A agricultura mecanizada, com grandes extensões de uma única cultura e uma infraestrutura de colheita, armazenamento e transporte, é mais eficiente que um monte de pequenas granjas ou ranchinhos, cada um plantando agricultura de subsistência com métodos primitivos, produzindo pouco e desperdiçando espaço com habitações e infraestrutura redundante.
Como eu já disse antes, se isso fosse verdade, então o mesmo teria que ser dito em relação ao comércio, que "só deveria ser praticado por grandes empresas ou franquias", sendo um desperdício econômico haver autorização legal para imóveis comerciais de pequenas firmas.
É óbvio que é um bullshit dizer que só negócios de grande escala deveriam existir. Se fosse verdade que eficiência só existe em grande escala, então uma população significativa de pequenas firmas competitivas não existiriam de forma permanente no mundo. Em vários nichos da agropecuária e do comércio, ser de pequena escala pode ser não só viável, mas também uma vantagem competitiva real. No caso da agropecuária, existe não apenas o nicho de alimentos frescos e perecíveis, mas também outros, uma vez que vemos poucos agronegócios de escala grande se dedicando a orgânicos e alimentos “funcionais” ou especiais (sem glúten, veganos etc, ou outros segmentos que comumente tem demanda nichada e instável). Existe não apenas empreendedorismo de necessidade no conjunto das firmas menores, mas também empreendedorismo de oportunidade.
Também é errado dizer que agricultura familiar é necessariamente “primitiva”, uma vez que bens de capital agrícolas intensivos em tecnologia não existem só em firmas rurais grandes (vide o caso das mini hortas tecnológicas).
Outro problema é considerar a segurança alimentar e econômica interna como uma função inferior ao atendimento das necessidades econômicas de terceiros. Não é assim para produtores que vivem na pobreza ou extrema pobreza (coisa que ainda existe no Brasil). Em um artigo de Business Insider, Bill Gates afirmou que se estivesse vivendo com cerca de 2 dólares por dia, a primeira iniciativa que tomaria seria criar galinhas. Ele destacou razões simples e poderosas: galinhas são baratas de criar, multiplicam-se rápido, produzem ovos e carne nutritivos. Não por acaso, a Bill & Melinda Gates Foundation já fez doação de milhares de galinhas a famílias rurais em extrema pobreza na África Subsaariana.
Este tipo de "agricultura familiar" é necessário, sim, para culturas perecíveis como legumes e verduras. É difícil de mecanizar e deve ficar próximo aos consumidores finais.
Acontece que tudo isto já existe e funciona. O Brasil praticamente não importa alimentos e, quando o faz, é devido a problemas climáticos, como é o caso do trigo.
Pela primeira vez neste tópico, confessou uma coisa que já disse antes: produtores rurais de pequena escala não deveriam inexistir. Mas não acho que a necessidade da existência de pequena propriedade rural há só por causa dos alimentos frescos e perecíveis.
Não precisamos "distribuir a terra" como querem os terroristas do MST, como se isto fosse um fim em si mesmo, como se fosse necessário abandonar as cidades e voltar a cultivar a terra, como queria o Khmer Vermelho.
Ela já foi distribuída e, aliás, foram os militares que começaram a reforma agrária. O que o MST defende não é uma necessidade econômica, é uma ideologia.
Se querem confiscar terras, tentem achar as poucas improdutivas que sobraram ou que produzem maconha, por exemplo.
A necessidade hoje da existência de firmas rurais menores aconteceria mesmo na ausência completa de qualquer reforma agrária feita daqui para frente. Da mesma forma que não é preciso concordar com a redistribuição de terrenos urbanos improdutivos para considerarmos a necessidade da existência de firmas urbanas comerciais menores.