Portanto, qualquer que seja o cristão que tente argumentar a existência de Deus, estará agindo contra o conceito de fé. A própria bíblia deixa isso claro em diversas passagens, sendo esta abaixo somente uma delas:
Caminhar sobre as águas nas condições descritas acima vão na direção oposta do senso comum e da lógica. E é exatamente esta a proposta da crença em Deus: abandonar a razão e ser adepto da fé. Em outras palavras, qualquer tentativa de justificar a existência de Deus é um atestado de falta de fé.Mateus 14:22-33 escreveu:Depois de alimentar 5.000 pessoas, Jesus foi a uma montanha para orar. Seus discípulos pegaram um barco e cruzaram o Mar da Galileia. Ao cair da noite, o vento começou a soprar e as ondas ficaram bem altas.
Tarde da noite, Jesus foi até onde os discípulos estavam. Ele foi andando sobre as águas até chegar ao barco.
Os discípulos O viram andando sobre as águas e ficaram com medo. Pensaram que fosse um fantasma. Jesus chamou-os, dizendo: “Sou eu, não temais”.
Pedro também quis andar sobre as águas. Então Jesus disse a Pedro que fosse ao Seu encontro. Pedro saiu do barco e começou a andar sobre as águas na direção do Salvador.
Como o vento estava soprando muito forte, Pedro ficou com medo. Ele começou a afundar e gritou para que Jesus o salvasse.
O Salvador agarrou a mão de Pedro e perguntou-lhe por que não tinha exercido mais fé.
Quando Jesus e Pedro entraram no barco, a tempestade passou. Todos os discípulos adoraram ao Salvador. Eles sabiam que Jesus era o Filho de Deus.
Gustavo Bertoche escreveu:Quando Zaratustra desce do alto de sua montanha, encontra o velho santo que prefere permanecer os dias adorando Deus a ter com os homens na cidade. Ao deixá-lo, a caminho do vale, Zaratustra diz: "Será possível? Esse velho santo, em sua floresta, ainda não soube que Deus está morto?"
"Deus está morto". Tantas páginas escritas em função do escândalo causado por essas palavras.
Vejam: Zaratustra não é um "ateu". Afinal, quem está morto esteve vivo antes, e um ateu não diria que houve, em algum momento, um Deus vivo. O que Zaratustra diz não é que "não existe Deus"; ele diz que "esse Deus não vive mais".
"Deus está morto" - porque abandonou o mundo da experiência direta humana. Ou melhor: porque nós O transformamos num conceito. A presença do divino esvai-se quando elencamos argumentos para demonstrar a sua existência. O que faz parte da vida não precisa ser demonstrado; o que é distante e invisível, por outro lado, somente pode ser pensado por meio de demonstrações lógicas.
Em outras palavras: Deus morre quando se torna um objeto circunscrito à investigação racional. Deus morre no instante em que nasce a teologia.
* * *
É isso que diz Miguel de Unamuno em "Del sentimiento trágico de la vida":
"Subseqüentemente, a razão - ou seja, a filosofia - apossou-se deste Deus que havia surgido na consciência humana como conseqüência do sentido de divindade do homem, tendendo a defini-lo e convertê-lo em uma idéia. Pois definir uma coisa significa idealizá-la, um processo que precisa da abstração de seu elemento incomensurável ou irracional, sua essência vital. Assim, o Deus do sentimento, a divindade sentida como pessoa única e consciência exterior a nós, embora, ao mesmo tempo, envolvendo-nos e nos sustentando, foi convertido na idéia de Deus. O Deus lógico e racional, o 'ens Summum', o 'primum movens', o Ser Supremo da filosofia teológica ... não é mais que uma idéia de Deus, uma coisa morta... As chamadas provas tradicionais da existência de Deus referem-se todas a este Deus-Idéia, a este Deus lógico, o Deus pela abstração, e, assim, realmente nada provam, ou melhor, não provam mais que a existência desta idéia de Deus".
Isto é: todo o debate a respeito da "existência" ou "inexistência" de Deus está completamente fora de lugar. Por meio da lógica, da teologia, da filosofia, dos argumentos baseados na ciência natural, não se chega à conclusão quanto à "existência" ou "inexistência" de Deus, mas somente quanto à "existência" ou "inexistência" de uma idéia imaginada de Deus.
* * *
Quem quer que intente "provar a existência de Deus" é, em suma, o seu algoz.
* * *
Teorizamos sobre o Logos, inventamos uma idéia de Logos, demonstramos a sua necessidade e, assim, assassinamos o Logos - graças à nossa inescapável participação no próprio Logos.