Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

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Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

Huxley
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Quatro falácias da psicologia evolutiva pop
Por Julio Batista - nov 3, 2020

Por David J. Buller
Publicado na Scientific American

Conforme usado nesse artigo, o termo psicologia evolutiva pop, ou PE Pop, refere-se a um ramo da psicologia teórica voltado ao consumo popular que emprega princípios evolutivos para apoiar afirmações sobre a natureza humana.

Falácia 1: a análise dos problemas adaptativos do Pleistoceno fornece pistas para o design adaptativo da mente

Tooby e Cosmides argumentaram que, pelo fato de podermos ter quase certeza de que nossos ancestrais do Pleistoceno tiveram que, entre outras coisas, “selecionar parceiros de alto valor reprodutivo” e “induzir parceiros em potencial a escolhê-los”, também podemos ter quase certeza de que adaptações psicológicas evoluíram para resolver esses problemas. Mas os esforços para identificar os problemas adaptativos que impulsionaram a evolução psicológica humana enfrentam um dilema.

Por um lado, embora seja verdade que nossos ancestrais tiveram que, por exemplo, “induzir parceiros em potencial a escolhê-los”, tal descrição é muito abstrata para fornecer qualquer indicação clara da natureza das adaptações psicológicas humanas. Todas as espécies enfrentam o problema de atrair parceiros. Os pássaros-jardineiros machos constroem caramanchões (ninhos) bastante decorados, as borboletas machos oferecem presas capturadas e os toutinegras machos cantam um amplo repertório de canções. Descobrir quais estratégias os ancestrais humanos tiveram que usar requer uma descrição muito mais precisa do problema adaptativo para os primeiros humanos.

Descrições mais precisas dos problemas adaptativos que nossos ancestrais enfrentaram, entretanto, são desafiadas pela outra ponta do dilema: essas descrições são puramente especulativas, porque temos poucas evidências das condições sob as quais ocorreu a evolução humana inicial. O registro paleontológico fornece algumas pistas sobre alguns aspectos da vida humana inicial, mas é amplamente ausente de evidências a respeito das interações sociais que teriam sido de principal importância na evolução psicológica humana. Nem as populações de caçadores-coletores existentes fornecem muitas pistas sobre a vida social de nossos ancestrais. Na verdade, os estilos de vida desses grupos variam consideravelmente, mesmo entre aqueles que vivem nas regiões da África que foram povoadas pelos primeiros humanos.

Além disso, como argumentou o biólogo Richard Lewontin, de Harvard, os problemas adaptativos enfrentados por uma espécie não são independentes de suas características e estilos de vida. A casca da árvore contribui para os problemas adaptativos enfrentados pelos pica-paus, ao contrário das pedras que ficam abaixo da árvore. Em contraste, para os tordos, que usam pedras para quebrar as cascas dos caracóis, as pedras são parte dos problemas adaptativos que enfrentam, ao contrário das cascas das árvores. Da mesma forma, os processos motivacionais e cognitivos de nossos ancestrais teriam sido seletivamente responsivos a certas características dos ambientes físico e social, e essa responsividade seletiva teria determinado quais fatores ambientais afetaram a evolução humana. Portanto, para identificar os problemas adaptativos que moldaram a mente humana, precisamos saber algo sobre a psicologia humana ancestral. Mas nós não sabemos.

Finalmente, mesmo que pudéssemos identificar precisamente os problemas adaptativos enfrentados por nossos ancestrais ao longo da história evolutiva humana, ainda não poderíamos inferir muito sobre a natureza das adaptações psicológicas humanas. A seleção cria soluções para problemas adaptativos ao reter modificações em características preexistentes. A adaptação subsequente é sempre uma função de como as características preexistentes são modificáveis. Para saber como uma solução para um problema adaptativo evoluiu, então, é necessário saber algo sobre a característica preexistente que foi selecionada e modificada para resolver o problema. Sem o conhecimento dos traços psicológicos de nossos ancestrais – que não temos – não podemos saber como a seleção afetou eles para criar as mentes que agora possuímos.

Falácia 2: nós sabemos, ou podemos descobrir, por que características distintamente humanas evoluíram

Os biólogos costumam reconstruir as pressões de seleção que impulsionaram a evolução de uma espécie, usando o método comparativo para estudar um clado ou grupo de espécies descendentes de um ancestral comum. Como todas as espécies do grupo descendem de uma forma comum, as diferenças entre elas podem ser o resultado de variações nas demandas ambientais que enfrentam. Quando uma característica é compartilhada por duas ou mais espécies em um clado, mas não pelas outras, às vezes, é possível identificar demandas ambientais comuns a essas espécies, mas ausentes entre as espécies sem a tal característica. Correlacionar diferenças de características com variações ambientais específicas, dessa forma, pode indicar as demandas ambientais às quais uma característica está adaptada.

Mas o método comparativo oferece pouca ajuda para a aspiração da PE Pop revelar a história adaptativa dos traços psicológicos – incluindo a linguagem e as formas complexas de cognição – que, supostamente, constituem a natureza humana. Pinker, por exemplo, argumentou eloquentemente que a linguagem é uma adaptação para a comunicação verbal de infinita complexidade combinatória. Ele, provavelmente, está certo de que a linguagem é uma adaptação. Mas descobrir o porquê ela evoluiu – para que essa adaptação ocorreu – requer identificar as funções adaptativas que a linguagem serviu entre os primeiros usuários da linguagem. Para empregar o método comparativo visando responder a essas perguntas, precisamos comparar alguns traços psicológicos humanos com sua forma homóloga em espécies com as quais compartilhamos um ancestral comum. Aqui está o problema. Entre as espécies existentes, nossos parentes mais próximos são os chimpanzés e o bonobos, com quem compartilhamos um ancestral comum que viveu há aproximadamente seis milhões de anos. Mesmo eles, nossos parentes mais próximos, não possuem formas de traços psicológicos complexos, como a linguagem, cuja evolução a PE Pop pretende explicar. Portanto, não podemos identificar as demandas ambientais que compartilhamos com nossos parentes mais próximos para ver quais de nossos traços psicológicos comuns estão adaptados. Em vez disso, precisamos identificar as demandas ambientais que impulsionaram nossa separação evolutiva de nossos parentes vivos mais próximos durante os últimos seis milhões de anos.

O que poderia nos esclarecer sobre esses eventos evolutivos seria informações sobre a ecologia e o estilo de vida de espécies mais intimamente relacionadas com as quais compartilhamos algumas habilidades cognitivas superiores. Então, talvez, pudéssemos identificar demandas ambientais compartilhadas com eles, mas ausentes entre o chimpanzé e o bonobo (e outros primatas). As espécies que se enquadram nesse projeto são os outros hominíneos, os australopitecinos e as outras espécies do gênero Homo. Infelizmente, todos os outros hominíneos estão extintos. E hominíneos mortos não contam (virtualmente) nenhuma história sobre suas histórias evolutivas. Portanto, há uma escassez de evidências necessárias para usar o método comparativo a fim de iluminar a história evolutiva de características distintamente humanas. (É por isso que existem várias teorias sobre a evolução da linguagem, mas nenhuma sugestão sobre como as evidências podem ser usadas para escolher alguma delas.)

Entretanto, o método comparativo, às vezes, fornece informações úteis sobre adaptações distintamente humanas. Mas, como apontou o filósofo Jonathan Michael Kaplan, da Universidade do Estado de Oregon (EUA), quando isso ocorre, não é por características que são universais entre os humanos, mas por características que aparecem apenas em algumas populações humanas. Por exemplo, sabemos que o gene que produz a anemia falciforme (quando uma pessoa tem duas cópias do gene) é uma adaptação para resistência à malária (quando uma pessoa tem apenas uma cópia do gene). Nossas evidências derivaram da comparação de populações humanas que possuem o gene com populações humanas que não o possuem e da identificação das demandas ambientais relacionadas à sua presença.

Como o método comparativo iluminou essas adaptações fisiológicas, é razoável supor que ele poderia iluminar também algumas adaptações psicológicas. Mas isso é uma posição confortável para a PE Pop, que afirma que todas as adaptações psicológicas humanas são, de fato, universais entre as populações humanas. São precisamente esses traços universais e distintamente humanos para os quais o método comparativo oferece pouca utilidade. Portanto, é improvável que os relatos da evolução de nossa alegada natureza humana universal algum dia ultrapassem o nível de especulação.

Falácia 3: “Nossos crânios modernos abrigam uma mente da Idade da Pedra”

A afirmação da PE Pop de que a natureza humana foi projetada durante o Pleistoceno, quando nossos ancestrais viviam como caçadores-coletores, está errada do começo ao fim da época.

Alguns mecanismos psicológicos humanos, sem dúvida, surgiram durante o Pleistoceno. Mas outros são resquícios de um passado evolutivo mais antigo, aspectos de nossa psicologia que são compartilhados com alguns de nossos parentes primatas. O neurocientista evolucionário Jaak Panksepp, da Universidade de Bowling Green State (EUA), identificou sete sistemas emocionais em humanos que se originaram mais profundamente em nosso passado evolutivo do que no Pleistoceno. Os sistemas emocionais que ele chama de Cuidado, Pânico e Diversão datam dos primórdios da história evolutiva dos primatas, enquanto os sistemas de Medo, Fúria, Ambição e Luxúria têm origens ainda mais antigas, pré-mamíferas.

O reconhecimento de nossa história evolutiva mais profunda pode afetar muito a maneira como entendemos a psicologia humana. Considere o acasalamento humano. Buss argumentou que as estratégias de acasalamento humano foram projetadas durante o Pleistoceno para resolver problemas adaptativos que eram únicos na formação da evolução humana. Assim, observando que os humanos buscam acasalamento de curto e longo prazo (às vezes, cedendo a breves infidelidades no contexto de um relacionamento contínuo), ele interpreta esses comportamentos como aspectos de um conjunto integrado de adaptações psicológicas que calculam inconscientemente os benefícios reprodutivos de cada estratégia. Quando os benefícios reprodutivos potenciais de uma oportunidade de acasalamento de curto prazo são maiores do que os custos potenciais, essas adaptações levam à infidelidade.

Se reconhecermos que aspectos de nossa psicologia são remanescentes da história evolutiva pré-humana, teremos um quadro muito diferente. De fato, como nossos parentes mais próximos, o chimpanzé e o bonobo, são espécies altamente promíscuas, nossa linhagem provavelmente embarcou na característica exclusivamente humana de sua jornada evolutiva com um mecanismo de luxúria projetado para promover o acasalamento promíscuo. As características psicológicas que surgiram posteriormente durante a história evolutiva humana foram construídas sobre essa base. E sabemos que alguns sistemas emocionais subsequentemente evoluíram para promover a união de pares que é onipresente entre as culturas humanas, mas ausente em nossos parentes primatas mais próximos. Não temos nenhuma razão, no entanto, para pensar que os mecanismos de luxúria e união de casais evoluíram juntos como partes de uma estratégia de acasalamento integrada. Na verdade, eles, provavelmente, evoluíram como sistemas separados, em diversos pontos da história evolutiva de nossa linhagem, em resposta a diferentes demandas adaptativas, para servir a propósitos distintos.

Se essa interpretação alternativa da psicologia do acasalamento humano estiver correta, não temos “uma mesma visão” relacionada a nossos relacionamentos sexuais. Em vez disso, possuímos impulsos psicológicos concorrentes. Somos impelidos à promiscuidade por mecanismos evolutivamente antigos de luxúria e a formação e laços de casais de longo prazo por sistemas emocionais evoluídos mais recentemente. Em vez de sermos impulsionados por uma psicologia integrada do Pleistoceno que calcula inconscientemente qual impulso seguir quando somos divididos por mecanismos emocionais desenvolvidos independentemente.

A visão de que “nossos crânios modernos abrigam uma mente da Idade da Pedra” também confunde as coisas no estágio contemporâneo de nossa história evolutiva. A ideia de que estamos presos a uma psicologia adaptada ao Pleistoceno subestima muito a taxa na qual a seleção natural e sexual pode conduzir à mudança evolutiva. Estudos recentes demonstraram que a seleção pode alterar radicalmente as características da história da vida de uma população em apenas 18 gerações (para humanos, cerca de 450 anos).

É claro que essa evolução rápida só pode ocorrer com uma mudança significativa nas pressões de seleção que atuam sobre uma população. Mas a mudança ambiental desde o Pleistoceno alterou sem dúvida as pressões de seleção sobre a psicologia humana. As revoluções agrícola e industrial precipitaram mudanças fundamentais nas estruturas sociais das populações humanas, que, por sua vez, alteraram os desafios que os humanos enfrentam ao adquirir recursos, acasalar, formar alianças ou negociar hierarquias de status. Outras atividades humanas – que vão da construção de abrigos à preservação de alimentos, da contracepção à educação organizada -, também alteraram consistentemente as pressões de seleção. De acordo com o que temos de exemplos claros de adaptação fisiológica pós-Pleistoceno às mudanças nas demandas ambientais (como resistência à malária), não temos razão para duvidar de uma evolução psicológica semelhante.

Além disso, as características psicológicas humanas são o produto de um processo de desenvolvimento envolvendo a interação entre os genes e o ambiente. Mesmo que pouca evolução genética tenha ocorrido desde o Pleistoceno, o que é duvidoso, os ambientes humanos mudaram profundamente, como os exemplos acima indicam. Todos os genes que possuímos selecionados pelo Pleistoceno irão interagir com esses novos ambientes para produzir traços psicológicos que podem diferir de maneiras importantes daqueles de nossos ancestrais do Pleistoceno. Portanto, não há nenhuma boa razão para pensar que todas as nossas características psicológicas evoluídas permanecem adaptadas ao estilo de vida dos caçadores-coletores do Pleistoceno.

Falácia 4: os dados psicológicos fornecem evidências claras para a PE pop

A PE Pop argumenta que suas especulações sobre nosso passado no Pleistoceno levaram à descoberta de muitas das adaptações psicológicas que controlam nosso comportamento. Como a abordagem funcionou, ela deve incidir sobre parte da verdade sobre a história evolutiva humana. Claro, a solidez desse argumento depende da força das evidências para as alegadas descobertas da PE Pop. Essas evidências geralmente consistem em dados psicológicos padrão (como respostas a questionários de escolha forçada), mas, às vezes, também incluem um conjunto limitado de dados comportamentais. Como argumento em meu livro Adapting Minds, entretanto, a evidência é tipicamente inconclusiva, na melhor das hipóteses. As hipóteses evolutivas favoritas da PE Pop são, como o filósofo Robert C. Richardson, da Universidade de Cincinnati (EUA) classificou, “especulação disfarçada de resultados”. A aparência de que as evidências são convincentes é criada menos pelos próprios dados e mais pela falha de considerar e testar adequadamente explicações alternativas viáveis. Considere uma único exemplo desse ponto.

Buss argumenta que o ciúme evoluiu como um alarme emocional que sinaliza as potenciais infidelidades de um parceiro e causa um comportamento destinado a minimizar as perdas do investimento reprodutivo. Entre nossos ancestrais, ele continua o argumento, as infidelidades acarretavam custos reprodutivos diferentes para os dois sexos. Para os machos, a infidelidade sexual de uma fêmea significava que ele poderia estar investindo recursos parentais na prole de outro macho. Para as mulheres, era o envolvimento emocional de um homem com outra mulher que poderia levar à perda de seus recursos. E, de fato, Buss afirma ter descoberto a diferença sexual em questão nas “características projetadas” evoluídas da mente ciumenta: a mente masculina é mais sensível aos sinais de infidelidade sexual, enquanto a mente feminina é mais sensível a pistas de infidelidade emocional.

Os principais dados citados em apoio a essa teoria são as respostas a questionários de escolha forçada. Um item do questionário, por exemplo, pergunta aos sujeitos o que eles acham mais perturbadores: “imaginar seu parceiro formando um vínculo emocional profundo” com um rival ou “imaginar seu parceiro tendo uma relação sexual apaixonada” com um concorrente. Os resultados mostram consistentemente que mais homens do que mulheres relatam que a ideia de infidelidade sexual de um parceiro é mais angustiante do que a ideia de infidelidade emocional de um parceiro.

Mas esses dados dificilmente são evidências conclusivas de adaptações psicológicas diferenciadas por sexo. Em vez disso, ambos os sexos poderiam ter a mesma capacidade evoluída de distinguir infidelidades ameaçadoras de não-ameaçadoras e sentir ciúme em um grau proporcional à ameaça percebida em um relacionamento no qual se investiu esforço de acasalamento. Essa capacidade compartilhada poderia gerar os resultados do questionário de Buss por causa de crenças adquiridas sobre uma diferença sexual nos tipos de comportamento que representam uma ameaça a um relacionamento. Na verdade, vários estudos descobriram que é amplamente aceito, por ambos os sexos, que os homens têm mais probabilidade do que as mulheres de fazer sexo na ausência de qualquer envolvimento emocional. Dada essa crença, os homens acharão a infidelidade sexual de uma mulher mais ameaçadora do que as mulheres acharão de um homem.

Essa hipótese alternativa também explica prontamente os dados que não são facilmente acomodados pela teoria de que há uma diferença sexual nas características projetadas evoluídas da mente. Em primeiro lugar, os homens homossexuais têm menos probabilidade do que as mulheres heterossexuais de achar a infidelidade sexual mais perturbadora do que a infidelidade emocional. E os homens homossexuais, como grupo, também têm menos probabilidade do que os homens ou mulheres heterossexuais de acreditar que a infidelidade sexual representa uma ameaça ao relacionamento primário. Se os sexos compartilham a mesma capacidade de ciúme, com o grau de ciúme sexual determinado pelo grau de ameaça percebida a um relacionamento, a tendência dos homens homossexuais de não considerar a infidelidade sexual ameaçadora faria com que eles se afastassem da norma masculina.

Em segundo lugar, o grau em que os homens consideram perturbadora a perspectiva de infidelidade sexual da parceira varia significativamente entre as culturas. Por exemplo, apenas cerca de um quarto dos homens alemães relatam que a infidelidade sexual é mais perturbadora do que a infidelidade emocional. Curiosamente, Buss e seus colegas notaram que a cultura alemã tem “atitudes mais descontraídas sobre a sexualidade, incluindo sexo extraconjugal, do que a cultura estadunidense”. Portanto, os homens alemães devem ter menos probabilidade do que os homens estadunidenses de acreditar que a infidelidade sexual de uma parceira ameaça um relacionamento e, portanto, menos propensos a sofrer com a infidelidade sexual do que os homens americanos. Novamente, essa diferença cultural é precisamente o que deveríamos esperar se o grau de ciúme sexual fosse função do grau em que a infidelidade sexual é percebida como uma ameaça a um relacionamento.

Não está claro o porquê a PE Pop resiste à ideia de que os sexos compartilham o mesmo mecanismo emocional de ciúme e que as diferenças de atitude são uma função das diferenças nas crenças processadas pelo mecanismo. De acordo com a PE Pop, muitas diferenças culturais derivam de uma natureza humana comum, respondendo a condições locais variáveis. No entanto, as diferenças culturais são frequentemente mais profundas do que as diferenças sexuais que a PE Pop transformou em teoria. Se a variação cultural pode resultar de uma natureza comum respondendo a contribuições diferentes, certamente as diferenças sexuais em atitudes e comportamento também podem.

Conclusão

Entre os legados duradouros de Darwin está nosso conhecimento de que a mente humana evoluiu por algum processo adaptativo. Afinal, o cérebro humano é ainda mais caro de operar do que um atual motor de combustão interna, consumindo 18% da ingestão de energia do corpo enquanto constitui apenas 2% de seu peso. Não teríamos tal órgão se ele não tivesse desempenhado algumas funções adaptativas importantes em nosso passado evolutivo.

O desafio para a psicologia evolutiva é passar desse fato geral para algumas especificidades comprovadamente bem fundamentadas sobre os processos adaptativos que moldaram a mente. Ainda assim, como vimos, as evidências necessárias para fundamentar os relatos de adaptação em nossa linhagem durante os últimos dois milhões de anos são escassas. E esse não é o tipo de evidência que, provavelmente, se materializará. Tal evidência está perdida – provavelmente, para sempre. Pode ser um fato duro que haja muitas coisas sobre a evolução da mente humana que nunca saberemos e sobre as quais podemos apenas especular ociosamente.

Claro, algumas especulações são piores do que outras. As da PE Pop são profundamente falhas. É improvável que jamais aprendamos muito sobre nosso passado evolutivo dividindo nossa história do Pleistoceno em problemas adaptativos discretos, supondo que a mente seja dividida em soluções discretas para esses problemas e, então, apoiando essas suposições com dados coletadas por questionários. O campo da psicologia evolutiva terá que se sair melhor. Mesmo seu melhor, entretanto, pode nunca nos fornecer conhecimento do porquê todas as nossas complexas características psicológicas humanas evoluíram.

Referências

Downes, S. M. (2008). Evolutionary Psychology. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2008 edition).
Kaplan, J. M. (2002). Historical evidence and human adaptations. Philosophy of science, 69(S3), S294-S304.
Panksepp, J., & Panksepp, J. B. (2000). The seven sins of evolutionary psychology. Evolution and cognition, 6(2), 108-131.
Richardson, R. C. (2010). Evolutionary psychology as maladapted psychology. MIT press.
Fonte: https://universoracionalista.org/quatro ... utiva-pop/

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

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Tutu
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Registrado em: Qui, 09 Abril 2020 - 17:03 pm

Mensagem por Tutu »

O que a psicologia evolutiva pop diz? Eu esperava afirmações mais diretas e sensacionalistas. Mas essas 4 falácias são coisas muito específicas e não parecem "pop".

Se "pop" é a afirmação de que "somos animais selvagens num mundo moderno", na minha opinião essa afirmação está certa.
Há livros que falam isso:
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/l ... m-fetiche/

E vários outros vídeos.
Spoiler:
Sobre transtorno de ansiedade, humanos tem medo de perigo e medo de rejeição da tribo. Tinha um estado de alerta contra potenciais inimigos e predadores.

youtu.be/XKhdDuQ1EGE
Pouco se sabe de diferenças psicológicas entre raças/etnias/nacionalidade, porque são muito poucas. Análise de DNA mostram que há mais variedade genética dentro da África do que no resto do mundo, e os genes do resto do mundo existem na África.

Os humanos criaram culturas em estágios tecnológicos diferentes em cada parte do mundo. Até o século 19, a África subsaariana, ilhas do Pacífico e áreas internas da América Latina ainda tinham uma vida igual à da idade da pedra. As coisas só mudaram com invasores estrangeiros.
a cultura alemã tem “atitudes mais descontraídas sobre a sexualidade, incluindo sexo extraconjugal, do que a cultura estadunidense”
descontraídas = "desconstruídas" de acordo com o politicamente correto?
Na Europa, a ideologia de gênero está em estágio mais avançado e os relacionamentos são muito fracos.

Usar questionário tem falhas, porque o que a pessoa responde é diferente do que o que ela faz. Como tem ideologia ou cultura, a resposta na teoria é diferente do que a resposta na prática. Além disso, a pessoa tem interpretação diferente sobre "infidelidade emocional" e "infidelidade sexual". Para muitas mulheres, infidelidade sexual pode ser um tipo mais forte de infidelidade emocional. Para homens, é mais bonito responder infidelidade emocional. Muitas pessoas não separam uma coisa da outra.

Mas o mais importante para falar sobre isso, o texto não mencionou. Qual foi a resposta dos homens nas sociedades em que não há o conceito de casamento e fidelidade? Essas sociedades são tribais e representam mais de 80% das culturas humanas, que consequentemente não se importa com infidelidade sexual. Então o homem só valorizaria a fidelidade emocional em casos raros. Quando o homem não cuida da prole, a chance dela não sobreviver é muito maior.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Huxley escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 20:08 pm
Buss argumenta que o ciúme evoluiu como um alarme emocional que sinaliza as potenciais infidelidades de um parceiro e causa um comportamento destinado a minimizar as perdas do investimento reprodutivo. Entre nossos ancestrais, ele continua o argumento, as infidelidades acarretavam custos reprodutivos diferentes para os dois sexos. Para os machos, a infidelidade sexual de uma fêmea significava que ele poderia estar investindo recursos parentais na prole de outro macho. Para as mulheres, era o envolvimento emocional de um homem com outra mulher que poderia levar à perda de seus recursos. E, de fato, Buss afirma ter descoberto a diferença sexual em questão nas “características projetadas” evoluídas da mente ciumenta: a mente masculina é mais sensível aos sinais de infidelidade sexual, enquanto a mente feminina é mais sensível a pistas de infidelidade emocional.
Cães e gatos também são ciumentos e às vezes se comportam de maneira indistinguível dos humanos.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

Huxley
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Registrado em: Sáb, 07 Março 2020 - 20:48 pm

Mensagem por Huxley »

Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
O que a psicologia evolutiva pop diz? Eu esperava afirmações mais diretas e sensacionalistas. Mas essas 4 falácias são coisas muito específicas e não parecem "pop".

Se "pop" é a afirmação de que "somos animais selvagens num mundo moderno", na minha opinião essa afirmação está certa.
Há livros que falam isso:
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/l ... m-fetiche/

E vários outros vídeos.
Spoiler:
Sobre transtorno de ansiedade, humanos tem medo de perigo e medo de rejeição da tribo. Tinha um estado de alerta contra potenciais inimigos e predadores.

youtu.be/XKhdDuQ1EGE
Dizer que muitos dos nossos traços psicológicos atuais tiveram origem no Pleistoceno ou antes não é suficiente para declarar para que a evolução biológica e epigenética ocorrida após a revolução agropecuária (início da civilização) foi trivial. Não mesmo.
Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
Pouco se sabe de diferenças psicológicas entre raças/etnias/nacionalidade, porque são muito poucas.
Não sei de onde tirou isso. Os estilos de vida dos grupos sociais humanos variam consideravelmente ao longo do globo terrestre. Mas, de qualquer forma, isso não afeta a crítica à Psicologia Evolutiva Pop do artigo, pois a mesma não reivindica essa proposição.
Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
Análise de DNA mostram que há mais variedade genética dentro da África do que no resto do mundo, e os genes do resto do mundo existem na África.
Isso não é tema do artigo. A Psicologia Evolutiva Pop está em discussão por causa das suas alegações sobre a evolução adaptativa (ou a falta dela), não sobre a abundância da variação genética neutra na população humana.
Os humanos criaram culturas em estágios tecnológicos diferentes em cada parte do mundo. Até o século 19, a África subsaariana, ilhas do Pacífico e áreas internas da América Latina ainda tinham uma vida igual à da idade da pedra. As coisas só mudaram com invasores estrangeiros.


Sim. E pode ser que as sociedades de caçadores-coletores tiveram uma evolução genética e epigenética distinta dos povos civilizados por não terem se submetido a pressão seletiva da Revolução Agrícola.

Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
a cultura alemã tem “atitudes mais descontraídas sobre a sexualidade, incluindo sexo extraconjugal, do que a cultura estadunidense”
descontraídas = "desconstruídas" de acordo com o politicamente correto?
Na Europa, a ideologia de gênero está em estágio mais avançado e os relacionamentos são muito fracos.

Usar questionário tem falhas, porque o que a pessoa responde é diferente do que o que ela faz. Como tem ideologia ou cultura, a resposta na teoria é diferente do que a resposta na prática.
Usar questionário tem falhas e é justamente por isso deveríamos ser ainda mais céticos sobre as alegações da Psicologia Evolutiva. Porém, o autor do artigo examinou o paradigma partindo de uma análise de consistência interna do mesmo, isto é, levando em conta os pressupostos metodológicos do mesmo.
Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm

Mas o mais importante para falar sobre isso, o texto não mencionou. Qual foi a resposta dos homens nas sociedades em que não há o conceito de casamento e fidelidade? Essas sociedades são tribais e representam mais de 80% das culturas humanas, que consequentemente não se importa com infidelidade sexual. Então o homem só valorizaria a fidelidade emocional em casos raros. Quando o homem não cuida da prole, a chance dela não sobreviver é muito maior.
Gostaria de saber que planeta é esse em que a importância dada a infidelidade sexual é inexistente entre a população geral de caçadores-coletores.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

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Tutu
Mensagens: 2128
Registrado em: Qui, 09 Abril 2020 - 17:03 pm

Mensagem por Tutu »

Huxley escreveu:
Qua, 29 Junho 2022 - 20:22 pm
Dizer que muitos dos nossos traços psicológicos atuais tiveram origem no Pleistoceno ou antes não é suficiente para declarar para que a evolução biológica e epigenética ocorrida após a revolução agropecuária (início da civilização) foi trivial. Não mesmo.
Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
Pouco se sabe de diferenças psicológicas entre raças/etnias/nacionalidade, porque são muito poucas.
Não sei de onde tirou isso. Os estilos de vida dos grupos sociais humanos variam consideravelmente ao longo do globo terrestre. Mas, de qualquer forma, isso não afeta a crítica à Psicologia Evolutiva Pop do artigo, pois a mesma não reivindica essa proposição.
Tutu escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 21:55 pm
Análise de DNA mostram que há mais variedade genética dentro da África do que no resto do mundo, e os genes do resto do mundo existem na África.
Isso não é tema do artigo. A Psicologia Evolutiva Pop está em discussão por causa das suas alegações sobre a evolução adaptativa (ou a falta dela), não sobre a abundância da variação genética neutra na população humana.
Os humanos criaram culturas em estágios tecnológicos diferentes em cada parte do mundo. Até o século 19, a África subsaariana, ilhas do Pacífico e áreas internas da América Latina ainda tinham uma vida igual à da idade da pedra. As coisas só mudaram com invasores estrangeiros.


Sim. E pode ser que as sociedades de caçadores-coletores tiveram uma evolução genética e epigenética distinta dos povos civilizados por não terem se submetido a pressão seletiva da Revolução Agrícola.

Estou me baseando em estudos que falam de diferenças raciais. Raça é como cada grupo se torna diferente em cada região geográfica após séculos. E as civilizações foram muito diferentes. Mas a comparação psicológica de cada grupo regional não demonstrou diferenças psicológicas. Japas brasileiros, por exemplo, são muito brasileiro e tem personalidade muito diferente da japonesa.

Os europeus e asiáticos tiveram milênios de civilização mais evoluída do que a tribal, enquanto a África sub-saariana e as Américas tiveram poucas. A agricultura surgiu de forma independente em cada região quando o homem já estava dispersado.

Tudo isso significa que se teve revolução significativa após a revolução agrícola, então deveria existir diferenças psicológicas natas (não culturais) entre pessoas de diferentes regiões geográficas. Então, quais seriam essas diferenças?
Gostaria de saber que planeta é esse em que a importância dada a infidelidade sexual é inexistente entre a população geral de caçadores-coletores.
Vídeo: Mais de 80% das culturas humanas não são monogâmicas.

youtu.be/IVHW4wx6R9A
FONTES do vídeo (não achei os links para comprovar)
Spoiler:
-Livro citado: O Mito da Monogamia, por David Barash e Judith Lipton
-Bellis, M., K. Hughes, S. Hughes, and J. Ashton. “Measuring paternal discrepancy and its public health consequences.” Journal of Epidemiology and Community Health 59, no. 9 (September 2005): 749-754.
-Anderson, Kermyt G. “How Well Does Paternity Confidence Match Actual Paternity? Evidence from Worldwide Nonpaternity Rates.” Current Anthropology 47, no. 3 (June 1, 2006): 513-520.
Comentários:
ateuinforma (há 7 anos):

A monogamia é uma convenção humana. Assim como cumprir contratos ou não se usar da força para obter as coisas.

Nem tudo que é construção humana é negativa ou castradora. Os grupos familiares, monogâmicos, poligâmicos ou seja lá como surgirem nas diversas sociedades humanas, servem para promover cuidado mútuo.

No caso humano, não só pelo afeto, mas também serve a família para preservar a propriedade (também convencionada, para promover proteção do produto daquilo gerado pela organização dos fatores de produção, para que não se percam em disputas internas) e transmiti-la através das gerações.
E isso também não é necessariamente algo negativo como vi fazerem parecer em alguns comentários.

Tudo bem julgar a monogamia como algo arbitrário e se garantir no direito de formar outro vínculo socioafetivo que, como citado no vídeo, pode funcionar muito bem, obrigado.

Mas a traição, por outro lado, não merece tal apreciação. Ela é tão natural quanto o homicídio ou quanto, sei lá, o abandono de incapaz. A traição (presumindo eu aqui que houve um acordo livre pela exclusividade) é objetivamente geradora de litigio, podendo causar conflitos afetivos e patrimoniais, sendo um problema sério.

Sei que o vídeo não disse isso, mas deixou no ar uma impressão de justificativa, que foi imediatamente abraçada por pessoas que pareciam caçar razões para seus comportamentos desviantes. Uma das piores coisas que se pode fazer ao ser humano é dar para ele uma noção distorcida de inevitabilidade natural em relação ao comportamento despreocupado com o semelhante.

Não querem ser monogâmicos, não se relacionem, ou se relacionem de maneira deliberadamente aberta. Nada contra. Só que trair é falta de autocontrole e de respeito, para dizer o mínimo.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

Huxley
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Mensagem por Huxley »

Tutu escreveu:
Qua, 29 Junho 2022 - 22:04 pm

Estou me baseando em estudos que falam de diferenças raciais. Raça é como cada grupo se torna diferente em cada região geográfica após séculos. E as civilizações foram muito diferentes. Mas a comparação psicológica de cada grupo regional não demonstrou diferenças psicológicas. Japas brasileiros, por exemplo, são muito brasileiro e tem personalidade muito diferente da japonesa.

Os europeus e asiáticos tiveram milênios de civilização mais evoluída do que a tribal, enquanto a África sub-saariana e as Américas tiveram poucas. A agricultura surgiu de forma independente em cada região quando o homem já estava dispersado.

Tudo isso significa que se teve revolução significativa após a revolução agrícola, então deveria existir diferenças psicológicas natas (não culturais) entre pessoas de diferentes regiões geográficas. Então, quais seriam essas diferenças?
Mas as diferenças que você acredita que são de origem puramente ambientais talvez não sejam causadas por fatores puramente ambientais, mas também por fatores parcialmente genéticos. Por exemplo, brasileiros e japoneses são muito semelhantes entre si na questão da existência da instituição do casamento monogâmico, mas são diferentes a diversas sociedades de caçadores-coletores que adotam a poligamia e onde a instituição do casamento monogâmico não existe. Não há necessidade de as diversas diferenças entre as sociedades civilizadas e as sociedades de caçadores-coletores serem explicadas exclusivamente pelos fatores ambientais-culturais.
Tutu escreveu:
Qua, 29 Junho 2022 - 22:04 pm

Vídeo: Mais de 80% das culturas humanas não são monogâmicas.
Interessante. Eu não sabia que a não monogamia era tão comum em tal tipo de sociedade. Porém, a evolução divergente desses povos caçadores-coletores não contraria as opiniões do artigo. O David Buller foi cristalinamente claro quando afirmou que a evolução humana divergente é possível.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

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f0rest2.0
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Mensagem por f0rest2.0 »

Huxley escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 20:08 pm
Falácia 1: a análise dos problemas adaptativos do Pleistoceno fornece pistas para o design adaptativo da mente
Spoiler:
Descrições mais precisas dos problemas adaptativos que nossos ancestrais enfrentaram, entretanto, são desafiadas pela outra ponta do dilema: essas descrições são puramente especulativas, porque temos poucas evidências das condições sob as quais ocorreu a evolução humana inicial. O registro paleontológico fornece algumas pistas sobre alguns aspectos da vida humana inicial, mas é amplamente ausente de evidências a respeito das interações sociais que teriam sido de principal importância na evolução psicológica humana.
..
Além disso, como argumentou o biólogo Richard Lewontin, de Harvard, os problemas adaptativos enfrentados por uma espécie não são independentes de suas características e estilos de vida. A casca da árvore contribui para os problemas adaptativos enfrentados pelos pica-paus, ao contrário das pedras que ficam abaixo da árvore. Em contraste, para os tordos, que usam pedras para quebrar as cascas dos caracóis, as pedras são parte dos problemas adaptativos que enfrentam, ao contrário das cascas das árvores. Da mesma forma, os processos motivacionais e cognitivos de nossos ancestrais teriam sido seletivamente responsivos a certas características dos ambientes físico e social, e essa responsividade seletiva teria determinado quais fatores ambientais afetaram a evolução humana. Portanto, para identificar os problemas adaptativos que moldaram a mente humana, precisamos saber algo sobre a psicologia humana ancestral. Mas nós não sabemos.
Essa área é teórica e é especulativa, é sua característica fornecer pistas e criar um sistema teórico razoável. O que molda tudo na natureza é a interação do ser com o ambiente, a cognição é resultado dessa troca. Faz parte dos estudos dos sistemas abertos. O acontece as vezes é uma elevação platônica da mente, o que atrapalha o caráter modesto da teoria da evolução. Ou simplificando, o surgimento de uma mente, uma cognição avançada, tem uma causa que está na natureza mesma.
Huxley escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 20:08 pm
Falácia 2: nós sabemos, ou podemos descobrir, por que características distintamente humanas evoluíram
Spoiler:
Os biólogos costumam reconstruir as pressões de seleção que impulsionaram a evolução de uma espécie, usando o método comparativo para estudar um clado ou grupo de espécies descendentes de um ancestral comum. Como todas as espécies do grupo descendem de uma forma comum, as diferenças entre elas podem ser o resultado de variações nas demandas ambientais que enfrentam. Quando uma característica é compartilhada por duas ou mais espécies em um clado, mas não pelas outras, às vezes, é possível identificar demandas ambientais comuns a essas espécies, mas ausentes entre as espécies sem a tal característica. Correlacionar diferenças de características com variações ambientais específicas, dessa forma, pode indicar as demandas ambientais às quais uma característica está adaptada.
..
Mas o método comparativo oferece pouca ajuda para a aspiração da PE Pop revelar a história adaptativa dos traços psicológicos – incluindo a linguagem e as formas complexas de cognição – que, supostamente, constituem a natureza humana. Pinker, por exemplo, argumentou eloquentemente que a linguagem é uma adaptação para a comunicação verbal de infinita complexidade combinatória. Ele, provavelmente, está certo de que a linguagem é uma adaptação. Mas descobrir o porquê ela evoluiu – para que essa adaptação ocorreu – requer identificar as funções adaptativas que a linguagem serviu entre os primeiros usuários da linguagem. Para empregar o método comparativo visando responder a essas perguntas, precisamos comparar alguns traços psicológicos humanos com sua forma homóloga em espécies com as quais compartilhamos um ancestral comum. Aqui está o problema. Entre as espécies existentes, nossos parentes mais próximos são os chimpanzés e o bonobos, com quem compartilhamos um ancestral comum que viveu há aproximadamente seis milhões de anos. Mesmo eles, nossos parentes mais próximos, não possuem formas de traços psicológicos complexos, como a linguagem, cuja evolução a PE Pop pretende explicar. Portanto, não podemos identificar as demandas ambientais que compartilhamos com nossos parentes mais próximos para ver quais de nossos traços psicológicos comuns estão adaptados. Em vez disso, precisamos identificar as demandas ambientais que impulsionaram nossa separação evolutiva de nossos parentes vivos mais próximos durante os últimos seis milhões de anos.
..
O que poderia nos esclarecer sobre esses eventos evolutivos seria informações sobre a ecologia e o estilo de vida de espécies mais intimamente relacionadas com as quais compartilhamos algumas habilidades cognitivas superiores.
São espécies diferentes, ambientes diferentes e escala de tempo diferente. As habilidades se desenvolvem através de causas particulares ou gerais.
Huxley escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 20:08 pm
Falácia 3: “Nossos crânios modernos abrigam uma mente da Idade da Pedra”
Spoiler:
A afirmação da PE Pop de que a natureza humana foi projetada durante o Pleistoceno, quando nossos ancestrais viviam como caçadores-coletores, está errada do começo ao fim da época.

Alguns mecanismos psicológicos humanos, sem dúvida, surgiram durante o Pleistoceno. Mas outros são resquícios de um passado evolutivo mais antigo, aspectos de nossa psicologia que são compartilhados com alguns de nossos parentes primatas. O neurocientista evolucionário Jaak Panksepp, da Universidade de Bowling Green State (EUA), identificou sete sistemas emocionais em humanos que se originaram mais profundamente em nosso passado evolutivo do que no Pleistoceno. Os sistemas emocionais que ele chama de Cuidado, Pânico e Diversão datam dos primórdios da história evolutiva dos primatas, enquanto os sistemas de Medo, Fúria, Ambição e Luxúria têm origens ainda mais antigas, pré-mamíferas.
..
O reconhecimento de nossa história evolutiva mais profunda pode afetar muito a maneira como entendemos a psicologia humana. Considere o acasalamento humano. Buss argumentou que as estratégias de acasalamento humano foram projetadas durante o Pleistoceno para resolver problemas adaptativos que eram únicos na formação da evolução humana. Assim, observando que os humanos buscam acasalamento de curto e longo prazo (às vezes, cedendo a breves infidelidades no contexto de um relacionamento contínuo), ele interpreta esses comportamentos como aspectos de um conjunto integrado de adaptações psicológicas que calculam inconscientemente os benefícios reprodutivos de cada estratégia. Quando os benefícios reprodutivos potenciais de uma oportunidade de acasalamento de curto prazo são maiores do que os custos potenciais, essas adaptações levam à infidelidade.
..
Se reconhecermos que aspectos de nossa psicologia são remanescentes da história evolutiva pré-humana, teremos um quadro muito diferente. De fato, como nossos parentes mais próximos, o chimpanzé e o bonobo, são espécies altamente promíscuas, nossa linhagem provavelmente embarcou na característica exclusivamente humana de sua jornada evolutiva com um mecanismo de luxúria projetado para promover o acasalamento promíscuo. As características psicológicas que surgiram posteriormente durante a história evolutiva humana foram construídas sobre essa base. E sabemos que alguns sistemas emocionais subsequentemente evoluíram para promover a união de pares que é onipresente entre as culturas humanas, mas ausente em nossos parentes primatas mais próximos. Não temos nenhuma razão, no entanto, para pensar que os mecanismos de luxúria e união de casais evoluíram juntos como partes de uma estratégia de acasalamento integrada. Na verdade, eles, provavelmente, evoluíram como sistemas separados, em diversos pontos da história evolutiva de nossa linhagem, em resposta a diferentes demandas adaptativas, para servir a propósitos distintos.
Se passou um tempo considerável de civilização, é razoável pensar que alguma coisa mínima pode ter mudado a nível genético. Mas o que faz a diferença é a manutenção da cultura, que mantém as habilidades.
Huxley escreveu:
Ter, 28 Junho 2022 - 20:08 pm
Falácia 4: os dados psicológicos fornecem evidências claras para a PE pop
Spoiler:
A PE Pop argumenta que suas especulações sobre nosso passado no Pleistoceno levaram à descoberta de muitas das adaptações psicológicas que controlam nosso comportamento. Como a abordagem funcionou, ela deve incidir sobre parte da verdade sobre a história evolutiva humana. Claro, a solidez desse argumento depende da força das evidências para as alegadas descobertas da PE Pop. Essas evidências geralmente consistem em dados psicológicos padrão (como respostas a questionários de escolha forçada), mas, às vezes, também incluem um conjunto limitado de dados comportamentais. Como argumento em meu livro Adapting Minds, entretanto, a evidência é tipicamente inconclusiva, na melhor das hipóteses. As hipóteses evolutivas favoritas da PE Pop são, como o filósofo Robert C. Richardson, da Universidade de Cincinnati (EUA) classificou, “especulação disfarçada de resultados”. A aparência de que as evidências são convincentes é criada menos pelos próprios dados e mais pela falha de considerar e testar adequadamente explicações alternativas viáveis. Considere uma único exemplo desse ponto.
..
Buss argumenta que o ciúme evoluiu como um alarme emocional que sinaliza as potenciais infidelidades de um parceiro e causa um comportamento destinado a minimizar as perdas do investimento reprodutivo. Entre nossos ancestrais, ele continua o argumento, as infidelidades acarretavam custos reprodutivos diferentes para os dois sexos. Para os machos, a infidelidade sexual de uma fêmea significava que ele poderia estar investindo recursos parentais na prole de outro macho. Para as mulheres, era o envolvimento emocional de um homem com outra mulher que poderia levar à perda de seus recursos. E, de fato, Buss afirma ter descoberto a diferença sexual em questão nas “características projetadas” evoluídas da mente ciumenta: a mente masculina é mais sensível aos sinais de infidelidade sexual, enquanto a mente feminina é mais sensível a pistas de infidelidade emocional.
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Os principais dados citados em apoio a essa teoria são as respostas a questionários de escolha forçada. Um item do questionário, por exemplo, pergunta aos sujeitos o que eles acham mais perturbadores: “imaginar seu parceiro formando um vínculo emocional profundo” com um rival ou “imaginar seu parceiro tendo uma relação sexual apaixonada” com um concorrente. Os resultados mostram consistentemente que mais homens do que mulheres relatam que a ideia de infidelidade sexual de um parceiro é mais angustiante do que a ideia de infidelidade emocional de um parceiro.
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Mas esses dados dificilmente são evidências conclusivas de adaptações psicológicas diferenciadas por sexo. Em vez disso, ambos os sexos poderiam ter a mesma capacidade evoluída de distinguir infidelidades ameaçadoras de não-ameaçadoras e sentir ciúme em um grau proporcional à ameaça percebida em um relacionamento no qual se investiu esforço de acasalamento. Essa capacidade compartilhada poderia gerar os resultados do questionário de Buss por causa de crenças adquiridas sobre uma diferença sexual nos tipos de comportamento que representam uma ameaça a um relacionamento. Na verdade, vários estudos descobriram que é amplamente aceito, por ambos os sexos, que os homens têm mais probabilidade do que as mulheres de fazer sexo na ausência de qualquer envolvimento emocional. Dada essa crença, os homens acharão a infidelidade sexual de uma mulher mais ameaçadora do que as mulheres acharão de um homem.
..
Essa hipótese alternativa também explica prontamente os dados que não são facilmente acomodados pela teoria de que há uma diferença sexual nas características projetadas evoluídas da mente. Em primeiro lugar, os homens homossexuais têm menos probabilidade do que as mulheres heterossexuais de achar a infidelidade sexual mais perturbadora do que a infidelidade emocional. E os homens homossexuais, como grupo, também têm menos probabilidade do que os homens ou mulheres heterossexuais de acreditar que a infidelidade sexual representa uma ameaça ao relacionamento primário. Se os sexos compartilham a mesma capacidade de ciúme, com o grau de ciúme sexual determinado pelo grau de ameaça percebida a um relacionamento, a tendência dos homens homossexuais de não considerar a infidelidade sexual ameaçadora faria com que eles se afastassem da norma masculina.
O ciúme é concreto e é explicado no próprio texto, mas essas categorizações sobre qual grupo tem mais ciúme me parece abstrato demais.

Re: Quatro falácias da psicologia evolutiva pop

Huxley
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Mensagem por Huxley »

SELEÇÃO DE PARENTES OU DE GRUPOS?

Por mais de um século, um debate se alastrou no coração da ciência evolutiva. A seleção natural é limitada à ação egoísta dos genes, ou o altruísmo dentro de grupos de genes ou organismos pode melhorar a aptidão? A distinção pode parecer pequena, mas levanta questões importantes.

O altruísmo existe?

O debate existe em dois níveis: ideias sobre como os genes contribuem para o sucesso dos organismos e a matemática que descreve esse processo. As ideias são incorporadas em cenários que podemos pensar; a matemática é usada para provar que entendemos algo completamente em geral. No entanto, os cenários têm suposições que podem ser colocadas na matemática e as provas dependem dessas suposições. Mostramos que, por trás do debate, há uma confiança exagerada nas estatísticas que ignoram variáveis relevantes – variáveis que precisam ser incluídas para entender o que está acontecendo. Mesmo quando as equações são resolvidas corretamente, se as variáveis certas não forem incluídas, as conclusões não são necessariamente corretas. Traduzir isso de volta para as ideias é um passo fundamental que pode nos ajudar a entender o que pode acontecer com o altruísmo. Nestas páginas explicaremos as ideias e por que elas não estão incluídas na forma como a evolução é ensinada tanto em livros populares quanto em livros didáticos.

Yaneer Bar-Yam, Brief discussion of the mathematics of kin and group selection, New England Complex Systems Institute (22 de janeiro de 2019).

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ESTATÍSTICA E EVOLUÇÃO

Na década de 1920, a estatística foi desenvolvida como uma nova abordagem poderosa para entender a herança genética, descrevendo como os genomas dos pais se combinam para se tornarem os da prole. Cada descendente é tratado como uma instância de todas as combinações possíveis de pais. Esses métodos continuam a desempenhar um papel central na análise da hereditariedade e da biologia populacional.

No entanto, os métodos estatísticos dependem de aproximações, cujo significado ainda não é amplamente compreendido.

Y. Bar-Yam, From big data to important information, Complexity doi: 10.1002/cplx.21785 (25 de abril de 2016).

VISÃO CENTRADA NO GENE

A visão da evolução centrada no gene, popularizada em 1976 por Richard Dawkins em The Selfish Gene, é uma abordagem estatística. Ele argumentou que a seleção natural exerce sua força em genes individuais. No que diz respeito aos genes individuais, o restante do genoma, organismo e espécie são meramente veículos para sua própria reprodução.

Dawkins usa o que chama de “analogia dos remadores”. Seguindo esse exemplo, podemos ver as suposições da abordagem estatística — e como elas se decompõem.

A analogia envolve um grupo de remadores em corridas. Os remadores representam o pool genético e os barcos representam os organismos. Pares de remadores realizam baterias e os vencedores retornam ao pool de remadores (duplicando-se para manter o mesmo tamanho da população).

Para representar alelos (versões diferentes do mesmo gene), cada remador fala inglês ou alemão. Pares de remadores do mesmo idioma são mais capazes de se coordenar e ganhar mais aumentos. Se o pool inicial começar com mais falantes de um idioma (digamos, inglês), esse idioma irá proliferar, acabando por eliminar completamente o outro grupo de idiomas.

De acordo com essa analogia, a única coisa que importa é a distribuição estatística dos remadores (genes) no pool (população).

Essa suposição é um exemplo da aproximação do campo médio.

Yaneer Bar-Yam, Non-technical explanation of the breakdown of Neo-Darwinian — Gene Centered view, New England Complex Systems Institute (29 de fevereiro de 2016).

COLAPSO DO CAMPO MÉDIO

A analogia de Dawkins parece razoável, mas uma suposição oculta tem consequências surpreendentemente abrangentes.

A aproximação do campo médio coloca os remadores vencedores de volta na piscina e os emparelha novamente aleatoriamente. Isso é como assumir acasalamento aleatório e populações bem misturadas em organismos reais. Mas e se, em vez de retornar aleatoriamente ao pool, os vencedores fossem para o final de uma linha, com novos pares sendo selecionados na frente?

O resultado é notavelmente diferente.

Os pares da mesma língua ainda têm uma vantagem, mas em vez de o grupo mais populoso acabar com o outro, ambos formam grupos de seu próprio tipo. Dentro de seus próprios bandos, o grupo minoritário não é afetado pelo grupo maior. Os limites entre esses bandos se moverão e mudarão com o tempo, o que é um comportamento importante não capturado pela aproximação do campo médio. Mesmo que um grupo vença, levará muito mais tempo.

Este resultado reflete o mundo real, onde falantes de inglês e alemão ainda existem em seus próprios países.

H. Sayama, Y. Bar-Yam, The gene centered view of evolution and symmetry breaking and pattern formation in spatially distributed evolutionary processes, in Nonlinear Dynamics in the Life and Social Sciences, W. Sulis and I. Trofimova, Eds. (NATO Science Series A/320, IOS Press, 2001) 360-368.

ALTRUÍSMO E EGOÍSMO

O que ambas as visões têm a dizer sobre a evolução do altruísmo? O altruísmo pode ser definido como sacrificar seu próprio sucesso reprodutivo para beneficiar a reprodução de outro organismo.

Seleção de parentesco

De acordo com a visão centrada no gene, os genes estão apenas procurando por cópias de si mesmos. Um gene pode permitir que um organismo se comporte de forma altruísta se beneficiar o sucesso reprodutivo de um parente imediato. Afinal, os sobrinhos e sobrinhas de um organismo têm uma boa chance de carregar cópias do gene egoísta.

Nessa visão, a seleção natural só pode atuar acima da escala de genes individuais se cópias dos mesmos genes forem encontradas em um grupo de organismos intimamente relacionados, mas não em uma escala superior. Daí o nome Seleção de Parentesco.

O altruísmo direcionado a indivíduos sem uma relação consanguínea imediata é então considerado insustentável. Se um alelo altruísta e um alelo egoísta forem encontrados em uma população, o alelo egoísta acabará vencendo. O gene egoísta obterá o benefício dos sacrifícios reprodutivos dos indivíduos altruístas, sem oferecer nada em troca.

Seleção de grupo

A seleção de grupo é a ideia de que a seleção natural pode atuar em escalas maiores que um gene, ou seja, no nível do organismo ou grupo social. Vejamos um caso de um alelo egoísta e um alelo altruísta em uma população que quebra as suposições da aproximação do campo médio.

Se organismos altruístas formam comunidades isoladas, suas tendências de autossacrifício podem beneficiar os membros de sua comunidade sem ter que se preocupar com organismos aproveitadores de egoísmo. Eles podem trabalhar juntos para aumentar o sucesso reprodutivo um do outro. A chave de como isso se aplica no mundo é entender a dinâmica das fronteiras entre os grupos. Essas dinâmicas de limite não foram tratadas em modelos de seleção de parentesco. Para um modelo espacial, onde o acasalamento é local, a associação vizinha de indivíduos altruístas é suficiente para que o comportamento altruísta evolua naturalmente.

A formação de grupos para seleção requer apenas que os indivíduos tenham preferência por acasalar com organismos na mesma localização geográfica onde nasceram. Assim como acontece com os falantes de alemão e inglês, isso fica evidente em exemplos do mundo real.

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Na Seleção de Parentesco, organismos altruístas ajudam indivíduos geneticamente relacionados a se reproduzir. Na Seleção de Grupo, os organismos altruístas ajudam os membros de um grupo com o qual se associam. Acontece que a Seleção de Parentesco exige que organismos relacionados se associem uns aos outros; é isso que significa ajudar indivíduos geneticamente relacionados. Ao mesmo tempo, a Seleção de Grupo também exige que aqueles que se associam entre si sejam geneticamente relacionados. Genética e associação compartilhadas significam que a seleção de parentesco e grupo são dois lados da mesma moeda. Quando médias estatísticas são usadas, pode-se provar que são matematicamente equivalentes.

Ambos os lados estão identificando as variáveis ​​relevantes de forma diferente. Como podemos identificar o que é realmente importante?

M.J. Wade, D.S. Wilson, C. Goodnight, D. Taylor, Y. Bar-Yam, M.A.M. de Aguiar, B. Stacey, J. Werfel, G.A. Hoelzer, E.D. Brodie III, P. Fields, F. Breden, T.A. Linksvayer, J.A. Fletcher, P.J. Richerson, J.D. Bever, J.D. Van Dyken, P. Zee, Multilevel and kin selection in a connected world, Nature 463: E8-E9 (2010).

EVOLUÇÃO E CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE

Uma das coisas mais difíceis de explicar é por que sistemas complexos (como populações evolutivas) são realmente diferentes de sistemas simples. Os problemas são um conjunto interligado de suposições: todo sistema tem um conjunto de propriedades que podem ser compreendidas com experimentos e modelagem. Todos os dados coletados e o modelo finalizado lhe dirão tudo o que você precisa saber.

A falha nessas suposições é que podemos estar começando com o conjunto errado de propriedades. As propriedades principais podem estar ausentes ou sua importância pode mudar com o tempo. Por que não continuamos estudando as propriedades até que o sistema seja compreendido? A quantidade de dados será esmagadora e o processo nunca terminará. A chave é identificar quais propriedades são importantes, o que em si é uma propriedade dinâmica do sistema.

A ciência da complexidade nos permite entender processos complexos e dinâmicos, como a evolução, identificando as variáveis certas. Um componente chave da complexidade é a escala. Como vimos acima, focar na menor escala de genes individuais falha em capturar características importantes da biologia populacional. Essas considerações multiescalares são o motivo pelo qual a ciência da complexidade apóia a teoria da Seleção de Grupo. A seleção de parentesco não é suficiente.

Uma compreensão de sistemas complexos pode fornecer informações sobre outros aspectos da ciência evolutiva, além do altruísmo, que também estão ausentes na aproximação do campo médio.

Yaneer Bar-Yam, Why complexity is different, New England Complex Systems Institute (16 de março de 2017).

(…)
Fonte: https://necsi.edu/group-selection (traduzido)
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