiais com pensamento progressista ou pensamento de esquerda sempre foi minoritário dentro das instituições de segurança pública. Para o dirigente, que foi ao Rio de Janeiro em 2017 conhecer o que discutiam e propunham os policiais antifascistas, um dos pontos centrais do debate é fazer o policial se entender como trabalhador. Para dentro da corporação, depois de superar as questões trabalhistas e da classe, o policial precisa se ver como cidadão. É a partir daí, segundo ele, que existe uma mudança possível no modo como a polícia atua nas ruas.

Orlando Zaconne, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, é uma referência no debate sobre desmilitarização e defensor do fim da guerra as drogas, e também enxerga um campo fértil para o crescimento do debate que o movimento propõe.

“Hoje em dia, o que acontece é que o policial é construídos como subcidadão”, afirma. Para ele, as pautas antes entendidas como apenas da categoria precisam estar associadas ao debate político do que representa o sistema de segurança pública para a vida de policiais e da sociedade que mais sofre com esta política.

“O policial da base nunca vai conseguir ascender às chefias das instituições, a não ser que entre por outra porta, fazendo outro concurso. Isso se refere à luta histórica de que os policiais da base tem por uma carreira única, que é algo que existe no mundo inteiro. A retirada de direitos desses trabalhadores vem por conta de uma estrutura arcaica que as polícias têm. No movimento surge a perspectiva de construir o policial como trabalhador e fazer mudanças estruturais”, explica Zaconne.

Para Ricardo Balestreri, pesquisador, ex-secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás e também secretário nacional de Segurança Pública, as forças policiais foram importantes catalisares do que chama de pensamento “protofascista” difundido atualmente no Brasil.

Ao mesmo tempo, ele analisa que a polícia – entendida de maneira ampla – pode exercer um papel central nas transformações da sociedade. “Tenho uma tese de que a policia tem potência de guiar transformações importantes. Essa tese foi confirmada no último fenômeno eleitoral brasileiro”, comenta.

É nesse cenário que Balestreri classifica o movimento de policiais antifascistas como um “nicho de resistência intelectual e também de reserva moral” nas forças policiais.

A aposta, para ele, é que existe espaço para disputar as ideologias dentro das corporações, ampliando o diálogo e o modo de abordagem de policiais e servidores que não estão no meio da polarização. “Talvez pensar no alargamento do discurso. É preciso lembrar das policiais, dos bombeiros, dos guardas. A sedução corporativista envolve a maioria dos policiais. Tenho convicção de que o segmento profissional dos policiais esteve à frente da introdução desse pensamento protofascista, mas se estiveram à frente, também podem mudar”, afirma.


Relação com as esquerdas


“Nem bandido nem herói, policial é trabalhador”, afirma Zaconne. Com essa frase, ele sintetiza o debate feito sobre duas narrativas construídas sobre a polícia consideradas erradas pelo movimento. “Existe uma ideia à esquerda de que policial é bandido por natureza. Do outra lado, a direita construiu discurso muito mais sedutor, que é a do policial herói. Então muitas pessoas correram para esse lado, apesar de ser trágico porque diz que o policial tem que dar a vida muitas vezes por algo que não sabe o que é”, argumenta o delegado.


O pernambucano Rafael Cavalcante complementa o raciocínio do carioca Zaconne: “Talvez a grande reflexão é que a esquerda, desde a redemocratização, não pensou um projeto de segurança pública que incluísse os profissionais de segurança pública. Talvez esse seja um dos motivos de a gente ter essa classe tão conservadora”.


Esse afastamento de que Rafael fala tem raízes nos resquícios e na memória da ditadura civil militar de 1964, cujo aparelho policial reprimiu fortemente os movimentos sociais. A tentativa de aproximação dos policiais antifascistas tem seus avanços e recuos. Mas, agora, eles aparentam ter mais clareza a ponto desejam chegar. “A grande missão desse congresso é fortalecer essa luta, estruturá-la para que a gente possa dialogar mais, para que a gente possa mostrar que o fascismo é uma bandeira que tem que ser combatida, independentemente de qual função você exerce como trabalhador, da sua função dentro da sociedade”, explica Rafael, que advogava constantemente pela necessidade de serenidade nos diálogos.


“Nossas categorias nos cobram pelo nosso posicionamento e acabam por não aceitar o fato de ter um policial discutindo direitos humanos, de ter um policial discutindo um novo modelo de segurança pública, uma reformulação na lei de combate às drogas. Estamos aqui no fio da navalha porque acabamos sendo rejeitados por uma grande parte da nossa categoria e por parte da sociedade – e parte da vertente de esquerda do país – porque não aceitam que essas pautas sejam colocadas por policiais. Mas ainda assim a gente preza pelo diálogo, pela construção de um debate amplo”, relata Rafael Cavalcante.


Símbolo do movimento incorpora a bandeira antifascista no centro do brasão das forças policiais


Como a polícia chega na sociedade

Isolados na corporação e pouco compreendidos no campo progressista, os policiais antifascistas têm no diálogo com a sociedade o seu maior desafio. Para parte da população a única relação com a polícia acontece pela força e repressão. Para isso apostam na mudança a partir da base das corporações – cujos integrantes são muitas vezes oriundos do mesmo meio social da população vítima da violência, população negra, pobre e periférica.


O movimento defende que ao discutir a hierarquização das forças policiais é possível aproximar a base da categoria do resto da população. Para os policiais antifascistas, a hierarquia “cria um sistema de castas que permite privilégios àqueles que estão nas cúpulas, em detrimento do trabalho árduo e sem proteção daqueles que estão em contato no dia a dia com a população”, como pontuado no manifesto do movimento.


Para os policiais antifascistas, o caminho para mudar esse círculo vicioso seria a completa reestruturação não apenas da Polícia Militar (com a desmilitarização), mas de todas as polícias. “É inadmissível que um praça que chegue a um quartel com o coturno sujo possa ser preso administrativamente. Por isso a gente fala em desmilitarização. Isso vai refletir na rua. Se a gente não muda a ordem de formação e de continuidade do fascismo dentro das corporações a gente não muda o serviço prestado”, diz Rafael.

Desconstruindo o discurso de guerra

Outro aspecto de destaque é a negação do discurso da guerra, explica o pesquisador Ricardo Balestreri. “Nós não estamos em guerra. Nós temos índices de guerra. Essa teoria da guerra é pra poder ferrar com a vida dos pobres”, reforça.

Em 2017, um policial civil ou militar foi morto no Brasil, no total foram 367 mortes. Já as vítimas fatais em intervenções policiais foram 5.519, cerca de 14 mortos por dia. Os dados são do 12° Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2018). Apesar de o número de policiais morrendo diminuir, o discurso de guerra, que sugere que todo dia um policial tem que ir às ruas para matar ou morrer, continua. O que seria o outro lado da moeda aumentou, em vez de diminuir. O crescimento de 21% de pessoas mortas em ações policiais reflete a política de segurança que aposta na guerra às drogas como principal foco.

Para o delegado Orlando Zaconne, é preciso compreender o fenômeno começando por negar a ideia de que existe uma guerra em que a polícia está matando e morrendo. “Essa violência é produzida por uma decisão política. Policiais estão morrendo e matando em contextos distintos. Se diz que temos a polícia que mais mata e a que mais morre. Se passa a ideia de que os policiais estão morrendo em confronto, mas isso não é a realidade dos números. Muitas vezes os números mostram que a morte de policiais são ações de execução fora de serviço, circulando no ambiente social com armas”, explica.

Já o contexto em que a polícia mata, que não pode ser ignorado, é definido pelo delegado como massacres. “Massacres são ações pré definidas pelas forças policiais, de ocupação de determinadas áreas com produção de mortes, muitas das vezes sem que haja confronto”, diz.

O fator Bolsonaro

Os policiais antifascistas não posam de isentos no debate político institucional. Contra o projeto do governo Bolsonaro de facilitação da posse de armas para a população, o grupo também quer discutir com a categoria questões como a Reforma da Previdência e outras políticas públicas. “O policial tem família e ela vai continuar à mercê da desassistência dos serviços públicos, dos cortes de verbas na educação, vai ficar à mercê da liberação das armas, de uma reforma da previdência que não leva em consideração a condição extremamente singular que ele tem como profissional de segurança pública”, argumenta Rafael.

Para chegar na base das polícias, ele aposta na formação da consciência de uma classe trabalhadora. “Em termos de desgaste é a segunda profissão mais estressante do mundo e sem perspectiva de se aposentar. Tudo isso a gente tem que mostrar que não é um debate personalizado contra o Bolsonaro, é um combate contra uma política pública que não nos serve. E como trabalhadores não nos serve enquanto cidadãos e não serve ao nosso povo, a quem a gente deve servir”, afirma.

ANTIFADESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIAPOLICIAPOLICIAIS ANTIFASCISMO
REDAÇÃO:

DÉBORA BRITTO

Mulher negra e jornalista antirracista. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também tem formação em Direitos Humanos pelo Instituto de Direitos Humanos da Catalunha. Trabalhou no Centro de Cultura Luiz Freire - ONG de defesa dos direitos humanos - e é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na formação de comunicadoras/es populares e na defesa do Direito à Comunicação.



https://marcozero.org/quem-sao-e-o-que- ... fascistas/

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

O ciclista italiano que salvou centenas de judeus do Holocausto

Niamh Lewis
BBC Sport
Há 2 horas



Direito de imagemGETTY IMAGES
"Quero ser lembrado por minhas conquistas esportivas. Heróis de verdade são outros, aqueles que sofreram na alma, no coração, no espírito, na mente, que sofreram por seus entes queridos. Esses são os verdadeiros heróis. Eu sou só um ciclista."


Há 20 anos, a lenda italiana do ciclismo Gino Bartali morria de ataque cardíaco, aos 80. Ele vencera três vezes o Giro d'Italia e duas vezes a Tour de France — duas das competições mais importantes do esporte.

Foi só após sua morte que veio à tona a informação de que ajudar a salvar as vidas de mais de 800 pessoas durante a Segunda Guerra.

Mas como isso aconteceu? Como um dos mais famosos atletas da Itália conseguiu essa façanha? E a resposta está no tempo livre — do mesmo tipo que muitos esportistas puderam dispor nesses tempos de pandemia por causa da suspensão de competições — que teve quando as grandes provas do ciclismo foram interrompidas pela Segunda Guerra Mundial.

O Giro teve uma pausa de cinco anos. A Tour, de sete. A interrupção impediu Bartali de ser ainda mais vitorioso no ciclismo em seu ápice físico — mas permitiu que ele se engajasse em uma arriscada tarefa para salvar centenas de judeus das garras dos nazistas.


Bartali e Fausto Coppi (à direita) — grandes rivais na bicicleta e com papéis opostos em tempos de guerra
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption



Rejeitando Mussolini


Bartali é visto, até hoje, como um dos mais heroicos entre os ciclistas. Quando venceu sua primeira Tour de France, em 1938, era tratado como o "o segundo italiano mais famoso" do mundo, atrás apenas de Benito Mussolini, líder do Partido Nacional Fascista.

Mas a Era Mussolini foi um período difícil para os ciclistas profissionais na Itália, especialmente para aqueles que não queriam se envolver em política.

No Giro d'Italia de 1940, o último realizado antes da interrupção causada pela guerra, Bartali foi apresentado ao homem que se tornaria seu rival mais feroz: Fausto Coppi, um competidor esguio de 20 anos oriundo de uma família de agricultores no norte da Itália.

A rivalidade começou quando Coppi foi alçado a líder de equipe após Bartali ter se machucado em um acidente com um cão na segunda etapa do Giro.

Coppi surpreendeu a todos quando conseguiu vestir a Maglia Rosa (camisa usada durante as etapas pelo competidor que está liderando a competição) em sua primeira participação em um Grand Tour. Mas as etapas mais difíceis ainda estavam por vir — como a subida das Dolomitas (uma cordilheira nos Alpes orientais).


Não olhe agora: Bartali arriscou a vida para entregar documentos falsos em treinamentos e desafiar o Partido Fascista
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption



Na décima-sexta etapa, Bartali viu Coppi à beira da estrada sofrendo com problemas estomacais.

Com humildade, Bartali o convenceu a subir novamente em sua bicicleta. Os dois subiram as Dolomitas e continuaram como parceiros pelo restante do Giro.

Bartali conseguiu vencer outras duas etapas. Coppi venceu na classificação geral com uma vantagem de dois minutos e quarenta segundos.

"Algumas medalhas são penduradas na alma, não na roupa", disse Bartali certa vez.


Ajudando os perseguidos

O que não se sabia na época, é que Gino Bartali arriscou sua vida para entregar documentos falsos durante seus treinamentos — e desafiar o Partido Fascista.



Fausto Coppi e outros ciclistas haviam sido convocados para servir às forças armadas, mas foram autorizados a competir nas poucas corridas que ainda foram realizadas durante a guerra.

Bartali, cristão devoto, continuou a realizar seus longos treinamentos no norte da Itália.

Até 1943, a Itália era território seguro para os judeus. Então, os nazistas começaram a ocupar o país e a enviar tanto judeus quanto quaisquer outros que combatessem o regime fascista para campos de concentração.

Foi quando Bartali se juntou à organização clandestina Rede Assisi, operada por um setor da Igreja Católica, para proteger quem estivesse sob ameaça.


Bartali olha graffiti em homenagem a ele e outros vencedores do Tour
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption


Fazendo treinos de longa distância, ele levava, escondidos na estrutura da bicicleta, documentos de identidade falsificados.

Os documentos, fabricados por uma rede clandestina na Itália, eram levados dentro dos tubos do guidão e do canote do selim.

Bartali passava por pontos de controle sem grandes explicações, já que era apenas um campeão em treinamento.

Em uma ocasião, foi parado e interrogado pela polícia secreta fascista.


Ele pediu para não ser incomodado e explicou que mexer em sua bicicleta significaria atrapalhar o delicado ajuste aerodinâmico feito para um campeão do esporte.


O filho de Bartali, Andrea, visitou o museu Yad Vashem Holocaust Memorial em Jerusalém em 2013, onde o pai dele foi reconhecido como Justo entre as Nações
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption


Os policiais, então, não se atreviam a revistá-lo ou a mexer em sua bicicleta.

As famílias recebiam os documentos e conseguiam, assim, fugir da perseguição nazista.

Além de ajudar no transporte clandestino de documentos para facilitar a fuga de judeus, Bartali também escondeu seu amigo Giacomo Goldenberg e sua família em casa.

Era arriscado — quem fosse pego fazendo isso poderia ser morto.

O italiano foi reconhecido como Justo Entre As Nações — título concedido aos que atuaram salvando vidas de judeus durante a perseguição nazista — pelo Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. O filho de Bartali, Andrea, visitou o memorial em 2013.



Bartali queria ser lembrado por sua carreira esportiva
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption


No fim da vida, Bartali contou a seu filho, em detalhes, o que fez durante a guerra. Pediu, ainda a Andrea que mantivesse a informação entre eles.

Bartali queria ser lembrado por sua carreira esportiva. Mas, quando perguntado sobre suas façanhas durante a guerra, dizia: "Fiz a única coisa que sabia fazer: pedalei".

Às vezes, é o suficiente.


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53944393

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

Por que os brasileiros deveriam ter medo do gabinete do ódio



O presidente Jair Bolsonaro e seus aliados têm espalhado o ódio online contra as instituições que protegem a democracia. Agora, essa cólera está transbordando para as ruas.


Por Patrícia Campos Mello
Campos Mello é uma jornalista brasileira.


Aug. 4, 2020

SÃO PAULO — Em 13 de junho, integrantes do “300 do Brasil”, uma milícia de extrema direita formada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, atiraram fogos de artifício em direção ao prédio do Supremo Tribunal Federal em Brasília, simulando um bombardeio. “Se preparem, Supremo dos bandidos…bando de bandidos, vocês estão levando o país para o caos, para o comunismo”, disse um dos líderes, que transmitiu o protesto ao vivo em um vídeo. “Acabou, porra”, disse um dos manifestantes, ecoando as palavras usadas por Bolsonaro ao condenar a investigação do Supremo contra alguns dos apoiadores do presidente, envolvidos em campanhas de desinformação e ameaças contra os ministros do STF.

De onde veio esse ódio contra o mais alto tribunal do Brasil?

Durante os meses que antecederam o incidente com os fogos, milhares de contas nas redes sociais, muitas delas falsas, ligadas a apoiadores de Bolsonaro ou a blogueiros de extrema direita, vinham postando obscenidades e ameaças contra os ministros do Supremo. Alguns apoiadores do presidente até falaram em matar e esquartejar ministros e seus familiares. Era só uma questão de tempo até essa animosidade transbordar para as ruas.

Esse ambiente tóxico tem sido estimulado pelo que os brasileiros chamam de “gabinete do ódio”. Trata-se de um gabinete de assessores de Bolsonaro, que apoiam uma rede de blogs bolsonaristas e perfis em redes sociais que espalham desinformação e ataques contra jornalistas, políticos, artistas e veículos de imprensa críticos ao presidente. O gabinete do ódio não é oficial, nem tem um orçamento específico, mas é bancado com dinheiro público. Não está claro quantas pessoas trabalham na operação, e nem se sabe quem são todos os envolvidos. Na realidade, Bolsonaro e seus aliados negam que exista um gabinete do ódio. Mas o fato é que as sementes do ódio e do sectarismo que vêm sendo espalhadas são uma ameaça à nossa democracia.


O governo Bolsonaro enfrenta atualmente três investigações diretamente ligadas a essa máquina do ódio. O Supremo Tribunal Federal está investigando ataques contra seus ministros, financiados por empresários e disseminado pela rede bolsonarista. Outro inquérito do Supremo examina o financiamento dos atos antidemocráticos, protestos pedindo o fechamento do Congresso e intervenção no Judiciário. Quatro ações correm no Tribunal Superior Eleitoral investigando o uso de disparos em massa de WhatsApp na tentativa de influenciar a campanha eleitoral de 2018, que teriam sido financiados por empresários.

Em 8 de julho, o Facebook removeu inúmeras contas, algumas usadas por um funcionário de Bolsonaro e por seus filhos. Algumas estavam registradas no nome de Tércio Arnaud Tomaz, assessor de Bolsonaro que é apontado como um dos líderes do chamado gabinete do ódio.


Infelizmente, eu conheço bem essa máquina do ódio. Nos últimos dois anos, venho cobrindo o uso da desinformação na política. E acabei me tornando um dos alvos dessas campanhas desde 2018, quando revelei no jornal Folha de S.Paulo que empresários estavam pagando pelo envio de milhões de mensagens por WhatsApp para influenciar a eleição presidencial daquele ano.

Como resultado, tenho enfrentado uma campanha violenta de ameaças e ataques pessoais. Trolls e até políticos têm compartilhado memes onde meu rosto aparece em montagens pornográficas, e se referem a mim como prostituta. Recebi mensagens de pessoas dizendo que eu deveria ser estuprada. Estou processando o presidente Bolsonaro; seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, e um blogueiro bolsonarista por danos morais, por dizerem ou insinuarem que eu ofereço sexo em troca de reportagens exclusivas.


Não sou a única. Muitas jornalistas têm sido vítimas de ataques misóginos no Brasil. A imprensa, ao lado do judiciário e do Congresso, é uma das últimas barreiras contendo medidas autoritárias do presidente. Mas não sei quanto tempo conseguiremos resistir às pressões de Bolsonaro e seus apoiadores. A retórica e as ações cada vez mais agressivas do presidente, seus filhos e aliados funcionam como um sinal verde para que milícias bolsonaristas partam das palavras para as vias de fato.




[...]

Com as campanhas de difamação e a manipulação de informações, o objetivo da máquina do ódio é muito mais nefasto – é enfraquecer as instituições democráticas do Brasil. Investigações da Procuradoria Geral da República apontam que alguns legisladores bolsonaristas usaram a cota parlamentar, dinheiro público, para promover pelas redes sociais protestos contra o Supremo Tribunal Federal e a favor de intervenção militar.

Esse tipo de incitamento tem como objetivo convencer apoiadores de que os ministros do Supremo são ditadores, e que o Congresso e a mídia são golpistas e impedem o presidente de governar. Dessa maneira, o governo pode estar preparando o terreno para justificar uma intervenção militar. E em uma democracia jovem como a brasileira, as instituições podem ser mais frágeis do que aparentam.

Apesar de ter sido eleito democraticamente, Bolsonaro já declarou repetidamente sua admiração pela ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Muito antes de se candidatar à presidência, Bolsonaro disse que só uma guerra civil faria o trabalho que o regime militar não havia feito e afirmou que fecharia o Congresso se fosse presidente. Durante a campanha eleitoral de 2018, seus filhos e apoiadores usaram camisetas estampadas com o rosto do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pela Justiça como um dos maiores torturadores da ditadura — uma figura celebrada pelo presidente.

Bolsonaro tem tentado implementar essa visão. Para contornar o Congresso, ele assinou um número recorde de medidas provisórias que reduziam a independência das universidades, que ele considera antros de comunistas, restringir acesso à informação, enfraquecer sindicatos e jornais. Ele também ameaçou desobedecer ordens judiciais.



[...]



https://www.nytimes.com/pt/2020/08/04/o ... -odio.html

Re: Antifascismo

Avatar do usuário
JJ_JJ
Mensagens: 800
Registrado em: Sex, 06 Março 2020 - 10:32 am
Localização: Goiás

Mensagem por JJ_JJ »

O que significa ser antifascista e por que o bolsonarismo é o fascismo do século 21




Manifestações autodenominadas “antifascistas” nas ruas e na internet levantam o debate sobre o uso do termo no Brasil
Caroline Oliveira


Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 01 de Junho de 2020 às 21:17
Ouça o áudio:


“No Brasil, hoje, nós temos o fascismo. Não são traços de fascismo, aspectos de fascismo. É o fascismo", afirma o professor da Unicamp - Nelson Almeida/AFP

Desde as eleições presidenciais de 2018, as palavras “fascista” e “fascismo” passaram a figurar assiduamente no debate político, principalmente pautadas pelos discursos e práticas de Jair Bolsonaro (sem partido). O termo figurou nos noticiários no último final de semana e nesta segunda-feira (1º), por conta da repercussão da manifestação autodenominada “antifascista em defesa da democracia” realizada em São Paulo por torcidas organizadas de clubes de futebol.

Assim como Bolsonaro, nos Estados Unidos, Donald Trump também enfrenta uma série de protestos desencadeados pelo assassinato do cidadão estadunidense George Floyd – morto pela polícia de Mineápolis na última segunda-feira (25) –, pautados pelo antirracismo, mas que também levantam a bandeira antifascista. Além de ameaçar as manifestações com um possível uso das Forças Armadas, Trump prometeu, pelo Twitter, classificar grupos antifascistas como organizações terroristas.

O ato foi prontamente aplaudido pela família Bolsonaro, também por meio do Twitter. Não por coincidência o deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-SP) protocolou, na tarde desta segunda, um Projeto de Lei (PL) pedindo que grupos antifascistas sejam classificados como terroristas e enquadrados na Lei Antiterrorismo.

Mas o que significa ser fascista e antifascista?

Armando Boito Júnior, professor Titular de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que o fascismo é um um movimento social reacionário que se situa nas camadas intermediárias da sociedade capitalista, ou seja, nas classes médias, e tem como principal objetivo a eliminação da esquerda do processo do político.

Segundo ele, o fascismo tem uma ideologia “de culto à violência, anticomunista, contrária aos movimentos de modernização e democratização dos costumes e da sociedade”, e é um regime político cujo auge pode desembocar em uma ditadura fascista, onde há a paralisia das liberdades coletivas e individuais.

Na mesma linha, Valério Arcary, doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), explica que o fascismo surge para anular a força política da classe trabalhadora para garantir a manutenção e o desenvolvimento dos negócios capitalistas.

Para atingir esse objetivo, afirma Arcary, a primeira meta do fascismo é anular os movimentos de esquerda para, como ocorre no Brasil, "poder avançar na ruralização da Amazônia, impor a superexploração sem contrato de trabalhos no mundo urbano, anular a luta das mulheres por direitos iguais”, por exemplo.

Arcary entende o bolsonarismo como um exemplo de fascismo do século 21, por isso movimentos antifascistas também têm sido observados no Brasil. “O seu objetivo é subverter todas as liberdades democráticas conquistadas pela geração da década de 1980. Diante disso, surge um movimento antifascista, que tem como objetivo, então, a defesa das liberdades democráticas e, portanto, interromper a corrente fascista”, agregando todos aqueles que defendem as liberdades democráticas, sendo, portanto, heterogêneo, explica Arcary.

E o neofascismo?

Diferente do fascismo, o neofascismo traz certas particularidades do século 21, em relação ao movimento fascista do século 20, organizado em torno de regimes como o de Adolf Hitler, na Alemanha, o de Benito Mussolini, na Itália, o de António Salazar, em Portugal, e o de Francisco Franco, na Espanha.

Segundo Valério Arcary, “o neofascismo é o fascismo do século 21. Os fascistas do século 21 são uma família, mas o gênero é fascista. Assim como fascismo do século 20 tinha o salazarismo, franquismo, nazismo. Mas era um movimento de um mesmo gênero, eram todos fascistas, divididos em várias famílias. O bolsonarismo é o fascismo brasileiro do século 21”.

Boito Júnior destaca que no neofascismo brasileiro há um grande envolvimento da classe média, e à diferença do fascismo clássico, há um alinhamento aos setores da burguesia mais ligados ao capital estrangeiro, criando uma espécie de fascismo neoliberal.

“O governo neofascista no Brasil organiza prioritariamente os interesses do capital estrangeiro, abrindo a economia privatizante, desregulamentado e cortando direitos dos trabalhadores. É o programa neoliberal. Então, não tem contradição nenhuma dizer que o fascismo brasileiro é neoliberal.”

O caso brasileiro em questão

Alguns autores brasileiros se negam a utilizar o termo neofascismo ou fascismo para o cenário atual, por acreditarem que não há elementos suficientes para tal caracterização. Boito, no entanto, alerta: “Aqueles que ainda relutam ou recusam estão subestimando o perigo que nos ameaça, porque todo governo fascista tem como programa máximo implantar uma ditadura, usando o conceito de fascismo você está consciente desse perigo, não utilizando você está subestimando o perigo.”

Aqueles que ainda relutam ou recusam estão subestimando o perigo que nos ameaça, porque todo governo fascista tem como programa máximo implantar uma ditadura.
Outros autores, ainda, caracterizam o governo de Jair Bolsonaro como um populismo de direita. Para o professor da Unicamp, essa é uma caracterização “equivocada, porque significa dizer que o Jair Bolsonaro pertence a mesma família política do João Goulart, do Leonel Brizola, só que mais à direita”.

Segundo Boito, o populismo é uma política personalista, que cultua a figura do líder. “Bom, o fascismo fez isso com Hitler e Mussolini.” Na verdade, para o professor, a personalização é uma tendência geral da liderança política na sociedade capitalista, e não é suficiente para caracterizar um movimento político.

Em consonância, Valério Arcary afirma que, no Brasil, mais do que reacionário, o movimento fascista é da extrema-direita e contrarrevolucionário. “Temer era reacionário. Bolsonaro é contrarrevolucionário. É qualitativamente mais perigoso, destrutivo, é o inimigo da democracia”, defende Arcary. Para o estudioso, a peculiaridade do bolsonarismo é ser implementação do fascismo por dentro das instituições.

“Ele vai anulando as próprias instituições do regime democrático liberal, em que há pesos e contrapesos. Para os fascistas, é preciso tirar do caminho qualquer tipo de fiscalização do Congresso Nacional e de limitação do Supremo Tribunal Federal. Ele tem de anular as outras instituições e concentrar todos os poderes no Executivo, porque o fascismo é a contrarrevolução, não é só reação”, afirma Arcary.

Edição: Rodrigo Chagas



https://www.brasildefato.com.br/2020/06 ... -seculo-21
Responder