Capitalismo

Área destinada à discussão sobre Laicismo e Política e a imparcialidade do tratamento do Estado às pessoas.
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Capitalismo

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JJ_JJ
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Mensagem por JJ_JJ »

Tópico para postagens gerais sobre  capitalismo (sua história, notícias atuais ou antigas, juízos de valor, juízos de fatos, etc).

Re: Capitalismo

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JJ_JJ
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Mensagem por JJ_JJ »

JJ escreveu: Empresas Zumbis - As Mortas-Vivas


Uma pesquisa internacional feita pela KPMG com mais de 400 credores detectou que instituições financeiras estão crescentemente preocupadas com o aumento do número das chamadas “empresas zumbis.” Essas empresas vivem uma existência “da mão para a boca”, gerando caixa que pode até ser suficiente para pagar seus fornecedores e fazer girar o negócio. Entretanto, sua posição patrimonial precária e baixos níveis de sobra de caixa não permitem que essas empresas amortizem seus empréstimos ou façam investimentos necessários para o empreendimento. Sem uma reestruturação eficaz, a pesquisa sugere que esses zumbis poderiam tornar-se alvo de uma nova onda de recuperações judiciais no médio e longo prazo.

Vida vegetativa

Assim como os zumbis das histórias estão mortos mas ainda andam, seus equivalentes corporativos ficam vagando em uma zona logo acima da insolvência, porém ainda distante de uma verdadeira viabilidade. Uma empresa zumbi tipicamente está na Unidade de Terapia Intensiva, necessitando de ajuda financeira contínua de credores e investidores para continuar suas operações. Empresas zumbis não demonstram necessariamente prejuízos. Tipicamente, elas têm uma lucratividade próxima a zero ou ligeiramente positiva. Entretanto, embora elas gerem receitas suficientes para pagar suas despesas operacionais, elas não conseguem pagar suas dívidas. Isto claramente traz preocupações para os credores.  


A KPMG buscou a opinião dos credores quanto ao problema das empresas zumbis. Os resultados da pesquisa pintam um quadro preocupante. Nos melhores cenários, a pesquisa sugere que as empresas vão encontrar maiores dificuldades para conseguir uma solução fora dos tribunais, idealmente através de um refinanciamento. Nos piores cenários, há indícios que um número crescente de empresas serão forçadas a buscar os mecanismos formais de reestruturação previstos em lei.

As preocupações citadas pelos credores


[...]

restante no link:


http://www.tmabrasil.org/blog-tma-brasi ... rtas-vivas


JJ escreveu:
E aqui um exemplo de uma grande zumbi:


Como o Uber sobrevive com prejuízo de US$ 1,2 bilhão e sem nunca ter dado lucro?



Aplicativo de transporte compartilhado que expandiu para o delivery de comida já está há 10 anos em um crescente mercado global e segue perdendo dinheiro


Os investidores do Uber têm esperado pacientemente um retorno de investimento. A julgar pelo último informe trimestral, contudo, terão de esperar um pouco mais. O aplicativo de transporte compartilhado que expandiu para o delivery de comida já está há 10 anos em um crescente mercado global e segue perdendo dinheiro.

Embora sua clientela tenha crescido e sua renda melhorado, o balanço segue sendo negativo. As últimas cifras destacam que a receita da empresa subiu quase 30%, chegando a US$ 3,8 bilhões. Mas o prejuízo líquido ainda está em quase US$ 1,2 bilhão.
O Uber permite que passageiros e motoristas se deem notas.

Que nota a empresa receberia hoje?

[...]


https://epocanegocios.globo.com/Empresa ... lucro.html





Por que o Uber está em crise

Empresa aumenta faturamento e atende 100 milhões de pessoas por mês, mas vê seus custos crescerem acima do esperado e registra prejuízo recorde


É comum uma empresa de tecnologia ter escassos lucros nos primeiros anos de seu funcionamento. E nem mesmo o Uber, considerado uma máquina de ganhar dinheiro, foge dessa sina. Apesar de apresentar números impressionantes de desempenho, como o uso da plataforma por quase 100 milhões de pessoas por mês, o aplicativo de transporte teve um prejuízo de US$ 5,2 bilhões no segundo trimestre de 2019, contra cerca de US$ 880 milhões no mesmo período do ano passado. Após a divulgação dos resultados, as ações da empresa despencaram 12% em Wall Street. E os acionistas, é claro, não gostaram nem um pouco. A própria entrada do Uber na Bolsa de Valores, em maio desse ano, que levantou US$ 8 bilhões, foi considerada decepcionante por analistas. O CEO Dara Khosrowshahi clamou por paciência e destacou a concorrência global como um dos fatores formadores do cenário. “Só estamos no começo dessa incrível jornada”, argumentou.


[...]


https://istoe.com.br/por-que-o-uber-esta-em-crise/

Re: Capitalismo

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Frencisco Toucinho
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Mensagem por Frencisco Toucinho »

O capitalismo forma um excelente meio de organização, voltado para o crescimento econômico.

Não vejo nada muito errado no sistema. Muito do que culpam o capitalismo resulta da superpopulação que afeta o planeta. Simplesmente não há recursos para que todos façam tudo. Não adianta culpar, mesmo que o sistema propicie distribuição econômica de forma desigual. Alguns conseguem mais, outros menos, e as alternativas fracassaram. Triste, mas verdade.

Seria melhor recomendar aos homens que mantivessem seu peru dentro das calças. Pelo menos por mais tempo. Evitaria muita miséria.

Re: Capitalismo

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JJ_JJ
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Mensagem por JJ_JJ »

Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
O capitalismo forma um excelente meio de organização, voltado para o crescimento econômico.

Mero juízo de valor. E juízo de valor por juízo de valor o meu é que o capitalismo liberal é menos ruim do que sistemas anteriores como o feudalismo, mas não tem nada de excelente, no máximo é menos ruim. Mas, nem de muito longe é excelente.
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
Não vejo nada muito errado no sistema.
Eu vejo e muitos outros veem problemas. Novamente aqui temos meros juízos de valor.
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
Simplesmente não há recursos para que todos façam tudo.
Este sistema é baseado em escassez e não em abundância.
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
Seria melhor recomendar aos homens que mantivessem seu peru dentro das calças. Pelo menos por mais tempo. Evitaria muita miséria.

Proposição muito tola. Basta pensar que há 250 anos a população era muito menor e nem por isso havia menos pobreza em termos proporcionais. Ou também podemos ver que densidade populacional não implica obrigatoriamente em miséria (ou mesmo muita pobreza). Ou podemos também imaginar que eliminar 90% da população mundial (como muitos conspiracionistas imaginam que há planejamento de alguma NOM para isso) não faria a parte restante ficar dez vezes mais rica e ter dez vezes mais renda.



.

Re: Capitalismo

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

JJ_JJ escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 22:19 pm
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
O capitalismo forma um excelente meio de organização, voltado para o crescimento econômico.
Mero juízo de valor. E juízo de valor por juízo de valor o meu é que o capitalismo liberal é menos ruim do que sistemas anteriores como o feudalismo, mas não tem nada de excelente, no máximo é menos ruim. Mas, nem de muito longe é excelente.
O capitalismo é a opção menos ruim. Até encontrarmos algo diferente, fiquemos com ele, procurando melhorar o que for possível.
JJ_JJ escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 22:19 pm
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
Simplesmente não há recursos para que todos façam tudo.
Este sistema é baseado em escassez e não em abundância.
A escassez é o ponto de partida. Sempre foi. A abundância requer um esforço constante. Não é algo que se conquista e pronto.
JJ_JJ escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 22:19 pm
Frencisco Toucinho escreveu:
Dom, 21 Junho 2020 - 21:33 pm
Seria melhor recomendar aos homens que mantivessem seu peru dentro das calças. Pelo menos por mais tempo. Evitaria muita miséria.
Proposição muito tola. Basta pensar que há 250 anos a população era muito menor e nem por isso havia menos pobreza em termos proporcionais. Ou também podemos ver que densidade populacional não implica obrigatoriamente em miséria (ou mesmo muita pobreza). Ou podemos também imaginar que eliminar 90% da população mundial (como muitos conspiracionistas imaginam que há planejamento de alguma NOM para isso) não faria a parte restante ficar dez vezes mais rica e ter dez vezes mais renda.
A população sempre cresce até atingir os limites da escassez. Quem está na fronteira morre de fome ou vive na miséria.
Se a população tivesse parado de crescer 250 anos atrás, com os recursos de hoje em dia, acredito que não haveria miséria.
Mas ela sempre cresce até atingir os limites dos recursos disponíveis, irresponsavelmente.

Re: Capitalismo

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Frencisco Toucinho
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Mensagem por Frencisco Toucinho »

Obrigado, Fernando por antecipar muito do que iria dizer.

O capitalismo colocou no chinelo as maiores realizações das civilizações pré-capitalistas. Prédios, aeronaves, vacinas, exploração espacial, bilhões em população, expectativa de vida maior, classes ociosas ou parcialmente ociosas, tudo isso é fruto de uma produção maior atingida por esse sistema. Como o próprio Marx admite, foi ele quem libertou as forças produtivas da humanidade.

Continuo achando o sistema excelente e estou um convicto que não surgirá nada muito diferente do paradigma da livre concorrência, no que tange à redução dos custos de produção.

Quer saúde universal? Educação de qualidade? alimentos requintados? Torne isso barato. Não há outra opção, acho até difícil imaginar algo além desse raciocínio.

Re: Capitalismo

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Frencisco Toucinho
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Mensagem por Frencisco Toucinho »

Sobre a superpopulação já foi usada a imagem da bomba relógio. O capitalismo gerou uma onda de superprodução, que deu certa folga à humanidade. Se ela gastar esse tempo livre se reproduzindo sem controle, certamente a produção não vai dar conta das necessidades das pessoas, voltando muitos à pobreza.

Re: Capitalismo

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Frencisco Toucinho escreveu:
Seg, 22 Junho 2020 - 10:07 am
Sobre a superpopulação já foi usada a imagem da bomba relógio. O capitalismo gerou uma onda de superprodução, que deu certa folga à humanidade. Se ela gastar esse tempo livre se reproduzindo sem controle, certamente a produção não vai dar conta das necessidades das pessoas, voltando muitos à pobreza.
Isso é mais problema na China e Índia, na Europa, EUA, etc, a população ta descrescendo.


(...)


Relacionado ao que postei aqui:

Escassez de combustíveis se agrava nos EUA


youtu.be/x4AUXVsmoiw


EUA têm filas em postos de gasolina após ataque hacker atingir oleoduto


youtu.be/X3P7VU-16yA

Re: Capitalismo

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Como já pensei faz muito anos, a crise do governo PT seria efeito retardado dessa crise (que o Lula não levou a série e chamou de "Marolinha"):

Como venda desenfreada de casas nos EUA levou a crise global | 21 notícias que marcaram o século 21


youtu.be/0efAb93Anjg

Re: Capitalismo

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Agnoscetico escreveu:
Seg, 11 Outubro 2021 - 17:47 pm
Como já pensei faz muito anos, a crise do governo PT seria efeito retardado dessa crise (que o Lula não levou a série e chamou de "Marolinha"):

Como venda desenfreada de casas nos EUA levou a crise global | 21 notícias que marcaram o século 21
Esta foi uma das causas. A outra, talvez a principal, foi a distribuição irresponsável de "bondades" eleitoreiras em vez de investimento no futuro.
Um dia, o dinheiro acabou.

Re: Capitalismo

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Tutu
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Mensagem por Tutu »

Abrindo uma pergunta: Como vocês definem "capitalismo"?
Dependendo da pessoa a resposta é completamente diferente.
Essa palavra foi inventada por Marx para denominar o sistema das relações em que a burguesia é dona dos meios de produção e o proletariado trabalha para ela. A sociedade mudou muito desde então, surgiram novos agentes e os velhos assumiram formas diferentes.
Agnoscetico escreveu:
Seg, 11 Outubro 2021 - 17:47 pm
Como já pensei faz muito anos, a crise do governo PT seria efeito retardado dessa crise (que o Lula não levou a série e chamou de "Marolinha"):
Os 2010's foram outra década perdida.
O PT tentou segurar a crise com medidas ruins e conseguiu adiar o estouro, que teve consequências piores.
A economia ficou estável sem crescer até 2012. A partir de 2013, a crise estourou e até hoje não se recuperou.
O PIB corrigido pela inflação ainda não voltou a ser como era em 2008.

O governo PT se preocupou em fazer populismo em vez de sanar problemas na base para que a economia seja mais forte contra essas porradas. A educação no Brasil é muito ruim, mas não é falta de verba.
Agnoscetico escreveu:
Seg, 11 Outubro 2021 - 17:47 pm
Como venda desenfreada de casas nos EUA levou a crise global | 21 notícias que marcaram o século 21
Que eu saiba, a crise foi por falta de regulamentação no sistema bancário. Lá nos EUA as pessoas hipotecavam a mesma casa em mais de um banco, então existia duas dívidas e uma só garantia.

Re: Capitalismo

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Um longo texto sobre a globalização e os problemas que enfrenta devido ao Covid-19 e à falta de mão de obra.
E problemas de infraestrutura de transporte e armazenamento que crescem mais devagar que a produção.
E o fato de que as pessoas estão comprando pela Internet, o que leva ao fornecimento item a item diretamente ao consumidor final em vez de por atacado para as lojas.
A GLOBALIZAÇÃO QUEBROU

Pedro Doria - 16 de outubro de 2021

O meme circulou faz uma ou duas semanas no Reino Unido — o premiê Boris Johnson liga para a rainha Elizabeth II e pergunta, como quem não quer nada. “A senhora dirigiu caminhões durante a Guerra, não?” Elizabeth II trabalhou de fato, no esforço de Guerra, como mecânica de caminhões. E Johnson está desesperado atrás de motoristas para a frota — há, na Grã Bretanha, 100 mil vagas abertas com ninguém que deseje preenche-las. O governo abriu um programa de vistos temporários para atrair motoristas principalmente do Leste Europeu. Após duas semanas apareceram vinte candidatos. O resultado mais visível da crise são as longas filas de carros para abastecer nos postos de combustível. Derivados de petróleo estão em falta. Mas não é só lá. Em agosto havia 40 navios cargueiros na fila para descarregar no maior porto dos Estados Unidos, o de Los Angeles e Long Beach. Em setembro já eram 70. Agora em outubro os números pararam de ser divulgados. É pouco. No mar próximo dos portos de Hong Kong e de Shenzen, na China, a fila passa de cem navios. Nas contas do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, o setor deixou de exportar nos últimos meses US$ 500 milhões em grãos. Por falta de contêineres de navio. No Vietnã, o principal centro produtor de roupas do mundo, as fábricas fecharam em setembro após uma explosão de casos de Covid. A Apple anunciou que vão faltar iPhones 13 no Natal — não há peças para fabricar e atender à demanda.

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A globalização quebrou. Mas por quê?

Os motivos são muitos mas podem ser reduzidos a três. Um deles é que a globalização deu certo. Outro é a pandemia. O terceiro é que a infraestrutura do planeta não está preparada para uma economia que se digitaliza rapidamente. As três questões são independentes mas se correlacionam. Há uma tempestade perfeita em curso e as consequências são muitas. Em termos macroeconômicos está gerando inflação porque há pouca oferta e muita demanda. E a demanda não é só por produtos, é também por mão de obra que em muitas funções enfrenta escassez.

O mundo em contêineres

O que passamos a chamar de globalização, na década de 1990, é a relação de inúmeros fenômenos distintos. Mas, na indústria, ela nasce quando a Toyota era uma fábrica de caminhões precisando atender a muitos pedidos do governo japonês para o esforço de guerra, nos anos 1930. Os executivos tinham de lidar com os riscos de ter pouco dinheiro em caixa mas muitas encomendas numa sociedade particularmente eficiente. Assim, tomaram a decisão de não estocar peças, como sempre foi a praxe na indústria automotiva. As peças eram encomendadas de fornecedores de confiança e chegavam apenas conforme eram necessárias. Esta maneira de fabricar se espalhou pelo mundo de forma muito lenta até que, nos anos 80, ganhou fama e se popularizou com o nome Just in Time — algo como ‘no momento exato’. Hoje o método é chamado de lean manufacturing, ou ‘manufatura magra’ no sentido de sem excessos.

A dificuldade do método é que ele só funciona com eficiência de toda a cadeia. Os fornecedores têm de ser tão ágeis quanto quem fabrica e o transporte de um canto para o outro exige precisão.

Pois o que passou a ocorrer de forma diferente, na última década do século 20, foi uma abertura generalizada de mercados. Assim, a possibilidade de fabricar com qualidade em locais do mundo que produziam por um custo muito mais baixo fez do método global. Os oceanos abriram para um tráfego constante de navios levando matéria prima de um canto ao outro, para que em fábricas fossem transformadas em peças que novamente eram colocadas em navios para que em outras fábricas noutros países virassem produtos de novo colocados em navios e exportados para os mercados em que seriam consumidos.

A história do rápido crescimento da China passa por este momento de transformação do mundo. O país se especializou na fabricação de equipamento digital de ponta e, posteriormente, com o dinheiro ganho investiu na formação de engenheiros para desenvolver sua própria tecnologia. Mas também o crescimento bem mais tímido do Brasil, nos primeiros anos do século 21, passa por aí — exportando matéria prima para a China, principalmente ferro, petróleo e a soja que alimenta rebanhos.

A globalização não é apenas fruto de um jeito mais eficiente de fabricar ou da abertura de mercados. O motivo pelo qual ambos foram possíveis passa pela sistematização, no final da década de 1970, do sistema de contêineres de navios. As grandes caixas na qual produtos são armazenados para transporte marítimo já existiam desde o século 18. Mas o que aconteceu a partir dos anos 80 foi que, com tamanhos dos contêineres padronizados, foi possível criar uma frota naval uniforme. Quando se constrói um navio já se sabe quantos contêineres caberão. Eles têm, também, um tamanho que permite serem transportados por caminhões e trens. Os equipamentos de portos, como sistemas de guindaste, são igualmente construídos para os tamanhos pré-determinados. O padrão fez o preço do transporte despencar. Como num jogo de Lego, as peças sempre se encaixam e o fluxo navio-porto-transporte terrestre é contínuo.

Mais recentemente, algumas mudanças ocorreram que ajudaram a formar a crise. A primeira é que a indústria de transporte marítimo se consolidou — hoje, dez companhias controlam 80% do mercado. Outra é que estas empresas estão construindo navios cada vez maiores.

O resultado prático é que, com menos concorrência, as transportadoras passaram a ter poder de ditar as rotas que seguirão e o momento em que saem e chegam. Isto quer dizer que estão esperando mais para encher próximo do máximo cada navio. Os portos, porém, não foram adaptados para descarregar estes navios gigantes.

Contêineres podem ser empilhados nos pátios de portos. Mas o problema não é apenas que navios grandes demoram mais tempo para serem descarregados e que os contêineres neles ocupam mais espaço nos pátios. O problema é também de escoamento. O número de pistas nas estradas que saem dos portos, assim como o de trilhos de trem, também não foi ampliado. Não bastasse, contêineres empilhados são mais difíceis de gerenciar. O caminhão chega para pegar um destes, é preciso localizar onde está no pátio e, caso esteja na base de uma pilha, demora mais para o guindaste separá-lo. Os navios aumentaram — o resto do sistema, não.

E aí bate na mão de obra. Em países como os da Europa, no Reino Unido o problema é mais agudo, os motoristas de caminhão estão envelhecendo e não estão sendo substituídos. Os salários, os benefícios, e o trabalho simplesmente não são atraentes o bastante para as novas gerações. Nos EUA, impacto semelhante ocorre com os trabalhadores de portos. Há falta de mão de obra e dificuldade de contratação.

O boom do digital

Em 2019, a indústria global do e-commerce vendeu US$ 3,3 bilhões de dólares em produtos, de acordo com a Statista. No ano seguinte, o ano da explosão da Covid, vendeu US$ 4,3 bilhões. A estimativa para este ano é de que cresça perto de outro bilhão. Números assim costumam ser celebrados e identificados como reflexo de uma cultura digital que se expande rapidamente — o que é verdade. O e-commerce cresceu. Mas o e-commerce também torna mais complexa toda a logística de transporte que já estava naturalmente pressionada.

Quando uma grande cadeia de varejo vende celulares, seus executivos ordenam a compra de grandes lotes que vêm da China ou doutro canto e distribuem as máquinas por um número restrito de lojas pelo país. Mas quando um rapaz na periferia paulistana percebe que pode comprar um smartphone turbinado por um site chinês, podendo parcelar e pagando menos, aí a situação muda. Não são lotes de celulares que são vendidos — é um aparelho. Que é empacotado, endereçado, e colocado com muitas outras unidades de produtos os mais diversos num contêiner de miscelânea que chega ao Brasil para ser distribuído, um a um, não para uma cadeia com número limitado de lojas. Mas cada unidade para um endereço residencial final.

Está acontecendo no Brasil como está acontecendo em todo o mundo. O volume de produtos transportados aumentou e, cada vez mais, representam não apenas grandes lotes de um grande comprador mas, também, unidades adquiridas por muitos compradores.

Este é um dos resultados da aceleração da cultura digital criada pela pandemia. Outro resultado é que as pessoas estão pensando mais a respeito de suas vidas. Sobre o que querem para si mesmas. Há um debate em curso, nos EUA e na Europa, a respeito de por que algumas indústrias estão encontrando muita dificuldade de contratar. É o caso, nos EUA, da indústria de hotelaria e restaurantes. Na Europa, a indústria de transporte de produtos. Alguns políticos conservadores criticam os benefícios distribuídos durante a pandemia. Argumentam que muitos não querem trabalhar porque estão recebendo dinheiro sem precisar sair de casa.

Mas não parece ser apenas isso. No Vale do Silício, engenheiros, desenvolvedores e designers que recebem altos salários estão em choque com os gestores das companhias num debate sobre o esquema de trabalho. As pessoas se habituaram a trabalhar em casa e não querem voltar para o escritório. E, em muitos casos, estão dispostas a abrir mão do emprego porque estão convencidas de que conseguirão trabalhar com a liberdade de poder definir os próprios horários e o local do serviço noutros cantos. Há quem defenda que este não seja um fenômeno apenas de gente com profissões bem pagas mas algo que atinja de forma mais generalizada muitos nas novas gerações. A vontade de ter mais controle e flexibilidade sobre a própria vida.

É uma transformação cultural que o digital permite, que foi acelerada pela experiência da pandemia, e que impacta diretamente os fluxos de produtos. Mais do que isso — o aumento da demanda e o gargalo na oferta está gerando inflação por toda parte. Na Alemanha, pela primeira vez desde a unificação do país, passou de 4% ao ano. No Brasil, em que o dólar vem sendo mantido artificialmente alto, passou dos 10%. A Argentina já ordenou congelamento do preço de produtos.

Como resolver?

A Era Industrial acabou, a Era Digital está nascendo — mas não está pronta. A solução do problema passa por muitos caminhos. Um, evidentemente, é o fim da pandemia. Não sabemos o quanto das mudanças de comportamento são definitivas ou temporárias. Talvez seja necessário um ajuste salarial em determinadas profissões. Talvez baste a pressão das contas por pagar para que estes empregos voltem a ser preenchidos. Ou talvez a solução passe por reorganizar o trabalho — aumento do número de folgas em troca de menores salários, por exemplo.

Não é só: inúmeros países já compreenderam que a próxima década é uma que exigirá pesados investimentos em infraestrutura. Ampliar os portos que existem, erguer novos, melhorar a teia de estradas de rodagem e de ferro pelos países. Estes gastos, fatalmente, não serão apenas na ampliação mas também em sustentabilidade. As estruturas precisarão emitir menos carbono. E, ao redor da infraestrutura física, inteligência artificial será cada vez mais empregada para tornar os fluxos de idas e vindas mais eficientes. Um just in time aperfeiçoado.

Não basta — outro dos cálculos sendo feitos é de que a globalização precisa ser ampliada e descentralizada. O Vietnã, por exemplo, está parado faz um mês por conta da variante Delta da Covid. O surto lá tem razão de ser: de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, apenas 17% dos vietnamitas haviam sido vacinados com as duas doses até a última quarta-feira. Há um mês este número não chegava a 4%. O Brasil, em comparação, já tinha 47% da população plenamente vacinada na quarta.

É assim no mundo todo: países mais pobres têm tido dificuldades de obter vacinas enquanto os mais ricos têm doses extras em estoque.

Só que o Vietnã é, também, o quarto maior fabricante de roupas e sapatos do mundo. É o segundo maior exportador de roupas para os EUA, que é o maior importador do mundo. Desta forma, se o Vietnã para em setembro e outubro, as lojas de roupas americanas não terão o que vender no Natal. Enquanto isso, navios começam a engarrafar os portos vietnamitas. Quando forem carregados, chegarão todos de uma vez.

Esta dinâmica tem se repetido em toda a cadeia, em inúmeras indústrias, no último ano e meio. É irônico, mas uma das características do processo de globalização é que ele concentrou a manufatura num pedaço da Ásia. As próximas décadas provavelmente levarão ao aumento de concorrência: uma oportunidade para a África e para a América Latina.

Esta é uma política que, no caso latino-americano, Washington gostaria de incentivar. Os EUA precisam e desejam diminuir sua dependência da China. O principal obstáculo é que a cultura econômica latino-americana é uma de mercados fechados e estas barreiras ao comércio exterior dificultam a criação de grandes parques manufatureiros que possam competir com os de países asiáticos.

Mas a oportunidade que está na mesa. Afinal, a globalização quebrou. O conserto é mais globalização
https://onovonormal.blog/2021/10/17/a-g ... o-quebrou/

Re: Capitalismo

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Estréia marcada:

Linhas Cruzadas | Os efeitos colaterais do capitalismo | 18/05/2023
O #LinhasCruzadas desta semana debate o modelo econômico mais conhecido e controverso do mundo, o capitalismo.

Thaís Oyama e Luiz Felipe Pondé discutem a origem histórica do modelo, e como ele se tornou tão popular e presente em quase todo o globo. O capitalismo está se transformando ao longo do tempo? Ele corre o risco de acabar? Há alguma alternativa?

youtu.be/2RZ89XHsdVQ

Re: Capitalismo

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Tutu
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Mensagem por Tutu »

Como Funciona O Capitalismo? Entenda o que é Capitalismo!

youtu.be/Ij0q6X4evfs

Este vídeo tem uma definição.
A falha da definição na prática é falta de "sistema competitivo" e falta de capital dos pobres.
Responder