Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Cinzu
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Mensagem por Cinzu »

No antigo Clube Cético havia um tópico destinado a postar progressos científicos ou estudos interessantes envolvendo ciência. Então decidi recriá-lo aqui.

Re: Notícias científicas que não merecem um tópico próprio

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Cinzu
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Mensagem por Cinzu »

Para começar, pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) estão desenvolvendo uma vacina usando nanotecnologia: https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias ... -covid-19/

Abaixo segue um resumo de como funciona a vacina e uma entrevista com o coordenador do projeto.
NANOTECNOLOGIA NA PRODUÇÃO DE VACINA CONTRA SARS-COV-2: VALORIZANDO A CIÊNCIA NACIONAL

O departamento de Bioquímica da UFPR está desenvolvendo uma vacina para o SARS-CoV-2 (o novo coronavírus), utilizando nanotecnologia. O projeto prevê modificar geneticamente bactérias Escherichia coli para a produção de 3 substâncias que, quando unidas, resultarão em uma partícula semelhante ao vírus da Covid-19: o polímero PHB (polihidroxibutirato, popularmente conhecido como poliéster), o fragmento RBD (domínio de ligação ao receptor, do inglês “receptor-binding domain”, uma região da proteína SPIKE do coronavírus) e a proteína E (uma proteína do envelope viral).

O PROJETO
A utilização de bactérias E. coli para produção de proteínas em laboratório é um método bastante conhecido. As bactérias são seres procariontes (não possuem núcleo compartimentalizado nem organelas intracelulares) e possuem dois grupamentos genéticos: o “DNA principal” e o “DNA acessório”. Este último é conhecido como plasmídeo, um grupamento com menor número de genes, e está relacionado com a “reprodução sexuada” bacteriana, com os mecanismos de resistência aos antibióticos e é por meio dele que se realizam as alterações genéticas nas bactérias. Essa manipulação genética é chamada de “transformação bacteriana” (transformamos as bactérias naquilo que queremos). Uma vez que os genes de interesse estão dentro da bactéria, elas são estimuladas a “expressar os genes” (ler o gene e produzir a proteína). Ao final, o produto de interesse é purificado para que possa ser utilizado.
Nesta pesquisa, serão 3 grupos de bactérias modificadas: uma com o gene para o PHB, uma com o gene para a região RBD da proteína SPIKE e uma com o gene para a Proteína E.

As proteínas RBD e E são chamadas de antígenos, que são substâncias estranhas ao corpo e, quando reconhecidas, desencadeiam ativação do sistema imunológico. Para que esses antígenos fiquem mais facilmente expostos na nanopartícula a ser produzida, os pesquisadores adicionaram um gene para a síntese de um “conector”. Este conector vai ter a função de ligar esses antígenos às partículas de PHB.

A ESCOLHA DOS ANTÍGENOS
O SARS-CoV-2 é o novo integrante de uma “família” de vírus. Isso significa que existem certas características em comum entre eles. No entanto, esse novo integrante apresenta algumas particularidades estruturais, como maior variedade de proteínas estruturais e algumas modificações estruturais nas proteínas em comum com os outros vírus.
Como escolher, então, o melhor antígeno para fazer uma vacina? Esse é um ponto importante, porque nem tudo que o vírus apresenta é capaz de ser reconhecido ou tem poder de gerar resposta imunológica. Sendo assim, devido às semelhanças com os outros vírus e devido aos dados presentes na literatura, as duas proteínas citadas foram escolhidas (RBD e Proteína E).

A região RBD faz parte de uma das proteínas mais importantes do SARS-CoV-2, a proteína SPIKE. Tanto que esta é a estrutura que dá nome a esta família de vírus (“coronavírus” = “vírus com coroa”, em que a coroa é a organização da proteína SPIKE da superfície viral). Com a SARS de 2003, foi visto que pacientes geraram anticorpos capazes de reconhecer esta estrutura. Além disso, esses mesmos anticorpos foram capazes de neutralizar a ação do SARS-CoV-2 em um experimento com células. Logo, existe fortes indícios de que essa é uma região de “vulnerabilidade” do vírus.

Já a proteína E foi escolhida com base em dados sobre a sua importância para a virulência do vírus SARS-CoV (virulência é a capacidade que um patógeno tem de causar a doença, seja ele vírus, bactéria, protozoário, etc.). Por ela ser idêntica ao da SARS-CoV-2, os pesquisadores pretendem avaliar se uma resposta imune contra essa região viral é importante na prevenção da doença.

A ESCOLHA DO MODELO BACTERIANO
Existem, essencialmente, dois modelos para produzir proteínas de interesse: os modelos procariontes (bactérias, como a E. coli) e os eucariontes (fungos, por exemplos). Uma das grandes diferenças é que os procariontes não apresentam organelas. Isso faz com que, durante a produção de uma proteína, ela não sofra “ajustes” que são chamados “alterações pós-traducionais” (é como se fosse colocar acessórios no carro novo; enquanto os procariontes produzem um carro sem vidro elétrico, sem insulfilme e sem som, os eucariontes oferecem teto solar, câmera 360° e ignição automática)

Em algumas situações isso pode ser um fator importante, porque a forma pode alterar muito a função, principalmente em vacinas. No caso em questão, a proteína SPIKE é uma proteína que tem várias moléculas de açúcares ligadas a ela (resultado de um processo pós-traducional). Felizmente, já existe trabalho mostrando que anticorpos de pacientes que tiveram Covid-19 conseguiram se ligar à região RBD produzida por E. coli. Portanto, neste caso, não precisamos nos preocupar tanto com esse fator.

A ESCOLHA DA NANOPARTÍCULA
A escolha pelo PHB se deu por alguns motivos. Primeiramente, ele é um material barato, com um custo ao redor de U$5,00 o quilo do produto e apresenta produção em grande escala aqui no Brasil. Em segundo lugar, é um produto que pode assumir diferentes tamanhos, desde nanopartículas até produtos visíveis, uma vez que já existem técnicas para fazer isso. Por esses dois fatores, o PHB é algo que viabiliza muito a produção em larga escala da vacina, caso ela venha se mostrar promissora.

No entanto, não é apenas por questões econômicas que se deu a sua escolha. O PHB já é de uso medicinal e é uma substância biodegradável pelo ser humano. Além disso, por poder assumir a configuração de nanopartícula, ele permite a produção de uma partícula muito semelhante ao vírus (vai ter o tamanho parecido e com as moléculas do vírus na superfície, “simulando” muito bem o vírus, sem causar a doença).

CONSIDERAÇÕES
A ciência brasileira é competitiva e apresenta profissionais dedicados e qualificados. Frente aos problemas sistemáticos do ensino, da pesquisa e do desfalque infraestrutural na pós-graduação, nossos cientistas continuam demonstrando sua capacidade e se reinventando para dar uma resposta efetiva e o mais rápido possível para a questão atual da pandemia. Vamos exercitar nossa curiosidade sobre o que passa dentro dos muros das Universidades Federais e apoiar as milhares de pesquisas que, em algum momento, refletem no nosso dia-a-dia. A todos os cientistas do Brasil, obrigado e boa sorte!

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

1. Soube da sua pesquisa por uma matéria do site da UFPR. Lá, havia uma explicação geral do projeto, em que vocês pretendem usar a E. coli e inserir genes para a expressão de polihidroxibutirato e genes para a expressão de fragmentos virais do SARS-CoV-2. Você poderia explicar sobre o desenho do estudo, as etapas que serão executadas?

Resposta: A ideia é ancorar na superfície de partículas de PHB proteínas ou fragmentos de proteínas virais por duas estratégias. A primeira estratégia é in vitro, que consiste em purificar as proteínas e o polímero separadamente e depois uni-los, enquanto a segunda é in vivo, quando a síntese das proteínas e do polímero ocorrem simultaneamente dentro da bactéria. A estratégia in vivo tem a vantagem de ser mais prática pois temos apenas que retirar o polímero da bactéria e já teremos as partículas modificadas para imunização. A desvantagem dessa abordagem é que não conseguimos controlar muito o tamanho das partículas dentro da bactéria. Portanto, para trabalhar com nanopartículas por enquanto temos que seguir pela estratégia in vitro.

Vale ressaltar que as proteínas que estamos produzindo tem um “conector”, um fragmento de uma proteína que naturalmente se liga ao PHB, para permitir que as proteínas virais também cumpram essa função. O conector tem a vantagem de forçar a ligação das proteínas virias de tal forma que elas fiquem voltadas para o meio externo da partícula. Isso se aproxima bastante da organização estrutural do vírus, principalmente quando nos referimos a proteína Spike que fica exposta na superfície. Também faz com que os antígenos virais possam ser mais facilmente reconhecidos pelo sistema imune.

2. Como se deu a escolha dos fragmentos virais?

Resposta: Nós escolhemos o fragmento RBD da Spike de SARS-CoV-2 já pacientes recuperados da SARS de 2003 apresentavam anticorpos neutralizantes contra essa região da proteína. Esses anticorpos foram capazes de neutralizar a ação do SARS-CoV-2 em cultura de células de mamíferos. Portanto, essa foi uma escolha natural quando começamos a ler mais detalhadamente a literatura sobre coronavírus que infectam humanos. Durante nossa pesquisa bibliográfica, nós também encontramos informações bastante relevantes sobre o papel da proteína E (proteína do envelope) para a virulência do SARS-CoV. Como as proteínas E do vírus de 2003 e do SARS-CoV-2 são idênticas, achamos que investigar a resposta imune contra a E pode ser importante.
Entretanto, ainda não temos relato de imunidade neutralizante contra a proteína E do SARS-CoV-2.

3. É possível que o epítopo imunogênico seja uma estrutura quaternária, certo? Utilizando um modelo procarionte, essa avaliação fica comprometida?

Resposta: Sim. Sempre existe essa preocupação com a estrutura e aqui dois motivos precisam ser levantados. O primeiro diz respeito a produzir apenas um pedaço da proteína que não é a mesma coisa que produzir a proteína inteira. Em muitos casos, quando se tenta produzir apenas um fragmento ele se desorganiza estruturalmente e não é reconhecido pelos anticorpos como deveria. O segundo ponto bastante crítico diz respeito as modificações pós-traducionais e nesse caso a principal é a glicosilação da proteína Spike.

Já temos na literatura dados estruturais que mostram o reconhecimento do fragmento RBD produzido em E. coli por anticorpos de pacientes positivos para COVID-19. Isso nos dá a pista que a glicosilação não seria essencial para gerar anticorpos. Entretanto o efeito neutralizante pode ser mais fraco.

Em testes imunológicos preliminares, conseguimos diferenciar soros de pacientes positivos para COVID-19 contra os negativos. Sendo assim, é provável que o método que estamos aplicando em bactéria consegue gerar o fragmento RBD estruturado. Entretanto, estamos em andamento com a clonagem desse fragmento para expressão em vetores eucarióticos para contornar o problema da ausência de glicosilação em E. coli.

4. Será possível determinar qual fragmento é imunogênico, caso os resultados venham a se mostrar promissores?

Resposta: Acho que em parte respondi acima. Mas o que queremos em breve é produzir uma biblioteca com vários peptídeos possivelmente imunogênicos da Spike que foram localizados por análise computacional e publicados recentemente por um grupo da China. Eventualmente, poderemos fazer um combinado dos peptídeos mais imunogênicos e produzir partículas mistas, que apresentem todos esses peptídeos simultaneamente. Isso provavelmente deve reduzir bastante a “camuflagem” do vírus frente ao sistema imune por mutações pontuais em um único epítopo, que é um entrave na geração de vacinas com resposta imune persistente.

5. Por que da escolha desse polímero, o PHB? Quais são as vantagens e desvantagens do seu uso em vacinas, em comparação com os outros “veículos” de vacinas inativadas?

Resposta: esse polímero já tem liberação para uso medicinal em humanos pela FDA dos EUA, pois é completamente biodegradado em humanos. O uso atual é para suturas absorvíveis, próteses teciduais e dispositivos para liberação controlada de fármacos. Portanto acreditamos que se demonstrarmos a funcionalidade em testes pré-clínicos não será complicado conseguir a liberação para avançar aos testes clínicos.
Além disso, é um polímero que tem um valor bastante acessível algo em torno de U$ 5,00 o quilo. Aqui no Brasil, a Biocycle produz cerca de 3000 toneladas por ano, a Bio-on na Itália 10.000 toneladas ano e há uma planta chinesa que objetiva em breve produzir 50.000 toneladas ano. Portanto, trata-se de um polímero viável se imaginarmos a produção de milhões de doses de vacina.

Outra característica interessante desse polímero é que podemos moldar partículas de diferentes tamanhos com técnicas já estabelecidas na indústria. Isso quer dizer que a transferência de tecnologia da bancada para a produção em larga escala seria menos complicada, pois já há muita tecnologia estabelecida para esse polímero.

6. Na matéria, também havia menção a outras vacinas criadas por essa técnica. Qual foi o desfecho delas?

Resposta: o grupo do Prof. Bernd Rehm da Griffith University in Brisbane na Austrália tem se dedicado há muitos anos para o uso médico de partículas de PHB modificadas. Esse grupo publicou dados bastante promissores quanto a imunização de camundongos contra Mycobacterium tuberculosis (bactéria causadora da tuberculose) e contra o vírus da Hepatite C. Entretanto, não encontramos dados sobre testes clínicos para essas duas vacinas.

7. Em um cenário otimista, qual é o prazo que vocês objetivam finalizar esse projeto?

Resposta: Nosso planejamento inicial era mais conservador e gostaríamos de concluir o projeto de 24 meses apenas com os testes pré-clínicos e demonstrar em detalhes a prova de conceito. Porém, com o desenrolar rápido das primeiras semanas do projeto e a chegada de novos pesquisadores, acreditamos que caso a vacina seja efetiva em camundongos, seria possível realizar ao menos os testes clínicos de fase I e II, até o fim do projeto.

Claro que tudo isso depende da eficiência da própria vacina, da sua segurança, do tempo para avaliação do pedido e licenciamento dos testes, de encontrarmos parceiros interessados em recrutar voluntários e executar os testes.

Portanto, apesar de entendermos perfeitamente o clamor da sociedade que uma vacina seja disponibilizada logo, seria muito especulativo estabelecer uma data para que tudo isso aconteça.

8. Em comparação com as outras várias modalidades de vacinas sendo pesquisadas, qual o espaço essa conseguiria ocupar, caso fosse produzida em larga escala? Ela é uma modalidade competitiva de imunização?

Resposta: nós acreditamos que essa abordagem é competitiva tanto em imunização quanto em custo de produção. O custo será um fator que pesará adiante. No momento, desponta a vacina de Oxford em parceria com a Astra Zeneca que utiliza um vetor adenoviral. Provavelmente, essa será a primeira no mercado e a ser distribuída mundialmente. Entretanto, temos dúvidas quanto ao custo de produção e o valor de mercado. Eventualmente, países em desenvolvimento como o Brasil terão que optar por tecnologias que sejam igualmente efetivas, porém mais baratas, para reduzir o impacto econômico que já será inevitável por conta da pandemia.

Além disso, surgem mais frequentemente, inclusive com publicações científicas, notícias que a imunidade contra o SARS-CoV-2 não é de longo termo e aparentemente diminui rápido ao longo de alguns meses. Portanto, é bem provável que a vacina contra a COVID-19 tenha que ser tomada anualmente. Nesse cenário, vamos precisar de várias tecnologias funcionando para suprir o mercado.

João, se for possível, eu gostaria de fazer alguns agradecimentos à equipe que está trabalhando diretamente nesse projeto:
Ao coordenador do projeto Prof. Emanuel Maltempi de Souza, ao Prof. Wanderson Duarte da Rocha (Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular - UFPR), a Profa. Dayane Alberton (Depto. de Análises Clínicas - UFPR) aos Professores Breno Castello Branco Beirão e Silvio Marques Zanata (Depto. de Patologia Básica – UFPR), aos pós-docs Luis Paulo Silveira Alves e Maritza Araújo Todo Bom, ao doutorando Edson Yu Sin Kim e a mestranda Maria Luisa Terribile Budel (ambos do Programa de Pós-graduação em Ciências: Bioquímica). Esses são os nomes que trabalham mais proximamente, mas existe obviamente uma lista extensa de estudantes e pesquisadores que contribuem para esse trabalho.
Agradecemos a todos!”

Re: Notícias científicas que não merecem um tópico próprio

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Cinzu
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Mensagem por Cinzu »

Este vídeo traz um pouco sobre inovações que estão sendo desenvolvidas com grafeno: materiais super-resistentes; supercomputadores; dispositivos móveis como celulares flexíveis com espessura de uma folha e quase transparentes; baterias que carregam quase-instantaneamente; tecnologias integradas em roupas que podem reagir a condições do ambiente; computadores integrados à pessoa, como por meio de uma lente de contato, por exemplo; criação de músculos artificiais; entre outras coisas. Também é apresentado sobre as principais propriedades deste material e como se dá sua produção.


youtu.be/l6yqJxB4uzA

Aproveitando a deixa, Gabarito, será que poderia alterar o título do tópico para: "Novidades científicas que não merecem um tópico próprio" ? Acredito que seja mais amplo, já que englobaria também o compartilhamento de artigos, vídeos ou qualquer outra forma de novidade/curiosidade científica.

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Gabarito
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Mensagem por Gabarito »

Cinzu escreveu:
Sex, 10 Julho 2020 - 19:53 pm
Aproveitando a deixa, Gabarito, será que poderia alterar o título do tópico para: "Novidades científicas que não merecem um tópico próprio" ? Acredito que seja mais amplo, já que englobaria também o compartilhamento de artigos, vídeos ou qualquer outra forma de novidade/curiosidade científica.
Feito.
Nas próximas postagens, cada uma delas já vai trazer "Novidades" e não mais "Notícias".

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Cinzu
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Mensagem por Cinzu »

Vida secreta é abrigada em cavernas da Antártida

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Um mundo secreto de animais e plantas – incluindo espécies desconhecidas – pode viver em cavernas quentes sob as geleiras da Antártica. As cavernas, esvaziadas pelo vapor de vulcões ativos, são leves e podem chegar a temperaturas de 25 graus Celsius, de acordo com os pesquisadores, criando a possibilidade de um ecossistema completo de flora e fauna profundamente abaixo da superfície congelada.

O estudo, liderado pela Universidade Nacional Australiana em torno do Monte Erebus, um vulcão ativo na ilha de Ross, na Antártida, mostrou sistemas extensivos de cavernas. A pesquisadora principal Ceridwen Fraser disse que análises forenses de amostras de solo das cavernas revelaram traços intangíveis de DNA de algas, musgos e pequenos animais.

Embora a maioria do DNA fosse semelhante aos dos musgos, algas e invertebrados encontrados em outros lugares da Antártida, nem todas as sequências puderam ser totalmente identificadas. “Os resultados deste estudo nos dão um vislumbre tentador do que poderia viver sob o gelo na Antártida – pode haver novas espécies de animais e plantas”, disse ela. “O próximo passo é ir até lá e dar uma boa olhada e ver se podemos encontrar comunidades que vivem sob o gelo na Antártida”.

Apesar das temperaturas congeladas do continente, Fraser disse que o calor que emana dos vulcões poderia deixar as cavernas bastante hospitaleiras, suficientemente quentes “para usar uma camiseta e se sentir confortável”, com uma luz chegando ao fundo onde o gelo subjacente é fino.

O co-pesquisador Charles Lee, da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, disse que havia muitos outros vulcões na Antártica, então os sistemas de cavernas subglaciais poderiam ser comuns. “Ainda não sabemos quantos sistemas de cavernas existem em torno dos vulcões da Antártida, ou como esses ambientes subglaciais podem ser interconectados”, aponta. “Eles são realmente difíceis de identificar, chegar e explorar”.

A pesquisa, publicada na revista internacional Polar Biology, afirma que há mais de 15 vulcões na Antártida que já eram conhecidos por serem ativos atualmente ou mostrarem evidências de atividade recente, com novos que continuam sendo encontrados.

Mas, apesar dos recentes avanços na compreensão da biodiversidade antártica, os cientistas ainda conhecem “pouco sobre a vida nos sistemas de cavernas subglaciais do continente, que podem abrigar comunidades diversas e complexas”. “Nossos resultados destacam a importância de investigar esses sistemas de cavernas em maior detalhe – apesar dos desafios de campo associados a esse esforço – para confirmar a presença de macrobiotas vivos”, afirma o artigo.

https://phys.org/news/2017-09-antarctic ... -life.html

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Primeiros humanos teriam chegado à América do Norte 15 mil anos antes do que se pensava

Ferramentas de pedra entalhada evidenciam ocupação humana na caverna de Chiquihuite, no norte do México, há mais de 33 mil anos

O Globo com agências internacionais 23/07/2020

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A ocupação das Américas pelos primeiros humanos é um dos temas mais complexos da história de nossa espécie, mas também um dos que têm maior potencial de revelar a essência dos homens. Dois estudos arqueológicos publicados nesta quarta-feira (22) na revista “Nature” trazem ainda mais respostas, e questionamentos, sobre este processo.

Ferramentas encontradas em uma caverna no norte do México evidenciam que os humanos viviam na América do Norte há mais de 30 mil anos, ou seja, 15 mil anos antes do que se pensava.

As amostras encontradas, entre elas 1.900 ferramentas de pedra entalhada, evidenciam uma ocupação humana na caverna de Chiquihuite, no norte do México, com 33 mil anos e que durou 20 mil anos, destacam dois estudos publicados na revista Nature.

Os primeiros humanos nas Américas vieram do leste da Ásia, mas ainda não se sabe quando começaram a chegar. Alguns pesquisadores pensam que isso poderia ter acontecido há mais de 100 mil anos.

Desde 2012, uma equipe liderada por Ciprian Ardelean, da Universidade Autônoma de Zacatecas, no México, escava a caverna Chiquihuite, que fica a 2.740 metros acima do nível do mar nas montanhas Astillero do país. O grupo aponta o local como um possível abrigo durante tempestades no auge da Era Glacial, 26 mil anos atrás.

Teoria Clovis contestada

Por décadas, a teoria mais aceita foi a de um povoamento de 13 mil anos, correspondente ao chamado período Clovis, muito considerada pela cultura americana.

Evidências arqueológicas — incluindo pontas de lança especialmente projetadas para matar mamutes e outros animais — sugeriram que essa população se expandiu pela América do Norte.

Essa teoria é questionada há 20 anos, com novas descobertas que colocaram o período dos primeiros povoadores em 16 mil anos atrás.

Além disso, ferramentas e armas encontradas nesses locais não eram as mesmas, mostrando origens diferentes.

Leia mais: EUA fecham acordo de quase US$ 2 bilhões para 100 milhões de doses de vacina da Pfizer e BioNTech

No segundo estudo, os pesquisadores da Universidade de Oxford, Lorena Becerra-Valdivia e Thomas Highman, usaram o carbono 14 e outra técnica baseada em luminescência para datar amostras de 42 locais na América do Norte.

Usando um modelo estatístico, eles mostraram presença humana generalizada — antes, durante e imediatamente após o Último Máximo Glacial —, entre 27 mil e 19 mil anos atrás.

Megafauna extinta

O momento deste período glacial é determinante, uma vez que se considera que os humanos que migraram da Ásia não poderiam ter atravessado as enormes camadas de gelo que cobriram grande parte do continente durante aquela época.

As populações humanas presentes no continente durante um período anterior também coincidem com o desaparecimento da megafauna, incluindo mamutes e espécies extintas de camelos e cavalos.

— O estudo aponta que a ampla expansão de seres humanos na América do Norte foi um fator chave na extinção de grandes mamíferos terrestres — concluiu a segunda investigação.
https://oglobo.globo.com/sociedade/prim ... a-24545048

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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JJ_JJ
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Mensagem por JJ_JJ »

Remédio de 1.000 anos mostra potente efeito contra bactérias resistentes a antibióticos


© Foto / Pixabay / angelorosa
CIÊNCIA E TECNOLOGIA

05:33 29.07.2020(atualizado 08:52 29.07.2020)


O crescente problema da resistência de bactérias a antibióticos obriga os cientistas do mundo inteiro a buscar novos medicamentos, dada a capacidade de microrganismos de se adaptar a remédios.

Na verdade, em um futuro próximo, a medicina não será capaz de tratar com êxito muitas das infecções, como sugerem os cientistas.

Isso fez com que uma equipe de pesquisadores britânicos decidisse focar seus estudos em plantas e outros materiais naturais utilizados por nossos antepassados para lidar com as infecções.

Em 2015, cientistas britânicos reconstruíram um medicamento de 1.000 anos, conhecido como colírio de Bald, feito a partir de cebola, alho, vinho e sais biliares, que demonstrou "uma atividade antibacteriana promissora".

Após vários anos de pesquisa, a equipe publicou no dia 28 de julho um novo estudo, segundo o qual, o efeito bactericida do antigo remédio se estende contra vários tipos de patógenos que tendem a formar biofilmes em feridas dos tecidos moles.

Os autores do estudo definem esta descoberta como de fundamental importância, uma vez que as infecções associadas aos biofilmes (comunidades de bactérias que produzem uma matriz extracelular protetora e são resistentes aos antibióticos) representam uma área particularmente problemática. Estas infecções de difícil tratamento ameaçam desde o êxito das cirurgias de rotina até certas terapias contra o câncer.


Antigo livro de fórmulas de medicamentos Bald's Leechbook
© FOTO / BIBLIOTECA BRITÂNICA


Além disso, o estudo descobriu que a potente atividade antibiofilmes do colírio de Bald não pode ser atribuída apenas a um ingrediente, como por exemplo, ao alho, mas que requer a combinação de todos os ingredientes do antigo remédio.

Por isso, os autores destacam "a necessidade de explorar não apenas os compostos individuais, como também mesclas de produtos naturais para o tratamento de infecções por biofilmes".

Uma das autoras da pesquisa, Freya Harrison, afirmou à CNN que o colírio de Bald é particularmente promissor para o tratamento das infecções associadas aos pés dos diabéticos, que "são a última infecção de biofilme super-resistente" e representam "uma grande carga econômica e para a saúde".

"Realmente, podem se tornar impossíveis de tratar. Existe um alto risco de que estas úlceras do pé diabético sejam completamente resistentes a qualquer tratamento com antibióticos. Logo, existe o risco de uma pessoa desenvolver sepse [...] tendo que amputar um pé ou uma perna", advertiu Harrison, que é também especialista em microbiologia da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade de Warwick, Reino Unido.

A fórmula do remédio foi encontrada por Harrison na Biblioteca Britânica, em um dos primeiros textos médicos conhecidos em inglês antigo: o "Bald's Leechbook".


https://br.sputniknews.com/ciencia_tecn ... ibioticos/

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

Gigaview
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Mensagem por Gigaview »

Are Radioactive Diamond Batteries a Cure for Nuclear Waste?
Researchers are developing a new battery powered by lab-grown gems made from reformed nuclear waste. If it works, it will last thousands of years.
They don’t put out enough juice to power a smartphone, but depending on the nuclear material they use, they can provide a steady drip of electricity to small devices for millennia.
https://www.wired.com/story/are-radioac ... ium=social

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

Gigaview
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Mensagem por Gigaview »

A Common Plant Virus Is an Unlikely Ally in the War on Cancer
Researchers have seen promising results by injecting dog and mouse tumors with the cowpea mosaic virus. Now they’re aiming for a human trial.

https://www.wired.com/story/a-common-pl ... on-cancer/

Re: Novidades científicas que não merecem um tópico próprio

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Fernando Silva
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Mensagem por Fernando Silva »

Há 42 mil anos, inversão nos pólos magnéticos da Terra mudou o clima e pode ter alterado a história humana

Segundo estudo publicado na Science, evento causou um intenso enfraquecimento do campo magnético, provocando alterações ambientais que podem ter conexão com o surgimento das primeiras pinturas rupestres

El País 23/02/2021

Há 42 mil anos, a camada de ozônio quase desapareceu. Os ventos do Oceano Pacífico se transformaram. O manto de gelo da América do Norte se expandiu. A megafauna da Austrália foi extinta, e os últimos neandertais desapareceram. Da mesma época são datadas as primeiras pinturas rupestres em várias partes do globo. Agora, um grupo de pesquisadores relaciona esses eventos a um intenso enfraquecimento do campo magnético provocado durante a inversão dos pólos da Terra. O estudo que se baseou na análise do tronco de uma antiga árvore foi publicado na revista Science.

— O campo magnético da Terra impede que uma grande parte da radiação cósmica atinja nossa atmosfera — explica o professor da Universidade de New South Wales, na Austrália, e o coautor do estudo Chris Turney.

O centro da Terra é formado por um magma em movimento de ferro e níquel que gera e sustenta esse campo. Mas há cerca de 42 mil anos ocorreu um fenômeno que deixou o planeta sem seu escudo. Os geofísicos o chamam de excursão de Laschamp, no qual o magnetismo da Terra foi invertido.

— Os pólos magnéticos se invertem, o pólo magnético do norte vai para o sul, e o pólo magnético do sul vai para o norte — detalha o cientista do Instituto de Geociências da Universidade Complutense e do CSIC Javier Pavón.

Essa reversão magnética pode ser temporária, como foi a excursão de Laschamp, cada pólo retornando ao seu lugar depois, ou fixada por centenas de milhares de anos.

— As excursões costumam durar um milênio, as inversões muito mais. A última inversão magnética foi há 780 mil anos e ainda estamos nela — lembra Pavón, que não participou do estudo.
[...]
À medida que a intensidade do campo magnético diminuía, a radiação cósmica aumentava. Também coincidiu com pouca atividade solar, fazendo com que chegassem ainda mais raios cósmicos ao perder o escudo protetor do Sol, explica Gabriel Chiodo, especialista em química atmosférica do Instituto do Clima Ciências e Atmosfera da Escola Politécnica Federal de Zurique, na Suíça.

Ocorreu então uma série de anomalias, em particular o aumento dos óxidos de nitrogênio, compostos muito reativos, que desencadearam um ciclo de destruição da camada de ozônio. Esse gás aprisiona a maior parte da radiação ultravioleta, e sua ausência pode provocar impactos:

— A estratosfera [camada acima da troposfera e com até 50 km de altitude] se resfriaria, principalmente a tropical, alterando o gradiente de temperatura, e isso afetaria toda a circulação atmosférica [movimentação das massas de ar], atingindo até a troposfera [camada atmosférica inferior, situada a aproximadamente 12 km de altitude] e a superfície — Diz Chiodo, que não participou desta pesquisa.
[...]
Impactos da inversão magnética

Após a datação, os autores do estudo entram em um terreno mais especulativo, associando o quase desaparecimento do campo magnético a uma sucessão de eventos em todo o planeta, dos atmosféricos aos ecológicos, que ocorreram posteriormente. Agora se encaixam, por exemplo, o resfriamento em boa parte do planeta e uma tendência à desertificação refletida nos registros fósseis. Também o enorme avanço do manto de gelo do Ártico, que desceu às grandes planícies do que hoje são os Estados Unidos, ou das geleiras andinas.

Os autores do estudo também relacionam a inversão magnética temporária com a extinção da megafauna australiana, que teria sido causada por mudanças climáticas regionais, e não pela chegada de humanos ao continente 10 mil anos antes.
[...]
O que ele defende mais fortemente é a conexão com as primeiras pinturas rupestres:

— A arte das cavernas é diferente, pois apareceu em todo o mundo (Espanha, Itália, Bornéu...) ao mesmo tempo e não havia forma dessas culturas se comunicarem. Portanto, é muito provável que algum fator ambiental externo tenha provocado as mesmas respostas — afirma.

Esse elemento externo pode ser o aumento da radiação e do resfriamento do clima causado por Laschamp. Além de buscar refúgio em cavernas, os humanos antigos foram capazes de usar o mesmo ocre das pinturas como protetor solar.

Próxima inversão magnética

Sobre a origem de tudo, “sabemos que a causa das excursões e inversões magnéticas está no núcleo da Terra, mas não o motivo”, lembra o especialista em geomagnetismo e física terrestre da Universidade da Extremadura José Manuel Vaquero. Também não se sabe quando será a próxima ou seu possível impacto. A última inversão magnética ocorreu 780 mil anos atrás.
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Há 170 anos, o campo magnético enfraqueceu em 9%. Além disso, o pólo norte magnético está se movendo cada vez mais rápido (agora está sobre o norte do Canadá). É uma prévia do que está por vir?

— Não sabemos e não há como saber, mas há quem veja nisso as primeiras etapas de uma inversão magnética — lembra Vaquero.
https://oglobo.globo.com/sociedade/cien ... a-24892942
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