Como Formamos Nossa Opinião

Área destinada a discussões sobre História, Sociedade, Comportamento e Filosofia

Como Formamos Nossa Opinião

Avatar do usuário
JungF
Mensagens: 560
Registrado em: Sáb, 07 Março 2020 - 19:58 pm

Mensagem por JungF »

1-Conceito de opinião

Todos sabem que opinião é um juízo que, se formula sobre determinado assunto, e que pode ser ou não verdadeiro. Tanto emitimos um juízo quando dizemos, o azul é uma “cor”, como quando dizemos "o azul é a mais bela das cores". Mas esses conceitos diferem, porque o primeiro exprime uma verdade aceita por todos, enquanto o segundo exprime uma opinião, que pode até ser correta, mas que seguramente não é reconhecida por todos.

Então, a opinião consiste em admitir como verdadeiro um juízo, mas sem excluir a alternativa de se estar em erro. Um juízo pessoal pode ser compartilhado por muita gente, ate pela quase unanimidade das pessoas, mas se houver indivíduos que o contestem, desde que seja objeto de controvérsia, por muito que o consideremos verdadeiro, ele reflete apenas uma opinião. Ainda que o adotemos com a mais profunda das convicções, se não tem acolhida universal não pode ser reputado infalível e consequentemente, não passa mesmo de simples opinião.
É interessante analisar como se chega a adotar um ponto de vista especifico sobre determinado assunto.

Como se forma uma opinião?
Segundo o eminente jurista patrício Darcy Azambuja, a imensa maioria das nossas ideias, atitudes, afirmações e negativas, quase todas elas, não são o resultado do raciocínio, e sim do nosso temperamento, do nosso caráter, da nossa educação, das nossas crenças. Essas forças mais ou menos subconscientes modelam o que aprendemos, vemos e ouvimos, e quase sempre, o que consideramos resultado do nosso pensamento não passa de manifestações dos nossos sentimentos, tendências, desejos e aspirações.
Além disso, recebemos e aceitamos opiniões que nos venham do meio social, dos livros que lemos, das pessoas do círculo em que vivemos, e aderimos a essas ideias feitas como se as tivéssemos concebido. Nem poderia ser de outro modo, por que não podemos absolutamente, por falta de tempo e de conhecimentos adequados, raciocinar e concluir sobre todos os assuntos que nos interessam.
Assim, fora do setor limitadíssimo da especialidade em que cada um se aperfeiçoou, aceitamos as opiniões dos outros, procuramos e fazemos a nossa, e com razão, a opinião das pessoas competentes. Um médico, um engenheiro, um advogado, um comerciante, pode ter opiniões próprias, pessoais, sobre os assuntos da sua profissão; em tudo o mais aceita a opinião dos outros especialistas. “Não é pelos meus conhecimentos, ou pela minha experiência, que me vacino contra tifo e a varíola, é porque aceito como verdadeiras as opiniões dos médicos.” Não é pelo estudo de Teologia e História das Religiões que os católicos são católicos e os protestantes são protestantes - é por tradição, educação, inclinação. (“Teoria Geral do Estado”, 5ª., Ed., pgs. 285/287).

Segundo Lamarck, “tirante os fatos, tudo o mais não passa de opinião, para o homem, somente serão verdades positivas os fatos que ele puder observar” (SÉRGIO VALE, em “Silva Mello e os Seus Mistérios” 2ª. ed., pg. 193).
Os fatos são fatos, são evidentes por si mesmos. Um fato não evidente deixa de ser um fato para assumir a feição de uma teoria, ou de uma hipótese. E estas, enquanto não comprovadas, em última análise não passam também de simples opiniões.
Muitos receiam externar uma opinião que colida com as dos outros, principalmente quando se trata de uma ideia pouco conhecida e que, por isso mesmo e por contrariar a opinião geral, pode ser objeto de motejos. Não é raro que, ainda quando convencidos do acerto de seus pontos de vista, alguns simulem acompanhar a opinião geral, antes o receio de passarem por inexperientes ou tolos.
Por outro lado, quem tem uma opinião que lhe parece a correta, ou porque seja a dominante no meio social, ou por satisfazer seus íntimos anseios, naturalmente não acolhe de bom grado uma concepção diferente, que possa perturbar a estrutura de suas convicções. Por isso reage instintivamente a qualquer ideia nova que lhe possa perturbar o equilíbrio interior. Isso é natural, pois é preciso muita coragem para repudiar velhos conceitos, o que implica em confessar que até então se laborava em erro. Poucos se lembram de que errar é próprio da natureza humana e que os nossos conceitos passam por sucessivas modificações decorrentes do entrechoque de opiniões, dos fatos e da própria vida.
O certo é que novas verdades vão sendo assimiladas à medida que os homens se emancipam dos seus erros e preconceitos. E o que são preconceitos? Evidentemente são idéias formadas na mente (a priori), com exclusão de quaisquer argumentos em contrário. Por comodidade, adota-se o conceito como opinião firmada, sem qualquer interesse em conhecer melhor o assunto. Todos têm preconceitos e são estes que geram prevenção contra quaisquer ideias que contrariem o nosso modo de pensar, ou, de algum modo possam quebrar a rotina da vida mental a que estamos habituados.
Se os próprios conceitos religiosos em ultima analise não passam de opiniões, a própria definição da palavra mostra o quanto devemos ser tolerantes em relação às opiniões alheias. E é de tolerância, sobre tudo, que se mostram carentes todos quantos se encastelam nos seus próprios juízos, não admitindo possam ter alguma razão os que interpretam os fatos de maneira diversa. O que revela essa atitude? Limitação espiritual, falta de maturidade psicológica, escassa iluminação interior. Ser tolerante é aprender a respeitar as ideias, crenças e o sentimento das outras pessoas, sem que se esteja obrigado a delas compartilhar.

Comentários extraídos da internet sobre a “Teoria Geral do Estado”, Darcy P. Azambuja, 5ª., Ed., pgs. 285/287.
Editado pela última vez por JungF em Sáb, 03 Outubro 2020 - 19:40 pm, em um total de 1 vez.

Re: Como Formamos Nossa Opinião

Gigaview
Mensagens: 3013
Registrado em: Seg, 02 Março 2020 - 13:48 pm

Mensagem por Gigaview »

Segundo Lamarck, “tirante os fatos, tudo o mais não passa de opinião, para o homem, somente serão verdades positivas os fatos que ele puder observar”
...observar e confirmar como fatos. A simples observação pode induzir ao autoengano.

Imagem
Everybody has opinions. I have them, you have them. And we are all told from the moment we open our eyes, that everyone is entitled to his or her opinion. Well, that’s horsepuckey, of course. We are not entitled to our opinions; we are entitled to our informed opinions. Without research, without background, without understanding, it’s nothing. It’s just bibble-babble. It’s like a fart in a wind tunnel, folks.
-- Harlan Ellison

Em relação à tolerância, podemos dizer que ela está implícita no ceticismo científico, que é a linha do nosso Clube, ao admitir a possibilidade de podermos ser refutados diante de novos fatos e evidências.
...

Tolerance, as a practical maxim, has two sources: on the one hand, the realization that we may be mistaken; on the other hand, the belief that free discussion will promote the view we favour. This latter opinion must be held by anyone whose opinions are formed on rational grounds. Dogmatists, on the contrary, fear that free discussion would show their beliefs to be groundless, and that is why they always favour censorship. The Western world has learnt tolerance with difficulty, partly by realizing the usefulness of science, which bigots tried to crush. Experience has shown that tolerance and free discussion promote intellectual progress, social cohesion, prosperity, and success in war. I see no reason to suppose that this is going to be any less true in the future than it has been up to the present day. Fanaticisms come and go, and those of our time, like earlier ones, will perish through practical refutation. Tolerance and scientific spirit are among the greatest of human achievements, and I see no reason to think that we are in the process of losing them, or that those who retain them are thereby in any degree weakened in whatever struggle may lie ahead.
Scepticism and Tolerance By Bertrand Russell
https://users.drew.edu/~jlenz/br-on-tolerance.html
Responder