Versão original de histórias infantis
Eu descobri uma página muito interessante que traz a origem e, muitas vezes, uma versão diferente de contos infantis como costumamos conhecer.
O tópico abordará algumas dessas histórias, que podem levar a considerações sobre elas.
O tópico abordará algumas dessas histórias, que podem levar a considerações sobre elas.
A verdadeira História de Pinóquio
Antes de ser o simpático boneco da Disney, Pinóquio foi, um símbolo de rebeldia, castigo e transformação moral através da dor.
Publicado originalmente em 1881 como uma série no Giornale per i Bambini, Le Avventure di Pinocchio nasceu com o propósito de educar através do choque — e não do encanto. A Itália recém-unificada enfrentava pobreza, analfabetismo e desigualdade.
E Carlo Collodi, conhecedor das falhas sociais e morais da época, transformou Pinóquio num espelho torto da infância abandonada e da pedagogia punitiva.
Neste texto, vamos mergulhar no conto original, revelando a verdadeira natureza sombria de uma das histórias infantis mais violentamente suavizadas da história.
A história começa de maneira inquietante. Um pedaço de madeira grita quando o velho marceneiro Mestre Cereja tenta talhá-lo. Assustado, ele o entrega a seu conhecido Geppetto, um homem pobre e mal-humorado, que deseja construir uma marionete para ganhar dinheiro como artista ambulante.
Geppetto mal começa a esculpir o boneco, ele toma vida. Seus olhos se movem, sua boca ri, seus pés chutam o criador. Assim que fica de pé, Pinóquio foge, debochando do velho. A polícia, achando que Geppetto maltrata o boneco, o prende. E Pinóquio? Volta para casa sozinho e encontra o Grilo Falante.
O Grilo Falante tenta adverti-lo: "Meninos desobedientes e ingratos terão fim trágico". Mas Pinóquio, ao invés de ouvir, fica injuriado e mata o Grilo com uma martelada. Essa cena é frequentemente omitida das versões modernas, mas é crucial: representa o assassinato simbólico da consciência moral — e marca o início da jornada caótica.
Sozinho e faminto, o boneco dorme e, ao acordar, ele acaba que queima seus pés ao se aproximar demais do fogo. Quando Geppetto retorna da prisão, encontra o filho "descalço" e arrependido. Mesmo sofrendo, o velho lhe perdoa, reconstrói seus pés e vende seu casaco para comprar-lhe um abecedário. É essa primeira chance de redenção de Pinóquio.
Mas Pinóquio, como uma criança teimosa e seduzida pelo prazer, troca a escola por um teatro de marionetes. Gasta o dinheiro do livro para comprar ingresso. No teatro, ele é capturado por Mangiafuoco, o temido diretor, que ameaça queimá-lo. Mas o boneco o comove com sua história e ganha cinco moedas de ouro.
É nesse ponto que surgem dois dos personagens mais traiçoeiros da literatura infantil: a Raposa manca e o Gato cego, símbolos do estelionato e da exploração da inocência. Eles o convencem de que há um "Campo dos Milagres", onde, se ele enterrar suas moedas, crescerá uma árvore de dinheiro.
Pinóquio, sempre crédulo, cai no golpe. Ao tentar resistir ao roubo, é seguido pelos dois disfarçados de bandidos e acaba sendo enforcado uma árvore.
O capítulo termina com ele balançando, com a língua para fora, à beira da morte. Este seria o fim original da história — uma tragédia.
Mas, por pressão do público, Collodi foi convencido ou obrigado a continuar a narrativa.
Pinóquio é salvo por uma misteriosa Fada de Cabelos Azuis, que o acolhe. Mas, ao mentir para ela, seu nariz cresce grotescamente. A fada não é uma figura doce e maternal como na Disney: ela pune, desaparece e testa. Ao longo da história, ela “morre”, volta, mente, repreende — é o símbolo da moral punitiva e mutável.
Ainda assim, promete: se Pinóquio for bom, tornar-se-á um menino de verdade. Mas a promessa é condicionada a obediência total.
Quando o boneco tenta mudar, um novo erro surge: ele se junta a um amigo, Lucignolo, e vai para o País dos Brinquedos, onde as crianças vivem sem regras. O preço? Se transformar em burros — literais.
A metamorfose em burro é uma metáfora do embrutecimento moral. E Pinóquio é vendido para um circo, espancado e forçado a fazer truques. Mas quando quebra a perna, o dono o vende a um fabricante de tambores, que quer usar sua pele para fabricar instrumentos. Ele é jogado ao mar, e apenas sua forma de marionete sobrevive, após peixes devorarem toda a carne do burro.
De volta à forma original, vaga até reencontrar Geppetto, que fora engolido por um tubarão gigante (não uma baleia). Dentro do tubarão, pai e filho se reencontram e, com esforço, escapam pelas entranhas da criatura.
Pinóquio finalmente muda. Trabalha para sustentar Geppetto, ajuda os outros, estuda com afinco. Quando a Fada reaparece, pobre e doente, ele dá tudo o que tem para ajudá-la.
Somente então, ao demonstrar compaixão real e esforço honesto, ele acorda humano. No quarto, Pinóquio vê sua velha forma de madeira jogada no canto — inerte, vazia. O boneco morreu e o menino nasceu.
A história original de Pinóquio não é sobre diversão ou magia. É sobre desobediência e punição, culpa e redenção. A madeira viva representa o instinto bruto, egoísta e infantil. A humanidade é um prêmio concedido não por bondade inata, mas por sofrimento, disciplina e sacrifício.
Pinóquio é um conto sombrio, brutal e moralista, que fala mais aos adultos do que às crianças. Um reflexo de uma Itália ferida, de uma sociedade que acreditava que só a dor educava. E mesmo hoje, mais de um século depois, ele continua a nos lembrar que nem toda transformação é bela — e que a inocência perdida às vezes precisa morrer para que nasça o caráter.
Pinóquio - Carlo Collodi
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Peter Pan - Por J.M. Barrie
O conto original de Peter Pan, escrito por J.M. Barrie em 1911, é bem diferente da versão adocicada da Disney que conhecemos.
James Matthew Barrie, o criador de Peter Pan, não escreveu uma história infantil para entreter, mas sim um espelho distorcido de suas dores mais íntimas.
A semente do personagem começou a ser escrita em 1902 e nasceu do luto: Barrie perdeu seu irmão David em um acidente de patinação aos 13 anos. Para a mãe, David era o filho perfeito, e o fato de ele nunca ter crescido o eternizou como símbolo de pureza.
Barrie, ao ver o impacto disso, internalizou uma ideia inquietante: a verdadeira infância é aquela que nunca envelhece — nem que, para isso, precise morrer.
Essa é a sombra que paira por trás do conto de fada que o mundo conhece.
A história começa em Londres, no quarto dos irmãos Darling — Wendy, John e Michael. À noite, sob a vigília da cadela Nana, surgem ecos, sombras e uma presença invisível que observa pela janela. Peter Pan está à espreita, tentando recuperar sua sombra perdida.
Mas esse Peter Pan não é o herói encantador da Disney. Ele é descrito como "um menino com dentes de leite ainda afiados", com um riso impiedoso e olhos vazios de empatia. Ele não ama — ele conquista. Ao seu lado, uma fada do tamanho de uma mão: Sininho, ciumenta, volátil, muitas vezes cruel.
Seu convite a Wendy não é gentil: é um sequestro sedutor disfarçado de aventura.
Com pó de fada, Wendy e seus irmãos, voam até a Terra do Nunca — e ali começa o verdadeiro pesadelo.
A Terra do Nunca: Um Inferno Pintado de Brinquedo
Na superfície, a Terra do Nunca parece um lugar de fantasia: sereias, índios, piratas, florestas encantadas. Mas sob essa máscara, esconde-se um mundo de estagnação, egoísmo e esquecimento. As crianças ali não crescem, mas também não vivem — repetem eternamente os mesmos ciclos de jogos, batalhas e mortes simbólicas. E logo se percebe que esse mundo não é um paraíso, e sim, um purgatório infantil.
Ali vivem os "Meninos Perdidos" — crianças que "caíram dos carrinhos de bebê" e nunca foram reclamadas pelas mães ou se quer pelas famílias — vivem sob a liderança carismática e cruel de Peter Pan, ele é o senhor de um reino de estagnação.
Ele mata aqueles que envelhecem demais. Literalmente. Ele não admite mudança. Nem idade. Nem sombra.
"Quando parecem estar crescendo, Peter Pan os "afasta", diz o texto original, com um eufemismo gelado.
Wendy é forçada a assumir o papel de mãe para os garotos. Ela cozinha, conta histórias e cuida dos feridos. Peter não quer uma companheira — ele quer uma figura que o mime e o adule, sem desafiar sua autoridade. Exige cuidado, mas não oferece amor verdadeiro. O amor, para ele, é um jogo de poder. Ele não compreende o afeto — apenas o jogo de manter os outros girando em sua órbita.
A Fada Ciumenta, o Capitão Gancho e o Espelho Rachado
Sininho, ao contrário da imagem doce e brilhante popularizada, é ciumenta, vingativa e quase uma assassina. Sininho enxerga Wendy como uma ameaça e tenta matá-la por inveja. Em um momento de ciúme feroz, Sininho guia os Meninos Perdidos a atirar nela. A tentativa de assassinato só falha por sorte.
As fadas, no mundo de Barrie, são seres voláteis, nascidas do riso de um bebê, mas com um temperamento que arde entre o encanto e o caos.
Já o Capitão Gancho, arquétipo do vilão, é na verdade o reflexo sombrio de Peter Pan — um homem que envelheceu, ele é culto e conhece a arte, lê Shakespeare, mas teme o tique-taque do tempo, simbolizado pelo crocodilo que engoliu seu relógio quando sua mão foi cortada por Peter Pan e jogada ao crocodilo.
Gancho é o que Peter Pan poderia ter se tornado: um homem corroído pelo tempo e pelo medo de ser esquecido. Mas Peter Pan não teme o tempo porque não o reconhece. Ele é congelado na infância, sem memória contínua — esquece até os nomes dos que ama.
Peter Pan e Gancho são dois lados da mesma moeda: o menino que se recusa a crescer e o adulto que não consegue voltar.
O Fim que Nunca Termina
As batalhas entre Peter Pan e os piratas são violentas. Crianças matam. Piratas morrem. Enquanto Peter Pan ri, com a indiferença de quem não entende o valor da vida. O conto de Barrie descreve lutas com um misto de lirismo e brutalidade. Não há real consequência. A Terra do Nunca é um teatro onde tudo se repete.
Quando Wendy e os irmãos decidem voltar para casa, Gancho os captura. Wendy quase é forçada a caminhar pela prancha. Mas Peter os salva. Ele mata o Capitão Gancho — ou o empurra ao crocodilo, dependendo da versão. E então, pela primeira vez, Peter parece vitorioso.
Mas essa vitória tem um gosto amargo.
De volta a Londres, os pais de Wendy os recebem. Os Meninos Perdidos são adotados. Mas Peter se recusa. Ele não quer uma casa. Ele não quer crescer. Ele retorna à Terra do Nunca. Sozinho.
Na cena final do original, Peter volta anos depois, esperando encontrar Wendy como sempre foi. Mas ela está adulta, com uma filha. Peter Pan não compreende. Ele está preso na infância como um fantasma preso a um instante de sua morte — condenado a repetir sua existência oca para sempre.
Ela lhe apresenta sua filha, Jane. E Peter Pan voa com ela, repetindo o ciclo. Ele sempre volta, esperando que tudo esteja como antes, mas sempre se decepciona. E sempre recomeça. Vivendo um ciclo sem fim.
O Documento de uma Mente Marcada
Barrie nunca teve filhos. Mas se cercou de meninos — os irmãos Llewelyn Davies, órfãos que ele praticamente adotou, serviram de inspiração direta para os Meninos Perdidos. Dois deles morreram tragicamente jovens: um por afogamento, outro por suicídio. A sombra da morte pairava sobre a infância de Barrie, e ele a esculpiu em Peter Pan.
Não é por acaso que o título original da peça era Peter Pan, ou o Menino que Não Queria Crescer. Não "não podia" — não queria. A recusa de amadurecer não é um dom mágico. É uma prisão psíquica.
Peter Pan, em sua essência, não é um conto sobre liberdade e magia, mas sobre fuga. Não é uma celebração da juventude, mas um aviso sombrio sobre o que acontece quando nos recusamos a aceitar o tempo, a perda, o amor — e a morte.
Ao romantizar Peter como símbolo da infância eterna, esquecemos que ele representa a infância parada no tempo porque foi ferida, abandonada ou destruída. Wendy cresce. Os meninos crescem. Gancho morre. Só Peter Pan permanece, solitário, voando sobre Londres, à espera de outra criança vulnerável que ele possa levar embora.
E toda vez que ouvimos uma risada de criança, uma fada nasce.
Mas sempre que uma criança para de acreditar, uma fada morre.
Peter Pan - Por J.M. Barrie
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A Pequena Sereia - Hans Christian
Na escuridão silenciosa do fundo do mar, nasce um dos contos mais dolorosos da literatura clássica: A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen. Escrita em 1837, a história não é sobre amor adolescente, mas sobre angústia existencial, renúncia, fé e o desejo de possuir uma alma imortal.
“Ela olhou mais uma vez para o príncipe com os olhos quase fechados, lançou-se para o mar e sentiu seu corpo se dissolver em espuma.”
— Andersen, 1837
Muito abaixo da superfície do mar, onde os raios do sol jamais chegam, havia um reino aquático regido por um velho rei do mar. Ali viviam criaturas de beleza fria e silêncio eterno. Entre elas, seis filhas — sereias de vozes encantadoras, cabelos longos e olhos profundos como os abismos oceânicos. A mais jovem era a mais bela e a mais silenciosa. Não possuía nome — Hans Christian Andersen nunca lhe deu um, como se sua identidade estivesse presa ao anonimato do desejo não realizado.
Diferente de suas irmãs, que se encantavam com o mundo marinho, a pequena sereia vivia obcecada por algo invisível: o mundo acima da superfície. Ela sonhava com os humanos, com sua efemeridade e sua estranha dádiva — a alma imortal.
"As sereias vivem trezentos anos," dizia sua avó, "mas quando morrem, viram espuma sobre as ondas. Os humanos, ainda que vivam menos, têm algo que nós não temos: uma alma que vive para sempre."
Este era o seu verdadeiro desejo: a eternidade, o espírito, o que nenhuma criatura marinha podia alcançar.
Aos quinze anos, como era costume, a pequena sereia finalmente teve permissão para subir à superfície. Era noite. A primeira coisa que viu foi um navio em festa — luzes, música, risos. Entre os passageiros, um jovem príncipe. Ela o observou, encantada. Não era apenas sua beleza, mas o que ele representava: um humano, portador da alma imortal que ela desejava alcançar.
Subitamente, uma tempestade brutal rompeu o céu. Raios. Ondas. O navio naufragou. Todos foram lançados ao mar. A pequena sereia, enquanto suas irmãs teriam se escondido nas profundezas, nadou entre os destroços — e salvou o príncipe da morte.
Ela o levou à praia, depositando-o suavemente na areia, escondendo-se atrás de uma rocha. Quando uma jovem do convento local o encontrou, ele abriu os olhos e a viu — mas acreditou que fora ela quem o salvara. A pequena sereia, muda, assistiu de longe, invisível ao olhar humano, condenada a ser esquecida.
Desde então, o coração da pequena sereia queimava. Ela voltava à superfície sempre que podia para espiar o príncipe. Viu onde morava, onde passeava, como sorria. Mas, mais que isso, alimentava a ideia de se tornar humana. Não por ele apenas — mas pelo que ele simbolizava: a alma, a eternidade, a chance de escapar de um fim em espuma.
Decidida, ela procurou a Bruxa do Mar — uma entidade terrível, mas justa. Diferente da caricata Úrsula da Disney, essa bruxa era uma criatura de sombras e verdade. Não enganava. Apenas cobrava o preço certo.
"Eu te darei pernas para andar no mundo dos homens," disse a bruxa. "Mas cada passo será como pisar sobre lâminas afiadas. E tu nunca mais poderás voltar ao mar."
E mais: em troca, ela exigiu a voz da sereia — uma voz que era “a mais bela do mundo submerso”. Para arrancá-la, a bruxa cortou-lhe a língua.
Sem fala. Sem lar. Com um corpo que sangraria a cada passo — a pequena sereia aceitou.
Acordou na praia, nua, humana. O príncipe a encontrou e a acolheu como amiga silenciosa. Achava-a misteriosa, encantadora, mas jamais como amante. A sereia o seguia, dançava para ele, sofria calada. A cada passo, dor. A cada noite, angústia.
Mas ele a tratava como uma criança. Um afeto sem desejo. Um carinho sem paixão.
Pouco depois, o príncipe se casa — justamente com a jovem do convento, a quem ele ainda acreditava dever a vida.
Na noite do casamento, a pequena sereia olha o mar pela última vez. Suas irmãs surgem das águas, desesperadas. Haviam entregado seus cabelos à bruxa em troca de uma adaga mágica.
"Mate o príncipe antes do nascer do sol," disseram, "e serás salva. Seu sangue nos teus pés fará teu corpo de sereia retornar."
Ela entra no quarto do casal. Observa-o dormindo. Segura a adaga. Mas não consegue.
Ao amanhecer, sobe ao convés do navio e se lança ao mar. Dissolve-se em espuma.
Mas nem tudo termina em dissolução. Andersen — um cristão convicto, de espiritualidade torturada — concede à pequena sereia um último destino: ela se torna uma “filha do ar”. Um espírito que vaga pelo mundo invisível, fazendo boas ações. E, se por 300 anos ela for virtuosa, ganhará a alma que tanto desejou.
"Ela não conseguira o amor do príncipe, mas havia encontrado algo maior: a promessa da eternidade através do sacrifício."
Em 1989, a Disney transformou essa fábula sombria em um musical ensolarado. Ariel — agora ruiva, obstinada e cheia de vida — não quer uma alma, quer um príncipe. Ela não pisa sobre facas, mas corre na praia. Não morre, mas casa-se. Recupera sua voz. Vence a vilã. Tudo dá certo.
A alma foi esquecida. A dor, suavizada. O silêncio, eliminado.
Mas o que se perde nisso?
A verdadeira história não é sobre conquistar o amor do outro, mas sobre perder tudo para permanecer fiel a si mesma. É sobre o que sacrificamos quando desejamos demais. Sobre escolhas sem retorno. Sobre o que nos torna humanos: não o amor que nos oferecem, mas o amor que damos sem sermos vistos.
A Pequena Sereia - Hans Christian
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O Flautista de Hamelin - Irmãos Grimm
“O Flautista de Hamelin”: Diferente de outros contos dos Grimm, possui uma base documental real e concreta. A própria cidade de Hamelin mantém registros que datam de 1384 mencionando o desaparecimento das crianças — exatamente 100 anos após o suposto evento.
A prova está gravada nas próprias paredes de Hamelin.
Uma placa na fachada de pedra da chamada casa do flautista, residência privada no estilo enxaimel datada de 1602, evidencia o mistério.
"Em 26 de junho de 1284, no dia de São João e São Paulo, 130 crianças nascidas em Hamelin foram retiradas da cidade por um flautista vestido com roupas multicoloridas. Depois de passar pelo Calvário perto de Koppenberg, desapareceram para sempre", diz a inscrição.
Na cidade de Hamelin, envolta por montanhas, rios e florestas densas, algo sombrio aconteceu — algo tão inexplicável que, séculos depois, ainda ecoa como um lamento em cada beco, em cada torre e em cada pedra antiga das construções. Os Irmãos Grimm não criaram esta história. Eles a recolheram, como sempre faziam, dos sussurros do povo. E essa, mais do que muitas outras, era uma história viva — que ninguém ousava esquecer.
O Flautista de Hamelin: O Conto Sombrio dos Irmãos Grimm e o Mistério Real por Trás da Lenda
Era o ano de 1284, segundo as crônicas antigas. A cidade de Hamelin estava infestada por ratos. Ratos que não apenas roubavam comida e adoeciam as pessoas, mas pareciam simbolizar a própria decadência moral de uma comunidade gananciosa e corrupta.
Quando tudo parecia perdido, surgiu um homem. Vestia roupas coloridas, carregava uma flauta simples e garantia que podia resolver o problema… por um preço.
Os líderes da cidade, desesperados, prometeram pagar uma alta quantia em ouro. O homem aceitou, e então fez o impensável: tocou sua flauta, emitindo uma melodia hipnótica que atraiu todos os ratos da cidade.
Eles o seguiram pelas ruas, pelas pontes e pelo campo… até se lançarem no rio Weser, afogando-se um por um. A cidade estava livre. Mas quando o homem retornou para receber sua recompensa, os governantes quebraram sua promessa.
Riram em sua cara, expulsaram-no da cidade, e viraram as costas como se ele fosse um louco qualquer.
Mas ele não era apenas um flautista.
Dias depois, em uma manhã sombria, ele retornou. Com suas vestes agora sombrias, negras como a noite. Quando começou a tocar a flauta novamente, não foram ratos que saíram de suas casas… foram crianças. Cento e trinta, para ser exato.
Todas encantadas pela melodia, seguiam o homem, dançando e sorrindo. E foram levadas para fora dos muros de Hamelin — para nunca mais serem vistas. Apenas duas crianças retornaram: uma era cega, e a outra, surda. Não viram nem ouviram o caminho por onde o flautista os levou.
A cidade, marcada para sempre, gravou o evento em suas memórias, suas janelas e até em seus documentos oficiais.
A Lenda... ou a História Real?
Alguns estudiosos acreditam que o desaparecimento esteja relacionado a uma migração forçada de jovens para colônias no Leste Europeu, como a Transilvânia ou a Polônia. Outros defendem que a praga negra ou um sequestro em massa foram os verdadeiros causadores do desaparecimento.
Há até teorias que apontam para seitas ou rituais religiosos. Mas em todos os casos, o símbolo do flautista se mantém: um justiceiro, um agente do destino, ou até mesmo da morte, que cobra caro pela arrogância e ganância humana.
A Disney nunca ousou adaptar essa história. Porque não há final feliz. Não há resgate. Não há heróis.
O conto do flautista não é apenas uma fábula sobre promessa e punição. É uma crônica sombria, marcada por luto e lenda, que revela uma verdade brutal: às vezes, o mal não vem com dentes e garras. Vem com uma flauta… e um sorriso calmo.
O Flautista de Hamelin
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O sumiço de 130 crianças alemãs por trás da lenda mágica do flautista de Hamelin
Author, Raphael Kadushin
Role, BBC Travel
6 dezembro 2020
Todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, Michael Boyer veste uma meia-calça colorida, amarra sua capa vermelha, pega sua flauta e sai pelas ruas medievais de Hamelin, uma cidade de 60 mil habitantes na região da Baixa Saxônia, na Alemanha.
Ele repete esse ritual há 26 anos.
"As pessoas às vezes me confundem com um super-herói, bobo da corte ou Robin Hood", diverte-se.
Não é à toa que se tornou uma figurinha fácil no Instagram de qualquer turista.
Ele foi escolhido para dar vida ao "filho adotivo" favorito (pelo menos comercialmente) - e ao mesmo tempo, mais odiado - da cidade.
Responsável por saudar grupos de turistas e dignitários, Michael realiza tours pela cidade e incorpora o personagem da lenda que atrai a maioria dos viajantes até aqui.
Originada como parte do folclore medieval, a história inspirou um verso de Goethe, Der Rattenfänger (O Apanhador de Ratos, em tradução livre) uma história dos Irmãos Grimm, O Flautista de Hamelin; e um dos poemas mais conhecidos do poeta inglês Robert Browning, de mesmo nome.
E embora cada escritor tenha dado seu toque à narrativa, o enredo básico permaneceu o mesmo: o da cidade de Hamelin que contrata um flautista para livrá-la da praga de ratos.
Seguindo as notas hipnóticas da flauta mágica do caçador de ratos, os roedores atravessaram educadamente os portões da cidade em direção à sua suposta ruína.
Mas eles não foram os únicos atraídos por sua música.
Quando a cidade se recusou a pagar o flautista por seus serviços, ele colocou em prática seu plano de vingança, atraindo as crianças de Hamelin com sua melodia.
Em transe, meninos e meninas seguiram o flautista para fora da cidade e simplesmente desapareceram.
E não é só a lenda que parece ter resistido ao tempo, a cidade de Hamelin até hoje parece fazer parte de um conto de fadas.
O tour de Boyer leva os visitantes para passear pelas fileiras de casas no estilo tradicional típico alemão conhecido como enxaimel, na qual as paredes são montadas com vigas de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais ou inclinadas, com espaços preenchidos por tijolos ou outros materiais.
Há mansões burguesas do século 16 decoradas com frontões góticos, e construções exuberantes que mais parecem um bolo de casamento, oferecendo belos exemplos da arquitetura do final do Renascimento, típica do noroeste da Alemanha, com gárgulas a espreitar e esculturas em madeira policromada de cores vivas.
No entanto, tudo isso é apenas pano de fundo para a verdadeira indústria artesanal da cidade, que capitaliza tudo o que tem a ver com o flautista.
Os restaurantes locais preparam um prato de "cauda de rato" exclusivo, feito de fatias finas de carne de porco, enquanto as padarias vendem pães e doces na forma do roedor.
O Museu Hamelin apresenta uma recriação da música do flautista; atores locais encenam uma peça ao ar livre durante o verão; e as lojas vendem recordações da cidade inspiradas em ratos.
Se quiser, você pode voltar para casa com a mala cheia de camisetas, ímãs de geladeira, canecas e flautas do Flautista de Hamelin.
No entanto, o que poderia se tratar de uma curiosidade divertida esconde algo mais profundo - e sugere por que a lenda ainda vive não apenas em Hamelin, mas no folclore da região.
De certa forma, o conto toca num medo primitivo, quando notamos que o flautista é uma versão de um bicho-papão universal que continua a nos assombrar.
Os pais sempre temem a perda de seus filhos. Todos os dias, em alguma parte do mundo, uma criança desaparece.
O flautista é, em última análise, a face da morte.
Embora a história evoque um medo universal, ainda ressoa mais alto em Hamelin - e o tour do flautista sugere por quê.
Na verdade, a grande surpresa do passeio não é tanto a paisagem urbana lindamente preservada, mas a sugestão de que o flautista é muito mais do que apenas um conto de fadas.
Os irmãos Grimm e Robert Browning podem ter transformado a lenda em arte, mas parece que a história é baseada em um incidente histórico que realmente aconteceu.
A prova está gravada nas próprias paredes de Hamelin.
Uma placa na fachada de pedra da chamada casa do flautista, residência privada no estilo enxaimel datada de 1602, evidencia o mistério.
"Em 26 de junho de 1284, no dia de São João e São Paulo, 130 crianças nascidas em Hamelin foram retiradas da cidade por um flautista vestido com roupas multicoloridas. Depois de passar pelo Calvário perto de Koppenberg, desapareceram para sempre", diz a inscrição.
A inscrição não é o único indício.
Uma anotação nos registros da cidade de Hamelin, datada de 1384, lamenta que "já se passaram 100 anos desde que nossas crianças partiram".
O vitral da igreja de São Nicolau da cidade, destruído no século 17 mas descrito em relatos anteriores, ilustrava a figura do flautista com várias crianças fantasmagóricas de branco.
Além disso, o manuscrito de Luneburg do século 15, junto com cinco versos de memória histórica, alguns em latim e outros em alemão da Idade Média, fazem referência a uma história semelhante de 130 crianças ou jovens que desapareceram em 26 de junho de 1284, seguindo um flautista até um lugar chamado Calvário ou Koppen.
E assim o flautista, mais do que uma lenda, se torna símbolo de um grande mistério histórico.
O que aconteceu com as crianças desaparecidas de Hamelin?
Mestre da sedução, o fascinante caçador de ratos é agora o centro das atenções de vários historiadores que investigam o que aconteceu exatamente na cidade em 26 de junho de 1284.
As teorias são várias, segundo Wibke Reimer, coordenador de projetos do Museu Hamelin, que organizou uma exposição especial com foco no alcance global da lenda do flautista.
Uma das principais teses atuais sugere que os jovens da cidade fizeram parte de uma onda de migração de alemães para a Europa Oriental provocada pela recessão econômica.
"Nesse cenário, o flautista desempenhava o papel do chamado localizador ou recrutador. Eles eram responsáveis por organizar as migrações para o leste, e dizem que usavam roupas coloridas e tocavam um instrumento para atrair a atenção dos colonos (clientes em potencial)", afirma Reimer.
Embora alguns historiadores acreditem que os jovens migraram para a Transilvânia, a teoria do linguista alemão Jürgen Udolph é a mais aceita.
"Ele sugere que as regiões ao redor de Berlim seriam os locais mais prováveis, área que agora forna o leste da Alemanha", explica Reimer.
"E ele baseia sua teoria em evidências de nomes nesses lugares."
De fato, Udolph descobriu que os sobrenomes mais comuns em Hamelin naquela época apareciam com surpreendente frequência nas áreas de Uckermark e Prignitz, perto de Berlim, que ele indica como sendo o centro da migração.
A teoria também é reforçada por evidências de que a região, então recém-libertada dos dinamarqueses, estava pronta para a colonização alemã.
Há ainda outras hipóteses mais fantasiosas. Alguns historiadores sugerem que a lenda reflete a Cruzada das Crianças do século 13, parte da onda de cruzadas medievais com o objetivo de recuperar a Terra Santa.
E há quem argumente que esses jovens foram perdidos para a Peste Negra, embora as datas não coincidam.
Mais intrigante é a teoria que faz uma associação com o fenômeno medieval da "praga da dança", um surto de dança coletiva, desencadeado por uma sucessão de pandemias e desastres naturais.
Conhecida como Dança de São Vito, a praga da dança teria aparecido na Europa continental no século 11.
Era uma forma de histeria em massa.
A dança podia se alastrar de um indivíduo para grandes grupos, e todos padeciam de uma compulsão incontrolável de dançar loucamente, às vezes por semanas, geralmente pulando e cantando. Às vezes, alucinando até a exaustão e, ocasionalmente, até a morte - como um pião que não é capaz de parar de girar.
De fato, no século 13, houve um surto de uma espécie de febre da dança ao sul de Hamelin, na cidade de Erfurt, onde foi documentado que um grupo de jovens girava descontroladamente enquanto se afastava dos limites da cidade, e acabou a 20 km de distância em um povoado vizinho.
Algumas crianças, sugere uma crônica, faleceram logo em seguida, literalmente dançaram até morrer, e as que sobreviveram ficaram com tremores crônicos.
Talvez, teorizam alguns, Hamelin tenha testemunhado uma praga semelhante, na qual, figurativamente, os jovens dançavam ao som da melodia do flautista.
Mas todas essas teorias deixam escapar um elemento específico sobre o mistério de Hamelin.
"Não explicam a data específica citada em que as crianças desaparecem, e o sentimento local de trauma", observa Reimer.
"Aconteceu algo que as autoridades encobriram? Algo tão traumático que se transmitiu oralmente durante tanto tempo na memória coletiva do povo, durante décadas e até séculos?
A data do desaparecimento das crianças que está registrada em toda a documentação local é 26 de junho - mesmo dia das celebrações pagãs do solstício de verão.
E o fato de a documentação também enfatizar que os jovens seguiram o flautista até o Koppen, normalmente traduzido como "montanhas", sugere outra hipótese.
"Havia regiões na Alemanha onde a chegada do verão era celebrada acendendo fogueiras nas montanhas", explica Reimer.
Tudo isso leva a uma leitura particularmente macabra da lenda do flautista.
Talvez o flautista, símbolo de um xamã pagão, estivesse conduzindo os jovens de Hamelin às festividades de verão quando a facção cristã local, na esperança de consolidar a conversão da região, atacou o grupo e promoveu um verdadeiro massacre.
Uma teoria menos sangrenta é que talvez as crianças tenham sido levadas para mosteiros locais.
No entanto, se o conto sugere uma possível tragédia histórica, ele também oferece uma redenção artística.
"A história do flautista é conhecida em pelo menos 42 países e 30 idiomas, talvez mais", diz Reimer. "E aparece na arte, na literatura e na música. O flautista é uma herança compartilhada por muitas pessoas, e essa herança cultural nos conecta."
Em última análise, o flautista pode ter fragmentado um povoado, mas acabou unindo uma comunidade muito maior.
- Fernando Silva
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Os três porquinhos e o lobo.
Fonte: grupo Histórias Reais (Facebook)A versão popular da história dos três porquinhos é colorida, infantil e até engraçada. Mas se recuarmos no tempo, encontraremos uma narrativa que não era feita para entreter crianças, e sim para alertar adultos sobre os perigos do mundo real.
Você já ouviu essa história: três porquinhos saem de casa para construir suas vidas. Um faz uma casa de palha, o outro de madeira, e o terceiro de tijolos. O lobo aparece, sopra as duas primeiras casas e tenta devorar os porquinhos... mas no fim, a inteligência vence, o mal é punido, e todos vivem felizes.
Mas a versão contada aos seus filhos não passa de um conto higienizado.
Antes dos contos virarem produtos infantis, os Irmãos Grimm coletaram versões ancestrais que circulavam oralmente pela Europa. E o que encontraram foi uma narrativa grotesca, brutal, cheia de metáforas de sobrevivência, morte e vingança.
Mas... e se esses “porquinhos” fossem pessoas? E se, na verdade, fossem pobres camponeses tentando sobreviver à crueldade de um invasor ou até de um sistema opressor?
Na forma original do conto — com variantes em inglês arcaico, alemão e francês — os dois primeiros porquinhos não escapam. O lobo os devora friamente, deixando apenas seus ossos e sangue para trás. O segundo porquinho ainda tenta correr, mas seu grito é interrompido por dentes ferozes. Nada de fuga. Nada de moral leve.
O terceiro porquinho é diferente. Ele é mais velho, vivido, astuto. Constrói uma casa de tijolos não por virtude, mas por medo e desconfiança. Ele sabe o que o mundo lá fora representa. E quando o lobo bate à sua porta, ele não tem compaixão, só estratégia e vingança.
O lobo tenta enganá-lo com falsos convites para colher nabos, maçãs e visitar a feira. Mas o porquinho sempre vai antes e retorna sem ser pego, num jogo psicológico que deixa o predador cada vez mais furioso.
Até que, no clímax, o lobo tenta descer pela chaminé, acreditando ser mais esperto. Mas o porquinho, já o esperava com um caldeirão de água fervendo, ele acende uma fogueira ainda maior. E ao descer pela chaminé, o lobo cai direto na armadilha, e é cozido vivo.
E aqui vem a parte sombria e esquecida: o porquinho não joga o corpo fora. Segundo algumas versões ancestrais, ele esquarteja o lobo, prepara sua carne e a come, em um banquete de vingança. Um ato brutal, animalesco… ou puramente humano?
Esse não era um conto para ensinar boas maneiras. Era uma história criada em tempos de fome, guerra e desespero. Onde irmãos morriam, e onde só o mais forte sobrevivia, onde o lobo
era a morte batendo à porta.
O lobo, na versão popular, é o vilão faminto que sopra as casas dos porquinhos até derrubá-las. Mas em versões mais antigas da fábula, ele é mais que isso: ele representa o medo, o caos, a guerra, a fome — ou até um senhor feudal que o matava e tomava a casa dos camponeses à força.
Na versão dos Irmãos Grimm, ou em registros folclóricos ainda mais antigos, os contos não queriam te consolar. Eles queriam te alertar.
Eu trouxe a imagem do conto:

Mais uma:

A Bela e a Fera - De Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve
Se eu disser que o conto original de A Bela e a Fera não tem como lição de moral que devemos amar a aparência interior de vez a exterior, você acreditaria?
A versão original narra, dentro de uma história fictícia, como as mulheres idosas eram tratadas pela sociedade, que naquele momento era a realidade da autora.
Mas ela também teve uma inspiração real, e para entender isso teremos que voltar para 1537 no Tenerife — Ilhas Canárias, mas vou deixar essa parte para o final do artigo.
O conto de fadas A Bela e a Fera surgiu no século XVIII em uma publicação anônima de Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, mais conhecida como Madame de Villeneuve, que em 1740 publicou em um jornal francês conhecido como La Jeune Ameriquaine et les Contes Marins voltado para contos, a história original de La Belle et la Bête.
A história foi reescrita em 1757 por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, conhecida como Madame Leprince de Beaumont, porém ela ocultou alguns fatos da história principalmente os de teor erótico. Por ter jovens meninas como seu público principal, com isso romantizou o conto de Madame de Villeneuve criando bastante polêmica na época por censurar a obra.
E em 1991, a produtora Walt Disney transformou a história reescrita para a que conhecemos atualmente.
A Bela e a Fera - De Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve
OBS: Aqui não dá pra relatar em detalhes o conto por motivos óbvios.
A história se baseia na vida de uma fada idosa. No mundo das fadas, quanto mais velhas for uma pessoa mais respeitável elas se tornam, porém uma fada na sua idade madura (nem tão idosa, nem tão nova) se apaixona por um rei e através do amor deles nasceu uma pequena menina. Esta é punida do mundo das fadas e deixam-na para ser criada por um comerciante, em um pequeno vilarejo da França, a menina cresce com uma beleza inigualável fazendo que todos a apelidaram de Bela (Belle em francês).
Neste mesmo tempo, uma jovem rainha cria o seu mais lindo príncipe com todo o conforto que o palácio pode oferecer, porém o jovem perdeu o pai, e sua mãe partiu para uma guerra em defesa do reino e o deixou para as fadas cuidarem.
Quando o príncipe está perto de completar seus dezessete anos, a fada que ficou encarregada de cuidar dele se afasta por um tempo, e ao retornar algo incomum acontece, pois todo o sentimento maternal e de proteção que a fada possuía pelo príncipe se transforma em desejo carnal, e ela passa a todo tempo tentar seduzi-lo, mas nada acontece.
Ao retornar a rainha intervém aos planos da fada de conquistar e seduzir o príncipe e não o concede a fada o seu amado filho, por causa da idade dela.
Furiosa, a fada lança uma maldição em cima do rapaz que o tornaria feio e repugnante, e somente quando uma mulher aceitasse ir para a cama com ele, por livre escolha, a maldição seria quebrada.
Com o passar do tempo o príncipe vira uma Fera rude e mal educada, até que um dia o pai de Bela acaba encontrando o seu castelo, após enfrentar uma terrível tempestade. A Fera permite que ele passe a noite em seu castelo, mas ao amanhecer ele precisará ir embora.
Assim que o sol nasceu, o pai de Bela vai até o estábulo pegar o seu cavalo e ao sair do palácio encontra uma linda roseira e apanha uma para levar a sua filha Bela. Assim que ele arranca a rosa do pé, a Fera surge da mata enfurecida pelo tamanho desrespeito e como punição decide que o pai de Bela deve morrer pelo seu ato. A sua decisão só muda quando o comerciante comenta que a flor era para sua filha mais nova.
A Fera então propõe um acordo com o comerciante, que ele teria um mês para voltar e cumprir a sua punição, ou enviar a sua filha no seu lugar para que ela morresse no lugar dele. Ao chegar em casa, o comerciante, conta a família o ocorrido e todos os seus sete filhos e seis filhas ficam horrorizadas com o que acabara de acontecer.
Bela não aceitou que o seu pai morresse por causa de seu pedido e decide fugir para o castelo e tomar o lugar de seu pai. Ao chegar lá, a Fera pergunta se ela veio por livre escolha e confirmando que sim, Bela é aceita pela Fera.
Mas, para Bela ficar no seu lugar ela teria que encontrar a Fera todas as noites, no mesmo horário, precisará ficar esperando a Fera para jantarem juntos.
Com o tempo, Bela vai perdendo o medo da Fera e ele percebendo, pergunta se ela deseja dormir com ele. Assustada, ela responde que não. A Fera sai do cômodo enfurecida, mas na mesma noite Bela passa a ter sonhos pecaminosos com um lindo príncipe, o qual não deseja mais acordar. No próximo dia à noite, a Fera a encontra novamente e faz a mesma pergunta:
- Bela quer "dormir" comigo?
Ela novamente o responde que não.
Depois de alguns dias, Bela vai se apaixonando pela Fera e aceita "dormir" com ele. Após uma noite de amor inesquecível a Fera, após o ato, se transforma em um lindo homem.
A rainha vendo que o seu filho voltou a ser humano passa a não aprovar a relação entre ele e a Bela, por ela ser filha de um comerciante. Com isso, a fada velha revela o parentesco de Bela para a rainha, que é fruto de uma noite de amor da fada com o rei da Índia, e que ela após o seu nascimento foi expulsa do mundo das fadas.
Depois de ter explicado que Bela também vem de uma boa linhagem, a rainha passa a aprovar o casamento dos dois.
O conto também relata que a mesma fada que tentou seduzir o príncipe tentou matar Bela para casar com seu pai. No fim da história a fada ainda sofre algumas perdas, porém isso não foi revelado e fica um ar de mistério, e abre um leque para o que possa ter sido.
O conto termina não com um “felizes para sempre”, mas com a lembrança de que:
O amor verdadeiro nasce do sofrimento.
A Inspiração Real
Agora voltando a parte da inspiração como dito no início a inspiração para o conto teria vindo da história de Petrus Gonsalvus, um homem nascido em 1537 no Tenerife — Ilhas Canárias (um arquipélago espanhol).
Petrus era um garoto diferente dos demais devido a uma condição médica que fazia com que seu corpo e rosto fossem completamente cobertos por pelos espessos, exceto pelas palmas das mãos e solas dos pés, particularidades associadas a de um lobisomem.
Essa característica hoje é conhecida como Hipertricose, mas, no século 16, era algo desconhecido e visto como assustador pela população. O fato despertou a curiosidade da corte francesa em 1547, que passou a acreditar que o garoto, na época com apenas dez anos de idade, era algum tipo de animal exótico de estimação.
Assim, sobre o nome de Dom Petrus Gonsalvus, o jovem viveu boa parte de sua vida na corte como um experimento, onde era monitorado e avaliado, pois o rei acreditava que ela não tinha capacidade de aprendizado. No entanto, o rapaz mostrava-se cada vez mais intelectual e apresentava ter classe como todos ao seu redor.
Com o passar dos anos, Petrus começou a se tornar um homem forte, e despertou o interesse da rainha Catarina de Médici em encontrar uma jovem para se casar com ele, pois ela tinha curiosidade em saber como seriam os seus filhos.
Assim, escolheram a bela Catarina, filha de um serviçal da Corte, com o intuito de avaliar qual seria o comportamento de Petrus diante aquela situação — acreditando que o evento faria com que “o lado animal” do rapaz viesse à tona.
O casamento forçado entre os dois aconteceu em 1573, quando Petrus completou 17 anos de idade, surpreendendo a corte ao não demonstrar nenhum comportamento animalesco, mas sim, se adaptando ao novo status e conhecendo sua nova esposa.
Ao longo do tempo, o casal teve sete filhos, onde quatro deles herdaram a condição de Petrus. A característica fez com que eles fossem exibidos e presenteados como animais de estimação para aristocratas quando a família viajou para a Corte Real.
Por fim, os últimos dias da vida de Petrus foram passados em Capodimonte, no Lago Bolsena, na Itália, lugar para o qual tinha viajado anos antes com sua esposa e que foi o último a morar, visto que faleceu em 1618, por volta dos 80 anos de idade, deixando Catarina viúva.
Em 1991, a Disney lançou sua versão mais famosa. Bela virou uma camponesa sonhadora, a Fera um príncipe genérico com rompantes de raiva que aprendia a amar, e o terror do castelo foi transformado em comédia. A monstruosidade virou fofura. O casamento, inevitável.
Mas versão original, escrita por Villeneuve, é muito mais extensa e carregada de simbolismo e erotismo. Descobrimos que o príncipe foi amaldiçoado por uma fada vingativa e que sua única chance de redenção seria indo para a cama com alguém de livre e espontânea vontade.
Ou seja: não é apenas um romance.
A Bela e a Fera - De Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve
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Achei lá também o texto que vai abaixo.
Não é história infantil, mas mostra o ambiente e as condições na época em que a maioria delas foi escrita.

Não é história infantil, mas mostra o ambiente e as condições na época em que a maioria delas foi escrita.
A Dura Realidade de Quem Vivia na Idade Média
Se você acha que sua vida é difícil, imagina nascer camponês na Europa medieval.
Nada de castelos, bailes ou romances épicos. A vida da maioria era marcada por luta, fome, frio e muito, muito fedor.
Começando pelo básico:
Não havia água encanada.
Não havia eletricidade.
Não havia sabão de verdade.
Comida fresca? Um luxo raro.
E qualquer resfriado podia virar sentença de morte.
A rotina era brutal.
Você acordava com o canto do galo — porque despertador era coisa de feiticeiro — e ia direto pro trabalho, no campo, no estábulo ou em alguma tarefa repetitiva, pesada e mal remunerada.
Comia pão seco, às vezes azedo, com um caldo ralo e duvidoso.
E quando o sol se punha, era hora de dormir. Não por escolha, mas porque vela custava caro, e a escuridão dominava tudo.
Água potável? Raridade.
A maioria bebia cerveja fraca ou vinho diluído, porque a água… bem, ela passava pelo meio da rua, junto com esgoto, fezes humanas, carcaças de animais e ratos.
Muita gente morria por beber água contaminada — ironicamente, tentando matar a sede.
E os ratos? Parte do dia a dia.
Havia, inclusive, uma profissão: caçador de ratos.
Mas mesmo com esses "heróis medievais", os bichos estavam em toda parte — especialmente onde se guardava comida.
Comida que, no inverno, era tudo o que restava: mofada, fedida, estragada. Mas jogar fora? Impossível. A fome não deixava.
Saúde? Melhor nem chamar assim.
Cirurgias eram feitas sem anestesia, com ferramentas sujas e nenhuma higiene.
Com sorte, você sobrevivia. Sem sorte, morria de infecção.
O mesmo homem que cortava seu cabelo podia ser o que arrancava seu dente, te sangrava pra “curar” febre, ou abria sua perna com uma faca de cozinha.
A verdade nua e crua:
A Idade Média era sombria, fedida, injusta e profundamente desigual.
A vida era curta e o sofrimento era comum.
Não havia romance nas vilas pobres — apenas sobrevivência.
Então, se você está lendo isso com o celular carregado, de barriga cheia, respirando ar limpo e sem dor de dente necrosado.
Parabéns.
Você já venceu na vida.
A Vida Na Idade Média
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Curiosidades Da Idade Média
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- Fernando Silva
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Lembrei dos "bed bugs", ou seja, insetos que viviam escondidos na palha das camas e chupavam o sangue de quem dormia.Gabarito escreveu: ↑Seg, 14 Abril 2025 - 10:11 amAchei lá também o texto que vai abaixo.
Não é história infantil, mas mostra o ambiente e as condições na época em que a maioria delas foi escrita.A Dura Realidade de Quem Vivia na Idade Média
Se você acha que sua vida é difícil, imagina nascer camponês na Europa medieval.
Nada de castelos, bailes ou romances épicos. A vida da maioria era marcada por luta, fome, frio e muito, muito fedor.
Não havia geladeira, portanto a comida estragava e os condimentos serviam para disfarçar o gosto de podre.
Para conservar a comida, faziam-se linguiças, carne seca, picles e coisas assim, nem sempre muito saudáveis.
Nota: hoje é chique comer faisão "faisandé", mas isto significa pendurar o faisão pelo pescoço e só cozinhar quando o pescoço arrebentar naturalmente. Devia acontecer muito.
No Japão, botava-se gengibre no peixe cru podre. Hoje é chique.
Famílias dormiam amontoadas para se aquecerem mutuamente. Não havia educação sexual para os jovens: com toda essa promiscuidade, não precisava. Havia apenas manuais de boas maneiras.
O único talher era a faca, que cada um levava na cintura. Punha-se o animal assado no centro e cada um ia cortando os pedaços e comendo. Boas maneiras à mesa era basicamente não cuspir de volta a comida na mesa e outras grosserias do tipo.
O texto fala dos camponeses, mas a principal diferença entre eles e os nobres era a quantidade de comida e a disponibilidade de roupas e combustível para aquecimento no inverno.
O resto era a mesma desgraça.
- Fernando Silva
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Numa das versões originais de "Chapeuzinho Vermelho" (há versões de mais de 3000 anos), ela vai para a cama com o lobo antes de ser devorada. Ou seja, morrem ela e a avó.

No original de "Cinderela", ela foge de casa porque o pai queria abusar dela.
No original de "Bela Adormecida", o príncipe a engravida com ela ainda dormindo. Ela só acorda quando o bebê começa a mamar nela. Mais tarde, ela tem que enfrentar a mãe do príncipe, que é uma ogra e quer matá-la.

No original de "Cinderela", ela foge de casa porque o pai queria abusar dela.
No original de "Bela Adormecida", o príncipe a engravida com ela ainda dormindo. Ela só acorda quando o bebê começa a mamar nela. Mais tarde, ela tem que enfrentar a mãe do príncipe, que é uma ogra e quer matá-la.
[Charles Perrault, Contes du temps passé][...]
Le petit Chaperon rouge se déshabille et va se mettre dans le lit, où elle fut bien étonnée de voir comment sa mère-grand était faite en son déshabillé.
[...]
— Ma mère-grand : que vous avez de grandes dents !
— C’est pour te manger. Et en disant ces mots, ce méchant Loup se jeta sur le petit Chaperon rouge, et le mangea.
Fernando Silva escreveu: ↑Seg, 14 Abril 2025 - 10:36 amLembrei dos "bed bugs", ou seja, insetos que viviam escondidos na palha das camas e chupavam o sangue de quem dormia.
Não havia geladeira, portanto a comida estragava e os condimentos serviam para disfarçar o gosto de podre.
Para conservar a comida, faziam-se linguiças, carne seca, picles e coisas assim, nem sempre muito saudáveis.
Nota: hoje é chique comer faisão "faisandé", mas isto significa pendurar o faisão pelo pescoço e só cozinhar quando o pescoço arrebentar naturalmente. Devia acontecer muito.
No Japão, botava-se gengibre no peixe cru podre. Hoje é chique.
Famílias dormiam amontoadas para se aquecerem mutuamente. Não havia educação sexual para os jovens: com toda essa promiscuidade, não precisava. Havia apenas manuais de boas maneiras.
O único talher era a faca, que cada um levava na cintura. Punha-se o animal assado no centro e cada um ia cortando os pedaços e comendo. Boas maneiras à mesa era basicamente não cuspir de volta a comida na mesa e outras grosserias do tipo.
O texto fala dos camponeses, mas a principal diferença entre eles e os nobres era a quantidade de comida e a disponibilidade de roupas e combustível para aquecimento no inverno.
O resto era a mesma desgraça.
Meio fora do assunto, mas um pouco dentro também.
Sua referência me lembrou outro texto sobre a Idade Média.
Que loucura viver naquele tempo!
Higiene na Idade Média
Ao visitar o Palácio de Versailles, em Paris, observa-se que o suntuoso palácio não tinha banheiros. É que na Idade Média não existiam escovas de dente, perfumes, desodorantes e muito menos papel higiênico. As excrescências humanas eram despejadas pelas janelas do palácio.
Em dia de festa, a cozinha do palácio conseguia preparar banquete para 1.500 pessoas, sem a mínima higiene. Vemos nos filmes de hoje as pessoas sendo abanadas. A explicação não está no calor, mas no mau cheiro que exalavam por debaixo das saias (que eram propositadamente feitas para conter o odor das partes íntimas, já que não havia higiene).
Também não havia o costume de se tomar banho devido ao frio e à quase inexistência de água encanada. O mau cheiro era dissipado pelo abanador. Só os nobres tinham lacaios para abaná-los, para dissipar o mau cheiro que o corpo e boca exalavam, e para espantar os insetos.
Quem já esteve em Versailles, admirou os jardins enormes e belos que, na época, não eram só contemplados, mas "usados" como vaso sanitário nas famosas baladas promovidas pela monarquia, porque não existia banheiro.
Naquela época, a maioria dos casamentos ocorria no mês de Junho (para eles, o início do verão). A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em Maio; assim, Junho, o cheiro das pessoas ainda era tolerável. Entretanto, como alguns odores já começavam a incomodar, as noivas carregavam buquês de flores, junto ao corpo, para disfarçar o mau cheiro. Daí termos "Maio" como o "mês das noivas" e a explicação da origem do buquê de noiva.
Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos. Imagine como estava a água quando chegava a vez deles tomar banho.
Os telhados das casas não tinham forro e as vigas de madeira que as sustentavam eram o melhor lugar para os animais - cães, gatos, ratos e besouros se aquecerem. Quando chovia, as goteiras forçavam os animais a pularem para o chão. Assim, a nossa expressão "está a chover a cântaros” tem o seu equivalente em inglês em "it's raining cats and dogs" (está chovendo gatos e cachorros).
Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho. Certos tipos de alimento oxidavam o material, fazendo com que muita gente morresse envenenada. Lembremos-nos de que os hábitos higiênicos, da época, eram péssimos. Os tomates, sendo ácidos, foram considerados, durante muito tempo, venenosos. Os copos de estanho eram usados para cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo "no chão", pela mistura da bebida alcoólica com óxido de estanho.
Alguém que passasse pela rua poderia pensar que ele estivesse morto, portanto recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era então colocado sobre a mesa da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo e esperando para ver se o morto acordava ou não. Daí surgiu o velório, que é a vigília junto ao caixão.
A Inglaterra é um país pequeno, onde nem sempre havia espaço para se enterrarem todos os mortos. Então os caixões eram abertos, os ossos retirados, postos em ossarias, e o túmulo utilizado por outro cadáver. As vezes, ao abrirem os caixões, percebia-se que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo. Assim, surgiu a idéia de, ao se fechar o caixão, amarrar uma tira no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no caixão e amarrá-la a um sino.
Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo, durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. E ele seria "saved by the bell", ou "salvo pelo gongo", expressão usada por nós até os dias de hoje. VIVENDO E APRENDENDO...
Eu até fico imaginando se a Idade Média talvez tenha sido mais anti-higiênica do que nos tempos do Império Romano, tempo de Jesus, Mesopotâmia, assírios e tudo o mais.
Não sei.
- Fernando Silva
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- Registrado em: Ter, 11 Fevereiro 2020 - 08:20 am
Não tenho certeza se tudo o que está neste texto é verdade. Por exemplo, a origem do velório e o casamento em maio.
Os romanos tinham os banhos públicos, com água quente e fria, e ambientes tipo sauna.
Já o povo do Oriente Médio e Mesopotâmia talvez tivesse que economizar água por viver em lugares áridos.
Na Idade Média, além da falta de água encanada (e de água limpa, pura e simplesmente), havia o frio.
Fernando Silva escreveu: ↑Ter, 15 Abril 2025 - 08:36 am
Não tenho certeza se tudo o que está neste texto é verdade. Por exemplo, a origem do velório e o casamento em maio.
Realmente.
Parece um pouco de exagero, mesmo.