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http://www.dicta.com.br/mente-redutivel-ao-cerebro/Mente redutível ao Cérebro?
Joel Pinheiro / 21 de dezembro de 2012
Se você coloca um pedaço de chocolate em sua boca, você sente um gosto. Ao mesmo tempo, uma reação ocorre no seu cérebro; uma reação que se iniciou nas papilas gustativas da sua língua e mandou sinais elétricos crânio adentro.
Se um neurocientista, com conhecimento perfeito do cérebro, observar seu cérebro enquanto você prova este chocolate, ele saberá dizer, apenas observando suas sinapses, que você está agora experimentando o gosto do chocolate. E mais: se ele, em seu laboratório, abrir sua cabeça e reproduzir essa mesma exata reação que seu cérebro teve quando você provou o chocolate, ele produzirá, em você, a mesma exata sensação.
No entanto, nessa história toda, há algo a que esse neurocientista, ainda que dotado de pleno conhecimento sobre o cérebro, não tem acesso: a sua experiência enquanto tal. Ele sabe que você está sentindo o gosto de chocolate; ele sabe como produzir em você a sensação do gosto de chocolate; mas ele não experimenta esse gosto. Há algo nesse processo que é restrito apenas a você e à sua subjetividade.
É esse dado básico e irrefutável – explorado por exemplo por Thomas Nagel no clássico ensaio “What is it like to be a bat” -, essa distinção incontornável entre processo físico cerebral (observável) e experiência subjetiva (não-observável), que embasa a tese de que, embora intimamente ligados, não dá para falar em uma identidade forte, plena, entre mente e cérebro. O gosto que você sente ao comer o chocolate não é as sinapses neurológicas que acompanham, ou até mesmo produzem, esse gosto em sua consciência (no sentido de tudo aquilo de que estamos conscientes, e não no de “consciência moral”); gosto que não está no cérebro (assim como a cor vermelha que está em sua consciência quando você olha uma maçã não está, de maneira alguma, no seu cérebro). Se fossem, então conhecendo um, conheceríamos o outro. Não é o caso.
É possível traçar uma forte correlação, talvez perfeita, entre o processo físico e a sensação subjetiva, mas não é possível identificá-los; afinal, há coisas que se predicam de um que não se predicam do outro. E se aceitarmos que um causa o outro, ainda ficamos com o problema: como poderia tal causalidade se dar?