Envenenados, queimados e defenestrados: relembre o destino de oligarcas e militares de Putin em 2023
Mais de 40 oligarcas russos morreram sob circunstâncias misteriosas desde o início da Guerra na Ucrânia
Por Vitor Marroni — Rio de Janeiro 12/12/2023
Yevgeny Prigojin, Petr Kucherenko e Kristina Baikova eram respeitadas figuras públicas na Rússia
No dia 11 de dezembro deste ano, a equipe legal do opositor russo Alexei Navalny afirmou que perdeu contato com o político, condenado a cumprir pena de 19 anos em uma colônia penal à leste de Moscou. Crítico em relação ao governo do presidente Vladimir Putin, Navalny foi sentenciado em agosto deste ano por criar um grupo extremista, financiar atividades extremistas e muitos outros crimes.
No entanto, Navalny não foi a única figura pública russa a sumir este ano. Desde o início da Guerra na Ucrânia, mais de 40 oligarcas russas já foram queimados, envenenados e defenestrados sob circunstâncias misteriosas. Conheça as mortes misteriosas de 2023:
Yevgeny Prigojin
Muitos oligarcas já tentaram desestabilizar o governo de Putin, mas nenhum chegou tão perto quanto Yevgeny Prigojin. O líder do grupo mercenário Wagner liderou um motim em junho, no qual milhares de seus soldados marcharam a até 200km de Moscou para capturar o Ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o Chefe das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov.
As tropas de Prigojin deram meia volta e voltaram para suas bases. Analistas especulam que Putin chegou a um acordo com o mercenário, mas, apenas dois meses depois, Prigojin morreu na queda de um avião particular a 160 km da capital russa.
Informações da inteligência dos Estados Unidos chegaram a apontar que o jato particular foi atingido por um míssil, possivelmente disparado de dentro da Rússia. No entanto, posteriormente, o Pentágono descartou a ideia e afirmou que "não tem informações que sugiram que houve um míssil terra-ar".
Os mercenários Wagner são o braço paramilitar das operações russas na África e Oriente Médio; e foram usados como a vanguarda russa na batalha de Bakmut, durante a Guerra na Ucrânia. Milhares de combatentes 'descartáveis' teriam sido jogados contra as defesas da cidade e morreram devido à falta de apoio logístico do exército russo regular. Prigojin publicou vários vídeos nas redes sociais, culpando Shoigu e Gerasimov pelas mortes.
Anton Cherepennikov
O magnata Anton Cherepennikov foi fundador da ICS Holding, um grupo de tecnologia da informação apontado como central no rastreamento de usuários da internet russa. Em 22 de julho, a imprensa do país noticiou que o 'rei das escutas' foi encontrado morto em seu escritório, em Moscou, supostamente devido a uma parada cardíaca.
No entanto, um amigo de longa data do empresário cobrou investigações sobre a morte. "Não acredito que [ele morreu de] parada cardíaca", insistiu Vasily Polonsky.
Segundo o jornal "DailyMail", Cherepennikov era dono da maioria dos sistemas de escuta telefônica e armazenamento de tráfego de internet na Rússia.
— Ele foi uma ferramenta absolutamente fundamental na repressão de Putin — disse uma fonte da oposição ao tabloide britânico.
Petr Kucherenko
Petr Kucherenko era uma figura política muito respeitada na Rússia. O oficial de 46 anos atuava como Secretário de Estado e vice-ministro da Ciência e do Ensino Superior. Além disso, já havia ganho a medalha Ordem "Por Mérito à Pátria" II grau e tinha o título de Conselheiro de Estado Interino da Federação Russa, 2ª classe.
Então, imagina o choque da população russa quando Kucherenko morreu na volta de uma viagem diplomática a Cuba. O medalhista passou mal durante o voo e teve que ser atendido às pressas em Mineralnye Vody, na Rússia, Apesar dos esforços de médicos locais, ele não resistiu e veio a óbito.
A causa da morte é misteriosa, mas pode ter algo a ver com suas declarações contra a Guerra na Ucrânia. O político declarou publicamente que o conflito é uma 'invasão fascista', e lamentou 'o grau de brutalização' do estado russo.
Kristina Baikova
A história de Kristina Baikova, vice-presidente do Loko-Bank, é o único caso de defenestração dessa lista. A executiva de 28 anos caiu do 11° andar de um prédio em Moscou em 23 de junho, mesmo dia que Prigojin começou sua marcha a Moscou.
O jornal inglês Daily Mail afirma que Kristina estava acompanhada de um amigo de 34 anos. Os dois bebiam dentro do imóvel. O companheiro da empresária foi identificado apenas como Andrei e seu envolvimento na tragédia ainda não é claro.
Marina Yankina e Vladimir Makarov
Esses dois oficiais estão listados juntos pois ambos morreram de aparentes suicídios. Vladimir Makarov, um major-general do exército russo demitido por Putin, supostamente tirou a própria vida com um tiro na cabeça. Marina Yankina, a chefe do departamento de apoio financeiro do Distrito Militar Ocidental do Ministério da Defesa da Rússia, alegadamente saltou de um prédio dois dias depois.
Makarov passou parte de sua carreira como chefe do Diretório Principal de Combate ao Extremismo, onde perseguiu jornalistas, manifestantes e dissidentes políticos. Segundo canais de notícia no Telegram, ele entrou em depressão após ser demitido por Putin, mas esses relatos não podem ser confirmado no momento.
Marina era uma importante figura na Guerra na Ucrânia. Segundo relatos de fontes ligadas ao governo russo, alguns pertences da militar foram encontradas na sacada do prédio de onde ela teria pulado, indicando suicídio.
Vitaly Melnikov
Grigory Klinishov era considerado um importante cientista espacial russo que trabalhou na Roscosmos, a agência espacial da Rússia. O acadêmico de 77 anos também escreveu mais de 290 artigos científicos e cooperou com vários projetos internacionais de exploração espacial.
Klinishov foi encontrado morto em agosto após ingerir fungos tóxicos no jantar. Segundo o jornal Moskovsky Komsomolets, que diz ter entrevistado a família do falecido, o cientista coletou os cogumelos venenosos em uma floresta perto de Moscou após confundí-los com fungos comestíveis.
Dmitry Pawochka
Também associado com a agência espacial russa, Roscosmos, Dmitry Pawochka foi encontrado incinerado em janeiro após um incêndio que consumiu seu complexo residencial em Moscou. Segundo um relatório dos bombeiros, o prédio pegou fogo quando Pawochka adormeceu com um cigarro na mão.
O gerente de 49 anos estava envolvido com outras poderosas empresas russas, inclusive a fabricante de caças Sukhoi, a companhia de óleo e gás, Lukoil, e o banco Menatep.
Igor Shkurko
O executivo da área de energia Igor Shkurko foi o 40° oligarca russo a morrer desde o início da Guerra na Ucrânia. O corpo do empresário de 49 anos, que era vice-diretor geral da Yakutskenergo, foi descoberto em abril em sua cela num centro de detenção para onde fora levado após ser acusado de aceitar suborno.
Um dia antes da morte, o executivo apresentou recurso contra o que alegou ser uma "alegação injusta de suborno". O valor apontado no suborno levanta dúvidas. O milionário Shkurko – que era casado e tinha dois filhos – foi acusado de exigir suborno de o equivalente a R$ 31,6 mil.
Autoridades russas não forneceram detalhes sobre como Shkurko morreu, mas disseram que as evidências indicam que não há sinais de uma "morte criminosa". A hipótese de suicídio, porém, parece não se encaixar para alguém que estava apelando para deixar a cadeia.