Regime Militar

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Regime Militar

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JJ_JJ
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Histórico, “Brasil: Nunca Mais” é tapa na cara de quem enaltece a ditadura


"Depois que o Petrônio chegou eles começaram a nos espancar com barras de ferro, qualquer pedaço de ferro que encontravam pelo depósito e correias de ventilador de carro, isto durante uma porção de tempo.
Bateram em mim e no Elenaldo. E depois nos levaram lá para fora do engenho, penduraram, amarraram cordas em volta dos calcanhares, penduraram cada um de nós dois passando a corda por uma linha que tinha uns 2 ou 3 metros de altura e continuaram espancando e deram banho de álcool e ameaçaram tocar fogo e também com o revólver, enfiando no ouvido e puxando o gatilho, mas sem ter bala no revólver.
Depois de uma porção de tempo de espancamento, eles então cortaram as cordas e nós caímos de cabeça no chão. Uma dor violenta essa cabeçada no chão. […] Só me lembro que chegamos lá em Recife, […] eu vi escrito lá na frente, Delegacia de Caxangá. […] Ficamos lá até de manhã só gemendo de dor e o chão todo sujo de sangue, tava todo mundo ensanguentado de ferimentos".


O depoimento acima foi dado por Luís Medeiros de Oliveira no Comitê Brasileiro pela Anistia, em 1979. Dez anos antes, Luís, então estudante de engenharia, foi preso no Engenho Noruega, em Escada, cidade do interior de Pernambuco, e levado a um engenho vizinho que, ironicamente, chamava-se Liberdade. Estava acompanhado do advogado Elenaldo Celso Teixeira, seu colega. Como fica claro no relato, foram
torturados pelos militares.

A passagem está em "Brasil: Nunca Mais" (Vozes), um dos livros mais importantes da história do país, desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas em conjunto com a Arquidiocese de São Paulo sob coordenação do então arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns e do pastor presbiteriano
Reverendo Jaime Wright. A obra é o resultado do trabalho de mais de trinta pesquisadores que mergulharam nos processos políticos que transitaram pela Justiça Militar entre 1964 e 1979 para entender tudo de podre que acontecia longe – ou nem tão longe assim – dos olhos do grande público no Brasil sob o comando da ditadura civil-militar, implementada após o golpe do dia 1º de abril de 1964 (é mesmo essa a
data, como bem mostrou o colega Mário Magalhães).

Publicado em 1985, poucos meses após a redemocratização do país, "Brasil: Nunca Mais" se transformou em um dos maiores best-sellers de não ficção de nosso mercado editorial, permanecendo em listas dos mais vendidos durante quase cem semanas consecutivas. Um dos grandes trunfos da obra é retratar o que acontecia nos porões da ditadura a partir de documentos produzidos pelas próprias autoridades responsáveis pelas barbáries. A base para a obra foram mais de 700 processos completos e dezenas de outros incompletos, numa papelada que ultrapassa 1 milhão de páginas, movidos pelo Estado – quase sempre desprezando as regras estabelecidas pelo próprio Estado – contra cidadãos brasileiros.

O foco principal do livro está na tortura, estupidez praticada contra mais de 20 mil seres humanos durante o período. "De abuso cometido pelos interrogadores sobre o preso, a tortura no Brasil passou, com o Regime Militar, à condição de 'método científico', incluído em currículos de formação de militares. O ensino deste método de arrancar confissões e informações não era meramente teórico. Era prático, com pessoas realmente torturadas, servindo de cobaias neste macabro aprendizado", relata o texto, que esmiúça as muitas artimanhas utilizadas: pau-de-arara, choque elétrico, afogamento, cadeira do dragão, espancamentos, ameaças com jiboias e jacarés, inserção de baratas no ânus das vítimas…

Além de torturadores, muitos capatazes do poder também eram estupradores. "A qualquer hora do dia ou da noite sofria agressões físicas e morais. 'Márcio' invadia minha cela para 'examinar' meu ânus e verificar se 'Camarão' havia praticado sodomia comigo. Este mesmo 'Márcio' obrigou-me a segurar o seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante este período fui estuprada duas vezes por 'Camarão' e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidade", relata, por exemplo, a bancária Inês Etienne Romeu, de então 29 anos.

Torturadores também tentaram estuprar o carpinteiro paranaense Milton Gaia, preso em 1969 quando tinha 30 anos, cujo terror ainda envolveu a família. Tanto a esposa quanto os filhos de 5 e 7 anos de Milton chegaram a ser presos, numa história que lembra a recentemente exposta pelo UOL a partir do livro "Cativeiro Sem Fim" (Instituto Vladimir Herzog/ Alameda Editorial), de Eduardo Reina, sobre como a ditadura implementada pelos militares atingiu muitas crianças brasileiras.

"Para que não se repita"

"Brasil: Nunca Mais" vai a fundo em outros aspectos do Golpe. Mostra, por exemplo, o contexto histórico que o motivou, incluindo o alinhamento do exército brasileiro com o norte-americano, como o posicionamento de parcela importante da sociedade civil ajudou os militares a tomarem o poder, o
nascimento dos "esquadrões da morte", como diversas frentes dentro da esquerda se organizaram após a escalada da supressão dos direitos políticos e das liberdades civis – esmiuçando inclusive os grupos que optaram pela luta armada – e como muita gente foi perseguida por conta de seu posicionamento ideológico inclusive dentro das Forças Armadas (sobre isso, vale a leitura desta reportagem).

"Na busca de desenvolvimento econômico rápido, o regime militar assumiu poderes excepcionais e suprimiu os direitos constitucionais dos cidadãos. Essas medidas de exceção, no entanto, acarretaram maiores privações à vasta maioria da população. Precisamente aqueles que levantaram suas vozes ou agiram a favor dos pobres e oprimidos foram os que sofreram tortura e morte", lemos em um primeiro momento. "O achatamento salarial observado nos anos do Regime Militar não teve precedentes da história do país e funcionou como viga mestra do crescimento capitalista vivido nos anos do passageiro 'milagre brasileiro'. Esse arrocho foi, ao mesmo tempo, o principal responsável pela forte deterioração das condições de vida do povo brasileiro: fome, favelas, enfermidades, marginalidade, avançaram em números expressivos", temos mais adiante, mostrando que, diferente do que prega hoje certo discurso preguiçoso, o atual estado de violência e caos social que vivemos se dá muito por conta do Golpe.

No prefácio do livro, Arns recorda que "o próprio Cristo, que 'passou pela Terra fazendo o bem', foi perseguido, torturado e morto". Falando sobre sua experiência na Cúria Metropolitana, lembra que nos "tempos da mais intensa busca dos assim chamados 'subversivos'" atendia semanalmente a até 50 pessoas em busca do paradeiro de seus parentes desaparecidos – e foram mais de 400 os "sumidos" pelas mãos do Estado. Chega a emocionar passagens do texto que falam que "a esperança que renasce hoje não pode ser novamente passageira" e "feliz coincidência, esta, do lançamento dos resultados da pesquisa num momento de esperança nacional, de superação do autoritarismo". Que bom seria pro Brasil se realmente tivéssemos superado o autoritarismo.

Vladimir Herzog, um dos muitos cidadãos brasileiros assassinados pelos militares ao longo da ditadura. Se o objetivo do trabalho era que nunca mais se repetissem "as violências, as ignomínias, as injustiças, as perseguições praticadas no Brasil de um passado [então] recente", sabemos que isso nunca chegou a se concretizar plenamente, vide a atuação de nossa polícia nas periferias. Com um presidente no poder que comemora o Golpe, promete metralhar inimigos políticos e não perde uma oportunidade de enaltecer torturadores, sabemos que o autoritarismo, a estupidez e a barbárie nos rondam de maneira jamais vista desde a redemocratização.

Por outro lado, "Brasil: Nunca Mais" serviu de importante ponto de partida para que o último período do país sob a arma dos militares fosse desvendado. Desde então, vimos apenas aumentar a quantidade de histórias macabras relativas ao período. Acima já falei do caso dos militares perseguidos e das crianças vítimas do Regime, mas podemos citar ainda como amostra da podridão revelada os dados da Comissão
Nacional da Verdade que indicam que mais de 8.000 indígenas também foram assassinados durante a carnificina estatal.

Muitos brasileiros passaram nos últimos anos por um processo de embrutecimento que os transformaram em pessoas sem qualquer tipo de empatia, indiferentes ao sofrimento alheio. Ainda assim, apostando que esses novos monstros são minoria ou estão numa condição de aparvalhamento que não é definitiva, vale relembrar o que foi a ditadura civil-militar no Brasil – e sempre valerá, até para que os saudáveis da alma e da cabeça nunca esqueçam daquele terror.

Os aquivos de todo o projeto "Brasil: Nunca Mais" estão disponíveis aqui. Recomendo procurar pelo nome de amigos e familiares para, talvez, ver o que andavam fazendo ao longo da Ditadura; pode ser um ótimo tempero para o próximo almoço de domingo.


https://paginacinco.blogosfera.uol.com. ... -ditadura/

Re: Regime Militar

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JJ_JJ
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Mensagem por JJ_JJ »

O Brasil do regime militar idealizado por Bolsonaro


Presidente, que determinou celebração do golpe de 1964, já afirmou que deseja a volta do país de "50 anos atrás". À época em que os militares estavam no poder, péssimos índices de desenvolvimento social eram uma marca.


Manifestação por direitos sociais em abril de 1964

Tensão social no Brasil em 1964: manifestação popular clama por reformas e justiça social e contra o comunismo


O presidente Jair Bolsonaro determinou nesta semana que as Forças Armadas brasileiras realizem celebrações no dia 31 de março, dia que marca o golpe de 1964, que abriu as portas do repressivo regime militar à frente do país durante 21 anos. A medida de Bolsonaro contrasta com a postura de países vizinhos ao Brasil, que também passaram por ditaduras militares e cujos governos rejeitam qualquer apologia ao golpismo e à repressão.

Ao anunciar a medida, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou que "o presidente não considera o 31 de março de 1964 golpe militar", mas sim uma ocasião em que "civis e militares" se uniram para "recuperar" o país.

Essa romantização do golpe e do regime por parte de Bolsonaro, ele próprio um ex-militar, não é uma novidade. Durante a campanha eleitoral de 2018, o atual presidente também afirmou desejar um Brasil "semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás", em tom de quem evocou uma suposta era dourada perdida no país. O capitão reformado falava de costumes, criminalidade e educação como se essas coisas tivessem se degenerado ao longo das últimas décadas.

Mas o período a que Bolsonaro se referiu estava longe de ser uma época digna de nostalgia sob quase todos os aspectos. Voltando meio século no tempo, o regime estava em seu quarto ano e vivia o início da sua fase mais dura. Defensor público da ditadura, Bolsonaro também já deixou claro em outras ocasiões que não considera episódios como o Ato Institucional nº 5, a repressão e a tortura como aspectos negativos.

Mas, para além do aspecto político do regime, o Brasil do regime militar - mais especificamente o de 50 anos atrás - também era um país atrasado, com alta prevalência de miséria e fome e com péssimos índices de desenvolvimento social: um terço da população era analfabeta, doenças infecciosas e parasitárias ainda apareciam entre as principais causas de morte, e a mortalidade infantil era seis vez maior que a atual. A criminalidade também havia começado a se tornar epidêmica nos grandes centros urbanos. E vários desses aspectos pioraram ao longo do regime.

Saúde e expectativa de vida

Em 1968, início dos chamados Anos de Chumbo, não havia nada parecido com o Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1988. Somente parte da população com carteira assinada tinha acesso à saúde por meio do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Mesmo esse sistema sofria com a ineficiência. E para quem não estava no mercado de trabalho formal, como as empregadas domésticas, restava pagar pelo atendimento ou contar com a benevolência de hospitais beneficentes.

À época, a diarreia e doenças parasitárias e infecciosas apareciam entre as principais causas de morte em várias grandes cidades. Na região Norte, ainda havia alta incidência de doenças como hanseníase (lepra).

A mortalidade infantil era uma chaga no país. Em 1968, o índice era de 89,62 para cada mil nascidos, considerando apenas as capitais. Em 2016, caiu para 14 por mil. Na região Nordeste, os números eram ainda piores, chegavam a 167,51 por cada mil nascimentos.

Os índices ainda pioraram em relação ao início da década, explicitando o sucateamento da saúde sob o regime militar. Em 1960, 60,2 por mil nascidos morreram em São Paulo. Em 1968, foram 76,6. À época, a taxa nos EUA era de 19,8.

Segundo o antropólogo Luiz Eduardo Soares, entre 1972 e 76, em todo o Brasil, morreram 1,4 milhão de crianças por causas associadas à desnutrição e à falta de saneamento, como difteria, coqueluche, sarampo, poliomielite e doenças diarreicas.

Além disso, 72% dos que morriam no país tinham menos de 50 anos e, destes, 46,5% eram crianças menores de quatro anos. Também ao final dos anos 1960, a população de 47% dos municípios brasileiros tinha uma expectativa de vida de até 50 anos. Hoje, ela chega a 75,5 anos no país.

O governo militar ainda mascarava a situação. Em 1974, o noticiário sobre uma epidemia de meningite em São Paulo foi censurado. Esconder a má situação para promover uma imagem fictícia do Brasil também era prática comum em relatórios oficiais.

Em 1974, o governo encomendou um estudo para apontar como se alimentavam os brasileiros. Foram entrevistadas 55 mil famílias. O pediatra Yvon Rodrigues, da Academia Nacional de Ciências, afirmou em entrevista nos anos 80 que os resultados foram tão aterradores que o documento foi engavetado. "Havia famílias que comiam ratos, crianças que disputavam fezes”, disse ele. O relatório ainda mostrava que 67% dos brasileiros sofriam de subnutrição.

Educação

Em 1968, o analfabetismo ainda era uma das maiores causas de vergonha nacional. No início da década, 39,7% da população com mais de 15 anos era analfabeta. Em 1970, 33,7% ainda não sabiam ler e escrever – a queda foi proporcionalmente mais lenta do aquela observada entre 1950 e 1960.

Em 1968, o governo militar criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização, o Mobral. Foi um fracasso: em 15 anos de existência, 40 milhões de pessoas passaram pelo programa, mas apenas 15 milhões foram diplomadas.

Em sua entrevista, Bolsonaro citou ainda que deseja um país que "respeite as crianças em sala de aula", como era "há 50 anos". Mas, cinco décadas atrás, poucos jovens tinham a oportunidade de sequer ver uma sala de aula. Havia algumas ilhas de excelência pelo país, mas o acesso era para poucos.

No final da década de 1960, 76% dos municípios registravam uma média inferior a dois anos de estudo para a população adulta. No Nordeste, a média de anos de estudo era de apenas 15 meses. No Norte, nove. Menos de 10% das crianças entre quatro a seis anos frequentavam a escola – hoje são mais de 90%.

No final de 2017, 7% da população do país com mais de 15 anos de idade não sabia ler ou escrever, segundo dados do IBGE.

Criminalidade

O Brasil de 2018 sofre, sem dúvida, muito mais com a violência do que em 1968. A taxa de homicídios em 2016 foi de 30,3 por cada grupo de 100 mil habitantes. Só que a atual epidemia começou a ser gestada na época sobre a qual Bolsonaro demonstra nostalgia. Os números do período de São Paulo servem de amostra.

Em 1960, quatro antes do golpe militar, a cidade registrou 5,7 homicídios por 100 mil habitantes. Eram, em sua maioria, casos envolvendo maridos traídos e disputas familiares. Em 1968, no entanto, a taxa saltou para 10,4 por 100 mil habitantes – pela primeira vez, havia atingido um nível epidêmico.

Segundo estudos, a situação piorou com o aumento da desigualdade e a mudança de atitude da polícia, que passou a priorizar cada vez mais o uso de uma lógica de extermínio em vez de formas adequadas de solução de crimes.

O ano de 1968 marcou a estreia dos infames esquadrões da morte em São Paulo, formados por grupos de policiais. Naquele ano, eles assassinaram 200 pessoas. As vítimas eram, em sua maioria, suspeitos de envolvimento em assaltos e furtos.

Mas a ação violenta de policiais acabou tendo um efeito reverso, piorando a criminalidade nas periferias. Com a polícia envolvida em assassinatos, parte da população passou evitar denunciar crimes. Conforme a Justiça ficou menos acessível, o ato de matar passou a ser visto cada vez mais como uma ferramenta eficaz.

"Em vez de controlar os roubos, os homicídios provocam novos homicídios e aumentam a desordem nesses lugares. Em territórios onde as próprias polícias matam, o homicídio torna-se uma ação cada vez mais escolhida na mediação de conflitos", aponta o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).

Em 1984, último ano da ditadura, o índice de homicídios em São Paulo havia alcançado 37,9 por 100 mil habitantes – mais alto do que a atual média nacional.

Crescimento e desigualdade

O ano de 1968 marca o início do "milagre econômico brasileiro", período de crescimento robusto que durou até 1973, com altas do Produto Interno Bruto (PIB), de entre 7% e 13% ao ano. Ao mesmo tempo, este também foi um período de piora nos níveis de desigualdade.

Em 1965, a participação na renda nacional do 1% mais rico da população, era cerca de 10% do total. Três anos depois, a cifra subiu para 16%. Os números pioraram ainda mais até o fim do regime. Já entre os 5% mais ricos, a participação na renda passou de 28,3% em 1960 para 34,1% em 1970.

Em contraste, os 50% mais pobres, que recebiam 17,4% do rendimento total em 1960, passaram a 14,9% do total em 1970. Neste último ano, havia 3.275 municípios (83% do total) cuja população vivia, em média, com menos de meio salário mínimo por mês.

Os indicadores também apontam que no período entre 1964 e 1974 ocorreu uma queda ou estagnação do salário mínimo real, apesar do crescimento da economia. Em São Paulo houve queda de 42% no poder aquisitivo do salário mínimo. Com os sindicatos banidos, os trabalhadores também não tinham canais para registrar a insatisfação.

Situação das mulheres

O panorama para as mulheres também era pior do que o atual. Elas tinham menos participação na economia, tinham mais filhos e menos renda e estudo.

O número de mulheres economicamente ativas em 1968 era baixo, mal alcançava 20%, contra 50% em 2010. A principal atividade delas era ajudar a formar famílias. Em 1970, a taxa de natalidade era de 5,8 filhos nascidos vivos por mulher – hoje, é de 1,7. Elas também eram mais dependentes dos maridos, e ainda não havia a Lei do Divórcio, sancionada apenas em 1977.

Naquela época, a renda média das mulheres era muito inferior à dos homens em todos os segmentos, como não escolarizadas e diplomadas. Em alguns casos, a discrepância chegava a quatro vezes o valor médio da renda. Uma mulher com curso universitário no Brasil em 1970 ganhava em média 41% do salário médio de um homem com diploma. Hoje, o percentual é de 75%.

Elas também tinham menos anos de estudo. A média no final da década de 1960 era de apenas 2,2 anos, contra 2,6 dos homens. No Nordeste, era de apenas 1,1 ano. Hoje é o contrário. Em 2015, elas tinham em média 9,7 anos de estudos, contra 9 anos dos homens. Em 2016, as mulheres também apareceram como maioria nos cursos de graduação no Brasil: 57,2% dos alunos. Em 1970, representavam 25,6% da população com título universitário.

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Re: Regime Militar

O organoléptico
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Mensagem por O organoléptico »

Agnoscetico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 11:36 am
O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 10:49 am
Agnoscetico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 09:47 am
Spoiler:
O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 09:38 am
Não sei porque chamam de ditadura um governo que se formalizou por atos institucionais. Supressão do judiciário ou do legislativo não caracterizam uma ditadura, são apenas modalidades de governo. Agora, se não houvessem leis, e um roteiro pré estabelecido, ai sim.
Off_topic:
Se for assim, democracia é que não era também. Apesar de eu questionar o viés de coisas que Vitor Moura, não sou negaconista do regime, ditadura, ou seja-lá-como-queiram-denominar, vide caso de Vladimir Herzog, morto pelo regime, mas forjaram um suicídio por enforcamento.
Off_topic:
É no mínimo questionável falar em "morto pelo regime", uma vez que o regime não institucionalizou esse tipo de ato. O que houve, se é que foi mesmo assassinato, foi um excesso que não pode ser atribuído oficialmente ao governo da época, até mesmo por que não houve um julgamento com sentença nem nada(digo quanto a apuração de tudo tintim por tintim!) ainda que com um juiz responsabilizando o governo.
.
Spoiler:
Se é que foi mesmo assassinato?

Ele não foi o único caso de "suicídios" durante regime militar.


youtu.be/GkckRaL2fa4


Agora melhor a gente voltar tratar sobre China.
Pra tratar sobre regime militar, tem o tópico:

https://clubeceticismo.com.br/viewtopic.php?f=20&t=231
Tá ok, continue-se por aqui, um off_topic que foi você quem estendeu.

Assassinato é um crime previsto em lei. Um policial, por exemplo, quando mata o criminoso em determinadas circunstâncias não pode ser considerado como autor de assassinato, então isso é questão de interpretação.

No caso do Vladimir Herzog houve uma morte em que ele foi encontrado na cela com um tecido enrolado no pescoço evidenciando enforcamento, passível de ter sido suicídio(até por que um vizinho meu mesmo foi encontrado morto nas mesmas condições, onde a corda estava ancorada na janela do quarto dele. Abriram o quarto dele de manhã e o encontraram morto, no caso, suicídio), ainda que possa ter sido também assassinato. Não se tirou nada a limpo.

No caso de ter sido assassinato não se apurou o autor, então é apenas uma hipótese, ainda que quase certa, não efetivamente comprovada.

Re: Regime Militar

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 12:15 pm
No caso de ter sido assassinato não se apurou o autor, então é apenas uma hipótese, ainda que quase certa, não efetivamente comprovada.
Viu vídeo inteiro? Viu exame que fizeram no cadáver em que concluíram que não poderia ter sido suicídio devido as marcas encontradas no corpo?

28:51

https://youtu.be/GkckRaL2fa4?t=1731

Re: Regime Militar

O organoléptico
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Mensagem por O organoléptico »

Agnoscetico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 13:06 pm
O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 12:15 pm
No caso de ter sido assassinato não se apurou o autor, então é apenas uma hipótese, ainda que quase certa, não efetivamente comprovada.
Viu vídeo inteiro? Viu exame que fizeram no cadáver em que concluíram que não poderia ter sido suicídio devido as marcas encontradas no corpo?

28:51

https://youtu.be/GkckRaL2fa4?t=1731
Não seria preciso o concurso do vídeo na assunção que fiz.

Mas vamos ao mérito, não? Considere que as marcas encontradas possam ter sido anteriores ao óbito. Suponha inclusive que em decorrência delas, fruto eventual de uma anterior tortura o Herzog tenha entrado em desespero daí, se suicidando; e aí, como faz?

Re: Regime Militar

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 13:14 pm
Agnoscetico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 13:06 pm
O organoléptico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 12:15 pm
No caso de ter sido assassinato não se apurou o autor, então é apenas uma hipótese, ainda que quase certa, não efetivamente comprovada.
Viu vídeo inteiro? Viu exame que fizeram no cadáver em que concluíram que não poderia ter sido suicídio devido as marcas encontradas no corpo?

28:51

https://youtu.be/GkckRaL2fa4?t=1731
Não seria preciso o concurso do vídeo na assunção que fiz.

Mas vamos ao mérito, não? Considere que as marcas encontradas possam ter sido anteriores ao óbito. Suponha inclusive que em decorrência delas, fruto eventual de uma anterior tortura o Herzog tenha entrado em desespero daí, se suicidando; e aí, como faz?
Foram vários casos de "suicídio" todos da mesma forma: Enforcamento.
Geisel admitiu que práticas como torturas foram coisas estúpidas.
Mas como não viu vídeo onde explica melhor o caso, então fica difícil.
Agora, se for pra ser cético, melhor não ser cético seletivo, como aqueles que falam "Holocausto não existiu mas massacres feito no regime de Pol Pot sim".

Re: Regime Militar

O organoléptico
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Mensagem por O organoléptico »

Agnoscetico escreveu:
Qui, 30 Dezembro 2021 - 13:48 pm

Geisel admitiu que práticas como torturas foram coisas estúpidas.
.
Sim. Um bom presidente. Ops, ou melhor, uma boa declaração.

Re: Regime Militar

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Juiz que rejeitou indenizar vítimas da ditadura é contestado por saudação ao regime
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O juiz federal Luís Antônio Johonsom di Salvo, que recentemente negou indenizações a vítimas da ditadura militar no Brasil (1964-1...
https://br.noticias.yahoo.com/juiz-que- ... 00901.html

Re: Regime Militar

nuker
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Mensagem por nuker »

Aí é que tá a questão... A situação de miséria e baixo desenvolvimento nacional era por causa dos militares ou simplesmente era por causa do baixo desenvolvimento que havia naquela época? Ou seja, era mesmo por culpa dos militares ou era nada mais nada menos que o contexto daquela época, em que inclusive a tecnologia era mais atrasada? Se voltarmos ainda mais no passado em relação ao período militar, o país era ainda mais atrasado. Quanto mais voltarmos no tempo, o Brasil fica cada vez mais atrasado. Para mim não foi por causa dos militares, era apenas o contexto daquela época. E também porque na época havia aquela guerra fria e então o comércio e a economia mundial eram mais limitados, não havia a globalização que existe hoje em dia. Então é natural pensar que o Brasil como país de terceiro mundo estivesse ainda mais atrasado mesmo do que hoje.

O que realmente atrasou o país foi a inauguração da República primeiro e em seguida tendências fascistas de governo como da época em que Vargas foi ditador nos anos 30 e 40.

Re: Regime Militar

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Não passe vergonha ao falar da ditadura brasileira


youtu.be/ugYir8MIPfI

Re: Regime Militar

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Durante a ditadura, foi construída a hidrelétrica de Itaipu, que é fundamental para o abastecimento de energia elétrica, as duas usinas nucleares de Angra, que já salvaram o Rio de muitos apagões, a Embratel e a comunicação por satélite, a Embraer etc.

Também fizeram besteira, como a Transamazônica, ou a usina de Belo Monte (acabaram desistindo e foi o PT que construiu, devastando florestas, expulsando índios e maltratando os operários).

Re: Regime Militar

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Titoff
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Mensagem por Titoff »

Fernando Silva escreveu:
Ter, 10 Maio 2022 - 09:01 am
Durante a ditadura, foi construída a hidrelétrica de Itaipu, que é fundamental para o abastecimento de energia elétrica, as duas usinas nucleares de Angra, que já salvaram o Rio de muitos apagões, a Embratel e a comunicação por satélite, a Embraer etc.

Também fizeram besteira, como a Transamazônica, ou a usina de Belo Monte (acabaram desistindo e foi o PT que construiu, devastando florestas, expulsando índios e maltratando os operários).
Se for considerar por obras, digo que há outras ditaduras fazendo construções muito mais sinistras, inclusive a ditadura comunista chinesa. E não é por isso que eu digo que essas ditaduras são boas e o povo está indo bem.

Re: Regime Militar

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Titoff escreveu:
Ter, 10 Maio 2022 - 14:50 pm
Fernando Silva escreveu:
Ter, 10 Maio 2022 - 09:01 am
Durante a ditadura, foi construída a hidrelétrica de Itaipu, que é fundamental para o abastecimento de energia elétrica, as duas usinas nucleares de Angra, que já salvaram o Rio de muitos apagões, a Embratel e a comunicação por satélite, a Embraer etc.

Também fizeram besteira, como a Transamazônica, ou a usina de Belo Monte (acabaram desistindo e foi o PT que construiu, devastando florestas, expulsando índios e maltratando os operários).
Se for considerar por obras, digo que há outras ditaduras fazendo construções muito mais sinistras, inclusive a ditadura comunista chinesa. E não é por isso que eu digo que essas ditaduras são boas e o povo está indo bem.
A ditadura não foi boa, mas também não foi o Reino do Terror em que as esquerdas querem que acreditemos.

Tive parentes exilados, parentes torturados, mas minha vida foi normal. Não vivi apavorado ou deprimido. Estudei, entrei para a faculdade, me formei, comecei a trabalhar, viajei para o exterior etc. Não lembro de ter tido problemas pelo fato de viver numa ditadura. Claro que eu ouvia falar de prisões e mortes suspeitas, sabia que músicas, filmes, livros etc. eram censurados, mas, pessoalmente, não fui afetado.

Talvez eu fosse um alienado ou talvez eu tenha me adaptado à situação, mas o fato é que isto era possível.

Re: Regime Militar

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Titoff
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Mensagem por Titoff »

Fernando Silva escreveu:
Qua, 11 Maio 2022 - 08:42 am
Titoff escreveu:
Ter, 10 Maio 2022 - 14:50 pm
Fernando Silva escreveu:
Ter, 10 Maio 2022 - 09:01 am
Durante a ditadura, foi construída a hidrelétrica de Itaipu, que é fundamental para o abastecimento de energia elétrica, as duas usinas nucleares de Angra, que já salvaram o Rio de muitos apagões, a Embratel e a comunicação por satélite, a Embraer etc.

Também fizeram besteira, como a Transamazônica, ou a usina de Belo Monte (acabaram desistindo e foi o PT que construiu, devastando florestas, expulsando índios e maltratando os operários).
Se for considerar por obras, digo que há outras ditaduras fazendo construções muito mais sinistras, inclusive a ditadura comunista chinesa. E não é por isso que eu digo que essas ditaduras são boas e o povo está indo bem.
A ditadura não foi boa, mas também não foi o Reino do Terror em que as esquerdas querem que acreditemos.

Tive parentes exilados, parentes torturados, mas minha vida foi normal. Não vivi apavorado ou deprimido. Estudei, entrei para a faculdade, me formei, comecei a trabalhar, viajei para o exterior etc. Não lembro de ter tido problemas pelo fato de viver numa ditadura. Claro que eu ouvia falar de prisões e mortes suspeitas, sabia que músicas, filmes, livros etc. eram censurados, mas, pessoalmente, não fui afetado.

Talvez eu fosse um alienado ou talvez eu tenha me adaptado à situação, mas o fato é que isto era possível.
Ah sim, teve tortura, perseguição, atentado terrorista, corrupção, censura, e a população em geral saiu da ditadura pior do que entrou, mas é inegável que aconteceram coisas bem piores na história da humanidade.

Eu conheço imigrantes chineses que dizem que suas famílias não entendem o motivo de terem saído da China, pois a vida lá é boa, segundo seus familiares. Trabalham, conseguem mandar filhos para estudar fora até, tem moradia e tal. É só não fazer ou falar nada que desagrade ao partido; é só não querer "arrumar confusão."

Re: Regime Militar

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Spoiler:
Titoff escreveu:
Qui, 12 Maio 2022 - 14:42 pm
Ah sim, teve tortura, perseguição, atentado terrorista, corrupção, censura, e a população em geral saiu da ditadura pior do que entrou, mas é inegável que aconteceram coisas bem piores na história da humanidade.

Eu conheço imigrantes chineses que dizem que suas famílias não entendem o motivo de terem saído da China, pois a vida lá é boa, segundo seus familiares. Trabalham, conseguem mandar filhos para estudar fora até, tem moradia e tal. É só não fazer ou falar nada que desagrade ao partido; é só não querer "arrumar confusão."
E lembrando que muitas coisas aconteciam nos porões da ditadura brasileira. Teve casos de "suicídios" de Vladimir Herzog e outros.

Re: Regime Militar

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Titoff
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Mensagem por Titoff »

Agnoscetico escreveu:
Qui, 12 Maio 2022 - 18:17 pm
Spoiler:
Titoff escreveu:
Qui, 12 Maio 2022 - 14:42 pm
Ah sim, teve tortura, perseguição, atentado terrorista, corrupção, censura, e a população em geral saiu da ditadura pior do que entrou, mas é inegável que aconteceram coisas bem piores na história da humanidade.

Eu conheço imigrantes chineses que dizem que suas famílias não entendem o motivo de terem saído da China, pois a vida lá é boa, segundo seus familiares. Trabalham, conseguem mandar filhos para estudar fora até, tem moradia e tal. É só não fazer ou falar nada que desagrade ao partido; é só não querer "arrumar confusão."
E lembrando que muitas coisas aconteciam nos porões da ditadura brasileira. Teve casos de "suicídios" de Vladimir Herzog e outros.
Com certeza. Teve o "suicídio" do diplomata José Jobim, por exemplo. Na verdade ele foi sequestrado, torturado e morto pouco depois de anunciar que iria revelar casos de corrupção na construção de itaipú.

Re: Regime Militar

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Os atentados a bomba dos militares linha dura:
A direita explosiva quis voltar

Se o primeiro atentado da 'Direita explosiva' tivesse sido investigado e seus autores punidos na letra da lei e dos regulamentos, o Brasil, a Justiça e as Forças Armadas teriam lucrado

Coluna Elio Gaspari 01/01/2023


As delinquências confessadas por George Washington de Oliveira Sousa, gerente de um posto de gasolina no Pará, militante acampado diante do Quartel General do Exército, em Brasília, mostram que ele pretendia praticar um ato terrorista na capital. Pelo plano, explodiriam um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto. Outra bomba interromperia o fornecimento de energia de Taguatinga. Assim, dariam “início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.

Bomba num pátio, corte de energia, caos... Mark Twain já ensinou: A História não se repete, mas rima.

Oliveira Sousa está preso e revelou ter articulado o crime com pelo menos três pessoas. Esse atentado, impedido pela ação da polícia civil de Brasília, bem como inúmeras ameaças, injetaram tensão na festa da posse do presidente Lula.

Nos anos 60 e 70 do século passado, o país teve um terrorismo de esquerda, com o sequestro de quatro diplomatas estrangeiros e a morte de dezenas de pessoas. Foram executados um empresário, um delegado, um capitão do exército americano e um major alemão, confundido com um capitão boliviano. A ditadura enfrentou esse surto com desproporcional violência. A tortura tomou-se política de Estado e foi seguida por uma diretriz de extermínio.

Em 1981, extinto o surto terrorista e dois anos depois da anistia, explodiu uma bomba no colo de um sargento do DOI do I Exército (atual Comando Militar do Leste). Ele acompanhava um capitão, seu superior. Era o atentado do Riocentro. Se as coisas corressem como se supõe que havia sido planejado, aquela bomba explodiria no estacionamento enquanto outra, jogada na estação de energia, cortaria a luz do show que se realizava no pavilhão. O episódio do Riocentro provocaria um caos e, quem sabe, levaria à decretação de medidas de emergência.

(A bomba que explodiu no colo do sargento matou-o, ferindo o capitão. A da estação de energia falhou.)

Passaram-se 41 anos, o capitão foi para a reserva como coronel. Na cena da bomba atirada contra a casa de força estava o coronel da reserva Freddie Perdigão Pereira, lotado no Serviço Nacional de Informações. Na tarde de 31 de março de 1964, o então tenente Perdigão foi mandado ao Palácio das Laranjeiras com um tanque, para proteger o presidente João Goulart. Ele morreu em 1996 durante uma cirurgia. Até hoje prevalece a versão de que nenhum militar tinha a ver com as explosões.

A “Explosiva” detonou a direita

A prisão de Oliveira e Sousa e sua confissão recomendam que se revisite o terrorismo de direita. Ele foi beneficiado pela impunidade, mas foi revelado, à fartura, por alguns de seus personagens. Nada melhor que a leitura de “A Direita Explosiva no Brasil”, de José Argolo, Kátia Ribeiro e Luiz Alberto Fortunato. Publicado em 1996, contém uma coleção de depoimentos, com o coronel Alberto Fortunato como um de seus principais personagens.

Fortunato esteve em inúmeros episódios da anarquia militar da segunda metade do século XX. Na década de 1960 ele participou de cerca de 30 atentados. Articulava-se com colegas, empresários e políticos.

Em 1962, Fortunato preparou uma bomba com dez bananas de dinamite, deixadas no pavilhão de São Cristóvão, onde havia uma exposição de produtos da União Soviética. Militares que souberam do plano temeram que morresse gente e avisaram ao governo do Rio. Seis anos depois, o coronel atirou uma bomba na porta do Teatro Glaucio Gil, em Copacabana. Nele realizavam-se assembleias de artistas.

A essa altura Fortunato ligara-se a oficiais que serviam no Centro de Informações do Exército, o CIE, e a Hilário Corrales, um comerciante de madeira do Estácio, que se tornaria um bom amigo do major Freddie Perdigão, então lotado no CIE.

Durante o ano de 1968, antes da decretação do Ato Institucional nº 5, o grupo em que estavam oficiais do CIE explodiu 20 bombas no Rio.

O coronel Luiz Helvécio da Silveira Leite, do CIE, recordou o atentado contra o teatro Opinião:

“Foi tentado deixar uma bomba de retardo dentro do teatro, para explodir após a sessão. Eles estavam com uma vigilância muito aguçada sobre nossos agentes, que nem podiam se mexer. Optou-se então pela destruição total. Numa madrugada de chuva, com algumas cargas ocas e coquetéis molotovs, destruímos o teatro.”

Em 1970, o núcleo terrorista onde estava Fortunato pôs duas bombas na casa onde funcionava a redação do semanário O Pasquim e depois disso adormeceu.

Acordaram em 1976. Sequestraram um bispo, explodiram bancas de jornais, puseram uma bomba na porta da CNBB e outra na casa do jornalista Roberto Marinho, dono das Organizações Globo.

Em 1980, uma carta-bomba matou a secretária do presidente da OAB e, no DOI, alguém teve a ideia de explodir a casa de força do Riocentro. O oficial que chefiava a seção de operações do destacamento vetou o projeto.

Em abril de 1981, a ideia renasceu e, segundo o coronel Fortunato, Hilário Corrales fez a bomba que explodiria no colo do sargento.

Corrales fugiu para São Paulo, voltou ao Rio e morreu em julho do ano seguinte. Seu caixão foi levado por dois generais reformados e um oficial fez um inflamado discurso à beira do túmulo. No fim da vida, Corrales foi assistido pelo coronel Freddie Perdigão

O livro “A Direita Explosiva no Brasil” lista 32 atentados praticados entre 1968 e 1980 pelos grupos do coronel Fortunato e dos oficiais do CIE. Com o do Riocentro, são 33.

Nenhum desses atentados teve a autoria desvendada, mas tratava-se de um segredo de Polichinelo. Em três meses, o detetive particular Bechara Jalkh identificou a origem do explosivo e os autores do atentado à casa de Roberto Marinho. Comandantes militares da época e generais do Palácio do Planalto sabiam quem fazia o que. Uns achavam que lhes convinha, outros acreditavam que aquilo passaria, pois era coisa de “radicais sinceros”. (Uma carta identificando o automóvel do qual saiu o cidadão que explodiu uma banca de jornais foi engavetada.)

As bombas do Riocentro abalaram o regime e a disciplina das Forças Armadas. Foram necessárias décadas para recolocar a imagem dos militares no devido lugar.

Se o primeiro atentado da “Direita Explosiva” tivesse sido investigado e seus autores punidos na letra da lei e dos regulamentos, o Brasil, a Justiça e as Forças Armadas teriam lucrado.
https://oglobo.globo.com/opiniao/elio-g ... ltar.ghtml
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