O que significa metafísica?

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O que significa metafísica?

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Inconførmed
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Mensagem por Inconførmed »

Fonte: skepdic.com/metaphysics.html

H. Bradley escreveu:"Metafísica é a busca por justificativas para o que acreditamos pela intuição; mas encontrar esses argumentos não é menos que instinto nem intuição."
A metafísica é um setor da filosofia que compreende a ontologia e a cosmologia. No sentido “banal”, ela se refere vagamente às noções obscuras da Nova Era como energia (reiki, chi, prana), sintonia vibratória, transmutações harmônicas, senso místico profundo etc e tal. O sentido banal é bastante comum no subconsciente coletivo ou popular, mas existe uma investigação “intelectual” cujo domínio cabe ao objeto de interesse dos filósofos acadêmicos.

O termo “metafísica” é usualmente tomado para ilustrar cosmovisões acerca da realidade dos seres, toda natureza íntima desses seres e um arcabouço engendrado para falar, pensar e escrever sobre esses seres. Por exemplo, qualquer teoria da mente pode ser interpretada como uma visão metafísica sobre os eventos psíquicos e conceitos paralelos, como raciocínio, percepção, abstração, intenção, consciência, memória etc e tal.

No entanto, grosseiramente, a metafísica se refere às estruturas do todo como monismo e dualismo, assim como reflexões correspondentes ao fundamento último da realidade.

Tudo que existe está determinado por leis naturais e não há livre arbítrio? Há entidades diabólicas? Por que existe alguma coisa em vez de nada? Existe vida após a morte bioquímica? Qual a natureza da natureza, da causalidade, da “essência” sutil? O universo foi criado a partir de nada ou existe de toda a eternidade? Esses são problemas metafísicos.

Inúmeros teóricos concordam que posições metafísicas não são científicas e que pressupostos metafísicos não podem ser discriminados objetivamente para descobrir qual é preferível. Por exemplo, dualismo e monismo são conflitantes apesar de serem ambos fundamentados pela experiência, –- mas não existe nenhuma evidência inequívoca para qualquer delas.

A partir de discussões modernas, quando o debate teológico perde atenção, pensadores direcionaram seu interesse às dúvidas sobre os graus de certeza, limites do conhecimento, origem da consciência; ou seja, questões mais epistemológicas. Toda a especulação metafísica que outrora preenche o pensamento ocidental pouco a pouco é deixada de canto para análises criteriosas de que racionalmente poderia ser dito da existência.

Metafísicos elaboram vários porquês para aderir a uma percepção em vez de diversas. Julgam que sua “ontologia” é mais eloquente; que tem o maior poder explanatório ou requer menos premissas; concluem que sua metodologia se encaixa melhor com outros ramos, como psicologia, sociologia e ciência; justificam que os teóricos/concorrentes são excessivos: razoáveis, mas improváveis.

Dentre todos há os que defendem uma convicção apelando às consequências de premissas; ou seja, isso adiciona esperança de outra existência após a morte. Há quem critique intensamente a relevância das consequências para qualquer verdade: contra argumentando que isso não possui relação com pensamento crítico e apenas com vocação subjetiva.
Richard Wiseman escreveu:"Todo mundo está predisposto a contemplar a natureza do fantástico e admitir o sobrenatural."

Obs.: Tradução livre

Re: O que significa metafísica?

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Em outras palavras, pode até servir como ponto de partida para uma investigação científica, já que são perguntas válidas, mas não tem nenhuma confiabilidade por si só.
Até que alguma de suas convicções seja provada objetivamente, não passa de elucubração sobre coisas que, muito provavelmente, jamais saberemos.
Conversa de botequim.

Re: O que significa metafísica?

Gigaview
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Mensagem por Gigaview »

Fernando Silva escreveu:
Dom, 26 Setembro 2021 - 11:04 am
Em outras palavras, pode até servir como ponto de partida para uma investigação científica, já que são perguntas válidas, mas não tem nenhuma confiabilidade por si só.
Até que alguma de suas convicções seja provada objetivamente, não passa de elucubração sobre coisas que, muito provavelmente, jamais saberemos.
Conversa de botequim.
Lero-lero intelectualóide, ou seja maionese gourmet.

Re: O que significa metafísica?

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f0rest
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Mensagem por f0rest »

O termo metafísica foi cunhado pelos gregos, designando metafísica tradicional a ontologia, e especial a cosmologia, psicologia, física, biologia... No período grego não existia a mesma metodologia filosófica e científica que temos hoje graças ao seus avanço no decorrer dos séculos. A metodologia científica positiva, experimental, empírica e toda a instrumentalização necessária dos dias atuais são fruto dos questionamentos da filosofia. Fazer uso da metafísica para conceitualizar a realidade com um uso lógico da linguagem é válido, tal como nos axiomas. Já fazer o uso da linguagem sem estruturação empírica, lógica, nem coerente com a experiência resulta em falácia e ilusão. A linguagem está entre o físico e o metafísico por se manifestar em signos linguísticos e poder criar abstrações. Por outro lado, apenas pode ser expresso em signos aquilo que já foi percebido pelos sentidos e aprendido pela experiência, e todo signo possui expressão de referência em algo físico. Ou seja, a linguagem é física mas tem a capacidade de criar abstrações aleatórias por se manifestar em signos, mas a veracidade de um conceito ocorre através da experiência, lógica, coerência, razão e empirismo. A metafísica já cumpriu o seu legado, hoje conseguimos ver bem a física em si.

Re: O que significa metafísica?

Gigaview
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Mensagem por Gigaview »

f0rest escreveu:
Dom, 26 Setembro 2021 - 12:41 pm
O termo metafísica foi cunhado pelos gregos, designando metafísica tradicional a ontologia, e especial a cosmologia, psicologia, física, biologia... No período grego não existia a mesma metodologia filosófica e científica que temos hoje graças ao seus avanço no decorrer dos séculos. A metodologia científica positiva, experimental, empírica e toda a instrumentalização necessária dos dias atuais são fruto dos questionamentos da filosofia. Fazer uso da metafísica para conceitualizar a realidade com um uso lógico da linguagem é válido, tal como nos axiomas. Já fazer o uso da linguagem sem estruturação empírica, lógica, nem coerente com a experiência resulta em falácia e ilusão. A linguagem está entre o físico e o metafísico por se manifestar em signos linguísticos e poder criar abstrações. Por outro lado, apenas pode ser expresso em signos aquilo que já foi percebido pelos sentidos e aprendido pela experiência, e todo signo possui expressão de referência em algo físico. Ou seja, a linguagem é física mas tem a capacidade de criar abstrações aleatórias por se manifestar em signos, mas a veracidade de um conceito ocorre através da experiência, lógica, coerência, razão e empirismo. A metafísica já cumpriu o seu legado, hoje conseguimos ver bem a física em si.
Perfeito.Uso da linguagem sem estruturação lógica/empírica/instrumentalização = lero-lero.

Re: O que significa metafísica?

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Tirn Aill
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Mensagem por Tirn Aill »

Metafísica

Embora nem todos os autores coincidam na classificação das disciplinas filosóficas nem nos conteúdos específicos que lhes correspondem, de maneira geral a tendência é distinguir, em função de seus diferentes objetivos e métodos, cinco grandes ramos: metafísica, teoria do conhecimento, lógica, ética e estética. Cada um desses ramos fundamentais, que têm diversas subdivisões, acha-se estreitamente relacionado aos demais, e todo sistema filosófico que pretenda oferecer uma compreensão unitária e abrangente da realidade aspira a integrá-los num conjunto harmônico.

De acordo com a terminologia tradicional estabelecida por Aristóteles, a metafísica ou filosofia primeira constitui a parte mais importante de toda doutrina filosófica, já que investiga os princípios e causas últimas da realidade, a essência do ser ou "o ser como ser". Portanto, as restantes disciplinas ou filosofias secundárias remetem-se a ela em última instância. Pode-se entender esse "ser como ser" de duas maneiras, que dão lugar a duas disciplinas: se se considera como ser aquele "comuníssimo" ou subjacente a todos os seres particulares, seu estudo deve partir de uma análise formal e abstrata da realidade e se denomina ontologia ou metafísica geral; se se interpreta como o ser supremo ou causa transcendente da realidade, isto é, Deus, seu estudo recebe o nome de teodicéia ou metafísica especial.

Convém assinalar, não obstante, que a teologia, no sentido que lhe conferiram o judaísmo e outras religiões monoteístas -- cristianismo, islamismo -- não pertence ao âmbito da metafísica, já que, enquanto a metafísica pretende alcançar o conhecimento do transcendente sem pressupostos e por meio da razão natural, a teologia parte da verdade revelada. Na tradição ocidental, de qualquer forma, filosofia e teologia recorreram ao mesmo aparato conceitual.

No pensamento moderno, tende-se a dar o nome de metafísica a toda filosofia especulativa que se ocupe de princípios não-perceptíveis diretamente de modo empírico, como "alma", "essência" ou "absoluto", ou que elabore concepções do mundo não suscetíveis de demonstração científica. Assim, na oposição clássica entre idealismo e materialismo, as escolas contemporâneas de tradição empirista -- positivismo, filosofia analítica -- tenderam a negar a validade da metafísica como ciência, enquanto correntes como o irracionalismo, o existencialismo e o intuicionismo, embora discordem dos critérios dogmáticos da metafísica tradicional, admitem o caráter de certo modo metafísico de todo empreendimento filosófico.
https://estudantedefilosofia.com.br/

Re: O que significa metafísica?

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Tirn Aill
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Mensagem por Tirn Aill »

Ontologia

Ao afirmar a necessidade de uma ciência que estudasse o ser enquanto ser, voltada para os primeiros princípios e as causas mais elevadas, Aristóteles distinguiu-a como filosofia primeira e deu, assim, o primeiro passo para o advento da reflexão ontológica, dois mil anos antes da entrada do termo "ontologia" no vocabulário filosófico.

Ontologia (do grego ontos, "ser", "ente"; e logos, "saber", "doutrina") é, em sentido estrito, o "estudo do ser" e, desse modo, pode equivaler à metafísica. Uma vez que esta, com o tempo, passou a incluir outros tipos de pesquisa e reflexão (cosmológicos e psicológicos por exemplo), desde o século XVII, e sobretudo na filosofia moderna, o termo ontologia passou a designar o estudo do ser enquanto tal.

Para Aristóteles, além das diversas ciências, que se interessam por partes do ser, isto é, que atentam para determinados aspectos da existência, na observação do mundo concreto e de suas circunstâncias contingentes e mutáveis, deveria haver uma abordagem do ser enquanto ser, isto é, do ser em geral, independentemente das situações em que as coisas ou seres particulares se apresentam. Essa filosofia primeira, que os filósofos de início chamaram "metafísica", constituiria, segundo Aristóteles, um saber universal, pois se interessaria pelas primeiras causas e princípios de tudo o que existe, ou por aquilo em que tudo pode adquirir existência.

Há duas maneiras possíveis de entender a ontologia, ou seja, dois aspectos segundo os quais se pode estudar o ser. O primeiro é o aspecto dito "existencial": a ontologia, nesse caso, consiste em um saber sobre aquilo que é fundamental ou irredutível, comum a todos os entes singulares. Em outros termos, seria a ciência de um ente primeiro ou primordial em que todos os demais se sintetizam.

A segunda maneira de conceber a investigação ontológica refere-se ao aspecto "essencial" do ser e estabelece como meta a determinação daquelas leis, estruturas ou causas do ser em si. Alguns filósofos preferem separar a metafísica, identificada com a ontologia de tipo "existencial", de uma ontologia propriamente dita, definida como teoria formal dos objetos. Outros se opõem a essa divisão e defendem a unidade filosófica no estudo do ser.

História

Como disciplina especial da filosofia, a ontologia foi cultivada desde o século XVIII por autores da tradição escolástica e de outras tendências. O filósofo racionalista alemão Christian Wolff, graças a quem o termo ontologia ganhou projeção, diferenciou-a das demais ciências particulares, atribuindo-lhe caráter dedutivo abstrato e estruturando-a mediante a análise de conceitos como ser, possibilidade e realidade, quantidade e qualidade, causa e efeito etc.

Tendência oposta à de Wolff manifesta-se nas doutrinas materialistas de Spinoza, dos empiristas ingleses Hobbes e Locke e dos materialistas franceses do século XVIII. Para esses pensadores, o conhecimento dos conteúdos objetivos e concretos (por oposição ao aspecto formal e abstrato, metafísico), propiciado pelas ciências experimentais, abalava a idéia de ontologia como filosofia primeira ou disciplina filosófica superior.

Na Alemanha, Kant, o grande sucessor de Wolff, refutou a chamada "prova ontológica" da existência necessária de Deus (proposta na Idade Média por santo Anselmo e defendida, com alterações, por Descartes), e combateu, assim, a ontologia como sistema dedutivo. De modo geral, a crítica formulada pelos representantes do idealismo clássico alemão (principalmente Kant e Hegel) apresentava a ontologia com um caráter duplo: de um lado, era declarada vazia de conteúdo e tautológica; de outro, reconhecia-se a necessidade de uma disciplina filosófica fundamental, que representasse, de modo mais aperfeiçoado, aquilo a que a ontologia se propusera. Assim, sustentava-se a substituição da ontologia pela filosofia transcendental (Kant) ou pela lógica (Hegel).

Desde o fim do século XIX, em conseqüência da reação ao avanço das correntes idealistas subjetivas, foram elaboradas tentativas de fundamentar uma nova ontologia sobre bases idealistas objetivas. Tornaram-se significativas, nesse sentido, a ontologia transcendental, de Edmund Husserl; a ontologia crítica, de Nicolai Hartmann; e a ontologia fundamental, de Martin Heidegger.

Husserl postulou uma filosofia independente das ciências naturais e de qualquer recurso à psicologia, referida a outro tipo de objeto ou de realidade: as essências, ou "unidades ideais de significação". Como ciência das essências, a ontologia poderia ser de dois tipos: formal, que constituiria o fundamento de todas as ciências, e se interessaria pelas essências que apresentam correspondência com todas as outras essências; ou material, que consiste num conjunto de ontologias "setoriais", e constitui o fundamento das ciências dos fatos, baseada na ontologia formal (pois todo fato participa de alguma essência).

Para Hartmann, a "ontologia analítica e crítica" era distinta da ontologia dos escolásticos e racionalistas, que pretendiam chegar à existência (ou seja, a uma "lógica dos entes") a partir da construção de um saber sobre as essências. Hartmann preferia ver na ontologia não a tentativa de resolver todos os problemas, mas o reconhecimento daquilo que é metafisicamente insolúvel. Assim, procedia por uma reflexão não apriorística sobre todos os aspectos do real, com categorias obtidas de diversos tipos de experiência (científica, cotidiana etc.). Examinava os "momentos" do ser (existência e essência), suas "maneiras" (realidade e idealidade) e "modos" (possibilidade, realidade, causalidade, necessidade).

A "ontologia fundamental" proposta por Heidegger foi concebida como uma "metafísica da existência". Não se tratava, porém, de uma ontologia abstrata (sistema de categorias), nem de uma teoria sobre os objetos: Heidegger quis evitar as idéias filosóficas correntes sobre o ser, bem como as concepções prévias sobre o ser em geral. É preciso, segundo ele, destruir a ontologia tal como foi tradicionalmente entendida e buscar (por meio da fenomenologia por ele proposta) uma compreensão da existência fundada na finitude e que permita o acesso à realidade do ser.
https://estudantedefilosofia.com.br/

Re: O que significa metafísica?

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f0rest
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Mensagem por f0rest »

A ideia de um sistema filosófico harmônico é uma contradição nos termos, pois toda proposição possui o atributo de ser verdadeira ou falsa. No "Crepúsculo dos ídolos" Nietzsche aborda essa questão de construir castelos em volta de um conceito para protegê-lo da falseabilidade. Mas o que a teoria da ciência contemporânea nos mostra em Karl Popper e Thomas Kuhn é que a falseabilidade das teorias é o motor para a evolução da ciência e que os sistemas de pensamento se transformam para adequar novas descobertas.
A ontologia relevante é o Ser empírico. O ser-aí de Heidegger é justamente o sujeito que interage na realidade existencial empírica se atualizando. A realidade tal como percebemos no espaço e no tempo, como na teoria do conhecimento de Kant.

Re: O que significa metafísica?

Huxley
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Mensagem por Huxley »

“Inúmeros teóricos concordam que posições metafísicas não são científicas e que pressupostos metafísicos não podem ser discriminados objetivamente para descobrir qual é preferível.”

A frase acima carrega proposições metafísicas. Não deixa de ser curioso e engraçado que muitas pessoas façam discurso de desprezo pela metafísica enunciando proposições metafísicas. Realismo Científico é apenas Metafísica da Ciência. Positivistas acreditavam que as suas crenças da existência de regularidades no mundo seriam empíricas porque, segundo eles, a indução seria empírica. A indução não é empírica, o verificacionismo não é verificável e Karl Popper explicou bem isso em A Lógica da Pesquisa Científica. Sendo assim, nenhuma ciência é epistemologia de si mesma. Perguntas como “O que é realidade?” ou “O que é objetivismo?” não podem ser respondidas sem apelar a proposições metafísicas.

Re: O que significa metafísica?

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f0rest
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Mensagem por f0rest »

Nesse caso seria questão de semântica. A proposição, por exemplo, "de que todo conhecimento válido é experimental e objetivo" pode ser definido como uma base metafísica para a ciência, pois seria um conhecimento metafísico por ser linguístico e lógico. Mas, por outro lado, é uma proposição que se verifica automaticamente na própria experiência científica ao produzir o seu resultado, tornando-se objetivo de si mesmo perante a lógica da experiência. Isso é uso e desuso de conceitos. Discutir semântica é o mesmo que ficar com o carro atolado. Pois o que importa, afinal, é o objeto e não o signo.
"O que é a realidade?", "O que é o objetivismo?"
A resposta usará a linguagem, a lógica e argumentos com um critério de coesão na experiência. Assim como na interpretação das questões, a partir das construções sensoriais, a linguagem remete o signo ao significado. Isso não é metafísica, é linguagem, lógica e sistema cognitivo. É uma análise de dados concretos através de uma interface.
A metafísica clássica trouxe grandes avanços para a posteridade, assim como a filosofia em geral, desenvolvendo todas as ramificações da ciência. E existem áreas da ciência nas quais não existe objetividade razoável, como no direito, na ética e estética. Desenvolve-se uma hermenêutica para a atualização dessas áreas, e como de praxe, a partir da objetividade emanada da cultura e de elementos mais abstratos, como vontade e desejo. Em áreas como essa, que exigem um nível maior de abstração, podemos dizer que existe uma hermenêutica com elementos metafísicos.
Em resumo, prefiro utilizar termos como linguagem, lógica e abstração ao invés de metafísica.

Re: O que significa metafísica?

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Agnoscetico
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Mensagem por Agnoscetico »

Essas coisa Reiki, etc, ta mais pra extrafísica, misticismo, paranormalidade, pseudo-científica, metafísica não é isso:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica

Metafísica (do grego antigo μετα (metà) = depois de, além de tudo; e Φυσις [physis] = natureza ou física) é uma das disciplinas fundamentais da filosofia que examina a natureza fundamental da realidade, incluindo a relação[1] entre mente e matéria, entre substância e atributo e entre potencialidade e atualidade.
https://www.significados.com.br/metafisica

O que é metafísica?

Pedro Menezes Escrito por Pedro Menezes Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

Metafísica é uma palavra com origem no grego e que significa "o que está para além da física". É uma área da filosofia que busca o conhecimento da essência das coisas.

O fundamento comum de tudo o que existe, a alma, Deus, a finalidade da existência e o ser enquanto ser, por exemplo, são objetos de estudo da metafísica.

Algumas das perguntas comumente associadas à filosofia como "o que somos?", "de onde viemos?", "para aonde vamos?", são perguntas da metafísica.

O termo metafísica foi consagrado por Andrônico de Rodes a partir da classificação e ordenação dos livros aristotélicos. Os que eram referidos à ciência dos primeiros princípios e primeiras causas não possuíam classificação e, assim, foram colocados depois ("para além") dos escritos de física.

A metafísica são os estudos da natureza que estão para além de tudo o que é físico, daquilo que não é material. Por esse motivo, hoje em dia, muitas vezes a metafísica é um termo utilizado para se referir ao esoterismo. Já os adjetivos metafísico e metafísica são utilizados pelo senso comum como sinônimo de algo inacessível, que não pode ser compreendido.

A metafísica na Filosofia

Ao longo da história, a metafísica assume diversos significados distintos. A ideia surge na filosofia de Platão, se referindo ao seu "mundo das ideias", à verdade, que daria origem a tudo o que conhecemos.

Para Aristóteles, a metafísica é, simultaneamente, ontologia e teologia, enquanto se ocupa do ser supremo na hierarquia dos seres. Esse ser supremo seria a causa de tudo aquilo que existe, o primeiro motor imóvel que pôs o universo em movimento.

A tradição escolástica, na Idade Média, identificou a metafísica com a teologia, ainda que tenha distinguido-as pelos métodos usados. Para explicar Deus, a metafísica recorre à razão enquanto a teologia se baseia na revelação divina.

Na Idade Moderna, ocorre uma separação entre a concepção aristotélica e a platônica. A metafísica como ontologia se converte em teoria do conhecimento e teoria da ciência (epistemologia); como ciência do transcendental, se converte em teoria da religião e das concepções do mundo.

Immanuel Kant, já no século XVIII, que se interrogou sobre a possibilidade da metafísica como ciência. Sua obra A Fundamentação da Metafísica dos Costumes aborda a moralidade humana como um problema da razão.

No século XIX, a metafísica é identificada à pura especulação perante o caráter positivo das ciências. A partir de Heidegger e Jaspers, os pensadores interessados na problemática do ser se esforçaram por elaborar uma noção de metafísica factível e atual.
https://www.infopedia.pt/dicionarios/li ... metafísica

1. FILOSOFIA domínio da filosofia que se ocupa do ser enquanto ser, isto é, dos princípios essenciais do ser e do conhecer
2. conjunto de reflexões que visam a explicação racional da realidade, partindo da experiência, mas ultrapassando-a, de forma a chegar a realidades que a transcendem
3. busca do sentido ou significação do real e principalmente da vida humana
4. teoria do absoluto
5. abstração
6. figurado subtileza ou transcendência no discurso
7. pejorativo estudo das coisas consideradas como estáticas e independentemente umas das outras

Re: O que significa metafísica?

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Segundo Bertrand Russell, a ciência se ocupa de coisas que podem ser respondidas. O que sobra, e que, pelo menos por enquanto, está fora de nosso alcance, é assunto para a filosofia. Na verdade, são assuntos para os quais provavelmente nunca teremos resposta, mas, ainda assim, merecem ser estudados.

Ele pensa também que a filosofia não tem como provar se as religiões são verdadeiras.
Why Bertrand Russell holds the value of philosophy is uncertainty (1912)

"To a great extent, the uncertainty of philosophy is more apparent than real: those questions which are already capable of definite answers are placed in the sciences, while those only to which, at present, no definite answer can be given, remain to form the residue which is called philosophy.

This is, however, only a part of the truth concerning the uncertainty of philosophy. There are many questions—and among them those that are of the profoundest interest to our spiritual life — which, so far as we can see, must remain insoluble to the human intellect unless its powers become of quite a different order from what they are now.

Has the universe any unity of plan or purpose, or is it a fortuitous concourse of atoms? Is consciousness a permanent part of the universe, giving hope of indefinite growth in wisdom, or is it a transitory accident on a small planet on which life must ultimately become impossible? Are good and evil of importance to the universe or only to man? Such questions are asked by philosophy, and variously answered by various philosophers. But it would seem that, whether answers be otherwise discoverable or not, the answers suggested by philosophy are none of them demonstrably true.

Yet, however slight may be the hope of discovering an answer, it is part of the business of philosophy to continue the consideration of such questions, to make us aware of their importance, to examine all the approaches to them, and to keep alive that speculative interest in the universe which is apt to be killed by confining ourselves to definitely ascertainable knowledge.

Many philosophers, it is true, have held that philosophy could establish the truth of certain answers to such fundamental questions. They have supposed that what is of most importance in religious beliefs could be proved by strict demonstration to be true. In order to judge of such attempts, it is necessary to take a survey of human knowledge, and to form an opinion as to its methods and its limitations. On such a subject it would be unwise to pronounce dogmatically; but if the investigations of our previous chapters have not led us astray, we shall be compelled to renounce the hope of finding philosophical proofs of religious beliefs.

We cannot, therefore, include as part of the value of philosophy any definite set of answers to such questions. Hence, once more, the value of philosophy must not depend upon any supposed body of definitely ascertainable knowledge to be acquired by those who study it.

The value of philosophy is, in fact, to be sought largely in its very uncertainty."

— Bertrand Russell, The Problems of Philosophy (1912), Ch. XV: The Value of Philosophy, pp. 241-43
First published in 1912, Bertrand Russell’s The Problems of Philosophy has never been out of print and is often considered essential reading for philosophy students. Russell introduces philosophy as a repeating series of (failed) attempts to answer the same questions: Can we prove that there is an external world? Can we prove cause and effect? Can we validate any of our generalizations? Can we objectively justify morality?

Russell asserts that philosophy cannot answer any of these questions and that any value of philosophy must lie elsewhere than in offering proofs to these questions. Focusing on problems he believes will provoke positive and constructive discussion, Russell concentrates on knowledge rather than metaphysics: If it is uncertain that external objects exist, how can we then have knowledge of them but by probability. There is no reason to doubt the existence of external objects simply because of sense data.

Re: O que significa metafísica?

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Definições encontradas por aí:

Filosofia é procurar no escuro por um gato preto

Metafísica é procurar no escuro por um gato preto que não está lá

Teologia é procurar no escuro por um gato preto que não está lá e gritar: "Encontrei !"

Ciência é acender a luz

Re: O que significa metafísica?

Huxley
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Mensagem por Huxley »

Fernando Silva escreveu:
Dom, 18 Junho 2023 - 09:50 am
Definições encontradas por aí:

Filosofia é procurar no escuro por um gato preto

Metafísica é procurar no escuro por um gato preto que não está lá

Teologia é procurar no escuro por um gato preto que não está lá e gritar: "Encontrei !"

Ciência é acender a luz
Essa é uma visão popular (possivelmente um senso comum no meio não religioso), mas terrivelmente errada. Não existe essa separação entre Filosofia, Metafísica e Ciência.

Epistemologia da Ciência não é disciplina empírica. Os fundamentos da ciência (diferentemente das crenças não fundacionais das ciências) são filosóficos. Os positivistas científicos estão terrivelmente errados em negar isso.

Re: O que significa metafísica?

Huxley
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Registrado em: Sáb, 07 Março 2020 - 20:48 pm

Mensagem por Huxley »

f0rest escreveu:
Seg, 04 Outubro 2021 - 11:37 am
Nesse caso seria questão de semântica. A proposição, por exemplo, "de que todo conhecimento válido é experimental e objetivo" pode ser definido como uma base metafísica para a ciência, pois seria um conhecimento metafísico por ser linguístico e lógico. Mas, por outro lado, é uma proposição que se verifica automaticamente na própria experiência científica ao produzir o seu resultado, tornando-se objetivo de si mesmo perante a lógica da experiência. Isso é uso e desuso de conceitos. Discutir semântica é o mesmo que ficar com o carro atolado. Pois o que importa, afinal, é o objeto e não o signo.
"O que é a realidade?", "O que é o objetivismo?"
A resposta usará a linguagem, a lógica e argumentos com um critério de coesão na experiência. Assim como na interpretação das questões, a partir das construções sensoriais, a linguagem remete o signo ao significado. Isso não é metafísica, é linguagem, lógica e sistema cognitivo. É uma análise de dados concretos através de uma interface.
A metafísica clássica trouxe grandes avanços para a posteridade, assim como a filosofia em geral, desenvolvendo todas as ramificações da ciência. E existem áreas da ciência nas quais não existe objetividade razoável, como no direito, na ética e estética. Desenvolve-se uma hermenêutica para a atualização dessas áreas, e como de praxe, a partir da objetividade emanada da cultura e de elementos mais abstratos, como vontade e desejo. Em áreas como essa, que exigem um nível maior de abstração, podemos dizer que existe uma hermenêutica com elementos metafísicos.
Em resumo, prefiro utilizar termos como linguagem, lógica e abstração ao invés de metafísica.
"O que é a realidade?", "O que é o objetivismo?". Não, a resposta para essas perguntas não usará apenas linguagem, lógica e abstração, mas também a crença em proposições metafísicas. Essas três primeiras coisas em conjunto não têm a capacidade de examinar a natureza fundamental da realidade, tarefa da metafísica, mas uma vez que se tem a aceitação de afirmações substantivas que são fundamentos metafísicos, essas coisas passam a contribuir significativamente na descrição e explicação da realidade externa. O filósofo John Searle já explicou bem isso:
A lógica não nos diz, por si mesma, aquilo em que acreditar. Só nos diz o que tem de ser o caso, dada a verdade dos nossos pressupostos e portanto o que estamos comprometidos a acreditar dado que acreditamos nesses pressupostos. A lógica e a racionalidade fornecem padrões de demonstração, validade e razoabilidade; mas os padrões só operam sobre um conjunto previamente dado de axiomas, pressupostos, fins e objectivos. A racionalidade, enquanto tal, não faz afirmações substantivas.
Fonte: https://dialnet.unirioja.es/descarga/ar ... 004019.pdf

Por exemplo, a crença justificada na lei do quadrado do inverso como fato depende, além do empirismo, da crença metafísica da existência de regularidades no mundo. E há nada de errado nisso. Afinal, a indução não é empírica e o princípio do verificacionismo não é verificável. A ideia de que a indução é empírica porque é justificada pela experiência é baseada no raciocínio circular que afirma que a indução valida a si mesma. Isso é como confiar no que diz um anúncio porque o próprio anúncio garante ser de confiança. O peru indutivista que foi abatido no Natal depois de mil dias convivendo pacificamente com seu criador também confiava na asserção de que “o raciocínio indutivo tem sido extremamente bem-sucedido até hoje e concluo que continuará provavelmente a ser bem-sucedido no futuro”.
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