Novilíngua - Evolução da linguagem, gírias, novos significados
Enviado: Seg, 09 Março 2020 - 15:50 pm
Tópico para explorar o que aparece de novilíngua na sociedade, a evolução da linguagem, gírias e novos significados de velhas palavras.
Fórum de discussão sobre ateísmo, ceticismo, religiões, seitas, crenças e mitos, laicismo, política e economia, história, sociedade, comportamento e filosofia, ciência, origens e evolução
https://clubeceticismo.com.br/
Eduardo Affonso escreveu: Obrigratidão
– Obrigratidão.
– Como é que é? Você disse…
– Obrigratidão. Obrigado pra quem é de obrigado, gratidão pra quem é de gratidão.
– E isso funciona?
– Não. Os que são de gratidão acham que estou sendo sarcástico e os de obrigado acham ainda mais ridículo que gratidão.
– E por que você usa?
– Para irritar quem acha que o outro tem que ser grato do jeito dele. Eu sou grato do jeito que eu quiser. Dependendo do caso, posso até usar obrigratiluz.
– Deve ser difícil…
– Não tanto quanto ser transcis.
– Quem?
– Transcis. Me identifico com meu gênero biológico e com o gênero biológico oposto.
– Genderfluid, então.
– Não. Eu não fico oscilando. Não tenho que deixar de ser uma coisa para ser outra. Não entro nessa dicotomia reducionista de ter que escolher entre ser cis ou trans.
– E a reação é…
– Sofro bullying dos cis por ser trans e sou visto com desconfiança pelos trans por ser cis. Sem falar nos genderfluid, que me acham um farsante.
– Tenso.
– Tiro de letra, porque sou mulato. Os brancos não me acham branco, e os pretos que me acham preto não me acham preto o suficiente. Vivo num limbo identitário, porque meu mulatismo militante é visto como pelos brancos como oportunismo afrodescendentista só para pegar cota, e pelos pretos como embranquecedor e negacionista da negritude.
– Uau! Olha, foi muito bom conversar com você. É interessante ver alguém que busca se manter longe dos rótulos e…
– Mas eu não fujo dos rótulos. Eu acho os rótulos uma coisa muito pequena. Eu já estou na fase dos letreiros, dos autidórs. Eu sou fofoda.
– Fofoda?
– Fofo e foda.
– Nossa, é raro encontrar pessoas assim, tão dialéticas. Não é todo mundo que consegue elaborar os paradoxos.
– Se quiser, podemos tomar um chopperol, que é um chopp com aperol, e…
– Não, agora não dá. Outro dia, quem sabe? É que sou atriz, feminista e tenho que ir posar pelada contra a objetificação da mulher. Acho que temos muito em comum…
Expressões ultrapassadas
A ideia a ser transmitida é a mesma, mas a palavra usada para expressá-la muda de acordo com a época. Dependendo da geração, palavras podem soar familiares ou causar total estranheza, como balacobaco (atributo ou qualidade fora do normal), convescote (piquenique), quiproquó (confusão), chapoletada (o mesmo que bater em alguém), fuzarca (bagunça), sirigaita (moça de reputação duvidosa), supimpa (algo muito bom), bulhufas (nada), lero-lero (papo furado)... E o que falar de pão e broto, que hoje a molecada chama de "crush"?
http://www.jornaldaorla.com.br/noticias/30083-palavras-da-moda-que-ninguem-aguenta-mais-ouvir/
"Crush" é a pessoa em que a gente está interessada, mesmo que não correspondida. Vem do inglês.
Isso me lembra do trecho de um texto que vi esses dias, de um professor que acompanho nas redes:aronax escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 11:55 amTenho uma teoria pessoal (obviamente não comprovada por experimentos ou pesquisas) que um idioma quando cria/modifica um numero demasiado grande de palavras, via gíria, ou falar errado (que depois é sacramentado como correto) este idioma é falado por uma população com níveis médios de educação muito baixos.
Quanto mais elevado o nível educacional, menos palavras erradas que se tornam oficiais, e possivelmente menos gírias,e menos mudanças de sentido nas palavras.
Tenho horror aos modismos de linguagem. São palavra que não eram empregadas até pouco tempo e, de repente , viraram palavras da moda. O curioso é que as pessoas as usam achando que estão sendo originais, sem se dar conta que modismo e originalidade são incompatíveis.
Fico arrepiado toda vez que ouço ou leio a palavra “empoderamento". Tento engulhos quando alguém chama de “terraplanista" quem não concorda com suas ideias. O sujeito acha que está abafando quando, na verdade está exibindo a pobreza de seu vocabulário. “Protagonismo" é tão mais elegante que “empoderamento”! E por que não usar as palavras “crédulo", “ingênuo” ou até mesmo “simplório” em vez de “terraplanista"?
Mas o modismo é como um câncer que, quando lança metástase, torna-se incurável. Ainda não digerimos o empoderamento e o terraplanismo e já tem uma nova palavra da moda : “lawfare". Ao contrário do “empodeamento” que foi aportuguesado, “lawfare" é usado como veio ao mundo. Em inglês, mesmo. Desta forma, além de pretender transmitir originalidade, tenta passar a ideia de erudição, também.
Interessante como a maior parte desses conceitos vem da esquerda...Gabarito escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 10:05 amMas os exemplos acima que eu dei de gerundismo e o "com certeza" ainda eram de um tempo em que não havia interferência ideológica na maneira de falar.
De 2010 pra cá, creio, começamos a ser invadidos por umas toneladas de palavras novas e novos significados para velhas palavras de uma maneira assustadora.
Apareceram coisas como:
- Apropriação cultural
- Ação afirmativa
- Branquitude
- Competências
- Demandatário
- Doutrinação
- Empoderamento
- Engajamento
- Fascista
- Feminicídio
- Genderismo
- Gentrificação
- Humanizar
- Ideólogo
- Inclusivo
- Lacração
- Mansplaining
- Meritocracia
- Misoginia
- Negritude
- Objetificação
- Palmiteiro
- Patriarcado
- Pertencimento
- Problematizar
- Protagonismo
- Ressignificação
- Sexismo
- Sororidade
- Sustentabilidade
- Vulnerabilidade
Longe estou de listar tudo. O que vai acima é apenas uma pequena amostra.
De ontem pra hoje, peguei mais uns termos:Fernando Silva escreveu: ↑Qua, 11 Março 2020 - 08:13 amInteressante como a maior parte desses conceitos vem da esquerda...
• EsquerdistaFernando Silva escreveu:Interessante como a maior parte desses conceitos vem da esquerda...
Como assim? As pessoas estão agradecendo, dizendo gratidão? Não vi isso ainda.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
Além disto, como lembra o blog abaixo, as pessoas agora ficam agradecendo a Deus, ao universo, aos espíritos protetores etc. por tudo.AlienígenA escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 07:40 amComo assim? As pessoas estão agradecendo, dizendo gratidão? Não vi isso ainda.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
Inferno! Não vou mais entrar nesse tópico. Não tinha reparado, agora vou ver para todo lado e implicar.Fernando Silva escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 07:53 amAlém disto, como lembra o blog abaixo, as pessoas agora ficam agradecendo a Deus, ao universo, aos espíritos protetores etc. por tudo.AlienígenA escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 07:40 amComo assim? As pessoas estão agradecendo, dizendo gratidão? Não vi isso ainda.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/ ... -obrigado/
Ahhh, você não viu nada ainda... chegou agora.AlienígenA escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 07:40 amComo assim? As pessoas estão agradecendo, dizendo gratidão? Não vi isso ainda.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
Newspeak
A epidemia de “gratidão” ainda não passou – e o gráfico do Google Trends prova isso.
(clique na imagem para ampliar)
É o Newspeak – a Novilíngua – em ação.
Mas, se é pra fazer, vamos fazer direito.
Se trocou o “Obrigado” por “Gratidão”, tem que mudar o “De nada” para Por tudo”.
E, de agora em diante, nada de “Por favor”.
“Favor” pode ser um proveito, uma vantagem.
Prostitutas prestam favores sexuais. Políticos trocam favores.
Usemos “Por gentileza”, que é mais gentil.
Esqueçamos o “Com licença”.
“Licença” lembra licenciamento de veículo no Detran, licença médica, licença ambiental.
007 tinha licença para matar.
Licença é uma permissão (que lembra permissividade), uma autorização (que lembra autoritarismo).
Doravante, por um mundo melhor, pediremos “Com consentimento”, que é uma expressão com … sentimento.
Sim, há sentimentos ruins. Mas, neste caso, mentalize sentimentos bons, e pronto.
“Desculpe” traz embutida a palavra “culpa”.
Esqueça.
Peça “Perdão”.
“Que pena!” tem um subtexto de penalidade, de penitência.
Diga “Compaixão”.
“Ô dó!” tem algo de dor.
Dá um pouco mais de trabalho, mas opte por “Sinto-me consternado(a)”.
“Lamento muito” parece lamúria. Se um abraço ou um tapinha nas costas não resolverem, faça um coraçãozinho com a mão, expressando ternura.
“Adeus”, nunca mais.
É ofensivo aos ateus e discrimina os politeístas, para quem teria que ser dito “adeuses”.
Ofende também os cristãos, ao invocar um santo nome em vão.
“Até” tá de bom tamanho. E não dá aquela impressão de que a separação seja para sempre.
Chega de expressões negativas!
“Como tem passado?” evoca o que já passou, e o que importa é o futuro.
“E aí, chefia?” traz implícita uma inferioridade hierárquica, uma normalização das relações de poder.
“Sempre às ordens”, então, nem se fala.
“Nos vemos qualquer hora dessas” agride os portadores de deficiência visual.
“Sou todo ouvidos”, os deficientes auditivos.
“Que tudo corra bem”, os com mobilidade reduzida.
“E aí, beleza?”, os que não atendem as expectativas estéticas da sociedade.
“E aí, tranquilo?”, os dependentes de gardenal.
“Prazer em conhecer”, as frígidas.
“A gente se esbarra”, os estabanados.
Nesses casos, é melhor não falar nada.
Sorria – sem mostrar os dentes. E saia de fininho, mas com a certeza de ter transformado o mundo à sua volta num lugar melhor.
E agora estão usando gratidão como obrigado.
Substantivo como adjetivo, e dane-se o mundo.
Você faz um favor e o sujeito te devolve um “gratidão”.
Olha, se eu soubesse, eu nem teria feito o favor.
É a mesma coisa que responder “joelho”, “cadeira”, “rinite”.
Você me faz um favor e eu te respondo “desconforto estomacal”.
Faz sentido?
“Grato” faria sentido.
“Agradecido” faria sentido.
Mas “gratidão”, assim, solta?
Aí você pode dizer: “ah, mas é uma licença poética, é o desejo de expressar o sentimento puro, sem o sujeito.”
Vá para o inferno.
E o tipo que usa gratidão como obrigado, então?
Você sabe bem qual é, não sabe?
Sabe, sabe sim.
É o tipo signos-mandala-cristais-pé direito-good vibes-Taj Mahal-branco no ano novo-caminho de Santiago de Compostela.
A pé.
É o tipo que faz feng-shui, que muda uma planta de lugar para baixar a conta de luz.
Quer uma promoção no trabalho? É só trocar a rack de parede, gente.
Eu conheci uma mulher que acreditava em uma relação entre a forma como ela arava um canteirinho de areia sobre a mesa do escritório e os acontecimentos do universo.
Sério.
Areiazinha para lá, areiazinha para cá, e PLAU: sai pão quentinho na padaria.
Areiazinha para cá de novo, e PLAU: o Irã encerra o programa nuclear.
O ser humano é um animal fantástico.
Dava uma tristeza de ver aquela cena.
Fico pensando: se arrastar a areia de um canteirinho pequeno desses aí muda o mundo, um gato chafurdando a sua caixa após uma diarreia então, recria o tempo e espaço!
É o tipo que pendura coisas na porta para atrair boas energias, mas nunca especifica se eólica, elétrica ou nuclear.
Te manda um beijo no coração. Sabe?
“Um no seu baço”, respondo.
É o tipo fã de Tribalistas, que vai em show dos Tribalistas, compra CD dos Tribalistas.
Eu vi um sujeito com uma camiseta dos Tribalistas.
Assim. À luz do dia. Na rua.
É o tipo luz.
Sabe?
Te deseja luz.
“Vento”, respondo.
Fogo, água, coração.
O Capitão Planeta junto.
É o tipo empatia.
Quem fala gratidão fala empatia.
Falou empatia eu já fico estressado.
Desculpa.
Pausa para o canteirinho de areia.
Um beijo no seu intestino delgado.
Renan Noir
19 de agosto de 2019
Já que é para implicar, vocês estão distorcendo o sentido de novilíngua.Gabarito escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 09:59 amAhhh, você não viu nada ainda... chegou agora.AlienígenA escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 07:40 amComo assim? As pessoas estão agradecendo, dizendo gratidão? Não vi isso ainda.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
Eu estava só zuando, mas já que perguntou
AlienígenA escreveu: ↑Sex, 13 Março 2020 - 09:00 amEu estava só zuando, mas já que perguntoua novilíngua se caracteriza pela condensação de termos, por exemplo, novilíngua, duplipensar, crimideia; sua redução, acabando com os sinônimos e antônimos, por exemplo, bom - ótimo vira plusbom, mau vira desbom. Etc.
![]()
Wikipedia escreveu:Novilíngua ou novafala é um idioma fictício criado pelo governo hiperautoritário na obra literária 1984, de George Orwell. A novilíngua era desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela "condensação" e "remoção" delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento.
[...]
Até onde se tem conhecimento dos estudos linguísticos, existe a possibilidade de que, com o passar do tempo, os significados de palavras sejam alterados e que alguns termos desapareçam. Entretanto, a proposição heterodoxa de que uma língua possa diminuir de tamanho e "evoluir" de modo a perder a capacidade de representar ideias não condiz com os princípios básicos da linguística moderna.
Gazeta do Povo escreveu:No romance distópico 1984, George Orwell chama de “novilíngua” o vocabulário pelo qual as personagens da história se comunicam. Trata-se de um linguajar todo modulado por palavras que podem e que não podem ser ditas. Foi uma descrição profética acerca do que se tornaria a fala politicamente correta no mundo atual. As palavras, pelo seu uso e também por sua sonoridade, evocam uma série de conotações que aprofundam o significado daquilo que está sendo dito. Por exemplo, “falecer”, “morrer” e “bater as botas” podem querer dizer a mesma coisa, mas tanto são palavras com conotações distintas que todo mundo sabe que é mais respeitoso dizer que “fulano faleceu”, e que “fulano bateu as botas” é mais espirituoso. Censurar expressões é embotar a capacidade expressiva da fala – seria como determinar que, de agora em diante, os quadros só poderão ser pintados numa paleta de cores específica. O problema é agravado quando o politicamente correto, a pretexto de tornar o vocabulário “bem educado”, tira de circulação certas palavras e as substitui por outras que têm significado completamente distinto. Perguntar “qual é seu sexo?” e “qual é seu gênero?” são coisas bem diferentes. E o fato é que, conforme nos habituamos a falar as coisas de determinada forma, nossa percepção do mundo vai sendo guiada por essas palavras. Ou seja, limitar o vocabulário limita a percepção, limita a própria inteligência.
"Ressignificação" já consta da lista.

Acho que essa não seria somente a palavra melhor, como também seria exatamente a palavra correta.
Tem muitas outras ainda, não vou ficar o dia inteiro nisso. Mas no geral utilizam expressões em inglês e usam como verbos. Porém não são apenas brasileiros que fazem isso; conversando com players (aí mais uma) de outros países, já me disseram que eles também possuem seus vocabulários linguísticos adaptados.• Buffar
• Bugar
• Campar
• Farmar
• Dropar
• Dar GG
• Kickar
• Lagar
• Ownar
• Upar
E por aí vai.• Gap
• Know-how
• Coworking
• Coaching
• Burnout
• Benchmarking
• Feedback
• Follow-up
• Network
• Target
• Core business
Anos atrás, estava em discussão uma estação de metrô num bairro chique do Rio e uma madame disse que era contra porque iria aumentar a circulação dessa "gente diferenciada" (ou seja, pobres).AlienígenA escreveu: ↑Sex, 13 Março 2020 - 07:09 amOu melhor dizendo: vocês estão RESSIGNIFICANDO novilíngua. Que raiva!
Outra palavra da moda que me irrita é DIFERENCIADO.
Também já vi ser usado como pejorativo, mas em geral é usado para tentar te convencer a gastar mais do que o necessário.Fernando Silva escreveu: ↑Sex, 13 Março 2020 - 11:57 amAnos atrás, estava em discussão uma estação de metrô num bairro chique do Rio e uma madame disse que era contra porque iria aumentar a circulação dessa "gente diferenciada" (ou seja, pobres).AlienígenA escreveu: ↑Sex, 13 Março 2020 - 07:09 amOu melhor dizendo: vocês estão RESSIGNIFICANDO novilíngua. Que raiva!
Outra palavra da moda que me irrita é DIFERENCIADO.
Mas também (e mais recentemente) pode significar "exclusivo, de melhor qualidade etc."
Gabarito escreveu: ↑Qui, 12 Março 2020 - 10:09 amTem outro texto interessante, meio estressado, sobre gratidão:
E o tipo que usa gratidão como obrigado, então?
Você sabe bem qual é, não sabe?
Sabe, sabe sim.
É o tipo signos-mandala-cristais-pé direito-good vibes-Taj Mahal-branco no ano novo-caminho de Santiago de Compostela.
A pé.
É o tipo que faz feng-shui, que muda uma planta de lugar para baixar a conta de luz.
Quer uma promoção no trabalho? É só trocar a rack de parede, gente.
Eu conheci uma mulher que acreditava em uma relação entre a forma como ela arava um canteirinho de areia sobre a mesa do escritório e os acontecimentos do universo.
Sério.
Areiazinha para lá, areiazinha para cá, e PLAU: sai pão quentinho na padaria.
Areiazinha para cá de novo, e PLAU: o Irã encerra o programa nuclear.
Não vejo problema em usar uma forma diferente.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 08:27 amNão suporto babaquices como "gratidão".
Faço questão de não estar na moda.
Nesse caso estão judiando da língua portuguesa.Gabarito escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 09:20 amE tem ainda o caso do gerundismo. Esse vem de longe, talvez há mais de 20 anos.
Acho que aqui o falante quer parecer mais culto, mais preparado, quer impressionar de alguma forma o interlocutor.
E, ao invés de responder simplesmente "vou completar sua ligação", estica um pouco mais e diz "vou estar completando a sua ligação".
Pensa que isso o deixa mais "inteligente".
Anglicismo é uma coisa que odeio.Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 16:24 pm"Crush" é a pessoa em que a gente está interessada, mesmo que não correspondida. Vem do inglês.
Hoje vejo as redes sociais falando demais na existência de terraplanista. Para mim, isso não existe porque precisa redefinir a cosmologia toda. Dizem que teve pesquisa que 7% dos entrevistados disseram que a Terra é plana, mas acho que essa pesquisa foi mal feita e muitos dos entrevistados sem estudo nem sabem o que significa "Terra". Certamente não são defensores de teoria da conspiração.
Termos ideológicos são palavras chaves que ajudam a identificar a que corrente ideológica uma pessoa pertence. Quando as palavras "machista, racista, homofóbico" aparecem na mesma frase, pode ter certeza que é merda, porque são conceitos não relacionados. Do mesmo modo, se usam o termo "família" sem detalhes claros, pode ter certeza que é homofobia enrustida, porque não está falando de família.Gabarito escreveu: ↑Ter, 10 Março 2020 - 10:05 amMas os exemplos acima que eu dei de gerundismo e o "com certeza" ainda eram de um tempo em que não havia interferência ideológica na maneira de falar.
De 2010 pra cá, creio, começamos a ser invadidos por umas toneladas de palavras novas e novos significados para velhas palavras de uma maneira assustadora.
Entendo "travesti" como alguém que usa as roupas próprias do sexo oposto.
Quem está num extremo, odeia quem está no extremo oposto e despreza quem rejeita extremismos.
Dialetos
– Amiga, cansei de sororidade.
– Eu também. Desapeguei.
– Ficou tão quarta-feira passada…
– Nem me fale. Quando comecei a usar, ninguém usava. Agora…
– Daqui a pouco está sendo usada até em novela bíblica da Record.
– Junto com empoderamento. Lembra do pré-lançamento?
– Lindo. Só para convidadas. Evento VIP, garçons étnicos, música autossustentável. Depois…
– Depois virou arroz de festa, que nem empatia.
– Comigo foi saberes.
– Você foi no lançamento de saberes?
– Fui, menina! Usei saberes quando só aparecia em tese de Humanas.
– Que luxo! Quando saberes chegou, eu já estava na fase da objetificação e achei que não ia combinar.
– Objetificação tem que ter muito critério, ou fica over.
– Acho que cai bem com cultura do estupro e micromachismo, e olhe lá.
– Super cai bem! E olha que micromachismo não é pra qualquer uma.
– Não mesmo. Tem que saber dosar. Tipo gaslighting.
– Gasligting era tudo, né? Uma coisa de louco!
– Mas sabe que eu era mais o combo mansplaining, manspreading e manterrupting? Porque tinha uma leitura, dialogavam.
– Diferente de patriarcado e androcentrismo…
– Totalmente. Androcentrismo pede, sei lá, uma atitude com mais conceito.
– Bem na vaibe da misoginia e do feminicídio.
– Isso. Se bem que eu fique mais à vontade na disparidade de gênero, sabe como? Uma coisa light, cool, fim de tarde, apperol. Nessa linha.
– E qual é a tendência para hoje? Fiquei vendo laive da Katy Perry até de madrugada, acordei tarde e nem tive tempo de me atualizar.
– Interseccionalidade.
– Jura? Amei!
– E dá pra usar com tudo.
– Amiga, só vou tirar essa máscara de avocado orgânico e começar a interseccionalizar agora mesmo.
– Mas interseccionaliza logo, porque acabei de ver que já estão usando no UOL. E quando isso acontece, já sabe, né?
– Sim. Daqui a pouco vira gratiluz.
– Vai lá. Beijo no coração, amiga! Gratiluz!
– Gratiluz, amada!
Eduardo Affonso
Ultimamente nessa quarentena estou vendo muito nas redes sociais o uso do sufixo -e (alunes, amigues, todes).
- Todxs e todxs
A situação está despiorando.
Quem diz não sou eu; é a Folha.
Os índices não chegam a ser desruins, mas já há um certo despessimismo no ar, o que pode desdificultar o processo de desdeclínio da economia.
Alguns indicadores estão caindo negativamente, chegando a patamares desinferiores aos de antes. Esse desrecuo desprejudica a desdecadência, e resultados desinsatifatórios talvez, quiçá, quem sabe, se não chover, venham a sinalizar com desinsegurança a chegada de tempos desagourentos.
O desfracasso ainda é apenas uma possibilidade, daí a desirrelevância de se manter a desdúvida. Até porque a despiora mostra que há alguns deserros na política econômica, que podem nos trazer desdecepções e desprejuízo no futuro.
Eduardo Affonso