Fernando Silva escreveu: ↑Qui, 30 Novembro 2023 - 09:22 am
Uma língua simples demais não servirá para, por exemplo, publicar trabalhos científicos ou negociações internacionais. E o inglês continuará sendo necessário.
Agnoscetico escreveu: ↑Qui, 30 Novembro 2023 - 12:55 pm
No caso do Esperanto a falta de simplicidade não parece ajudar muito.
Quando o assunto é língua natural, não existe o conceito de língua mais simples do que outra. Isso por que quando uma língua é mais simples do que outra em um aspecto, ela é mais complicada em outro. Inglês não é simples assim, porque complexidade não é só tabela de verbos. Inglês é mais complicado no aspecto inúmeras palavras com mesma pronúncia, phrasal verbs, necessidade de verbo auxiliar, inúmeros verbos irregulares, palavras com plural irregular (tooth/teeth) e tem sempre algum detalhe para incomodar (s no verbo de terceira pessoa, uso de a/an, a vogal na pronúncia de the, etc).
O que torna uma língua mais difícil ou simples do que a outra são os aspectos artificiais, como escrita, formalidades. O que torna mandarim difícil é o grande conjunto de ideogramas. Inglês também é difícil, por ter uma escrita muito bizarro. Outro aspecto que torna a língua mais complexa é o tamanho da área utilizada (ou número de países). Quando a área é muito grande, existe mais diversidade, tornando o vocabulário maior e o número de expressões também.
Toda língua natural é capaz de expressar qualquer coisa. Se um conceito numa língua minoritária ou tribal não existe, mais comum em ciência, tecnologia, objetos, animais, alimentos, vegetais e artes, o contato com cultura estrangeira fará esse povo importar palavras estrangeiras para língua. E importação de palavras sempre foi comum em toda história da humanidade. O português importou ninja, sushi e lámen (ramen) enquanto uma língua tribal teria que importar palavras para avião, computador e celular no momento em que esses itens passam a ser parte da vida desse povo.
Outro fenômeno é que o tempo de fala tende a ser o mesmo. Se a língua tem palavras longas, as sílabas são mais simples e as pessoas falam mais rápido. Se a língua tem palavras curtas, a pronúncia é mais lenta e língua tem mais espaço para ter mais vogas e tons. O tamanho da escrita é diferente porque é algo artificial. Quando vemos um texto em inglês curto e traduções longas, é porque os tradutores tem que detalhar mais para manter a clareza e não perder informação enquanto o inglês nativo foi como o autor pensou.
A língua natural muda com o passar dos tempos. O grego falado na Grécia de hoje é diferente do grego da época de Esparta, que é diferente do grego Koiné (usado na Bíblia). Quem estuda grego geralmente está estudando o antigo, porque a Grécia de hoje é um país irrelevante e grego atual é inútil fora da Grécia. Já ouvi dizer que língua morta, como latim, é adequada para escrever textos porque ela não muda mais com o passar dos tempos. Algumas comunidades, como vaticano e taxonomistas, podem adicionar palavras, mas as antigas não mudam.
Se ignorarmos a questão geopolítica, o inglês é uma péssima língua para ser usada artificialmente. Ela é difícil de aprender. De gramática e vocabulário, a dificuldade vai depender da língua nativa de quem está aprendendo. Mas algumas características são mais difíceis, como a escrita doida e a fonologia. A fonologia não é difícil para o cérebro humano, mas é de aprender para os falantes da maioria das línguas estrangeiras por ter muitos fonemas vogais, consoantes que são raras e sequências complexas de consoantes. Portanto, a única forma de ter uma língua com gramática, escrita e pronúncia fácil para a maior parte do mundo é criando uma.
O esperanto é simples, mas tem muitos bugs. O criador nem era linguista. Então veio uma língua chamada Ido para corrigir vários bugs. Depois vieram várias línguas derivadas, que passaram a ser conhecidas como esperantidos. Embora várias dessas derivações são cosméticas e gosto pessoal, muitas reformas são válidas com o conhecimento linguístico adquirido durante o século. Hoje é possível um grupo de especialista construir uma
língua construída sólida, clara e fácil de aprender. Naturalmente será impossível ter uma estética que agrade muita gente (e inglês é horroroso para meu padrão estético), mas é melhor do que usar língua de um país privilegiado.